No céu cinzento sob o astro mudo
Batendo as asas pela noite calada
Vêm em bandos com pés de veludo
Chupar o sangue fresco da manada
Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhes franqueia as portas à chegada
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
A toda a parte chegam os vampiros
Poisam nos prédios, poisam nas calçadas
Trazem no ventre despojos antigos
Mas nada os prende às vidas acabadas
São os mordomos do universo todo
Senhores à força, mandadores sem lei
Enchem as tulhas, bebem vinho novo
Dançam a ronda no pinhal do rei
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
No chão do medo tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos na noite abafada
Jazem nos fossos vítimas dum credo
E não se esgota o sangue da manada
Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhe franqueia as portas à chegada
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
Zeca Afonso, "Os Vampiros"
(Não estou de modo algum a dizer que a censura regressou. Este post é apenas uma inocente canção sobre vampiros com uma florzinha para enfeitar o blog.)
7 comentários:
Só não regressou porque na verdade nunca se foi embora.
E deixou de estar a cargo de uns pides semi-analfabetos. Foi a primeira indústria a ser privatizada, e com sucesso :)
Dark kiss.
agora não tem rosto. está mais perigosa.
hum.. aqui tenho então a tua opinião quanto a uma pergunta que fiz há uns tempos...
yuna
Em rigor, os versos não são do Zeca mas do "Dr. José Afonso". O Zeca foi coisa do tempo dos cravos (e não foi tão bom...)
Goldmundo, eu tenho de discordar. Lembro-me de um tempo em que não havia censura. Foram uns escassos 10 ou 15 anos, e pode parecer pouco, mas existiu.
Lamento que não tenhas vivido esses anos. É uma pena. (Sem ironia.)
Pois, Yuna, parece que acabei por responder. Mas essa conversa ficou interrompida e o local para a ter deixou de existir. Não faz mal. Agora só os muito cegos é que não querem ver.
Acho que nem enterrando a cabeça na areia dá para evitar ver e sentir isto.
Yuna
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