Hoje vou falar de coisas simples. E como já não é a primeira vez que explico o país às criancinhas, cá vou bater mais no ceguinho para ver se dou vista a mais um cego. Todos os dias acorda um. Serás tu?
Imaginem que os clubes de futebol contratavam os jogadores como as empresas em Portugal contratam os trabalhadores. Era assim: o Zé Maria era o melhor avançado da equipa de júniores. O treinador queria contratá-lo para os séniores mas chega-se ao pé do Zé Maria e diz assim: "Pá, tu és bom. Sou treinador há 20 anos e nunca vi um avançado como tu. Por mim, contratava-te. Mas, sabes, o ano passado já meti o filho da minha prima, e tenho lá um filho em casa que para o ano já tem idade para jogar e até dá uns toques na bola... Por isso não te posso contratar. Mas tu és bom, safas-te em qualquer lado. Eles é que não, coitadinhos, porque não são grande coisa e se eu não os safar não jogam em lado nenhum".
Ora, frustrado e a mandar o treinador para o caralho que o enrabe, o Zé Maria lá foi tentar mais clubes, porque afinal é um bom avançado e sabe que o é. Mas em todos ouviu a mesma cantiga. Só joga quem tem cunhas. Até que o Zé Maria se fartou e foi para pasteleiro. Não é um bom pasteleiro mas por causa dos coitadinhos o Zé Maria não se safou.
E foi assim que a mediocridade invadiu os postos de trabalho.
E as equipas lá da terra? Bem, entre elas, sempre havia entre os medianos (mas não os melhores porque os melhores marcadores iam, como se viu, para pasteleiros) quem marcasse um golo ou outro e lá se iam safando.
O pior foi quando fizeram uma selecção e foram jogar com equipas de outros países onde joga quem sabe e não quem tem cunhas. E, como eram uma selecção dos menos maus, e não dos melhores, levaram uma tareia que se consolaram.
É disto que se fala quando se fala da falta de competitividade do país. É disto e tão simplesmente disto. Foram décadas a mandar os craques fazer bolas de berlim no intuito de salvar os coitadinhos da família, amigos e conhecidos. Não se provou muito inteligente porque agora que precisam de um Zé Maria para marcar golos, este está a decorar bolos (e nem por isso muito bem porque onde ele era bom não o deixaram avançar) e a equipa não ganha nem nunca ganhará. Foi cilindrada pelo mérito estrangeiro.
E isto foi a falta de competitividade do país explicada às criancinhas. Quem não perceber que enfie umas orelhas de burro e se vire prá parede sefaxavor que eu vou ali cumer uns tremossos com uns minuins e buber umas inpriais. (fodasse, hoje não que é ainda é quinta, fica prámanhâ.)
12 comentários:
Muito obrigada pela fidelidade. A fidelidade é algo a que eu dou valor.
Uma perguntazita: será que o Zé Maria é mesmo bom? Ou tem a mania que é bom? Isto é que é mesmo portuguesíssimo. Eu não quero descofiar do Zé Maria, que nem sequer conheço, mas lanço-lhe um desafio: porque é que não vais jogar para o Real Madrid? ou até para o Pontevedra? Força, Zézito.
pois é!!! criámos um país de pasteleiros, e o sistema é cada vez mais engordado "à pala" das bolas de berlim que fabricamos!!!
e se passássemos a fabricar queques ou pasteis??
Ass: uma antropóloga que lava latrinas e não tem tempo para comer!!
JAJAJAJA!!! eu sempre desconfiei de gajas que percebem de bola!:)=
Como informático que acabou a fazer programação (de trabalho) e controlo de custos numa empresa de construção civil, posso assegurar-te que a realização pessoal não tem nada a ver (numa boa parte dos casos) com a vida profissional.
Trabalhar é uma espécie de prostituição soft, que serve para nos assegurar o sustento e um ou outro extra.
O trabalho não é uma virtude mas sim um mal necessário, e o sistema de cunhas é apenas a selecção natural dos mediocres.
Quem for verdadeiramente capaz pode safar-se na maioria das profissões.
Posso assegurar-te isso, porque até agora já aprendi várias.
(Aínda bem que voltaste a escrever)
Beijo
;-)
Antes de mais, gostaria de salientar algo que se calhar deveria ter referido no post. Este post não é uma boca rasteira ao desaire dos sub-21, se bem que as derrotas da semana passada me tenham inspirado.
Posto isto,
S., não sei se percebeste a minha analogia. Eu estava a pôr a hipótese se o futebol contratasse jogadores como as empresas, via cunha. O Zé Maria é emsmo bom. Se fosse no futebol, ou nas áreas científicas, poderia ir para o estrangeiro (e de facto vão, porque podem ir e têm oportunidades). Mas nem todos podem ser futebolistas ou cientistas. Resta-lhes ser pasteleiros porque é onde podem trabalhar nas suas terras. Outros, mais afoitos, podem também ser pasteleiros no estrangeiro. Não podem é ser mais nada. Obviamente, terra que não ama os seus filhos não os merece. O que tu estás a dizer é que se abandone a terra. O que a terra está a fazer é mandar os filhos embora.
o Sistema Nacional de Cunhas (SNC, não confundir com Sonae.com) é igualitário a nível nacional.
Hahahaha! E viva a igualdade de oportunidades. Oportunidades iguais dentro da casta em que se nasceu.
Refinado sentido de humor!
O trabalho não é uma virtude mas sim um mal necessário, e o sistema de cunhas é apenas a selecção natural dos mediocres.
Quem for verdadeiramente capaz pode safar-se na maioria das profissões.
Olha outro. Quem for verdadeiramente capaz de ser medíocre safa-se em todo o lado, concordo. Isso e andar de cabeça baixa, costas curvadas e sorriso amarelo. Nunca falha. Os donos gostam que os seus escravos pareçam de facto escravos. Para isso têm que ser preferencialmente mais feios e mais estúpidos do que os donos.
Gotika, conheço muitos, e tu tb, que sairam em tenra idade de aldeia perdida nas serranias beirãs,se quiseram mostrar o seu valor. lá nas berças, podiam ser muito bons a fazer queijos e a tosquiar ovelhas. Mas tiveram que ir para Coimbra, ou Porto, ou Lisboa, estudar. A terra mandou-os embora? Não, claro que não. Buscaram nova terra poiades que não fazia sentido ser engenheiro no meio da serra da Lousã, ou cirurgião cardiotoraxico em Serpa. Depois, da Cidade foram apar o estrangeiro. Alguns ficaram lá, como o António Damásio. Expulsos, enxotados? Não, claro que não, foram chamar «minha terra» a outra terra. Devemos ser todos assim. A terra não é para amar os filhos. Os homens é que têm que se realizar, cumprir uma missão onde quer que tal se proporcione, onde se sintam úteis, onde possam onde queiram.
A terra não é para amar os filhos.
Discordo totalmente. É aqui que está a raiz da nossa diferença inconciliável. A terra deve amar os filhos e os filhos devem amar a terra.
Não vale a pena perdermos mais tempo com argumentações. Vemos as coisas de modo diferente.
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