domingo, 27 de junho de 2021

Dawn of the Planet of the Apes (2014)

Vi “Rise of the Planet of the Apes” (2011) e não gostei. É claro que empatizei com Caesar (era preciso ter uma pedra em vez de coração para não empatizar) mas achei aquilo tudo muito apressado. Os chimpanzés passaram de primatas a génios que jogam xadrez e falam inglês muito depressa. E toda aquela cena na ponte, com os primatas armados, a cavalo, a derrotarem o exército e a polícia e até os helicópteros… Não, não me convence.
Não fui a única, porque o filme foi parodiado em “Scary Movie V” (2013), em que desta vez a paródia incide nos filmes “Actividade Paranomal”. Caesar era o primata mais inteligente daquela casa, o que não era difícil. Vi “Scary Movie V” antes de ver “Rise”, e admito que ao ver o original me ri de piadas de “Scary Movie V” que não apanhei antes de ver o filme em que se baseiam. E a verdade é que “Rise” caiu no exagero e mereceu as piadas que lhe fizeram.
Mas para falar de “Dawn” tenho de falar de “Rise”, e outra questão se me colocou. Os primatas tornaram-se mais inteligentes graças a uma droga verdadeiramente miraculosa destinada a curar o Alzheimer. E não só funcionou com os pacientes humanos, como aumentou as capacidades cognitivas dos chimpanzés. Como é que não houve uma alminha normal, saudável, humana, que não tenha pensado em experimentar a droga para aumentar a sua própria inteligência? Custa-me a crer. Na universidade, eu teria tomado tudo e mais alguma coisa para passar à cadeira de Matemática. Assim, só os chimpanzés aproveitaram a droga. Os humanos não a usaram para seu benefício.
Chegamos a “Dawn of the Planet of the Apes”, e logo na narração de abertura nos é dito que o mesmo laboratório que produziu esta droga deixou fugir um vírus a que se chamou Gripe Símia e que dizimou grande parte da população humana. Não afirmam quantos morreram, mas por aquilo que vi no filme eu arriscaria a dizer que matou 90% das pessoas.
Isto serviu para explicar como é que o planeta se tornou um mundo pós-apocalíptico em que os humanos quase não existem. Mal explicado, para mim, e novamente apressado. O realizador estava mortinho para pôr os humanos para trás e focar-se no que era realmente importante: a evolução dos primatas. Vírus, asteróide, o importante era andar para a frente. O resultado foi bom, mas continuo a não gostar da “conveniência” desta hecatombe que facilitou muito a vida aos macacos. No filme original (“Planet of the Apes”, 1968) a ascensão dos primatas foi possibilitada porque os humanos se destruíram uns aos outros na última guerra nuclear. Isto é arrepiante, faz sentido e é um desenvolvimento orgânico. Em “Dawn”, a Gripe Símia é uma muleta para fazer o enredo avançar. O realizador sabe disto muito bem e nunca mais se fala na Gripe Símia. Os sobreviventes são geneticamente imunes, e avançamos.
Passaram-se 10 anos desde a Gripe Símia. Agora os macacos já têm uma pequena civilização nas florestas desertas, onde o orangotango Maurice ensina os macaquinhos a ler e a escrever e o lema é “Macaco não mata macaco”. As fêmeas enfeitam-se com jóias rudimentares de metal e pedras brilhantes. Caesar, o líder, tem uma esposa e dois filhos. Os macacos vivem bem e em paz. Os primatas que se tornaram mais inteligentes devido à droga inicial do laboratório, têm filhos igualmente inteligentes. Muitos deles aprenderam a falar, embora prefiram comunicar por linguagem gestual. Esta civilização primitiva não é descabida. Afinal, ao contrário dos primeiros hominídeos, estes não tiveram de inventar a roda. Aproveitaram o que lhes interessava da civilização humana e abandonaram o resto.
