domingo, 28 de novembro de 2004

Coitadinha da mãe do senhor ministro!!!


A sugestão...

Por Helena Sacadura Cabral
Economista

Lá fora, o Presidente Bush ganhou as eleições, Arafat morreu e iniciou-se uma sucessão política que está longe de ser pacífica. O dólar desceu e o euro está cada vez mais forte.

Por cá, o ministro das Finanças, que, como eu, é hipertenso, dá uma contribuição para a subida da minha pressão arterial.

Primeiro, foi o meu PPR, cujos benefícios foram à vida. Depois, foi a prometida baixa de impostos que, afinal, só parcialmente se fará sentir em 2005. O resto fica para 2006, quando nem eu nem ele sabemos se continuamos em funções. No meu caso funções vitais, dado que, com a idade que tenho, ninguém me garante que esteja viva nessa data. Funções governativas no caso do ministro, que, entretanto, podem deixar de existir…

Agora são os direitos de autor, dos quais vivo, que se irão esfumar como o vento, a partir de certo limite. Ora sendo Portugal um país conhecido pela sua enorme apetência pelas artes e literaturas, é de crer que a medida traga os melhores resultados!

A cumular tão «agradáveis surpresas» junta-se, no momento, a minha ignorância sobre o que vai acontecer à chamada «casa de residência de família». De facto, o domicílio filial cujo aluguer é há 47 anos nosso corre o risco de deixar de o ser.

E onde, à falta de obras do senhorio, fui realizando, a expensas próprias, algumas melhorias. Que de nada me servirão, dado não ter solicitado ao amigo que as foi executando as indispensáveis facturas, tão do gosto do dr. Bagão Félix.

Mas nem tudo é mau neste reino de fantasia, já que o patrão das nossas finanças sabe velar pela juventude dos futuros reformados. Aos quais, agora, sugere um lifting cerebral através do sistema «trabalho e reforma a meio tempo». O qual permitirá aos excelsos avós deste país participar, «graciosamente» (de gratuito, claro), na educação dos seus netos, cuidando deles no «meio tempo» em que não trabalham!

Surpreendida com tanta bondade, cogito no que pensará o dr. Félix, quando chegar à minha idade…

É que eu comecei a trabalhar aos 13 anos, tive filhos sem direito a férias de parto e sou do tempo em que os sábados não eram dias de descanso.

Ou seja, o meu activo laboral tem, seguramente, mais anos do que a idade do senhor ministro.

Em face de tudo isto comecei a fazer reduções. A empregada doméstica passou de meio tempo a um quarto dele. Isto é, deixou de vir todas as manhãs e passou a vir, apenas, duas.

O coupé dos meus encantos, comprado há três anos, foi despachado rapidamente e substituído por um modelo utilitário. Tão utilitário que, com o actual preço da gasolina, nem sempre sei se o devo usar.

No ano passado publiquei um livro de cozinha. Prevendo a dimensão da crise, inclui-lhe um sugestivo capítulo de aproveitamentos.

Este ano, acabo de lançar um livro de dietas. Numa tentativa de adaptar o corpo às dificuldades e manter a tensão arterial nos seus limites.

Por tudo isto, sugiro ao senhor ministro que siga o meu exemplo. Porque, se assim não ficar hipotenso, pelo menos irá contribuir para minorar os prejuízos que, pela sua mão, eu já sofri!


Gostei principalmente da parte do coupé. Coitadinha. O que será desta terceira idade? Qualquer dia até têm que andar de transporte público.
Ou, salvo seja, dispensar definitivamente a empregada doméstica.

Eu espero que a senhora esteja a ser tão sarcástica quanto eu, ou temos o caldo entornado, mas uma coisa é certa, quando os ricos começam a apertar o cinto o que será dos pobres?
Eu sugiro que os comamos a eles. (Já são muitos filmes de terror...)

Sem comentários: