quarta-feira, 30 de maio de 2007

A minha greve geral

Eu, que sou escrava, não tenho carro. Trabalho longe e não posso ir trabalhar porque não tenho metro. Resultado, por especial favor, meus amos concederam que trocasse a folga pelo dia de hoje. Assim não perco um dia de vencimento que, acreditem, por ser miserável, conta muito.
Mas não é por isso que não faço greve. Miséria por miséria... É que a greve é para quem tem empregos a sério, que não são contratados por empresas de trabalho temporário (literalmente permanente), como é o meu caso. Nas empresas de trabalho temporário os contratos não são renovados ao fim de dois anos. Por isso agora é tempo de formiga, trabalhar para amealhar para quando não me renovarem o contrato.
Não trabalho hoje, trabalho no dia de folga. Ninguém vai contabilizar esta minha ausência, nos media, porque nós os precários somos invisíveis e nem para as greves contamos.
É este o meu país geral.

7 comentários:

H. Sousa disse...

Compreendo e lamento a falta de solidariedade da sociedade robotista.
Abraços, este post foi citado aqui:
http://horabsurda.com/nucleus

Synne Soprana disse...

É esta a nossa situação.. Eu q entrei no mercado de trabalho recentemente estou a sentir "na pele" essa precaridade..

Luís Maia disse...

É o País geralmente merdoso que temos. as dificuldades que criam ás pessoas impedindo-as indirectamente de exercerem o seu direito à indignação, serve para os mesmos se gabarem que a greve não teve expressão.

Goldmundo disse...

A "greve geral" é uma tolice completa que só interessa ao PC neste momento. Como é evidente, só aquilo que na linguagem marxista se chamava "aristocracia operária" pôde dar-se a esse luxo. Não há a menor sombra de interesse nela; "abala" o governo, ou os patrões, tanto como a eleição do Dr. Salazar.

A precariedade do trabalho - a escravatura, como bem lhe chamas - é coisa importante de aprender. Mas não basta. A precariedade (ou o colapso) das relações sociais, esse é o ponto central. As greves de há cem anos, e as revoluções de há cem anos, fizeram-se, vitoriosas ou perdedoras, entre gente que estava lado a lado na miséria. Fizeram-se enfrentando condições de repressão e a partir de uma situação de miséria de que agora não há memória colectiva.

Como, aliás, os comentários acima demonstram (sem querer ferir os seus autores).

katrina a gotika disse...

No entanto, Goldmundo, começa-se a sentir que a miséria -- essa mesma miséria -- está a voltar. Lido com ela todos os dias no meu trabalho.

Se eu pudesse abrir a boca... Mas não posso. Talvez um dia.

Goldmundo disse...

Pois está, gotika. Mas a miséria antiga era miséria de pão, e não tanto miséria de alma. Agora somos poucos. E sim, um dia. Ainda nem todos se renderam.

Unknown disse...

Só hoje descobri este blog.Como trabalhamos no mesmo meio sei bem ao que te referes em relação a essa greve geral. Gostei do pormenor do Metro ter encerrado duas horas antes para "preparar os serviços mínimos garantidos"[??!!]
Como no mundo dos Call Centers tudo pode acontecer deixo-te aqui este onde pelo menos se pode sor[rir] um pouco: http://naomeligues.wordpress.com