quinta-feira, 19 de junho de 2008

Estado Máfia

EDP - Clientes vão pagar dívidas incobráveis


Clientes vão pagar dívidas incobráveis


ANA SUSPIRO
Electricidade. Até agora, EDP tinha de assumir a totalidade dos custos com as dívidas incobráveis. A situação vai mudar a partir de 2009. Os consumidores vão partilhar este risco com a eléctrica. Em causa estão valores entre 0,2% a 0,3% da facturação total. Em 2007, foram 12,5 milhões de euros

Em 2009, a EDP vai partilhar os custos com consumidores

Os custos com as dívidas incobráveis da electricidade vão passar a ser pagos por todos os consumidores. Hoje, é a EDP Serviço Universal que assume os encargos totais dessas dívidas. Mas a proposta da ERSE (Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos) para o próximo período regulatório de 2009/11 prevê que os encargos com esses compromissos passem a ser partilhados com os consumidores de electricidade a partir do próximo ano, nas tarifas de electricidade.


Para ler o resto, clicar no texto. Para quem não acredita, vistar o site da ERSE (www.erse.pt).
Pois é mesmo verdade, uma grande empresa, monopolista, pior ainda, a Entidade Reguladora para os Serviços Energéticos, que não devia ser o braço direito da empresa monopolista (digo eu), acha por bem que os custos das dívidas dos caloteiros sejam distribuídas pelos tansos que pagam.
Como a Justiça não funciona, e isto se tornou numa história de Robin dos Bosques ao contrário, a própria entidade reguladora decide que a empresa monopolista sobrecarregue os pagadores com as dívidas dos outros. Se isto não é a gota de água, não sei o que é. Como eu ando a dizer, e a dizer, e a dizer, a Justiça é o cancro do país. Sem a Justiça a funcionar como deve é impossível para qualquer empresa cobrar qualquer dívida. O mercado estagna. A economia seca. É a lei do vilão.
Se a moda pega, os bancos (igualmente poderosos) poderão também imputar o crédito mal parado às prestações das casas de quem as paga. Por exemplo. E vai por aí fora, até aos camionistas que, soube a propósito do recente abalo sísmico (salvo seja) fazem fretes abaixo do custo.
[Abaixo do custo?! Como é que uma empresa se pode dar ao luxo de fazer preços abaixo do custo?! E depois admiram-se.]
A mania de todo o português é apontar o dedo ao Estado e pedir subsídios. Não é isso que estou a fazer aqui. Estou aqui apenas a realçar que os deveres fundamentais do Estado são garantir bases essenciais como a segurança, a justiça, a equidade. Já só peço ao Estado que garanta a segurança e a justiça. Se o Estado não a garante não é um Estado, é um bando de malfeitores. Tão simples como a história do Robin dos Bosques. Paga quem não tem espada. Quem não tem espada paga. Lei da máfia.
Se esta proposta passar, Portugal deixa de ser definitivamente e oficialmente um Estado de Direito, porque num Estado de Direito qualquer cidadão poderia defender-se de ter de pagar dívidas que não são suas. Não o podendo fazer, estamos no totalitarismo. É tão simples como isso. E é por isso que esta notícia é tão grave.
Aliás, é tão grave que mesmo que a proposta não passe (se bem que o povo português seja tão acarneirado que é mesmo capaz de passar), só a sugestão de alguém se atrever a sugerir esta possibilidade me dá arrepios pela espinha abaixo. Isto chama-se roubo, e chegou-se a um ponto em que os ladrões não têm medo de dar a cara.
Pelo contrário. Quem tem medo de dar a cara e protestar são os cidadãos honestos e cumpridores que têm toda a razão para temer represálias. E porque não? Depois disto tudo é possível. Mesmo tudo.

7 comentários:

Fata Morgana disse...

Sabes, lembrei-me de ti assim que soube disto.
Não me admirei nada de te encontrar a falar do assunto!

Tomás disse...

Numa empresa os preços de venda ao público já reflectem necessariamente os riscos que a empresa toma. Se a edp dissesse "vamos descontar o risco dos preços que praticamos e imputá-lo directamente aos consumidores" até poderia parecer uma medida remotamente justa, dado que as previsões de risco são sempre pessimistas e em teoria o cliente até podia sair a ganhar. Mas não, saem-se com esta do "risco" como se tivessem acabado de descobrir a roda. Suponho que "imposto de selo" soava mal e já tinha direitos de autor.

Mas hey, é a crise!

katrina a gotika disse...

Tomás: Mas quais riscos?! Quando é que uma dívida é um risco? Para que é que servem os tribunais?!
Também deves ter batido com a cabeça ao nascer, tu!

Morgana... pois.

katrina a gotika disse...

Só mais uma acha para a fogueira, em que nem fui eu a pensar porque eu sou uma pessoa honesta e séria:

Se a EDP quer partilhar o risco com o cliente, que partilhe também os lucros. Não é assim que funciona o sistema económico em que há accionistas?
Isto de confundir dívidas com riscos e clientes com accionistas dá nestas aberrações de fazer vomitar qualquer pessoa que estudou Economia. E Direito. E História. Só nós é que não temos um Robin dos Bosques. Desde os espanhóis que foi fartar vilanagem.

Tomás disse...

Os tribunais hão-de resolver alguns dos casos, mas não todos. Em particular no nosso país. Dou como exemplo meu conhecido um advogado que foi multado por conduzir bem em excesso dos 50km/h permitidos numa localidade, que levou a multa para tribunal e não pagou porque a culpa era do estado por não lhe dar alternativas viáveis (i.e. uma autoestrada) para quando ele tinha que ir àquela velocidade.

Como eles dizem "há a letra da lei e há o espírito da lei". Num sistema judicial tão atolado podes ter a certeza que haverá muita dívida incobrável por truque e artifício, quando não por inépcia pura e simples do cobrador.

O risco do dinheiro não ser pago existe, como existem muitos outros riscos. Mas como eu disse, isso já faz parte integrante da estratégia da empresa. Talvez não na edp e noutras monopolistas que podem saquear com preços bem acima daquilo que lhes é necessário e não precisam de se preocupar com esses detalhes para sobreviver. Mas se assim for, nem a culpa é nossa que eles paguem milhões a gestores que são uma merda e não tratam disso, nem à partida eles podem alegar que são uns coitadinhos e o dinheiro não lhes chega, porque a roubar como roubam há-de dar para tudo isso e ainda mais um par de botas.

katrina a gotika disse...

Não tenho dúvidas nenhumas que hajam dívidas incobráveis, nem estou a pôr tal em questão, muito antes pelo contrário, que isto fique muito claro!
O pior é que o facto de a Justiça não funcionar prejudica gravemente a Economia, especialmente as pequenas empresas que vão à falência por não conseguirem cobrar as dívidas. Sem tribunais, não há espírito empreendedor que resista porque não se ganha para manter a empresa.
Quanto à EDP, talvez os gestores não sejam assim tão maus. Não é dever deles enriquecer a empresa? Enquanto souberem que há 10 milhões de anormais a pagarem o que eles quere, não é de aproveitar? Diria mesmo que fazem muito bem o seu trabalho. Até são bonzinhos. Podiam fazer pior. E não tenho dúvida de que farão.

katrina a gotika disse...

Farão pior ao cliente, isto é.