domingo, 26 de novembro de 2023

“Seer of Sevenwaters”, de Juliet Marillier


De todos os livros que já li de Juliet Marillier este é o que entra mais no género Fantástico. Claro, a Fantasia faz parte do Fantástico em sentido lato, mas a Fantasia de Marillier é sempre muito humanizada. Há os Fair Folk e os Good Folk, raças de fadas, mas também estes têm personalidades e motivações muito humanas, um mundo paralelo com reis e rainhas e súbditos como os humanos, e muitas vezes tentam mesmo manipular o mundo humano para os seus propósitos. Em “Seer of Sevenwaters” temos uma serpente marinha gigante e mágica!
Desde “Daughter of the Forest” que Marillier conta histórias de selkies, sempre como se fossem folclore e mito. Uma selkie é uma criatura marinha que pode largar a sua pele verdadeira e assumir forma humana, mas quem estiver na posse da sua pele tem controlo sobre a selkie. Desta vez temos mesmo uma personagem selkie, o que me surpreendeu bastante. Não me faz gostar menos ou mais, apenas me diz que Marillier se quis lançar em domínios mais aventurosos (e arriscados) do que os dramas românticos que até aqui a caracterizam.
“Seer of Sevenwaters” é a história de Sibeal, a quinta filha de Sean e Aisling e neta de Sorcha e Red, que desde pequena tem dons de vidência e sonha tornar-se druida. Por esta altura Sibeal já passou muito tempo com os seus tios Conor e Ciarán no treino druíco e está prestes a dedicar-se inteiramente, o que significa uma vida de celibato, contemplação e ritual. Antes de fazer aquilo que numa monja chamaríamos “tomar o véu”, no entanto, é mandada para a ilha de Inis Eala, onde passa o verão com o primo Johnny e duas das suas irmãs. Quando Sibeal lá está, uma violenta tempestade faz naufragar um barco nórdico contra os penhascos de Inis Eala. Há poucos sobreviventes, mas Sibeal consegue descobrir um último, de quem vimos a saber chamar-se Felix, ainda agarrado aos rochedos. Felix está amnésico, mas mesmo assim é ameaçado em segredo por Knut, outro sobrevivente, para não revelar nada do que viu no barco.
Enquanto cuida de Felix na enfermaria de Inis Eala, Sibeal percebe que se apaixonou por ele e que é correspondida, o que lhe põe o maior dilema da sua vida: desistir do druidismo, casar com Felix e eventualmente ser mãe, ou virar as costas ao amor para sempre? Haverá uma terceira opção?
Muito do livro é a paixão entre Sibeal e Felix (até um pouco demais, na minha opinião) antes de percebermos que a grande aventura vai centrar-se em Svala, outra sobrevivente, e a serpente marinha gigante comedora de homens. Disto não vou dizer nada por causa dos spoilers.
“Seer of Sevenwaters” não é, na minha opinião, o melhor de Juliet Marillier, mas não lhe falta a qualidade que já lhe conhecemos. Infelizmente, desta vez, não aconteceu nada de perturbador como estou habituada nos livros de Marillier, o que me decepcionou um pouco.
(Não, uma serpente marinha que come pessoas não é perturbador, é apenas Natureza. Podia ter sido um urso, um leão, outro animal feroz qualquer. É um acontecimento infeliz, sem dúvida, mas para mim são necessários elementos mais estranhos para ser considerado perturbador.)


terça-feira, 21 de novembro de 2023

The Lost City of Z / A Cidade Perdida De Z (2016)


Todos gostamos de filmes de exploradores, mas eu prefiro os antigos, aqueles que se faziam à aventura sem GPS, sem helicópteros de resgate, sem qualquer contacto com a civilização, muitas vezes sem saberem para que lado era o Norte (em “The Terror”, por exemplo, as bússolas enlouquecem no campo magnético do Árctico).
Esta é uma história real. Em 1905, Percival Fawcett, major do exército britânico, não tem muito para mostrar em termos de carreira quando é enviado pela Royal Geographical Society para cartografar a fronteira entre o Brasil e a Bolívia, importante para a exploração de borracha em plena selva amazónica. Durante a expedição, Fawcett descobre artefactos e esculturas antigas que o convencem da existência de uma cidade escondida na selva.
De regresso a Inglaterra, Fawcett é ridicularizado por considerar que haveria uma civilização amazónica mais antiga do que a ocidental (embora os seus pares conhecessem os Incas, os Astecas e os Maias desde o tempo dos conquistadores, pelo que esta questão não colhe grande argumento) mas consegue financiamento para uma segunda expedição.
Percival é casado com Nina e tem um filho que mal conhece devido à longa ausência. Nina insiste em acompanhá-lo desta vez, mas Percival recusa. Na minha opinião, com toda a razão. A viagem é extremamente perigosa, os exploradores correm risco de vida, e um dos elementos do casal tem de ficar a tomar conta das crianças já que não parece haver outra família que os substitua. Na altura, não havia destino mais infernal do que ser órfão. (Não existe destino mais infernal do que ser órfão.)
A expedição é um fracasso e Fawcett tem de regressar. Entretanto começa a 1ª Guerra Mundial e é mobilizado para a frente, onde é promovido.
Ainda obcecado com a cidade perdida de Z, Fawcett regressa ao Amazonas graças ao financiamento de vários jornais da especialidade (segundo o filme). Desta vez leva consigo o filho Jack, que passou tão pouco tempo com o pai que agora só quer acompanhá-lo para todo o lado. Ninguém sabe como terminou esta última expedição. Ambos desapareceram sem deixar rasto.
O filme dá-nos várias hipóteses, nenhuma delas definitiva. Mesmo conhecendo o fim da história, recomendo “The Lost City of Z” a todos os amantes de exploradores pioneiros, mesmo aqueles que nunca regressaram.

14 em 20

domingo, 19 de novembro de 2023

Pride and Prejudice and Zombies / Orgulho e Preconceito e Guerra (2016)


Alguém deve ter achado muita graça a fazer isto. Alguém que provavelmente foi obrigado a ler “Pride and Prejudice” na escola. Da mesma forma que nós acharíamos piada a um título como “A Tragédia da Rua dos Zombies”, “Os Zombíadas” ou “Frei Zombie de Sousa”. Mas a questão é: será mesmo engraçado?
Este filme, por exemplo, não tem graça nenhuma. Nem como comédia, nem como sátira, nem como adaptação. Para piorar um pouco, nunca fui muito à bola com Jane Austen, se calhar porque a sátira dela é tão inglesa como a de Eça de Queirós é portuguesa. Compreendo Jane Austen mas não me diz nada particularmente, já para não recordar o facto de serem histórias muito datadas de uma sociedade desaparecida.
O início do filme segue o enredo de “Orgulho e Preconceito”. O casal Bennet tem quatro filhas e precisa de as casar bem porque estas não têm direito à herança de família. A mãe, principalmente, vive a vida em torno deste intuito. Só que nesta versão há zombies, e as raparigas, para além de serem bem-educadas, prendadas e tudo isso, também foram instruídas em artes marciais. Passei a primeira metade do filme com o dedo no botão “delete”, a decidir se devia apagar ou não. Esperava no mínimo uma comédia e não estava a achar nada divertido ou sequer interessante.
De certa forma, ainda bem que não apaguei, porque o melhor (se é que se pode falar de “melhor” nesta calamidade de filme) vem depois. Existe um grupo de zombies ainda não completamente transformados, organizados numa igreja adequadamente chamada São Lázaro, que comem miolos de porco para não terem a tentação de comer cérebros humanos. (Na tradição da mitologia de Drácula, em que uma vítima de vampiro, depois de mordida, não se transforma em vampiro até beber ela própria sangue humano.) Foi inteligente. Os zombies estavam a fazer o possível e o imaginário para se manterem humanos. E o que é que acontece? Aquele energúmeno, Mr. Darcy, dá-lhes cérebros humanos para os transformar completamente. Foi a tal coisa do preconceito: meio-zombie não tem direito a existir e é tão mau como um zombie total. Isto também tem a ver com o ódio que ele tem a Mr. Wickham, mas vá lá! Foi demais! Na verdade, eu também nunca fui à bola com Mr. Darcy e não me entra na cabeça porque é que aquela criatura arrogante, armada em boa, tão “superior” que acha que as suas palavras são demasiado boas para desperdiçar, alguma vez foi considerado um galã romântico. Aqui não o é de certeza. Agora vou odiá-lo ainda mais. Mas vou odiá-lo mesmo, não como a heroína que desdenha e quer comprar.
Que filme tão mau! Que péssima ideia!
Ah, já me esquecia. Pelo menos não vivem felizes para sempre, o que já redime um bocadinho esta palhaçada.

