quinta-feira, 4 de maio de 2006

O que fazer

Do comentário no post anterior:

Nao costumo falar destas coisas até porque sinceramente vejo muito pouca gente interessada em mudar o quer que seja, mas pelo o que escreves, há já um tempo, parece que se fosse por ti mudavas muita coisa... e isso é bom ter opinião e lutar pelos ideais e pela falta de respeito e condições.


Exactamente, o que fazer? Basta de palavras. E tentarei ser concisa porque o diagnóstico já está mais que feito e tenho muita blogosfera para ler.


O cancro do país: a Justiça

É primeiro dever do Estado, qualquer Estado, garantir a Justiça, impôr a lei e a ordem. É este o príncipio da civilização, de qualquer civilização. Em Portugal vive-se em impunidade quase total. Quando se é rico e/ou poderoso, então, vive-se mesmo em impunidade total.
O que temos assistido, não só em matéria de justiça económica como criminal, com casos a arrastarem-se pelos tribunais durante anos até prescreverem, tem que acabar!
O problema, a nível criminal, é óbvio. Mas a nível económico, que não parece tão grave porque não são crimes de sangue, tem minado a auto-confiança do país, e destruído as pequenas e médias empresas, tirado direitos aos trabalhadores, prejudicado os consumidores, arruinado vidas. Podia passar a noite a dar exemplos mas há-os demais por aí, basta olhar em volta.
É preciso que a culpa não morra solteira. Esse é o primeiro passo para o país se endireitar. Não é por acaso que a palavra chave é o Direito. (Não sou advogada por isso sou insuspeita.)
Ora, os senhores juízes não gostam de horários? Fazem bem, eu também não. Trabalhem por objectivos. Limpem as salas dos processos e processos que se arrastam. Os juízes não chegam, faltam funcionários administrativos? Numa altura em que se fala em funcionários públicos a mais? Remetam-se para combater este flagelo. Faça-se, acima de tudo, Justiça. E quando se fizer justiça desaparece a impunidade. Ver a justiça fazer-se é a melhor prevenção (e educação) contra o crime. E contra a corrupção. E contra a cunha em vez do mérito, e contra o amiguismo e o "favorzinho" em vez da legalidade.
Faça-se Justiça e o país muda. Sem Justiça, mais vale esquecer.
Já agora, en passant, dignifiquem-se as forças da autoridade antes que as milícias tomem conta do que é dever do Estado tomar conta. No dia em que as milícias tomarem conta do Estado, o Estado morreu.

O que pode o cidadão individualmente fazer?

Somos pequeninos e a corrupção é grande. Mas podemos, primeiro que tudo, deixar de ser ignorantes. Não estou a falar em ler os Lusíadas. A educação é um pilar do desenvolvimento mas há muito que estamos num sub-patamar de ignorância em que a maioria já não sabe dar valor à educação. À medida que foram acordando, vão redescobrir que ser ignorante é muito pior que ser inculto. É preciso saber mais de política do que de futebol. A interna e a externa. Não é ler os Lusíadas, é ler os jornais. Ou ver televisão se não chega o dinheiro para os jornais.
Saber, entender, perceber. Compreender o mecanismo para ver claramente o que o encrava.
Acordar outros.
Dizer a verdade.

E, acima de tudo, uma coisa que o país precisa desesperadamente:


Amor

As pessoas precisam de amar.
Sim. As pessoas precisam de amar as outras pessoas. Vê-se cada vez mais egoísmo e cada vez menos amor. A lei da selva a isso conduz. Não é preciso ir buscar o amor à religião. O amor é a tal solidadariedade de que se fala muito e se sabe pouco.
É preciso comprar menos e dar mais.
É preciso partilhar mais o que se ganha.
É preciso gastar menos e dividir mais.
É preciso pensar mais nos outros e menos em nós.
É preciso fazer isto, em sociedade, se queremos que a sociedade resulte. De outro modo a sociedade não vai resultar nunca, mas nunca, mas nunca.

É a hora.

5 comentários:

AcesHigh disse...

Há alguns cancros neste país, infelizmente.

