sábado, 25 de julho de 2020

“Nepenthos”, novo livro de D. D. Maio - disponível em papel e ebook


“Nepenthos”, novo livro de D. D. Maio, já se encontra disponível em papel e ebook (formato epub).

Link: www.bubok.pt/livros/12182/Nepenthos

A ilustração de capa e contracapa é da talentosa Ariadne Castro.
Os capítulos iniciais de "Nepenthos", e alguns excertos adicionais, podem ser lidos AQUI.

Sinopse
Num gesto de encoberta bondade, o jovem imperador salva uma rapariga da ignomínia na taberna da vila. Devia ter sido inconsequente, mas o encontro muda para sempre as suas vidas.


Acaso, escolha ou destino?

Reena deseja morrer. Serva órfã, presa de abuso em menina e forçada à prostituição desde jovem, há muito que o desespero lhe sussurra ao ouvido. A súbita oferta de uma vida melhor no castelo do imperador não é o trabalho digno que teria almejado, mas dá-lhe esperança de vir a conquistar uma humilde posição de criada. No castelo, Reena experimenta uma liberdade que nunca lhe tinha sido permitida e recorda sonhos de rapariguinha, de um amor e de uma família. Mas sucessivos envolvimentos românticos, fracassados, tornam a lançá-la na escuridão da derradeira escolha. Por muito que tudo ainda melhore, conseguirá alguma vez resgatar-se a si mesma desse inimigo oculto no âmago da sua alma?
Eric, o imperador, já desceu demasiado baixo. Enraivecido por uma infância de abandono, endurecido por um passado de guerra, envereda voluntariamente pelos nefastos caminhos de que talvez não haja regresso. Um último passo na direcção errada desmorona o homem de pedra que já não o quer continuar a ser. Mas não será demasiado tarde para mudar?
Tão afastados nos extremos do destino, Eric e Reena partilham difíceis veredas na busca da longínqua felicidade que não lhes parece reservada. Para ambos, nenhuma felicidade poderá ser vulgar.


“Nepenthos” é um drama em Low Fantasy, pesado e realista, por vezes desconfortável, mas com bastantes tons de romântico.


CAPA



CONTRACAPA



NEPENTHOS
© 2020 D. D. Maio
Ilustração de capa: © 2019 Ariadne Castro
Formato papel: 152 x 228 mm
Nº de páginas: 740
ISBN: 978-84-685-4821-0
Bubok, print on demand
*
Formato ebook em epub
ISBN: 978-84-685-4822-7

Disponível em www.bubok.pt

www.bubok.pt/livros/12182/Nepenthos

Contacto: d.d.maio.email@gmail.com
Página: ddmaio.blogspot.com



domingo, 19 de julho de 2020

Stranger Things


[crítica à segunda e terceira temporadas; não revela o fim]