11 em 20 (pelo fim, que, espero bem, não seja a promessa de uma sequela, Blogger nos livre!)

domingo, 12 de novembro de 2023

The Wire (2002 - 2008)

Vi esta série policial por uma questão de arqueologia televisiva. Volta e meia, ao ler críticas a “The Shield”, a “Breaking Bad” e “Better Call Saul”, lá me aparecia uma menção a “The Wire”: “The Wire” isto e “The Wire” aquilo. Acabei por ver por curiosidade. Três episódios depois ponderei seriamente desistir. É sobre uma equipa de polícias a tentar apanhar uma rede de traficantes de droga de rua que usam pagers (pagers!) e cabines telefónicas (cabines telefónicas!) para contactarem uns com os outros. A série começa por volta de 2002 ou 2003, após o 11 de Setembro, e a maioria dos recursos foram deslocados para o contraterrorismo. Os polícias vêem-se gregos e têm de preencher catadupas de papelada para requisitar uma escuta telefónica (the wire) e descobrir o código que os traficantes utilizam. O humor (?) é questionável e impregnado do que hoje chamamos “masculinidade tóxica”. A série é tão datada que parece algo dos anos 80 ou 90. Mesmo assim, porque sou paciente, continuei a ver para perceber de onde vinham tantos elogios. “The Wire” tem cinco temporadas, cada uma com um enredo mais ou menos independente, e a história só começa a “aquecer” lá pelo meio de cada uma delas. Cada uma das temporadas traz consigo uma catrefada de personagens novos e eu também me vi grega para os distinguir e entrar na nova história.
Aqui vou parar para fazer a minha distinção no que toca a séries policiais: as de entretenimento e as dramáticas. Chamo entretenimento a séries em que os polícias bons apanham um criminoso por episódio, e é só isso. Uma série policial dramática, por outro lado, segue os polícias “para casa”, mostra-nos os seus problemas e a sua intimidade, torna-os tridimensionais em vez de máquinas de apanhar meliantes. (“Mentes Criminosas” começou assim mas as últimas temporadas descambaram na fórmula psicopata-da-semana, e isto só para falar de uma série que eu via porque geralmente não vejo séries sem uma grande componente dramática).
Da minha experiência como espectadora, a avozinha das séries policiais dramáticas foi “Hill Street Blues” (“A Balada de Hill Street”, 1981 - 1987). Aqui os polícias eram mesmo de carne e osso, tinham amantes e problemas de alcoolismo, e os meliantes não eram necessariamente vilões.
“The Wire” segue esta nobre tradição, o que só lhe fica bem, mas na minha opinião perde-se demais a tentar contar histórias tão díspares como as dos traficantes e dos toxicodependentes, as dos estivadores do cais que estão a ficar sem empregos, as dos putos dos bairros pobres que se vêem sem alternativa senão ir vender droga para a esquina, a do declínio da imprensa escrita e, por último, um enredo sobre ambições políticas e corrupção que nunca me conseguiu interessar. Tudo muito dramático e realista, sem dúvida, mas demasiado fracturado para ser coeso.
Fiquei completamente chocada quando consultei as datas de “The Shield”, que eu julgava uns dez anos posterior, e percebi que “The Wire” e “The Shield” são contemporâneos (2002 - 2008). “The “Wire” é uma série de qualidade, não há dúvida, mas não chega aos calcanhares de “The Shield”, uma história mais chocante, mais escorreita, com princípio meio e fim (coisa que “The Wire” ameaçava nunca vir a ter). Vic Mackey não punha escutas. Vic Mackey entrava por ali dentro e partia cabeças roubava a droga e o dinheiro, e ainda arranjava maneira de prender os traficantes à mesma. Vic Mackey e a sua Strike Team já não eram só polícias: eram os vilões. (Um deles matou o companheiro com uma granada!)
Daqui a “Breaking Bad” (2008 - 2013) foi um passo. Em “Breaking Bad” já não acompanhamos a acção pela perspectiva dos polícias: passámos completamente para o outro lado e torcemos pelos “maus da fita” (se é que o são, porque é debatível).
Tudo isto para dizer que penso que os elogios a “The Wire” se devem mais aos temas abordados, principalmente os temas políticos fracturantes na sociedade americana, do que propriamente à narrativa, enredo e personagens (se bem que alguns personagens tenham conseguido espaço “para respirar” e crescer, como Stringer Bell, o traficante de rua que acabou a gerir o negócio como se fosse o CEO de uma multinacional: isto sim, é um vilão de carne e osso!).
Vale a pena ver “The Wire” para compreender o panorama que nos trouxe a “Breaking Bad” e ao que está para vir, mas aviso já que é preciso alguma paciência para chegar à parte boa da história. Por exemplo, quando um detective decide “inventar” um serial killer para arrancar recursos da Câmara Municipal para apanhar uma rede de traficantes. Grande trapalhada quando mete os jornais também, e um jornalista tão inescrupuloso como o detective decide inventar notícias sobre o mesmo serial killer (inexistente). Mas para chegar aqui, ó Céus, foi preciso paciência!

