terça-feira, 1 de julho de 2025

Black Water: Abyss / Black Water: Abismo (2020)

Este é mais um filme sobre o que nunca fazer quando se vai em aventuras. Dois casais e um amigo decidem ir explorar um sistema de caves remoto e desconhecido no norte da Austrália. Para tal, têm de descer um poço inexplorado. Como eu já tinha dito AQUI, quando se desce por um buraco perigoso é conveniente que uma das pessoas fique à superfície não vá o diabo tecê-las, de preferência com um rádio de longo alcance para chamar ajuda se for preciso e se ficarem sem rede de telemóvel, e especialmente quando se aproxima uma tempestade tropical, o que é mesmo o caso. Mas os nossos amiguinhos acham que não vai ser nada e enfiam-se todos pelo buraco abaixo. Entretanto a tempestade abate-se sobre a superfície e as paredes da gruta subterrânea começam a verter água aqui e ali, mas Cash, o solteiro e guia turístico, diz que são só infiltrações sem importância.
Na verdade os amigos atravessam grutas muito húmidas e apertadas até chegarem a uma grande galeria com um lago subterrâneo deslumbrante. Cash já está a pensar em fazer muito dinheiro com a descoberta quando percebem que não estão sozinhos: um crocodilo monumental patrulha o lago, e os amigos encontram restos de turistas a boiar. (Aqui pode-se perguntar como é que o crocodilo foi lá parar, mas há uma explicação.) Quando tentam sair por onde entraram, uma grande enxurrada (resultado da tempestade) entra pela caverna adentro e cobre a saída. Agora alguém tem de nadar debaixo de água pela gruta inundada e tentar sair da caverna para pedir ajuda, sem ser apanhado pelo crocodilo. Pior ainda, a água não pára de subir, o que significa que em breve o crocodilo vai conseguir chegar às rochas mais altas onde os amigos procuraram abrigo. É uma corrida contra o tempo.
O filme ainda mistura um bocadinho de drama: a mulher de um casal está grávida do homem do outro, e há algumas discussões a três quando a namorada traída descobre, mas, sinceramente, o que é que isto interessa quando estão a minutos de morrerem afogados ou de serem comidos por um crocodilo?
O que gostei neste filme é que não envolve criaturas subterrâneas desconhecidas, ou alienígenas, ou empresas científicas à procura de recursos milagrosos, ou missões militares com propósitos obscuros, etc. É tudo muito simples: pessoas normais, um crocodilo normal, uma tempestade normal, e já faz dano que chegue.
Como em todos estes filmes de grutas não faltam as passagens claustrofóbicas e os momentos debaixo de água de suster a respiração, e como em todos os filmes de crocodilos não faltam as cenas arrepiantes em que… sabem o quê.
Simplesmente preferia que os personagens, apesar de não serem espeleólogos profissionais (tirando um), tivessem demonstrado mais bom senso, e já não ficariam fechados numa caverna inundada com um crocodilo, e nós já conseguiríamos importar-nos com o que lhes acontece.

13 em 20


domingo, 29 de junho de 2025

The Chameleons + Decline And Fall - RCA, Lisboa,18.Jun.2025 - Uma noite muito calorosa / A night of warmth

Publicado no Pórtico:

Decline And Fall
Confesso que não consegui preparar este concerto. Geralmente tento procurar a música das bandas que não conheço, mas meteu-se uma coisa e outra coisa, e esqueci-me. Ainda por cima sou daquelas pessoas que não conseguem avaliar música nova à primeira audição, que foi efectivamente o que aconteceu no concerto. O que consigo perceber imediatamente é se o tipo de som me interessa, e de facto interessou.
Por isso fiz batota. Cheguei a casa e fui ouvir o Bandcamp desta banda de Lisboa. Os Decline And Fall fazem um post-punk/darkwave contido, sombrio e melancólico, por vezes algo ambiental, não exactamente dirigido às pistas de dança. A sonoridade merece ser descoberta aqui:
https://declineandfallmusic.bandcamp.com

Decline And Fall, RCA, Lisboa, 18.Jun.2025 - Foto de DJ Asura Sunil / Photo by DJ Asura Sunil


