sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

Da miséria e da miséria

Estou a trabalhar há duas semanas. Não queria dizer nada antes de as coisas se definirem mais um pouco. Agora estão melhor definidas. Isto significa que posso respirar por mais um mês.
Nos dias que correm, pensar que se arranjou emprego e se fica lá para sempre é um disparate. Basta alguma coisa correr mal, ou a empresa mudar de política, ou a tarefa ser considerada desnecessária, para se voltar ao desemprego.

Não sei o que mais dizer. Acho que me tornei "miserável" e gosto. Até tenho um certo orgulho no facto. Vivo uma espécie de romance de Dickens ou de Léon Blois cheio de pobreza por todos os lados. O que é emocionante. Nunca me tinha apercebido de como é emocionante ser miserável. Como tomar banho com sabão azul e branco porque se acabou o sabonete. Ou cortar o cabelo porque não se tem dinheiro para cuidar dele. Ou como não ter conversa para quem só fala do que compra. "E conheces isto, e já foste àquilo"? Um pessoa sente-se tão superior cá em baixo. Tão absolutamente livre. Tão desapegada. Tão espiritual.
Tão sedenta de almas afins.

Há mesmo pessoas que vivem na carta do Tarot "O Diabo". O reino da matéria. Finalmente percebi o que a carta significa. Conheci novas pessoas. Acho que estas pessoas são postas à frente de outras para mostrar qualquer coisa. Qualquer coisa do género: "queres ser assim? tens a certeza?"
Como uma mulher dominada pelas moda, que só compra roupa de marca, que só fala da roupa que compra, que não lê um livro, que só vai onde estão pessoas com dinheiro (possivelmente à caça de fortunas e de marido rico), que olha para o que as pessoas vestem e assim avalia se "valem a pena", e sem o mínimo pudor de o afirmar em público. E o mundo deve estar cheio disto, eu é que não conheço esta miséria. Conheço a outra, mas esta cheira tão mal que quero distância.

O dinheiro dá a volta à cabeça das pessoas que nasceram em berço pobre e que de repente se encheram dele. Mas não todas. Há excepções! Poucas, mas há, que eu conheço e posso jurar.

O Diabo. O reino da matéria.

6 comentários:

Vampiria disse...

O reino da matéria é onde indubitavelmente qqr um de nós está, por muito espiritual que seja. O teu corpo é matéria! Agora podemos é aliemntar o espírito para que este se mantenha espírito e não seja "corrompido" - cada um que arranje a palavra que mais se lhe aprouver - pela matéria.

I Am No One disse...

Apesar de ter a sorte de, com mais ou menos sacrificios, conseguir fazer/ter algumas das coisas que gosto, não atiro nada à cara dos outros, tenham eles ou não possibilidade de o fazer também.
As gargalhadas que solto sempre que alguém me julga pelo que visto é a exterioriação do prazer que tenho em saber que aquela pessoa nunca me conhecerá.

I Am No One disse...

Esqueci-me de te dizer que é uma boa noticia teres arranjado trabalho, e espero que a tua permanência dependa apenas de ti e não de factores estranhos...

Goldmundo disse...

Oh Gotika! Gostei tanto do que disseste!

Ant disse...

Como diz um amigo meu: o dinheiro não é uma merda, o que é uma merda é a falta dele.

Lord of Erewhon disse...

Sei bem do que falas!