Confesso que passei a segunda temporada de “Stranger Things” com um encolher de ombros. Os autores prometeram que a história se ia tornar mais negra, mas afinal foi mais do mesmo e já sem o impacto da novidade da temporada inicial. A fórmula funcionou e apenas se repetiu a fórmula, mais monstros, os miúdos a caçar os monstros, muita nostalgia, música dos anos 80 (e não a melhor música nem a mais conhecida, ainda por cima. Neste aspecto a última temporada de “American Horror Story: 1984” esteve muito melhor e realmente passava as músicas que eu me lembro de ouvir em todo o lado e a toda a hora na rádio e na TV).
Mas há que admitir, os autores de “Stranger Things” são exímios contadores de histórias, gente que sabe tudo o que funciona para nos viciar. E para nos manipular. Se há coisa em que são ainda mais peritos é em manipular as nossas emoções. E o pior é que nós sabemos que estamos a ser manipulados e já vamos para lá à espera dos altos e baixos emocionais, como quem compra um bilhete para a montanha russa da última temporada, que tanto nos fazem rir como nos fazem chorar. Mesmo que às vezes haja batota pelo meio.
Por exemplo, na segunda temporada Dustin encontra um bichinho estranho e em forma de lesma que parece um girino, mas ao mesmo tempo não é nada como ele alguma vez tenha visto, e nós todos já estamos fartos de saber que aquilo veio do Upside Down e não vai acabar bem. Dustin também teria obrigação de saber, porque Dustin é tudo menos parvo, mas aqui fazem que ele esqueça o que passaram todos a lutar contra o Demogorgon. Leva o bichinho para casa, mete-o no terrário da tartaruga, e começa a alimentá-lo. Há quem discorde, mas a verdade é que até eu achei o bicho fofinho. Especialmente quando certa vez este acorda e se espreguiça, e estica as patinhas de trás à gato. Sim, claro que foi à gato para nos manipular, para ficarmos viciados no bichinho. Só que depois o bicho cresce e transforma-se numa espécie de Demogorgon e mesmo assim não paramos de ser manipulados. Há uma cena em que o bicho, já crescido, anda atrás de Dustin, mas nunca o vemos tentar atacá-lo. O bicho anda atrás de Dustin como qualquer animal de estimação anda atrás do seu cuidador. Isto é mesmo para nos partir o coração, porque já sabemos qual vai ser o destino deste pobre monstro que se calhar até gostava de Dustin. Os autores são ainda mais espertos, porque vemos uma última cena ternurenta no penúltimo ou último episódio, mas nunca vemos o que acontece realmente ao pet de Dustin, porque senão ficávamos todos com um grande amargo de boca. Dustin levou o bichinho para casa, tomou conta dele, e quando ele cresceu e se tornou perigoso expulsou-o, primeiro, e deixou que o matassem depois. Não queríamos pensar isto de Dustin, por isso a série fez batota e não nos deixa ver o que aconteceu ao Demogorgon domesticado que apesar de adulto ainda comia à mão de Dustin.
Outras manipulações são mais corriqueiras. Quando, por exemplo, nos apresentam um personagem novo que não faz parte do cast central, e passamos algum tempo com ele até nos importarmos com o que lhe acontece. E já sabemos o que isso significa, não sabemos? É claro que vai ser ele/ela a morrer para não ser preciso matar nenhum dos protagonistas. “Stranger Things” sabe-a toda e nós fingimos que não percebemos porque também queremos ser entretidos e também não queremos que nenhum dos protagonistas morra. Mas, no reverso da medalha, a certa altura todo o perigo que eles enfrentam perde as consequências porque já sabemos que não lhes vai acontecer nada. Isto priva-nos do nervosismo de roermos as unhas e sentirmos o coração apertado sempre que um dos protagonistas está em grandes apuros. A série pode agradar mais assim a certos espectadores, mas não a todos, e o que ganha em leveza perde em dramatismo.
Não há muita história nova para contar nestas duas temporadas. Os monstros do Upside Down continuam a conseguir passar-se para o nosso lado e os nossos heróis continuam a conseguir derrotá-los com muito custo e sacrifício (mas nunca o sacrifício deles).