The Chameleons
Os Chameleons arrancaram às 21h30 com o poderoso "Mad Jack". Estava uma noite quente, daquele calor húmido e abafado que se pega à pele. O concerto estava esgotado e o RCA estava cheio. Mark Burgess apresentou-se só com um colete, e pela segunda canção já todos em palco transpiravam, e nós também. A esta hora ainda deviam estar mais de 20 graus na rua depois de um dia que chegou quase aos 40. Mais tarde, de madrugada, haveria chuva e trovoada. Apesar do ambiente tropical, ninguém esmoreceu, na medida do possível.
O público sabia ao que vinha e foi sempre entusiástico. Os Chameleons não desapontaram. Mark Burgess está em forma e a voz continua excelente. Tivemos hits atrás de hits como "The Fan And The Bellows", "Up The Down Escalator", "Soul In Isolation", "Swamp Thing" (a canção que teve mais coro do público), "In Shreds", "Monkeyland", "Second Skin", "Don't Fall", todos clássicos tocados com arranjos diferentes, como se espera ao vivo. A canção mais recente, "Saviours Are A Dangerous Thing", do novo álbum a ser lançado em Setembro, chegou no encore.
Ainda bem que não preparei este concerto, por exemplo, assistindo a YouTubes de concertos recentes. Durante "Soul In Isolation", Mark Burgess incluiu letras de outras canções, numa espécie de medley, como "For What It's Worth" de Buffalo Springfield, "Eleanor Rigby" dos Beatles e "There Is a Light That Never Goes Out" dos Smiths. Foi uma surpresa, como eu gosto, sem spoilers!
Mark Burgress esteve igual a si próprio, carismático, simpático, efusivo e brincalhão, sempre a manifestar apreço pelo público, mas o fim eu não esperava. Ser simpático e agradecer é uma coisa, vir para o meio do maralhal, com aquele calor, toda a gente a transpirar, cantar "Rebel Rebel" de David Bowie como recheio de "Don't Fall", é mesmo de punk à antiga. Ninguém pode ter saído do RCA desiludido.
Da primeira vez que vi os Chameleons, versão Chameleons Vox, no Santiago Alquimista em 2010, fui para lá "arrastada" por amigos sem saber que gostava tanto dos Chameleons como de facto gostava. Saí de lá uma fã. Desta vez já entrei fã e saí ainda mais fã. Quanto mais conheço, mais gosto. Tem sido uma relação saudável de apreço e confiança construída ao longo dos anos, ao contrário da minha relação tóxica com determinada banda que não vai ser mencionada.
Deixo apenas uma pergunta: temos mesmo a certeza de que os Chameleons não conseguiriam encher os Coliseus? Tanto o RCA como o Santiago Alquimista são salas para uma banda de menor dimensão, já para não contar com o Rock Rendez Vous em 1983 onde iam as bandas novas e desconhecidas. Mas actualmente os Chameleons são uma banda de culto. Não mereciam os Coliseus? Ou será que hoje em dia os preços dos bilhetes num Coliseu o tornam proibitivo? Sinceramente, não sei. Custa-me não ver os Chameleons no Coliseu.


A night of warmth

 
Decline And Fall
I confess that I wasn't able to prepare this concert. Usually I try to look up the bands I don't know, but there came one thing after another, and I forgot. On top of that, I'm the kind of person that is incapable of properly evaluating new music on a first listen, which was the case. What I can tell immediately is whether the music interests me, and in fact it did.
So I cheated. I came home and listened to their Bandcamp. Decline And Fall, a band from Lisbon, make a restrained, sombre and melancholy post-punk/darkwave, somewhat into ambient at times, not exactly directed at the dance floor. Their sound deserves to be discovered here:
https://declineandfallmusic.bandcamp.com