A paz é perturbada quando um grupo de humanos, que mais tarde vimos a saber fazerem parte de um pequeno número de sobreviventes em São Francisco, entra na floresta na intenção de reactivar uma barragem abandonada para terem energia.
O encontro com os macacos dá logo mal resultado, quando um humano em pânico dispara sobre um dos primatas, matando-o.
Caesar, no primeiro filme, foi comparado a um Spartacus que lidera a revolta dos seus irmãos enjaulados e torturados em laboratório. Aqui, Caesar já evoluiu para o papel de estadista, que recusa vingar-se dos humanos porque tal represália conduziria à guerra, e Caesar sabe que essa guerra mataria muitos dos seus súbditos, se é que os humanos, embora poucos e enfraquecidos, não estariam ainda em posição de a vencer. Na povoação dos macacos não há armas e Caesar não as quer ter, e com razão. Mas nem Caesar compreende o perigo que ameaça a sua civilização aparentemente tão fraternal.
Alguns macacos, liderados por Koba, um antigo chimpanzé de laboratório que foi testado e torturado pelos humanos, e que os odeia, discorda de Caesar. Quer a guerra e o extermínio completo dos humanos.
Aqui começa um jogo de dissimulação que eventualmente leva ao assassinato, ao golpe de Estado, aos prisioneiros políticos. Diz Caesar, a um grupo de aliados humanos: “Pensei que os macacos eram muito diferentes dos humanos. Agora percebo que somos muito parecidos.” Pois é, Caesar, e digo-te mesmo mais da minha observação: quanto mais inteligentes, mais perigosos. Pensavas mesmo que podias ter inteligência sem conflito? Pobre Caesar, bem-intencionado, tem uma grande desilusão com o seu próximo. Por último, diz a Koba, tentando justificar as más tendências que vê nele: “Tu não és macaco.” Se Koba não é macaco, tu também não és, Caesar, se te olhares ao espelho. Achas mesmo que ainda és macaco? Há muito tempo que o deixaste de ser, mas continuas em negação.
Mas os humanos não são melhores. Apenas um grupo de pessoas compreende a causa dos macacos e acha que estes têm o direito de viver em paz e liberdade sem que nenhuma das espécies tenha de hostilizar a outra. Infelizmente, a maioria dos humanos também odeia os macacos, especialmente depois das primeiras escaramuças, a juntar à Gripe, e a guerra é inevitável.
Ao contrário de “Rise”, este filme é menos sobre macacos que se tornam geniais e mais sobre dois grupos de seres inteligentes que podiam cooperar para o bem comum, mas preferem antes descer à barbárie e à guerra, embora os prejudique, movidos pelo ódio mais visceral. Alguém observou, numa das críticas, que é difícil dizer quem começou. Houve culpa de parte a parte. O importante é saber quem vai acabar.
“Dawn of the Planet of the Apes” deixou o ridículo para trás e apresenta-nos um filme lúcido e filosófico sobre nós próprios, sobre a guerra e o conflito e a sequência de acontecimentos que tantas vezes fazem o Mal prevalecer sobre o Bem. Na opinião de alguns críticos, esta foi a melhor sequela já produzida depois do filme original de 1968. Não discordo. Gostei e recomendo.

