quinta-feira, 27 de janeiro de 2005

Por falar em cunhas, com as eleições à porta

Existe a tendência neste país de tentar resolver os problemas caso a caso.
Eu choro, querem ajudar-me.
Mas não é assim. Não é caso a caso que se resolve o problema, antes pelo contrário. Como eu disse no último comentário ao post antes deste, os favores só perpetuam a corrupção, as cunhas e o amiguismo que existe neste país.
Se não fosse a corrupção, as cunhas e o amiguismo dar-se-ia valor ao mérito. Mas continua-se a viver no país provinciano em que se oferece uma galinha ao maioral lá da terra para ver um favor feito. Porque alimentar favores alimenta a rede de dependência.
Alimenta-se a caridadezinha.
Somos um país de caridadezinha. Somos o país do "faxavor". Já dizia o Miguel Esteves Cardoso, se a memória não me falha, era eu miúda. Passaram uns 16 anos e nada mudou. Veio a união Europeia e nada mudou. O MEC (Miguel Esteves Cardoso) já desistiu e calou-se. Pelo menos não o tenho ouvido. Mas ele tinha toda a razão. É um país de caridadezinha e do "faxavor".
Eu não quero ajuda. Eu quero triunfar por mim própria ou ser arrastada na lama por mim própria. Essa é a minha grande diferença.
Dir-me-ão: neste país não vais longe. E ainda bem que mo dizem porque finalmente percebem exactamente onde estamos.
Quem não pede "faxavor" não vai longe.

Não quero parecer ingrata a quem ofereceu ajuda. Mas isso vai completamente contra aquilo em que acredito. Isso vai contra aquilo em que eu tenho andado a martelar há meses. Está na altura de apostar no mérito. De desfazer a corrupção. Porque as cunhas e os favores são a base da corrupção.
Como desfazer esse monstro de sete cabeças? Esse monstro que engoliu os dois principais partidos da nossa democracia?
Quando Cavaco perdeu a mão ao monstro, fugiu.
Quando Guterres viu o monstro, fugiu.
Quando Durão Barroso se apercebeu que podia fazer mais contra o monstro lá fora do que cá dentro, aproveitou a oportunidade e fugiu.
O exemplo vem de cima.
Não me admira nada que se a coligação ganhar novamente as eleições o próprio Jorge Sampaio se demita.
Os que podem, os que têm oportunidade, fogem também, para o estrangeiro. Os estudantes de ciências que têm qualificação e mérito para isso põem-se a andar. Nunca ouviram falar na fuga de cérebros?
O próprio primeiro ministro se pôs a andar.
Ficaram os filhos da cunha.
E os irmãos Portas, que são independentes e não precisam de cunhas para nada. Como eles há poucos e são muito ricos e por isso estão geralmente do lado do sistema.
Chegámos ao cúmulo de neste país termos o partido da extrema direita a fazer frente aos grupos bancários. É realmente o cúmulo! É a total inversão de valores. A própria democracia deu uma cambalhota e porta-se de modo anómalo e inédito em todos países em que existe um sistema bipolarizado entre esquerda e direita.
De um lado temos um gajo que tem estaleca para ser presidente do Futebol Clube Unidos de Cima mas não vale mais.
De outro temos um intelectual que faz uma promessa nova e mirabolante todos os dias.
Os comunistas vivem em pleno PREC. Fossilizaram.
Restam dois partidos. Um tem trabalho feito, outro não tem.
Eu devia votar na esquerda mas como neste país a direita corta à esquerda e a esquerda é reaccionária, não me resta grande alternativa.
Vou votar num homem chamado Paulo Portas porque tem mérito e acredita no mérito. E se estou a ver a situação como deve ser, e já dei grandes voltas à cabeça, votar num não é também votar no outro. Santana há-de desistir como já desistiu de tudo em que se meteu. Santana é um palhaço que deixou de me fazer rir quando, por amiguismos e cunhas, chegou a primeiro ministro.
Foi o fundo do pântano. (Ou será que não, que ainda há mais lodo a sair da sargeta?)
Esta coligação não dura. Paulo Portas caiu numa armadilha e ficou preso na ratoeira mas o próprio queijo quer expulsar de lá o rato.
Típico.
Esta coligação não vai longe, com ou sem acordo. Queira Deus e Nossa Senhora de Fátima que não caia também o Presidente da República quando vir que o povo vota na nos amigos da bola porque afinal o Benfica - Sporting é que interessa ao país. Queira Deus que não lhe dê uma coisinha má.
Mas votar num já não é votar no outro.
Durante uns dias ainda ponderei votar no Sócrates. Mas não voto. Não merece.