O cancro principal para o desnível económico deste país e, por arrastamento, a segurança social é o facto de toda a gente assumir o "outsourcing" como a resposta para todos os males das empresas e do país... até há orgulho em dizer isto nos jornais e na televisao por parte dos chefoes das grandes empresas e ate do governo.

ora isto só se dá vontade de rir porque acho que ninguém gosta de trabalhar o mesmo que o colega do lado e ganhar metade. Como acontece comigo ao meu lado.
Sim, leste bem... metade. Tens um contrato que termina quando o empreiteiro pra quem tu trabalhas lhe apetece e descontas sobre o ordenado minimo. (esta então é de brandar aos céus..)

"Outsourcing" é, para quem ainda não está familirizado com este palavrão, apenas e só um sub-empreiteiro que ganha, da empresa grande que o contrata, um valor por cada trabalhador que lá põe. Ou seja, paga o equivalente a 12 meses. Nao tem que pagar ferias, nem 13º mes, nem premios de produçoes... isso tudo cabe ao sub-empreiteiro.
Ora ele paga metade do valor que lhe foi dado ao desgraçado que lá mete e colhe a outra metade para si.
Eles têm que bulir e calar porque nao têm segurança nenhuma e, como toda a gente, têm coisas pra pagar. E isto é apenas e só insegurança e precaridade. Voltámos 30 anos para trás.

O que me faz mais confusao é que toda a gente aceite isto sem se revoltar. Encolhe-se os ombros e lá ficam porque o medo é muito e o dinheiro é pouco, mas chega lá ao fim do mês.

Eu tenho sorte de estar efectivo e por isso ganho o dobro destes a quem chamo de "desgraçados" mas que sao iguais a mim a trabalhar e luto com eles porque nao concordo que empresas que ganham 65,7 milhoes de euros de LUCRO (falo da minha pois entao...) façam disto a sua politica interna.


Há muita coisa mal neste país mas um coisa é certa: pode-se mudar muita coisa mas quem manda em Portugal é a Comunidade Europeia e nós como país só andamos pra frente com os dinheiros que nos vao pingando.
Mas há injustiças enormes que se deveriam averiguar.


- Uma coisa vejo: ninguem luta por nada por medo de ficar pior e nao de ser determinado em ficar melhor. Ninguem se sacrifica por nada por medo de falhar e cair redondo.
E no amor é precisamente igual...

e por isso digo: Cada povo tem o que merece.


excelente post!
um beijo*



p.s.1: compreende-se o uso dos outsourcings para atenuar o desemprego... mas que haja alguem a controlar estes sub-empreiteiros porque usam e abusam do trabalhador.
E ninguem do governo faz nada porque só lhes interessa os valores do desemprego a baixar e assim fica tudo contente.


p.s.2: posso-te parecer um pouco revoltado contigo, mas nada disso! teres partido para um post apartir de um comentario meu aqui no "Gotica" é de ficar contente e dá-me a oportunidade de falar sobre isto com alguem que sabe do que fala!
É um sinal que algumas pessoas nao estao a dormir... e as que estão, que acordem de uma vez por todas...
recuámos 30 anos!

Silvia disse...

estás diferente.

Goldmundo disse...

Agir como se o amor fosse a única hipótese. Agir como se a revolução fosse a única hipótese.

katrina a gotika disse...

Aceshigh:

Respondeste às tuas próprias perguntas. Não se faz nada porque 1) a maioria ainda não acordou e não percebe o que se passa; 2) ninguem do governo faz nada porque só lhes interessa os valores do desemprego a baixar e assim fica tudo contente

És dos poucos que está bem e se preocupa com os que estão mal. Muitos ainda não percebram que se apenas metade é que está bem, essa metade tem que sustentar a outra metade. É uma questão de inteligência.
Mas já que sabes do que falo, durante as últimas duas décadas (que eu me lembre porque antes era muito miúda), a metade que está bem julgava-se mais inteligente do que a metade que está mal, e o egoísmo espalhou-se. Espalhou-se a mentalidade de que quem estava mal assim o estava por falta de mérito. (Basta ler o blog Blasfémias para perceber isto.) E a muitos convinha (e convém) fechar os olhos. Até que a doença lhes cai em casa. Olha, é como a SIDA. ;)

katrina a gotika disse...

Silvia:

Sim, estou.