15 em 20

 

domingo, 20 de junho de 2021

NOS4A2 / Nosferatu [segunda temporada]

Nunca pensei que esta série tivesse uma segunda temporada. A primeira pareceu-me uma história finalizada. Vic McQueen venceu, não sem o sacrifício do pai do seu filho, o Wraith (carro-vampiro) ficou sem motor, e Manx acabou comatoso no hospital.
Por outro lado Bing Partridge andava a monte. Bing Partridge é o equivalente para Manx do que Renfield era para Drácula. Ainda na esperança de ser levado para a Christmasland (onde não ia divertir-se tanto como pensava), Partridge consegue localizar o Wraith e pô-lo a funcionar. Após oito anos de coma, Charles Manx morre no hospital, mas assim que o Wraith volta a ter motor, Manx ressuscita.
Durante todo este tempo, Vic McQueen nunca se convenceu de que Manx já não era um perigo. Agora ela mora com o filho e com o namorado e tem uma oficina de motas onde dá largas aos seus talentos criativos pintando capacetes por encomenda. Longe ficaram os sonhos de entrar numa escola de Belas Artes e ser alguém. Mas não se pode dizer que viva mal, ou que seja uma má mãe. Simplesmente desenvolveu o hábito de beber whisky (herdado direitinho do pai) a toda a hora e às escondidas. Em sua defesa, durante estes anos todos Vic continuou a receber telefonemas ameaçadores directamente da Christmasland (é Millie, filha de Manx, quem lhe telefona), que muitas vezes guarda em segredo para si. Estes telefonemas tanto chegam em telefones normais como em telefones de brinquedo, o que é por si só arrepiante.
A notícia da morte de Manx não a convence, e o seu sexto sentido tem razão. Manx é ressuscitado assim que o carro volta à vida. E agora Manx só tem um objectivo; vingar-se e roubar o filho de Vic, levando-o também para a Christmasland.
Enganei-me, na crítica anterior, ao julgar que Manx era velho, mesmo muito velho. Aqui eu estava a pensar em séculos. Afinal não era assim tão velho, e um flashback explica-nos o seu encontro com o maldito Wraith e a criação da Christmasland imaginária. Manx era jovem durante os anos 30, época da Grande Depressão. O Wraith foi comprado barato como tentativa de criar o seu próprio negócio assim que as coisas melhorassem. A mulher de Manx zanga-se com ele por gastar dinheiro inutilmente, dinheiro que ele arranjou empenhando as jóias dela (“Já ninguém tem dinheiro para um chaffeur, Charles”), e ameaça sair de casa e levar com ela a filha de ambos, Millicent. É então que algo aqui acontece e que o Wraith se torna um carro-vampiro e que a Christmasland, imaginada em conjunto por Charles e Millie, se torna uma realidade (embora imaginária). Millie é a sua primeira habitante e a mãe dela, esposa de Manx, a sua primeira vítima.
Deste modo, nos nossos dias Manx tem uns 110/120 anos, e uma aparência jovem alimentada pelas almas dos miúdos raptados. Falhando o Wraith, a força mágica que lhe confere imortalidade, Manx transforma-se num velho da sua idade real. Mas, praticamente imortal, a única maneira de o matar é destruindo o Wraith, o que não é tarefa fácil porque o carro tem vontade própria.
Recuperado da morte e de uma autópsia (matar Manx não é mesmo fácil), este começa de imediato a cercar Wayne McQueen, filho de Vic. O apelo da Christmasland é praticamente irresistível para uma criança, e depois de alguma resistência Manx consegue dar-lhe a volta. Não é um rapto. Mais doloroso ainda para Vic, a certa altura é Wayne quem segue Manx voluntariamente (ou o mais voluntariamente possível nestas circunstâncias, em que o Wraith já lhe comeu a alma). Agora Vic tem de tentar resgatar o seu filho e matar Manx de uma vez por todas.

Tal como a primeira temporada, também a segunda vale mais pelo complexo drama familiar do que pela história de terror em si. Vic sempre quis escapar ao mesmo destino dos pais, mas acaba exactamente como eles. Entretanto, Chris McQueen, pai de Vic, já deixou a bebida, mas Vic ainda agora começou. Vic atinge o ponto mais baixo quando pega fogo à sua própria casa, embriagada, tentando livrar-se de todos os telefones de onde recebe chamadas fantasmagóricas. Por causa disto recebe um ultimato do namorado: ou pára de beber ou está tudo terminado entre eles. Vic decide deixar Wayne com o pai adoptivo e sair de casa. Tirando a parte das chamadas fantasmagóricas, este podia ser um drama em que os filhos acabam a repetir os erros dos pais, por falta de condições ou de apoio para os superarem, ou por auto-sabotagem. A família McQueen precisava de muita terapia, com ou sem Manx.
Efectivamente, o drama continua a ser o ponto forte da série à medida que a história de terror se torna cada vez mais rebuscada e a premissa é esticada até um limite em que a corda da credibilidade ameaça partir-se. Para mim, partiu-se mesmo. Por exemplo, qual é o plano deles para destruir a Christmasland? Detoná-la com explosivos. Como é que se faz explodir um espaço imaginário? Com explosivos imaginários? Não, os explosivos até eram bem reais. Isto para mim foi a certeza de que mais valia se terem ficado pela primeira temporada.
Todos os episódios são esticados “demais”, espremendo todas as pinguinhas do drama. Não digo que tenha sido uma temporada chata com episódios de encher chouriços, mas notou-se que as ideias já faltavam quando, em vez de usar explosivos reais (duas vezes, ainda por cima, e em vão), Vic poderia, por exemplo, ter tentado recrutar a ajuda de outros “criativos” como ela, expandindo o universo sobrenatural da série.
Recomendo NOS4A2 a quem gosta de um bom drama familiar com um carro-vampiro à mistura (ou a toda a gente que deteste o Natal tanto quanto eu), mas a segunda temporada não vale tanto como a primeira. O último episódio tentou lançar as bases para uma continuação, mas a série foi cancelada. Já não havia por onde esticar mais.


domingo, 13 de junho de 2021

Godzilla (2014)