The Chameleons
The Chameleons started at 9.30pm with the powerful "Mad Jack". It was a hot night, with that kind of humid and stifled heat that sticks to one's skin. The concert was sold out and the RCA was full. Mark Burgess came on stage wearing only a vest, and by the time of the second song everyone on stage was sweating, and so were we. At this hour the temperature was still over 20ºC outside after reaching almost 40ºC during the day. Later, at dawn, there would be rain and thunder. Despite the tropical conditions, everyone stood firm, as much as possible.
The audience knew what they had come for and was enthusiastic from the first moment. The Chameleons did not disappoint. Mark Burgess is in shape and his voice remains excellent. We had hits after hits like "The Fan And The Bellows", "Up The Down Escalator", "Soul In Isolation", "Swamp Thing" (the moment the audience sang louder),"In Shreds", "Monkeyland", "Second Skin", "Don't Fall", all classics played with different arrangements, as expected. The most recent song, "Saviours Are A Dangerous Thing", from the new album due in September, was played during the encore.
I'm glad I did not prepare this concert, as in watching YouTubes of recent gigs. During "Soul In Isolation", Mark Burgess included lyrics from other songs, in a kind of medley, "For What It's Worth" by Buffalo Springfield, "Eleanor Rigby" by The Beatles and "There Is a Light That Never Goes Out" by The Smiths. It was a surprise, just the way I like it, no spoilers!
Mark Burgess was his usual self, charismatic, friendly, effusive and playful, always expressing his appreciation for the audience, but I had not foreseen the ending. Being nice and appreciative is one ting, stepping into the midst of the crowd, in that heat, everybody dripping, to sing David Bowie's "Rebel Rebel" in the middle of "Don't Fall", that's old school punk. No one could have felt disappointed as they left the RCA.
The first time I saw The Chameleons, as Chameleons Vox, at Santiago Alquimista in 2010, I was "dragged" there by friends, not knowing I liked The Chameleons as much as I actually did. I left there a fan. This time I arrived a fan and left a bigger fan. The more I know them the more I like them. It's been a healthy relationship of appreciation and trust built over the years, unlike my toxic relationship with a certain band that shall not be named.
I end with a question: are we really sure The Chameleons would not fill the Coliseus? Both RCA and Santiago Alquimista are smaller band venues, not counting Rock Rendez Vous in 1983, where new and unknown bands came to play. But nowadays The Chameleons are a cult band. Wouldn't they deserve the Coliseus? Or is it that nowadays the ticket prices in Coliseu make it undoable? Honestly, I don't know. I regret that The Chameleons don't play at the Coliseu.

sábado, 21 de junho de 2025

“Lethes”, novo livro de D. D. Maio – PUBLICADO!


“Lethes”, um livro de D. D. Maio, encontra-se disponível em papel e ebook (formato epub).

Link: www.bubok.pt/livros/268378/lethes

Sinopse

Reena dá o último passo em direcção ao abismo. Etha faria tudo para conseguir segui-la, se lhe fosse permitido. Duas mulheres tão opostas, ambas anseiam por beber das águas do esquecimento.

Mil anos antes
Um rapaz órfão cria três águias que salvou de um penhasco. Alvo de admiração pelo feito improvável, a sua lenda não termina aqui. Já homem maduro e mercador experiente, decide expandir o comércio às tribos bravias a norte do Antigo Império. Todos o consideram insensato mas nada demove a ambição de quem escalou falésias. Em terras pagãs, conhece uma jovem sacerdotisa caída em desgraça. O novo reino que emerge dos escombros do passado nunca mais será igual.


“Lethes”, um drama em Low Fantasy com grande componente sobrenatural, continua a série iniciada em "Nepenthos", "Miasma", "Solstício" e "Elysion".

LETHES
© 2025 D. D. Maio
Formato papel: 150 x 210 mm
Nº de páginas: 244
Bubok, print on demand
*
Formato ebook em epub

 Disponível em www.bubok.pt
www.bubok.pt/livros/268378/lethes


Contacto: d.d.maio.email@gmail.com
Página: ddmaio.blogspot.com


A autora agradece desde já toda a divulgação, resenhas/reviews e avaliações no Goodreads.
www.goodreads.com/author/show/19718238.D_D_Maio


terça-feira, 17 de junho de 2025

The Row / Irmandade Fatal (2018)

Riley é uma caloira na universidade a quem uma colega convence a juntar-se à sorority mais popular do campus (uma república para raparigas). A princípio Riley não está muito interessada na sorority, até que descobre que a sua mãe, já falecida, foi presidente desta mesma república de estudantes e que Riley nunca soube disso, pelo contrário, sempre pensou que a mãe não gostava de sororities.
Torna-se claro que a república guarda um segredo terrível do passado quando as estudantes começam a ser alvo de um serial killer que, depois de as matar, lhes retira membros e os substitui por braços e pernas de bonecas.
Confesso que quando li a sinopse esperava um segredo muito mais sinistro ou sobrenatural, algo relacionado com cultos satânicos, no mínimo, ou pior ainda. Um serial killer também não é mau e a imagem das vítimas cosidas a membros de bonecas é suficientemente perturbador. De resto, o enredo é muito simples: serial killer ataca, a polícia tenta apanhá-lo, nada mais a dizer. “The Row” é só um filmezinho pouco original (até a cena das facadas no duche lá está) para entreter.

