Ruínas de Pompeia, Jardim dos Fugitivos
É por estas e outras que falar sobre Portugal me põe doente mas as putas das Musas não param de me gritar na cabeça que tenho de o fazer. Ainda ninguém pegou nisto como deve ser. Calhou-me a mim a fava. Pois cá vai.
Segundo o Relatório Sobre a Situação Social na União Europeia com dados de 2004, Portugal é o país da Europa onde existe mais desigualdade.
Somos mesmo tão bons, mas tão bons, que até superamos a desigualdade dos grandes Estados Unidos of fucking A, toma lá yankee! O Governo, por outro lado, já veio desmentir, todo contente, porque entretanto, em 2006, já fomos ultrapassados pela Letónia, país que não anda a mamar fundos de Bruxelas há vinte e tal anos (como nós). Ah, já podemos ficar descansados. Continuamos a bater os Estados Unidos e não somos os últimos da Europa! Somos geniais!
Mas em Portugal a desigualdade não é apenas económica. Antes fosse. Em Portugal a desigualdade existe também perante a Lei. Os ricos e poderosos fumam no Casino e no avião fretado, os pobres fumam na rua como os cães. (Eu já vos tinha dito, quando comecei a roer o osso, que Leis Secas nunca são para todos.) Isto, meus amigos, é apenas a face visível, ridícula, desprezível do enorme cancro que se chama Justiça. Não é a desigualdade económica que gera injustiça. Aqui é ao contrário. É a falta de Justiça que gera todas as desigualdades. Aprendei isto ou permanecei cegos.
Perguntava hoje um leitor indignado, no jornal gratuito "Global":
«José Sócrates lamentou, pedindo-nos desculpa, ter fumado no avião que o levou à Venezuela, dizendo que "não sabia estar a violar a lei". Não sabia que há uma lei que proíbe fumar em locais fechados, em transportes públicos, incluindo aviões? Mas o mais surpreendente foi a TAP defender a atitude do PM e de outros elementos do seu séquito de viagem, os quais também prevaricaram, fumando, afirmando que "num voo não comercial as regras competem a quem o frete". Para mim, esta defesa é deveras leviana e caricata: então eu posso fretar uma aeronave e nela transportar, por exemplo, armamento e droga?»
Caro amigo, infelizmente não acredito que me esteja a ler mas tenho pena. Pois caro amigo, se é rico e poderoso pode levar armas, pode levar drogas, pode levar miúdos em orgias pedófilas, pode levar tudo o que quiser! No estrangeiro também, e se for suficientemente rico e poderoso pode levar Maddies mortas em bagageiras de carro com cheiro a cadáver e nada lhe acontece, ou transportar presos para Guantanamo em voos ilegais com destino a tortura e execução sumária, só porque é rico e poderoso. A única diferença é que aqui é à descarada. Porque isto só veio a público porque toda a gente se está a cagar para um cigarrito. Houvessem armas, drogas, prostituição, já o chibo se calava muito caladinho antes que lhe fizessem a folha também porque quem tem cu tem medo. Aqui é à fartazana! É o regabofe! Ele é miúdos da Casa Pia, ele é sacos azuis, ele é fundos mamados directamente para os bolsos de indemnizações milionárias, e nada lhes acontece! Nem Roma, em todo o seu esplendor, conheceu tamanha impunidade! É o deboche, é a orgia, é o bacanal! Borbulha o Vesúvio, lança os seus vapores pestilentos e ninguém se mexe! São os últimos dias de Pompeia!
Quando me perguntam o que acho dos motins de Paris, é muito simples: ainda deviam ser mais!
Aqui não há motins porque o ar envenenado já matou tudo. O cheiro do cigarrito até disfarça o fedor a morte. Fume-se então, que o Vesúvio já tudo empesta.