Mas na terceira temporada, finalmente, os miúdos deixaram de ser tão infantis e começaram a entrar na puberdade. E a puberdade é muito gira, desde que não sejamos nós a passar por ela. Will, pobre puto, ainda quer jogar ao Dungeon & Dragons, mas os amigos entretanto encontraram um interesse que arruma qualquer jogo a um canto: agora têm namoradas! Will ainda não partilha esse tipo de interesse e sente-se posto de lado. Mas Mike e Lucas também só começaram a jogar este novo “jogo” há poucos meses, e sentem-se uns peixes fora de água. Alguns dos diálogos são hilariantes e lembram-me coisas que nós dizíamos uns aos outros quando éramos da idade deles. “Não sabes que as mulheres são uma espécie diferente?”, pergunta Lucas a Mike, quando Eleven cortou com Mike mas Mike quer reatar, e Lucas fala como se já soubesse tudo sobre as mulheres porque tem mais um ou dois meses de experiência, o que já o torna algo perito no assunto: “As mulheres não são racionais. Eu já deixei de andar com a Max uma meia dúzia de vezes e sempre consegui que ela fizesse as pazes comigo. Queres saber como voltar para ela? Quanto dinheiro tens? Tens de comprar-lhe um presente.” Confesso que ri às gargalhadas com as certezas deste miúdo, quando tudo era tão simples e fácil de resolver.
Mas não é, que o digam Joyce e Hopper, os adultos com a experiência toda que nem mesmo assim conseguem entender-se numa relação romântica. “Oh, poupem-me! Parem de discutir e vão fazer sexo, já, porque já ninguém vos atura!”, diz-lhes alguém, e foi a cena em que mais me ri. Não foi só isto que me fez rir, há todo um contexto que não interessa contar porque não há nada como ver.
Mas do que gostei mesmo, mesmo, foi da relação que se estabeleceu entre Hopper e Eleven, desde que ele a acolheu em segredo no fim da primeira temporada. Eleven pode ser uma miúda com super poderes, mas não passa de uma miúda que precisa de uma figura paternal, e Hopper pode ser um polícia empedernido e durão, mas é também o homem que perdeu uma filha. Quando, na segunda temporada, Eleven chega a casa já de noite, depois de sair sem dizer (ela tem doze anos, afinal, tem de pedir permissão), e vê ao longe, no alpendre, a luz do cigarro de Hopper, sentado no escuro, a fazer-lhe uma espera para lhe dar o arroz, e Eleven se sente comprometida como se nem fosse super-poderosa, é já uma dinâmica pai/filha que está a acontecer. Uma dinâmica nascida não de relações de sangue, mas mais forte ainda do que estas porque é uma dinâmica que surge do amor, da vulnerabilidade de um e de outro, ambos tão fortes e senhores de si e ambos tão necessitados da relação familiar que nunca tiveram ou que foi interrompida cedo demais.
Na terceira temporada, Hopper já age como um pai de facto, um pai à antiga, e um pai atarantado porque agora tem uma filha que namora com um rapaz (um rapaz, sozinhos no quarto dela!), e Hopper impõe regras e regras que Eleven, como qualquer miúda da sua idade, faz questão de não cumprir, e tudo isto o coloca à beira de um ataque de nervos de fumar cigarros um atrás do outro e arrancar os cabelos.
Esta série tem nostalgia que baste para todos, mas esta foi a relação que mais me interessou, uma relação entre pai e filha que é verdadeiramente original porque Eleven não é uma miúda qualquer. Este pai adoptou uma filha na mesma medida em que a filha adoptou um pai.
E por falar em nostalgia, aquela conversa entre os adolescentes Steve e Robin no chão da casa de banho do centro comercial, ambos completamente pedrados, que começa numa discussão filosófica sobre o filme “Regresso ao Futuro” e acaba com ela a confessar que gosta de miúdas, quando Steve já estava a avançar para outras águas que não as da amizade. Isto sim, trouxe-me memórias, de outras casas de banho, de outras conversas, de outras pedradas, de outras confissões.
E é assim que “Stranger Things” nos agarra. Há ali algo para todos, como na feira popular da terceira temporada, e nem começo a contar-vos a nostalgia que me bateu ao lembrar a nossa velhinha Feira Popular, onde toda a gente ia e onde toda a gente se divertia, e as saudades que eu tenho dela nas noites de verão…
“Stranger Things” vai provocar-nos no âmago das nossas recordações e são as nossas recordações, nem mais nem menos, que fazem o sucesso desta série. A fórmula resulta e não faço a mínima ideia de quanto mais tempo possa durar.
Na terceira temporada, referências e homenagens a “Terminator” (não era um Terminator, mas que parecia, parecia), a Parque Jurássico e a Alien. Fora as outras todas que eu não apanhei ou que nunca vi porque não eram o meu género.