12 em 20


domingo, 15 de junho de 2025

From (2022 - ?) [terceira temporada]

Scott McCord ("Victor") e Simon Webster ("Ethan") no restaurante

Já que esta temporada se tem baseado em visões e pressentimentos a cair do céu aos trambolhões, eu também tenho o mau pressentimento de que esta série vai ser cancelada.
"From" é aquele enredo da vila cheia de monstros que aparecem à noite e de onde as pessoas não conseguem escapar. Uma vez que a história assenta no mistério e no suspense, não posso revelar mais nada porque quase tudo é um spoiler. Ainda assim, esta terceira temporada deixou-me muito preocupada com o futuro da série. "From" tem criado mistérios atrás de mistérios, à semelhança de "Lost", e agora parece-me que começaram a tentar dar respostas que não estão a fazer grande sentido. Em suma, como em "Lost", tenho o pressentimento de que estão a improvisar de episódio para episódio e de que isto não vai acabar bem (se acabar, isto é). *
A qualidade da série também decaiu imenso, a começar pelo ritmo. O primeiro episódio é uma porcaria evitável. Na sequência de um nevão imprevisto, a vila fica em risco de passar fome. Aqui descobrimos que a comida que eles têm são duas vacas e uma dúzia de ovelhas e cabras e galinhas, e que as "colheitas" são uma horta. Considerando que eles têm um restaurante (!) e que comem bem todos os dias, como é que estes animais e esta horta alimentam uma centena de habitantes, com restaurante e tudo? Onde é que está o trigo/milho/centeio para fazer as empadas que eles servem no restaurante? Isto era algo em que um espectador nem pensava se não tivessem feito disto um caso tão grave, até porque naquele sítio as coisas aparecem um bocado por magia. Esta falta de alimentos, que se resolveu com a descoberta de batatas e vegetais a nascerem em estado selvagem perto da vila, lembrou-me os piores momentos de "Under The Dome". "From" não precisava disto.
O segundo episódio é quase completamente dedicado ao funeral de uma só pessoa que até nem era assim tão importante. Daqui depreendi que estavam a encher chouriços porque tinham muito tempo para desenvolver a história. Mas de repente parece que isto mudou porque os últimos episódios da temporada são apressados, com personagens a terem visões e revelações a torto e a direito para tentar explicar os tais mistérios (mas sem explicar nada).
A série também começou a recorrer a truques baixos de filme de terror mal feito e ignorante, do qual destaco a inclusão do Tarot. Quero deixar aqui muito claro que não é assim que se consulta o Tarot e que o Tarot não é uma ouija board para invocar espíritos maléficos, não é assim que funciona. Isto é tão ignorante como dizer que "as bruxas são más". Por falar em ignorância, também me parece que a pseudo-ciência em que eles se baseiam não deve ter ponta por onde se pegue e que por isso nunca vai ser explicada.
Mas não quero ser demasiado dura com a série. Como produto, no todo, serve de entretenimento e continua a ter momentos bastante arrepiantes. Saliento dois actores, um deles o jovem Simon Webster e o mais crescido Scott McCord como "criança grande", que se calhar têm feito um papelão melhor do que a série merece, aliás, como quase todos os actores. Se falhar, a culpa não é deles. É um prazer ver "From" só por causa dos personagens.
O problema aqui é que isto começa a parecer uma salada de momentos arrepiantes sem que nada dê sinais de encaixar, e, pior, que as próprias respostas também não encaixem. Eu ficaria muito desapontada se a série fosse cancelada porque detesto histórias incompletas. Prefiro um mau fim a não ter fim nenhum. Mas começo a ter o pressentimento de que isto não vai longe, quer acabe ou continue.

"Spoiler"
A minha parte preferida foi o leão. Toda a gente conhece o leão da Metro Goldwyn Mayer, mas se calhar nunca o tínhamos visto em 3D e de perfil. Tendo em conta que esta é uma série em que pessoas são literalmente comidas, fiquei muito sobressaltada, logo no crédito de abertura, quando a "câmara" avançou para o leão, e nós com ela. Obviamente que o leão foi animado por Inteligência Artificial, mas confesso que me causou um pequeno susto a abrir uma série deste tipo. Se fosse uma série levezinha não me tinha assustado, e de facto passei a adorar o leão em 3D. Se nunca viram, sei que vão adorar também.