Uma última curiosidade: em "The Wire" temos a oportunidade de ver um jovem Seth Gilliam a contracenar com Chad Coleman (respectivamente Padre Gabriel e Tyreese Williams em "The Walking Dead"). Aqui Seth Gilliam faz o papel de Sargento Carver, um durão que lhe assentava como uma luva. Talvez isto explique porque é que "The Walking Dead" foi buscar o Sargento Carver quando já ninguém suportava o Padre Gabriel?... Sinceramente, não me recordo de os dois personagens se encontrarem em "The Walking Dead" mas parece que também contracenaram juntos.

ESTA SÉRIE MERECE SER VISTA: 1 vez

PARA QUEM GOSTA DE: Hill Street Blues (A Balada de Hill Street), The Shield, Breaking Bad, Better Call Saul, dramas policiais


terça-feira, 7 de novembro de 2023

Godzilla: King of the Monsters / Godzilla II: Rei dos Monstros (2019)

O título em português confundiu-me. Se este é o 2º qual é o 1º? Já são tantas Godzillas!
Pelo contexto, uma vez que esta Godzilla começa exactamente onde o filme de 2014 acaba, com Godzilla a abandonar Los Angeles, depreendi que o 1º devia ser esse. Mas é mais complicado. Neste “Godzilla: King of the Monsters” aparecem imagens de King Kong, que eu só percebi depois serem de “Kong: Skull Island” (2017), e mesmo assim não tenho a certeza porque não vi, e as coisas complicam-se ainda mais. Não sei se gosto do rumo que este “aglomerar” de monstros icónicos está a levar. Está a lembrar-me muito os produtos de super-heróis (Super-Homem, Batman, Homem Aranha, e até já estou a ficar enjoada).
Por enquanto, “Godzilla: King of the Monsters” ainda não enveredou por esse caminho, embora apareçam muitos monstros novos. Tantos que não consegui dar conta deles todos. Mas já lá vamos.
O filme começa com duas forças da natureza:
1ª força da natureza: Godzilla, a abandonar Los Angeles.
2ª força da natureza, Vera Farmiga, no papel de Emma Russell.
Para minha agradável surpresa, o filme conta ainda com outra jovem força da natureza: Millie Bobby Brown (a Eleven de “Stranger Things”) no papel de Madison Russell.
A história continua onde o filme de 2014 a deixou. Godzilla conseguiu salvar o mundo dos monstros MUTOs (nunca cheguei a perceber o que raio eles eram), mas deixou destruição para trás. Uma das vítimas foi precisamente o filho da cientista Emma Russell, que decide fazer algo pelo planeta. Mas não a coisa mais acertada. Junta-se à causa do ecoterrorista Alan Jonah (Charles Dance), um fundamentalista que decide acordar todos os Titãs.