domingo, 12 de julho de 2020

The Terror: Infamy


“The Terror: Infamy” é a temporada seguinte na sequência do excepcional “The Terror”. Digo “seguinte” e não “segunda” porque a história não tem nada a ver com a da primeira. Nem a história nem a qualidade. Na minha opinião, e não sou a única a pensar assim, era bem melhor terem feito uma série diferente sem acartar o peso da temporada original. Comparar esta temporada à inicial (uma das melhores séries de terror que já vi na vida, senão a melhor) não faz nenhuns favores a “Infamy”, pelo contrário.
Não é que eu não estivesse preparada para a decepção. “Infamy” tinha uma tarefa quase impossível, estar à altura de uma série que é praticamente perfeita, a que eu só não daria 20 em 20 por ser picuinhas e pelo CGI do tuunbaq deixar muito a desejar. Dava-lhe 18 em 20, mesmo assim. A “Infamy” posso dar 14 em 20 pela parte histórica e pela cinematografia; não posso dar mais porque não merece.
“Infamy” passa-se nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial, logo após o ataque a Pearl Harbor, quando os residentes japoneses foram declarados inimigos de guerra e presos em campos de concentração. Esta é uma passagem da História da América que só recentemente começou a ser discutida abertamente, e é actualmente considerada uma infâmia. Não foram aprisionados apenas os imigrantes japoneses como também a segunda geração, isto é, cidadãos plenamente americanos nascidos e criados nos Estados Unidos. Todos foram arrebanhados das suas casas e enfiados em barracas sem condições nem dignidade, em campos com arame farpado sob custódia do exército, a lembrar os judeus na Alemanha mas sem as câmaras de gás. Nesta série participaram muitas pessoas que estiveram nesses campos eles próprios, ou que são descendentes. O tema de ”Infamy” é muito bom e teria sido melhor fazerem um drama histórico em vez de uma série de terror porque, honestamente, foi a parte de terror que estragou tudo.
O que se salva em ”Infamy” são precisamente os pontos que tem em comum com a temporada original. Tal como no caso das tripulações do HMS Terror e do HMS Erebus no mar árctico, estas pessoas também já estão a viver um filme de terror sem ser preciso o sobrenatural a piorar a situação.
Tal como em “The Terror”, o sobrenatural é exótico e tem a ver com a cultura dos protagonistas. O tuunbaq, no primeiro caso, o yurei aqui, um espírito vingativo que consegue levantar o próprio cadáver da sepultura ou possuir pessoas conforme isso sirva o seu objectivo.
E, tal como em “The Terror”, existe o uso das fotografias distorcidas a indicar que algo de sobrenatural e ameaçador está prestes a acontecer. Temos até uma explicação para estas fotografias em ambas as temporadas. Chester Nakayama, o protagonista, pergunta ao seu professor de fotografia porque é que as fotos saíram assim e este diz-lhe que a máquina fotográfica é a maneira como o fotógrafo se relaciona com o mundo. Isto é, que as fotos saíram distorcidas porque o fotógrafo pressentia uma distorção na sua realidade. Gostei desta explicação, um pouco poética e um pouco psicológica, e não preciso de explicação melhor. Gostei que a explicação também se aplicasse às imagens distorcidas captadas pelo doutor Goodsir em “The Terror”. E gostei das cenas com os pescadores japoneses a pescar em águas geladas, tal como em “The Terror”, e tudo o que me lembrava da primeira temporada só me fazia saltar à vista que não estava a assistir a uma história com a mesma qualidade, e a comparação ainda prejudicava mais o que já não era bom.
O primeiro episódio até promete. A primeira morte é arrepiante, se calhar porque  ainda não sabemos o que se passa. O drama dos japoneses nos campos de concentração, a desconfiança e o ódio dos americanos para com aqueles que até há pouco tempo eram seus vizinhos, é cativante e vale a pena. O romance de Chester Nakayama com uma mulher de outra minoria, Luz Ojeda, filha de mexicanos, também ajuda a estimular o interesse. As primeiras aparições do yurei, o espírito vingativo, na forma de uma japonesa lindíssima e, por esse motivo, mais enganadora e perigosa, também são intrigantes. Onde é que tudo isto falha? É na continuação. Afinal o yurei queria a alma de Chester, mas depois já não queria e qualquer alma de criança lhe servia, mas depois já queria os filhos de Chester, e entretanto acho que já nem o yurei sabe o que quer. Não me perguntem, eu também percebi muito pouco. E uma história tem de fazer sentido. Aqui até parece que quem começou a escrever não sabia como acabar e desatou a improvisar às três pancadas. Não correu nada bem. A história tornou-se cada vez mais errática, tanto a nível do yurei como a nível das personagens humanas (num episódio Luz já não quer ver Chester à frente, mas 30 minutos depois já quer viver com ele, sem que nada tenha acontecido para a fazer mudar de ideias) e começou a ser um bocadinho doloroso de assistir.
Existem algumas partes que realmente espelham qualidade, como o Além onde o yurei está aprisionado, uma espécie de Céu e de Inferno ao mesmo tempo, e toda a envolvente histórica, e os episódios em Guadalcanal que nos mostram o horror real da guerra, mas depois parece que tudo isto foram cenas escritas separadamente umas das outras e que alguém teve de as coser numa manta de retalhos que saiu assimétrica e feia. As cenas de terror propriamente dito, que deviam ter sido arrepiantes como foi a primeira, simplesmente não tiveram o impacto que deviam porque a certa altura já não sabemos o que se passa, nem temos a certeza se nos interessa saber, e é como assistir a um desenho animado em que os personagens não são de carne e osso. Havia aqui bastante material para agarrar o espectador, mas foi desbaratado.
Alguém mais mauzinho do que eu disse que “infâmia” é chamar “The Terror” a esta temporada. Eu também acho que é melhor esquecer essa parte do título e ver isto como uma tentativa falhada de criar algo verdadeiramente pungente. Se calhar o problema foi esse, como no caso da expedição perdida do HMS Terror, ambição a mais.