* Já depois de escrever este artigo, li por aí que a quarta e última temporada já foi renovada. Ao menos isso.

ESTA SÉRIE MERECE SER VISTA: 1 vez

PARA QUEM GOSTA DE: Lost, mistério, terror, sobrenatural


terça-feira, 10 de junho de 2025

Triangle / Triângulo (2009)

“Triangle” não é um filme de terror como os outros. Do princípio ao fim surpreende-nos e intriga-nos, não é apenas uma sequência de mortes horrendas mas uma história complexa que nos faz pensar. Também por este motivo não há quase nada que se possa dizer que não seja um spoiler, pelo que vou limitar-me aos aspectos que tornam “Triangle” tão interessante.
Jess, uma empregada de restaurante e mãe sozinha de um filho autista, aceita o convite do seu amigo Greg para um passeio relaxante no iate dele com mais quatro amigos. O título leva-nos a crer que a história é sobre o Triângulo das Bermudas, a acção passa-se efectivamente na Flórida e o veleiro de Greg chama-se Triangle, mas nunca é dito claramente se estão em águas do Triângulo ou não. E talvez não estejam, muito embora…
Levantam âncora num sábado de sol e bom tempo. Tudo corre bem até que abruptamente o vento pára de soprar enquanto nuvens de tempestade se formam à frente deles. Antes que possam descer a vela já estão no meio de ondas alterosas que viram o barco. Aqui pensamos que vai ser um filme sobre náufragos sobreviventes, mas…
Tão depressa como veio, a tempestade desaparece, e pouco depois os náufragos avistam um cruzeiro aproximar-se. Sobem a bordo e encontram um navio fantasma sem tripulação, aparentemente saído dos anos 30, embora em excelentes condições e com um buffet de fruta fresca como se estivesse à espera deles. Aqui pensamos que vai ser um filme sobre o navio fantasma, quando… Uma personagem encapuçada os começa a perseguir e matar. Não digo “matar um a um” porque a certa altura esta personagem misteriosa mata logo dois ou três em menos de um minuto, o que é estranho num filme de terror do género slasher. Mas será mesmo um slasher?
Jess é a última sobrevivente e consegue sobrepujar o atacante com um machado, mas, no momento em que está prestes a cair borda fora, este diz-lhe as estranhas palavras: “Tens de matá-los! Mata-os todos!”
Jess acaba por perceber que está presa num loop temporal e que a única maneira de se libertar dele é alterar a sequência de acontecimentos, mas será que vai conseguir?
A pergunta é pertinente, uma vez que o navio se chama Aeolus (Éolo, pai de Sísifo). Por enganar a Morte, Sísifo foi condenado a carregar um pedregulho até ao alto de uma montanha só para o ver rolar encosta abaixo outra vez… eternamente. Estará Jess reservada ao mesmo destino de pesadelo? E porquê ela? E eu até pergunto: e porquê eles?
“Triangle” é um filme sobre redenção e segundas oportunidades. É preciso ver o fim para compreender o princípio. Aliás, o filme está cheio de pequenas pistas que só se percebem ao segundo visionamento. Aconselho vivamente que se veja duas vezes.

14 em 20

domingo, 8 de junho de 2025

Orphan Black: Echoes (2023)

Num futuro próximo, Lucy acorda sem recordar nada do seu passado e depressa descobre que foi imprimida (por uma impressora) numa empresa que imprime órgãos humanos para transplante. Lucy foge mas é perseguida por forças que não a querem à solta porque ela é o resultado de uma experiência ilegal e sem ética. Tentando perceber quem a persegue, Lucy encontra outras "impressões" como ela, pessoas que não sabem que foram manufacturadas numa impressora.
"Orphan Black: Echoes" é baseada na série original "Orphan Black" (2013-2017), que eu não vi mas que teve boas críticas. Basicamente, é uma história de clones à procura de identidade própria.
Não quero contar mais nada porque este é daqueles enredos que vivem do suspense, mas vou adiantar isto: tal como em "Pet Sematary", quem é que, podendo, não traria de volta os entes queridos que morreram, seja de que forma for? "Orphan Black: Echoes" é uma série mediana, nada de espectacular, mas tem momentos em que aborda grandes conceitos filosóficos como este. Por muitas réplicas que sejam feitas da mesma pessoa, nenhuma é igual.
Não fiquei maravilhada, mas gostei da maneira com que o enredo me surpreendeu. No início pensava que ia ver uma coisa e afinal vi algo de diferente. Se calhar este efeito não teria acontecido se tivesse visto a série original, mas não faço ideia.
Mesmo assim, "Orphan Black: Echoes" foi cancelada embora acabe num cliffhanger. Não posso dizer que não percebo porque é que foi cancelada sem revelar mais sobre o enredo, mas, em suma, já era esgravatar demais no esgravatado. Também me pareceu que houve plot holes demasiado óbvios para considerar a série bem escrita. Vou dar apenas o exemplo que me aborreceu mais. Este é um mundo em que é possível imprimir órgãos. Existe um génio milionário (o vilão) que até patrocina a clonagem de seres humanos. A certa altura os "bons da fita" decidem fingir a morte de uma pessoa num carro incendiado colocando lá uma mandíbula da "pessoa" em causa, e o vilão nem sequer desconfia de que é um órgão imprimido? Eu penso que por esta altura já nem a polícia deveria confiar em registos dentários para provar um óbito. Achei mal escrito, e foi pena porque de resto a série tem muitas qualidades. Nada de extraordinário, mas interessante.