Fiquei na dúvida se havia de fazer uma crítica a este filme, ou se fingir que não o vi. Continuo na dúvida, mas cá vai.
Não me lembro do filme de 1998. Vi, mas a única coisa que lembro é que Godzilla era uma fêmea. O que de repente fez todo o sentido. Claro que Godzilla é uma fêmea! Por isso vou-me referir a “ela” como tal. As críticas arrasam o filme de 1998, o que poderá explicar porque é que não me lembro nada dele.
Também demorei a ver este, porque no fim costumam matar o “bichinho”, que não tem culpa de ser grande e destruir arranha-céus e pisar pessoas como quem pisa formigas. Isto ainda me deixa mais nervosa quanto a ver o novo “Godzilla versus Kong” (2021) porque já estou a adivinhar que um dos “bichinhos” (ou mesmo os dois) vai acabar morto. Já me basta o que chorei quando mataram o King Kong original, não me apetece passar por isso outra vez.
“Godzilla” (2014) não começa mal. A primeira meia hora é um drama familiar em que Bryan Cranston (o Walter White de “Breaking Bad”), com aquele arzinho sonso que ele tem de que nem é um actor a sério, faz outro grande papelão com o material que lhe é dado. Cranston é um cientista obcecado com o acidente nas instalações nucleares onde ele e a mulher trabalhavam, que a vitimou. Para ele, não foi um acidente e o governo está a esconder alguma coisa. E está, mas não o que ele pensa. Entretanto, o filho dele, a que eu vou chamar o protagonista porque é uma personagem tão bidimensional que nem merece ir procurar-lhe o nome, é um jovem veterano de guerra que considera o pai um daqueles malucos das conspirações que devia deixar-se disso. Só que não é, e depressa os acontecimentos lhe dão razão.
O que causou o “acidente” foi um monstro gigantesco, alado e pré-pré-histórico, que se alimenta de radiação. Como se não bastasse, esse monstro tem uma fêmea ainda maior que está pronta a pôr ovos.
Nesse primeiro embate com os monstros, Cranston sai de cena. E curiosamente, quando ele sai de cena o filme torna-se chato (para mim, pelo menos) e regride aos clichés de filmes de monstros.
Do mal o menos, sai Cranston, entra Godzilla. Ou Gojira, como lhe chama o cientista japonês que não tem outro papel na história senão este. Mas depressa toda a gente começa a chamar-lhe Godzilla (viram os filmes anteriores, não foi?) e a chamar MUTO ao outro monstro, sem ninguém se dar ao trabalho de explicar o que significa. É que de facto não se percebe se os militares e os cientistas já conheciam Godzilla, e, se conheciam, se sabiam onde ela estava. Pergunta pertinente: onde é que ela estava? Mais importante, porque é que ela aparece agora?
O filme dá uma péssima explicação: porque Godzilla é o predador destes outros monstros. Errado. Godzilla nunca tenciona comê-los. Encontrei uma explicação melhor nas criticas que li, que Godzilla está a proteger o seu território de uma invasão de monstros que ia afectá-la. Ah, isso já faz sentido. Mas o sítio onde se explicar isto é no filme, não é nas críticas.
Quando Cranston saiu, o filme deitou o cérebro fora. Agora são só monstros a destruir arranha-céus e pessoas a fugir ou a ficarem esmagadas. Clichés que eu julgava que já não aconteciam em filmes modernos, acontecem: o protagonista está em todas as tentativas militares de travar os monstros, e morrem sempre todos, e ele é sempre o único sobrevivente. Sorte do caraças.
Uma pessoa já devia saber que isto não é um filme para pensar, muito menos para sentir. É um filme para encher o olho de efeitos especiais, arranha-céus a colapsar, aviões a despenharem-se, explosões a torto e a direito.
Mas enche o olho? Ora, o problema do filme é mesmo esse. Não enche. Muitas coisas estão bem conseguidas, como dar-nos a noção da verdadeira dimensão destes monstros. Mas há mais acção militar, bem filmada, sem dúvida, do que monstro contra monstro. E eu não estou a ver a Godzilla para ver comandos em acção, tenham paciência. Mais monstros, menos militares. Até porque todas as tentativas dos militares de destruir os monstros acabam por ser irrelevantes para a história e só lá estão, francamente, a encher chouriços. Se estas cenas fossem cortadas e aproveitadas num Rambo qualquer, não se perdia nada.
Chegamos então à acção que queremos ver. Os monstros. E aqui os efeitos especiais falharam porque são muito escuros e quase não se consegue ver nada. Eu tive de voltar atrás imensas vezes para tentar acompanhar. Um dos MUTOs comeu uma ogiva nuclear? Segundo as críticas, parece que sim, mas eu não consegui perceber bem. Sim, os militares tinham um plano para destruir os dois MUTOs e a Godzilla, os três de uma vez, com ogivas nucleares, mas os MUTOs comeram as bombas. Isto devia ter sido hilariante, mas o filme não conseguiu sequer isso. Ainda quanto aos efeitos especiais muito escuros, se perguntarem às pessoas que fizeram o filme, vão dizer-vos que foi de propósito, que era de noite e estava muito fumo e havia destroços no ar, que era para ser realista. Qual carapuça! O único efeito pretendido é esconder as imperfeições do CGI, como também fizeram com “Aliens versus Predador 2: Requiem”, outro filme em que quase não se vê nada, literalmente. Se a noite é um problema, que fizessem as batalhas de dia.
Assim, quase não se percebe o que está a acontecer durante os combates entre Godzilla e os outros monstros, das poucas vezes que de facto os vemos “pegarem-se”. Nem sequer percebi como é que um deles morreu, e mais uma vez foi a ler as críticas que tive a certeza do que me pareceu ter visto.
Em suma, não me encheu o olho e, pior do que isso, não me encheu a barriga. Pelo menos gostei do fim, o que já não foi mau de todo.