E pronto, hoje já me diverti um bocadinho e deixei de pensar na minha vida triste.
Vou dar o mérito a quem o merece. Sei que não é muito, sei que não é nada, mas sei que fiz a minha parte.

E também já decidi deixar de me queixar. Às minhas lágrimas, no entanto, eu tenho todo o direito e ninguém me vai dizer que as cale. Vou chorar tudo o que me apeteça. Vou chorar em público também por aqueles que riem e não sabem que deviam chorar. Os que estão enterrados na lama e acham bom porque nunca conheceram outra coisa. Os que estão cegos e acham bom porque nunca viram a luz (se bem que tiveram oportunidade de estudar Platão e a Alegoria da Caverna, mas estavam distraídos). E pelos muitos que nunca tiveram oportunidade de ver a Alegoria, nem Platão, nem a luz, nem coisa nenhuma.


PS: (a ironia deste PS, já repararam?) Muitos leitores devem achar estranho que eu admire um homem como Paulo Portas. Deve ser para muitos um choque. Mas não é. É que ele não desiste. Eu desisto. Ele é forte, eu não valho um chavo. Ele é optimista, eu choro nos intervalos. Mas não é por eu desistir, não é por eu não valer um chavo, não é por eu chorar pelos cantos que vou deixar de admirar um homem que é tudo o contrário mas que é brilhante. Diferente, lá com umas ideias esquisitas que eu não engulo, mas simplesmente brilhante. Um homem que diz "faz-se" e "faz-se" mesmo. Um homem que ataca a preguiça nacional e que faz qualquer coisa. O que neste país, é obra. Fazer qualquer coisa é obra. Ser suficientemente determinado e independente e patriótico para não desistir, é uma grande obra.
Um dia ser-lhe-á dado o devido valor.
Por enquanto não, porque de facto o homem tem obrigado alguém a mexer-se e a fazer qualquer coisa, e isso não é popular. E isso até faz rolar cabeças, o que é sempre chato.
Se é triste que o exemplo venha da nossa direita mais à direita, sim é triste, mas o monstro engoliu tudo e apenas poucos escaparam.
Seja como for, ao contrário do que o pintam, Paulo Portas não é um fascista. Tem umas ideias esquisitas, é verdade, mas guarda-as lá para ele. Em privado, my home is my castle.
Apresentem-me um socialista que faça coisas e eu voto nele. Não me apresentem mais ninguém que diz que vai fazer coisas e depois foge do monstro.
Tenho esperança que o homem não desista se bem que de vez em quando lhe deva dar uma grande vontade de fugir também. "Que fazer, que fazer?", deve-se perguntar, "Para ganhar votos sem promessas falsas?". Ele e todos. Mas até ao momento, foi o único que teve a sensatez de apresentar uma equipa em vez de fazer promessas que não se podem cumprir. Podia largar isto tudo e ir dirigir uma empresa de um dos amigos. Já pensaram? Ele podia muito bem arranjar um daqueles cargos de fachada em que só se vai assinar quando não se está no estrangeiro e estar-se completamente nas tintas para o país. Ele não precisa de ver a sua cara em cartazes onde lhe foi pespegado um balão vermelho ao nariz para lhe chamar palhaço (isto vi eu em Lisboa, esta semana, ao lado do cartaz onde estava o verdadeiro palhaço, sem balão vermelho). Que necessidade tem um menino bem de se andar a cansar com estas merdas? Podia estar tão melhor na vida e não se ralar!
Mas ele fica. Ele não desiste.
Como eu gostava de ser assim! Não o invejo. Já aqui disse que a inveja não é um mal que me atormente, mas como eu gostava de ser assim determinada!
Enfim, perdi-me.

PS2: Eu também não desisto de ir dizendo as coisas, mesmo quando só me apetece desistir e não escrever mais uma palavra neste blog. Apercebi-me agora desse pormenor. Estou a escrever, não estou? E apetece-me escrever? Não, não me apetece nada. Apetecia-me mais estar a apanhar uma bebedeira. Mas sinto esta coisa do dever moral que é uma chatice!!!

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