Se fosse outro país era estranho que só tanto tempo depois dos rumores algum jornal pegasse nisto, mas aqui nada espanta. É dado adquirido que o país não só desvaloriza a mentira como a premeia, e isso já disse neste blog até à exaustão neste últimos três anos e nem vale a pena dizê-lo de novo.
A mim o que me chocou profundamente no editorial do Público, apenso à notícia, foram estas palavras:
E, entre os seis membros da direcção do PÚBLICO, só um completou a licenciatura, e não é o director.
A inversão de valores é de tal ordem que esta gente parece ter orgulho em não ser licenciada. O que devia ser uma excepção, um indíviduo de grande capacidade intelectual chegar, sem estudos superiores, a cargos de grande responsabilidade, devido ao seu mérito excepcional (sublinho a palavra excepcional), parece ser a norma, norma essa de que a elite que dirige o Público se orgulha.
É também esta a elite que nos governa. Uma elite que despreza a Educação, que caga nela, que se gaba de não a ter.
O que nos leva a outra questão, ainda mais importante: se a Educação em Portugal não serve para aprender, serve para quê?
O que me leva à competência do primeiro ministro. Há quem não ponha em dúvida a sua competência, dando exemplos de outros não licenciados bem sucedidos em cargos de responsabilidade, mas sim o seu carácter, a sua vaidade, em bom português, a sua cagança saloia de querer ser "sr. dr." quando não o é.
A mim, parece-me que a falta de educação superior põe em causa também a competência do profissional, a começar pela gente que dirige o Público. Se os directores do jornal da elite intelectual bem pensante não valorizam um curso superior, quem o fará? E porque não o faz? Porque a Educação em Portugal não presta e um curso superior não ensina? Muito bem, que a elite intelectual e bem pensante tenha a iniciativa de o denunciar. É para isso que serve o jornalismo. Mas esta gente não sabe, e não sabe porque, suspeito, não esteve na faculdade tempo suficiente para o aprender, se é que por lá andou (são eles os próprios que o dizem).
Num outro país, um caso de um indíviduo excepcional não licenciado chegar a cargos de responsabilidade não seria grave por ser uma excepção. Em Portugal, a excepção tornou-se a regra. Isso é que é grave, a crescente desvalorização dada à educação.
Com uma elite destas a reger o país, quem é que se admira que os licenciados sejam na prática preteridos em relação às pessoas com o 12º ano? Certamente que ninguém gosta de ter como subordinado alguém com mais qualificações. Cagança oblige. Nem é de surpreender que universidades polulem como cogumelos a ministrar cursos aos que tem notas para ingressar e a vender cursos aos que não têm. O denominador comum destes cursos é a total falta de qualidade, por isso põe-se a questão do que vale realmente um curso superior em Portugal? E se tirarmos os cursos de vertente científica, em que não há critérios de avaliação subjectivos, o que valem lá fora? Nada.
Como tenho dito muitas vezes, só há um cancro pior do que a educação em Portugal, que é a Justiça. Se a Justiça funcionasse, um aluno ludibriado poderia pôr essa faculdade em tribunal e processá-la. Como tal não acontece, a impunidade continua. A Educação é para os ricos, lá fora.
4 comentários:
Os blogs que tu vais ler! :)=
Agora vê quantas pessoas se queixam com conhecimento de causa ou tendo sentido na pele as consequências de um sistema moribundo. Onde seria realmente desejável obter uma maioria concordante, ela não se forma. As tuas observações, que corroboro com admiração, são a excepção representativa do pouco pensamento lúcido, ou da queixa lúcida, que se faz por aí. Como sabes, claro.
A razão de termos cursos superiores que na sua maioria valem pouco é que primeiro foram criadas muitas universidades para dar acesso ao ensino superior "a toda a gente". Quando depois se notou que não existem alunos suficientes para encher os cursos todos, começou-se a admitir alunos sem olhar às notas. Isso levou ao insucesso escolar. Querendo outra vez melhorar, passou-se a financiar o ensino superior em função do número de alunos, e de avaliar os cursos e os professores. Estas avaliações estão a ser feitas por outros professores, a sofrerem de mesmos problemas. Com efeito, foram abaixo os padrões de conhecimento e de exigência, sendo tudo de momento ainda agravado pela crise demográfica que o ensino está a sofrer, enquanto o governo pensa apenas em poupar dinheiro.
Parabéns, Gotika, pelo excelente e esclarecido post. Tocaste na carne.
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