ESTA SÉRIE MERECE SER VISTA: 1 vez

PARA QUEM GOSTA DE: ficção científica, clones, thriller, suspense, filosofia


terça-feira, 3 de junho de 2025

Methgator (2023)

A única justificação para um filme mau é que nos faça rir e, confesso, este fez-me rir mais do que eu esperava. “Methgator” é a história de um jacaré que comeu um saco de anfetaminas e ficou doidinho.
Nos pântanos da Flórida, um traficante teve o azar de ser comido por um jacaré, que engoliu também a mochila cheia de produto. Viciado, a partir daqui o jacaré só quer droga, o que não significa que não coma também quem apanha pelo caminho. Mas há uma razão porque se chama speeds às anfetaminas: o jacaré está completamente speedado e, em vez de andar na sua forma característica e pachorrenta, agora ele galopa a todo o vapor assim que lhe dá o cheiro da anfa. Mais engraçado ainda, o jacaré começa a perder os dentes, sintoma deste tipo de droga. Dante, um enviado especial da DEA com ligações à terrinha na ilha pantanosa, é enviado ao local para investigar os traficantes e é envolvido no caso do jacaré speedado.
O enredo começa com lógica. Dante salienta que se um animal comer tanta quantidade de anfetaminas tem uma overdose e morre, mas todos lhe dizem que este é um jacaré muito especial, uma besta de 9 metros de comprimento. Aqui a lógica desaparece e entra a fantasia. O jacaré fica cada vez maior e mais forte à medida que come mais anfetaminas, a ponto de já não parecer um jacaré mas um crocodilo, maior do que a vida, e mais tarde ainda quase um Croczilla imune a balas e explosões.
O grande perigo é que o crocodilo encontre o super-laboratório que a polícia procura há muito tempo, o grande supermercado da droga da ilha, que, semelhante a “Breaking Bad”, está construído num subterrâneo. E claro que o super-crocodilo descobre o super-laboratório.
Apesar do enredo estapafúrdio, o filme vê-se bem e, pelo menos a mim, provocou algumas gargalhadas (mas admito que possa ter sido por ter imaginado Walter White vs Croczilla, e pobre crocodilo nesse caso). Aliás, tive muita pena do crocodilo. O bichinho só queria droga prá cabeça, quem é que o pode censurar?
Apesar dos péssimos efeitos especiais há uma cena um pouco perturbadora, quando o crocodilo come um traficante que já se julgava safo. E ainda dá para aprender alguma coisa, uma espécie de luta à chapada que parece ser típica da zona. Não é boxe, é mesmo chapada, e ganha quem puser o outro KO. Onde mais é que se podia aprender uma coisa destas?

12 em 20 (pelas gargalhadas)


segunda-feira, 2 de junho de 2025

“Lethes”, novo livro de D. D. Maio – BREVEMENTE!

LETHES
Sinopse

Reena dá o último passo em direcção ao abismo. Etha faria tudo para conseguir segui-la, se lhe fosse permitido. Duas mulheres tão opostas, ambas anseiam por beber das águas do esquecimento.

Mil anos antes

Um rapaz órfão cria três águias que salvou de um penhasco. Alvo de admiração pelo feito improvável, a sua lenda não termina aqui. Já homem maduro e mercador experiente, decide expandir o comércio às tribos bravias a norte do Antigo Império. Todos o consideram insensato mas nada demove a ambição de quem escalou falésias. Em terras pagãs, conhece uma jovem sacerdotisa caída em desgraça. O novo reino que emerge dos escombros do passado nunca mais será igual.

