domingo, 24 de junho de 2007

Vampiros e flores vermelhas

No céu cinzento sob o astro mudo
Batendo as asas pela noite calada
Vêm em bandos com pés de veludo
Chupar o sangue fresco da manada

Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhes franqueia as portas à chegada
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada

A toda a parte chegam os vampiros
Poisam nos prédios, poisam nas calçadas
Trazem no ventre despojos antigos
Mas nada os prende às vidas acabadas

São os mordomos do universo todo
Senhores à força, mandadores sem lei
Enchem as tulhas, bebem vinho novo
Dançam a ronda no pinhal do rei

Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada

No chão do medo tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos na noite abafada
Jazem nos fossos vítimas dum credo
E não se esgota o sangue da manada

Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhe franqueia as portas à chegada
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada

Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada



Zeca Afonso, "Os Vampiros"






(Não estou de modo algum a dizer que a censura regressou. Este post é apenas uma inocente canção sobre vampiros com uma florzinha para enfeitar o blog.)

7 comentários:

Goldmundo disse...

Só não regressou porque na verdade nunca se foi embora.

E deixou de estar a cargo de uns pides semi-analfabetos. Foi a primeira indústria a ser privatizada, e com sucesso :)

Dark kiss.

Rui Rebelo disse...

agora não tem rosto. está mais perigosa.

the dreamer disse...

hum.. aqui tenho então a tua opinião quanto a uma pergunta que fiz há uns tempos...

yuna

Goldmundo disse...

Em rigor, os versos não são do Zeca mas do "Dr. José Afonso". O Zeca foi coisa do tempo dos cravos (e não foi tão bom...)

katrina a gotika disse...

Goldmundo, eu tenho de discordar. Lembro-me de um tempo em que não havia censura. Foram uns escassos 10 ou 15 anos, e pode parecer pouco, mas existiu.
Lamento que não tenhas vivido esses anos. É uma pena. (Sem ironia.)

katrina a gotika disse...

Pois, Yuna, parece que acabei por responder. Mas essa conversa ficou interrompida e o local para a ter deixou de existir. Não faz mal. Agora só os muito cegos é que não querem ver.

the dreamer disse...

Acho que nem enterrando a cabeça na areia dá para evitar ver e sentir isto.


Yuna