Este “Godzilla” é outro filme acéfalo que se deve ver tendo isso em conta. Daqui por uns anos também não me vou lembrar dele. Mas vou recordar com carinho a carinha ternurenta de Godzilla quando se julgava que era mesmo o fim do bichinho.

12 em 20 (menos pontos para os efeitos especiais por serem demasiado escuros) 



domingo, 6 de junho de 2021

The Banshee Cries, de Patrícia Morais

Li este conto ainda na versão original, “The Roommate”, o meu primeiro contacto com o universo sobrenatural de Patrícia Morais. Francamente, gostei, tirando alguns pormenores que salientei à autora como beta reader do conto. Esta segunda versão está muito melhor, sem dúvida, e nota-se a evolução na escrita de história para história.
A protagonista de “The Banshee Cries” é Melissa, uma jovem que já traz consigo um passado traumatizante ligado ao sobrenatural. Na tentativa de recomeçar num local novo, muda de escola a meio do primeiro período. Para seu azar, chega precisamente durante as celebrações do Halloween, que Melissa detesta por lhe recordar tudo o que quer esquecer. Pior ainda, têm acontecido estranhos homicídios no campus, e Melissa descobre que vai ocupar a vaga no quarto (e dormir na cama) de uma rapariga assassinada. E não foi assassinada de qualquer maneira. Descobriram-lhe o cérebro todo picado, como se por agulhas, mas sem qualquer lesão exterior que o explicasse. Arrepiante!
À medida que os homicídios se sucedem, Melissa ouve o grito da banshee, criatura mitológica irlandesa conhecida por anunciar uma morte na família. Quem será o próximo? Estará Melissa realmente em perigo ou tudo não passa da sua imaginação, uma sequela do trauma que viveu?
Algo que me agradou bastante no conto foi a contextualização do Haloween como festa de origens pagãs, o que não costuma acontecer neste tipo de histórias mais viradas para os sustos gratuitos. Melissa conhece um entusiasta do Halloween (cá dos meus) que tenta explicar-lhe que o antigo Samhain não é apenas um “carnaval temático” (aqui estou a citar um amigo), e diz algo em que eu ainda não tinha pensado:

“But that’s what makes it so fun! Life is scary. Why wouldn’t we enjoy and make fun of that fear? Life is trying to make us fear it, and on this day we mock its attempts and say,” he puts his hands on my shoulders and shakes me. “No, not today. Today, I’m not scared of anything you throw at me.”

Bem apanhado. Nunca tinha pensado no Halloween nesta perspectiva.
“The Banshee Cries” é um conto Young Adult escrito em inglês que aconselho a quem gosta do Halloween, do sobrenatural, de banshees e de caçadores de bruxas. Infelizmente, é mesmo o aspecto Young Adult que não me permite gostar mais do conto, embora a história e as personagens revelem maior profundidade do que é costume neste Género. Ainda não o bastante para mim, todavia, que não sou o público-alvo. Será sem dúvida uma boa introdução ao universo começado pela autora no livro “Sombras”.

O conto pode ser adquirido em PDF e epub a partir daqui: patricia-morais.com/en/books/the-banshee-cries