“Lethes”, um drama em Low Fantasy com grande componente sobrenatural, continua a série iniciada em "Nepenthos", "Miasma", "Solstício" e "Elysion".

domingo, 1 de junho de 2025

The Outsider (2020)

O que parecia ser um crime de pedofilia... não é o que parece.
Como já disse aqui muitas vezes, gosto de ver filmes e séries sem saber nada sobre eles. Comecei a ver "The Outsider" e pensei: "Olha, parece uma história de Stephen King." Imaginem a minha surpresa quando, nos créditos, apareceu "baseado num romance de Stephen King". Estou a ficar uma perita em Stephen King.
Não posso dizer muito sobre a história por causa dos spoilers, mas é sobre o Papão. E também não revelei nada porque todas as histórias de terror são sobre o Papão, como o próprio autor nos ensinou. O enredo desenrola-se mais como um policial (muitas impressões digitais, muito ADN, muitas entrevistas a suspeitos) do que como um filme de terror. Não há aqui criaturas assustadoras nem grandes efeitos especiais, é tudo muito contido.
Às vezes foi difícil acompanhar a série porque tem demasiados personagens, o que é típico de Stephen King. Como estas personagens só lá estão para desempenhar um papel, sem serem desenvolvidas, ninguém quer saber delas para nada. Foi por isso que não percebi qual foi o atirador que matou um suspeito num momento crucial: não tive tempo de lhe conhecer a cara, muito menos o nome. Há outra passagem igualmente frustrante, quando morre a mãe da primeira vítima. Tive de fazer batota e ir à internet pesquisar o que é que aconteceu à mulher. Parece que teve um ataque cardíaco. O que eu vi foi a mulher a prantear e cair de joelhos no chão, como faz uma pessoa que pranteia, não vi ataque cardíaco nenhum. Esta perplexidade, e outras do género que se repetem durante a série, não me deixou apreciar o enredo sem voltar atrás e ver de novo. Aliás, só percebi tudo ao segundo visionamento.
Outro momento de grande perplexidade foi quando está um personagem na prisão e os outros reclusos querem fazer-lhe a folha porque é um "assassino de crianças", mas depois este personagem desaparece e voltamos à prisão com outro personagem que caiu ali de pára-quedas e que eu julguei um membro do gangue que queria fazer a folha ao primeiro, mas afinal não tinha nada a ver com a cena anterior e fiquei muito confusa.
Noutra passagem, e isto vai soar um bocadinho cómico, a entidade malévola faz um escravo que vai a uma loja de ferragens e electricidade comprar candeeiros. Este escravo também tem de ir caçar veados para a entidade e deixa os veados e os candeeiros no meio da floresta. Confesso que este foi o momento de maior perplexidade de todos. Candeeiros no meio da floresta, sem estarem ligados a nada?!.. Tive de ver segunda vez para perceber que o escravo também estava a comprar geradores e gasóleo. Mas que raio de monstro tem medo do escuro? Só entendi isto no último episódio, e mesmo assim estou convencida de que o monstro podia ter arranjado sítio melhor onde morar.
Não faço ideia se eles estavam a seguir a estrutura do livro, mas se estavam deviam ter adaptado melhor. Foi por isso que em "Pet Sematary" tiveram de eliminar a mulher de Judd, que não estava ali a fazer nada. Stephen King, às vezes, não se lembra que as personagens só interessam se causarem impacto, e esta adaptação esqueceu-se de nos dar tempo de chegar a conhecê-las. Se é do livro ou da série, não faço ideia, mas às vezes não percebi exactamente o que estava a acontecer e como é que as personagens tinham chegado do ponto A ao ponto B.
Apesar disto tudo, "The Outsider" é uma boa série, melhor do que "It", e devo dizer que o final me recordou muito de "It" na versão adulta (isto é, com adultos em vez de miúdos). Confesso que não gostei de "It", mas "The Outsider" pareceu-me a versão melhorada, mais realista, muito mais credível do que "It". Recomendo.

ESTA SÉRIE MERECE SER VISTA: 2 vezes (quem perceber tudo à primeira tem os meus parabéns)

PARA QUEM GOSTA DE: Stephen King, terror, It, policial