Para quem não viu o filme, vou explicar com calma. Godzilla não é o único monstro (ou Titã, como lhe chama a fundação Monarch, que já os investiga em segredo há décadas). Há muitos mais, e a Monarch monitoriza-os atentamente. A cientista Emma Russell trabalhava com a Monarch e sabe exactamente onde eles estão todos, em hibernação. O primeiro monstro que Russell e Jonah decidem acordar é precisamente o arqui-inimigo de Godzilla, o monstro de três cabeças Ghidorah. Mas, como adjuvante, Godzilla tem Mothra, uma traça gigantesca. A fundação Monarch quer salvar os Titãs e o exército quer destruí-los (não sem razão).
Isto já começa a ficar complicado e a parecer parvo, contado assim. Mas Emma Russel e Alan Jonah acreditam que os Titãs vão repor a ordem natural antes que o Homem consiga destruir completamente o planeta, não importa a que custo humano. Madison Russel, filha de Emma, é enganada quanto a isto, julgando que o acordar dos Titãs não vai causar a destruição que já se adivinha enquanto os monstros lutam entre si, e revolta-se contra a mãe.
Não há mais enredo do que isto, na verdade, e a partir daqui assistimos a um desfilar de monstros que nunca chegamos a conhecer muito bem (mal os vimos!) que surgem de todos os pontos do planeta e causam destruição a mando de Ghidorah. Porque é que Ghidorah os comanda? Não posso revelar, nem é muito claro qual deles existia na Terra há mais tempo, Godzilla ou Ghidorah, mas o certo é que agora ambos se vão ter de bater pelo estatuto de rei dos Titãs.
Desta vez as lutas entre monstros estão muito mais bem concebidas do que no filme de 2014. Ainda há falhas e CGI demasiado rápido para o apreendermos, mas fazendo rewind conseguimos perceber quem matou quem e como. Lamento não termos conhecido melhor Mothra, que ainda me pareceu a monstra mais fofinha e inofensiva, surgindo apenas para auxiliar Godzilla.
E neste filme, finalmente, ficamos a saber onde mora Godzilla! Mas ninguém me tira da cabeça que Godzilla é uma fêmea que surge das profundezas para proteger o território que também é o seu lar. Um macho já tinha destruído o planeta todo. Godzilla, rainha dos monstros!
Gostei muito mais deste filme do que o de 2014. Até as personagens humanas, apesar de bidimensionais à mesma, têm alguma profundidade que faltava às do filme anterior. Vera Farmiga faz o papel de vilã, tal como Charles Dance, mas são vilões com boas intenções, com uma agenda fundamentada. Mesmo que os fins justifiquem os meios.
Em suma, um enredo e personagens muito mais sólidos e cenas de acção mais perceptíveis. Uma Godzilla muito melhor.

SPOILER
Já depois dos primeiros créditos, temos mais segmento de filme com notícias de todo o mundo a informar que os monstros despertados de hibernação começaram a restaurar o planeta: a floresta tropical aumentou, áreas arborizadas apareceram no deserto do Sara, os oceanos ficaram menos poluídos. Confesso que me vieram lágrimas aos olhos. Se estamos à espera de uma Godzilla que nos salve, estamos bem lixados.

13 em 20


domingo, 5 de novembro de 2023

Day of the Dead: Bloodline (2017)

Não se deixem enganar pelo título “Day of the Dead”. Este filme é tão mau que só estou a falar dele por motivos humanitários. Aviso: não percam tempo com isto.
Mas já que vi, vamos lá rir-nos um bocadinho com a história.
O filme começa com o início do apocalipse zombie, que eu gosto sempre de ver. (Sem ironia.) Desta vez é uma variante da gripe H1N1 que está a tornar os mortos em zombies. (Pergunto-me, quando é que vamos ter a variante COVID que faz o mesmo, no cinema? Se bem que o COVID já conseguiu zombificar o mundo durante dois anos na vida real.)
Zoe é uma estudante de medicina, mais especialmente epidemiologia, que trata precisamente destes fenómenos. Um dos seus pacientes, Max, tem um número de anti-corpos elevadíssimo e anormal, o que faz dele um bom sujeito de estudo. Max colabora, indo todas as semanas ao hospital onde Zoe estuda para doar sangue. Mas a verdadeira razão de Max é que este tem uma obsessão patológica por Zoe. Tão patológica que, durante uma festa de estudantes, Max faz uma emboscada a Zoe na morgue e tenta violá-la. Felizmente, é mesmo no momento em que o primeiro zombie se levanta e ataca Max. Max é mordido e Zoe foge. Isto pode parecer gratuito e escusado, mas não é.
Zoe consegue escapar da festa, perseguida por aquele tipo de zombies que eu não acho que sejam verdadeiros zombies: os que correm e sobem escadas e têm mais força do que os vivos.
Cinco anos depois do fim do mundo, Zoe trabalha numa base militar/centro de pesquisa, junto com alguns refugiados que conseguiram chegar lá e o destacamento militar mais incompetente que eu já vi num filme de zombies.
Uma miudinha fica doente e os antibióticos disponíveis não conseguem debelar a infecção. Zoe sugere que façam uma expedição ao hospital onde ela estudava, onde vão encontrar o que precisam. Mas, chegando ao hospital, imaginem quem ainda lá está? Max!
E aqui temos um momento de perplexidade, porque este Max, aparentemente um zombie como os outros, faz uma à Exterminador Implacável e segue Zoe até à base militar, debaixo de um jipe, agarrado ao carro apenas com a sua força braçal. Chegado lá, começa a perseguir Zoe no intuito de… De quê?
Finalmente é capturado e Zoe explica que ele não é totalmente zombie nem está totalmente morto. Está apenas meio-morto ou meio-zombie. Alguns órgãos funcionam, outros não. Tendo em conta a maneira como ele ainda deseja Zoe, já sabemos o que não lhe apodreceu…
Zoe deduz que ele é meio-imune ao vírus zombie (devido aos seus elevadíssimos anti-corpos, lembram-se?) e que pode ser utilizado para fazer uma vacina. Para isso, pede aos militares que lhe arranjem dois ou três exemplares zombies para fazer testes. A equipa militar só tinha de abrir a vedação e deixar os zombies entrar um a um. Mas, com uma incompetência de bradar aos céus e uma vedação fraquíssima, deixam entrar os zombies todos! Acho que até a pequena Judith de “The Walking Dead” estaria a abanar a cabeça neste momento.
Mas há pior.
O comandante do acampamento consegue convencer o irmão, namorado de Zoe e também militar, de que Zoe não quer deixar que matem o tal meio-zombie porque eles tinham uma relação. Isto porque Max gravou o nome dela no braço. O parvo do namorado acredita no irmão e temos aqui um triângulo amoroso. Zoe tem de provar ao namorado que não sente nada pelo meio-zombie e…
E já chega, não acham? Porque tudo isto é tão mau, tão mau. Até parece cómico, mas, pelo contrário, às vezes consegue ser de um tédio de morte.
Contudo, viva a ciência! Zoe arranja maneira de fazer uma vacina em doses maciças a partir do dedal de sangue que conseguiu tirar ao meio-zombie, e vivem todos felizes para sempre.
A quem não tem mesmo nada melhor que fazer, aconselho a ver antes a primeira temporada de “The Walking Dead”.

9 em 20