O que aconteceu na América a 4 de Novembro é a promessa de uma viragem histórica a caminho da esperança e da paz a que o mundo inteiro não ficou indiferente. É minha opinião que quem limita este facto histórico à cor da pele de Barack Obama, o novo presidente dos Estados Unidos, não está a perceber de todo a importância do fenómeno. Barack não ganhou por ser branco ou preto ou mulato. Barack ganhou porque se atreveu a fazer um discurso de esperança por um mundo melhor, ignorando a real politic que é característica do próprio partido que o apoiou e descolando-se da tacanhez virada para dentro que caracterizou os últimos presidentes americanos, dirigindo-se até, no seu discurso de vitória, aos estrangeiros que o viam nos locais mais esquecidos do mundo. Espero que se refira a África (continente do seu pai), e à Ásia (onde a miséria e a exploração também grassam a todos os níveis), de que ninguém quer saber. Não sou egoísta ao ponto de me preocupar com a Europa que já tem mais do que idade e riqueza abundante para não precisar de ajuda (embora goste de se encostar quando toca a mandar os americanos para a guerra e os americanos tenham vindo a aceitar o encosto em troca do silêncio). Se isto acabar e Obama pedir responsabilidades à Europa, pode não ser bom para nós mas é bom para o mundo e já devia ter sido feito há muito tempo.
Com a saída do presidente George W. Bush, abandonamos uma era que por pouco se tornava uma das mais negras da História a seguir à guerra fria. Perante grandes ameaças, Bush fez grandes asneiras, norteadas pela ignorância e pelos interesses petrolíferos sob a capa de combate ao terrorismo. Por pouco, por muito pouco, isto não descambava num conflito global e terminal de que ainda não estamos salvos (mas parece que os iranianos, graças a Allah, não são tão suicidas como parecem). Bush conseguiu até pôr os europeus a considerarem seriamente a necessidade de um exército inteiramente europeu que protegesse os valores europeus do fundamentalismo religioso americano. Bush foi o pior presidente que a América já teve até hoje, e o mundo caiu nas trevas.
Mesmo assim, não foi por isso que Barack ganhou. O mesmo tentou John Kerry em 2004, há apenas quatro anos, já depois dos actos mais desastrados da administração Bush, e sem sucesso.
Barack ganhou o mundo com um discurso de confiança, esperança e fé, em vez do discurso de guerra e dinheiro. Mobilizou e trouxe esperança às pessoas de todo o mundo. E o mundo agradece-lhe.
Seja o que for que se passe a partir daqui, quer Obama se revele como prometeu ou se torne uma desilusão, podemos tirar lições para o nosso pequeno país. É melhor enterrar o discurso sebastianista como mito tipicamente português. Não é. O mundo aderiu a Obama como se um D. Sebastião se tratasse. Deixemos de ser arrogantes e derrotistas. Aqui também é possível. Não precisamos de um mito. Precisamos de um líder carismático, confiante, que calque com força suficiente para deixar pegadas na História. Enterre-se o mito. O que precisamos é de um Obama.
Um Obama que com a sua verticalidade dê um chuto nos ninhos de corrupção dos partidos com assento parlamentar, especialmente esses irmãos gémeos do Inferno PS e PSD, que comem bancos e choram migalhas a dar aos pobres, um Obama que tire as pessoas de casa e as ponha a votar no dia das eleições. Um Obama que faça ecoar por Portugal o clamor que agora se ouve pelo mundo.
As eleições são já para o ano. Agora só faltam tomates.
A importância do nome
Ainda sobre Barack Obama, um apontamento que me parece interessante. Curiosa, fui à procura do significado de Barack, nome próprio, e eis o que encontrei na Wikipedia:
In modern Arabic, the name Barack (Arabic: بارك ) pronounced ba'-rak, means "he who is blessed" or simply "blessed". A more common form in most Arabic-speaking countries is the passive Mubarak.
The usage of the root B-R-K as a male name meaning "blessing" occurs in the Ancient Semitic Sabean (barqac), in Palmyrene (baraq), and in Punic (Barcas, as surname of Hamilcar), and as a Divine name in Assyrian Ramman-Birqu and Gibil-Birqu[1], and personal Biblical name Barukh or Baruch (which is also the modern Hebrew cognate; see Book of Baruch for an instance of the name). "Barack" and "Baruch" are equivalent to "Benedict" (Latin Benedictus).
Não é uma coincidência agradável que o significado do nome Barack seja o mesmo do Papa Joseph Ratzinger, chamado de Bento XVI, em inglês também "Benedict". E não é agradável porque este é um mau Papa, um Papa que está a fechar as portas das igrejas que João Paulo II abriu. Um Papa que está a retirar cada vez mais cristianismo ao catolicismo. Um Papa de má memória.
Que Barack seja de facto bendito.
3 comentários:
Do meu ponto de vista, aquilo que ele fez foi conquistar a multidão com promessas de um mundo melhor para eles. Que é o que qualquer político carismático faz, e que invoca a comparação inevitável com um certo Sr. Hitler que também conquistou a multidão com o seu carisma e as suas promessas.
Como o exemplo alternativo sugere, uma vez conquistada a multidão ainda há amplo espaço para se fazer merda da grossa, e curiosamente lembro-me de ter lido de um link algures na blogosfera que falava do efeito que Barack teve com os seus discursos na Alemanha, e como para a juventude fazia falta à Alemanha mais políticos como ele.
A juventude tem tendência para os idealismos e as mudanças, porque são optimistas e insatisfeitos por natureza, por isso acham sempre que a merda onde estão é o pior a que é possível chegar e o que é preciso é alguém que venha e nos conduza para um sítio melhor.
As pessoas com memória e experiência já tiveram a sua quota parte de profetas caídos em desgraça e desenvolvem uma aversão natural a quem promete mudar tudo. Já só querem é que não venha outro maluco cheio de ideias para foder tudo ainda mais do que está. Para esses, quanto mais calminhos e enfadonhos forem os políticos, mais seguro é para toda a gente.
No caso de Portugal, acho que há muito mais velhos em espírito do que jovens em espírito. E há uma uma tradição nacional muito desenvolvida em achincalhar pessoas. Um Barack por cá seria rapidamente desgraçado e esquecido.
Resta-nos olhar para o Barack de lá e rezar para que ele seja tão bom nos actos quanto é nas palavras. Porque cada profeta caído é mais um metro na montanha que o próximo tem que escalar para se fazer ouvir. E ninguém quer estafar o S. Sebastião.
Boa análise, Tomás.
Não concordo muito que um Barck aqui fosse achincalhado. Se fosse achincalhado não teria o carisma de Barack (que é por isso que Barack não se deixa achincalhar). Percebes o contra-senso?
Teria de ser alguém altamente carismático.
E concordo absolutamente contigo quanto ao perigo dos "grandes líderes". Nunca se sabe se sai dali um grande democrata ou um grande ditador.
Mais do mesmo, em versão light brown, nada vai mudar.
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