quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Lisa Gerrard / Marcello De Francisci − Exaudia

Originalmente publicado no Pórtico


A Deusa cantou.
O álbum “Exaudia” é a colaboração de Lisa Gerrard (vocalização) com o produtor / compositor Marcello De Francisci (música), acabado de lançar em Agosto. O resultado é semelhante aos trabalhos anteriores de Lisa Gerrard a solo.
Peça indispensável no altar dos adoradores da Deusa.


domingo, 28 de agosto de 2022

Sombras, de Patrícia Morais

“Sombras” é o primeiro livro de Patrícia Morais, inicialmente publicado em 2014 pela Cool Books, uma chancela da Porto Editora. Terminado este contrato (e a chancela?), a autora optou agora pela auto-publicação.
Esta é uma história em Young Adult/Fantasia Urbana que agradará a quem gostou de “Twilight”, “Harry Potter”, “Diários do Vampiro” e “Sobrenatural”.
Lilly tem uma vida perfeitamente normal até à noite em que toda a sua família é assassinada. Incapaz de ficar no local onde aconteceu o trauma, Lilly parte para os Estados Unidos, a princípio para estudar Mitologia, mas depressa se junta aos Diabolus Venator, uma organização de caçadores de monstros. É a sua maneira de extravasar a raiva e encontrar um sentido na vida… ou de acabar com ela. Junto dos venatori, Lilly envolve-se num quase triângulo romântico com um dos caçadores, Liam, e um vampiro chamado Louis (não, não é o da Anne Rice). Mas poderá confiar em qualquer um deles?
Como estreia, é inegável que Patrícia Morais tem bastante potencial para fazer mais e melhor, mas vejo ainda muito trabalho, dedicação e vontade de aprender à sua frente. Algo necessário a "Sombras" como pão para a boca teria sido um bom beta reader ou revisor de texto.
Como beta reader de contos mais recentes de Patrícia Morais (em que se nota uma evolução substantiva), já tive oportunidade de dizer à autora que ainda falta um português mais elegante a nível gramatical, e que existe uma tendência permanente de decalcar expressões idiomáticas directamente do inglês (é a tal formação da autora em Tradução a imiscuir-se onde não deve) que até podiam resultar se fossem trabalhadas. Algumas escolhas de palavras são igualmente decalcadas do significado em inglês e, lamento, não resultam na nossa língua.
A nível da narrativa propriamente dita, o maior problema está na (falta de) caracterização e bidimensionalidade das personagens. A Lilly até conseguimos conhecer, mas todos os outros são genéricos. Isto vai-se tornando mais grave à medida que se desenrolam acontecimentos dramáticos que nos deviam fazer sentir alguma coisa… se conhecêssemos as personagens e nos interessássemos por elas. Infelizmente, isto não foi conseguido, o que retira bastante impacto à revelação final, quando nos surge um vilão sem profundidade que nunca passou de um nome no papel.
Por último, as personagens de “Sombras” andam na casa dos vinte anos mas comportam-se, falam e agem como miúdos de liceu, o que é grave numa organização que devia ser antiquíssima, sapientíssima e profissional. Esta “juvenilidade” devia ser revista. Jovens adultas não são adolescentes birrentas que andam a puxar os cabelos umas às outras quando se zangam. Basta dizer que o personagem mais velho, o chefe dos venatori, tem apenas 30 anos. Faltava aqui uma maturidade à altura da instituição representada.
Em suma, e apesar do rumo pesado e dramático que a história podia levar, “Sombras” é um livro leve que aborda o sobrenatural e o romântico sem querer aprofundar os temas que, como espectros, gritam das sombras para serem explorados.
Espero muito mais de Patrícia Morais no futuro.

Onde encontrar o livro: patricia-morais.com/livros/sombras


domingo, 21 de agosto de 2022

A Most Violent Year / Um Ano Muito Violento (2014)

“Um Ano Muito Violento” é um título enganador no sentido em que parece menos interessante do que é: em 1981, em Nova Iorque, um empresário tenta salvar o seu negócio dos ataques da concorrência. A sinopse também nos informa de que estatisticamente 1981 foi realmente o ano mais violento da história da cidade até essa data.
A história é aparentemente simples. Abel Morales é um empresário de sucesso no ramo do combustível para aquecimento doméstico quando os camiões da sua empresa começam a ser alvo de assaltos constantes à mão armada. Os condutores dos camiões são atacados e espancados, o que leva o sindicato a ameaçar uma greve se não for autorizado que estes sejam portadores de armas de defesa. Morales é contra isso porque teme uma escalada de violência. A polícia não consegue descobrir de onde vêm os ataques. Embora pareça coisa da Máfia, neste caso esta não tem nada a ver com o assunto. Morales sabe disto porque a sua esposa Anna, contabilista na empresa, é de facto filha de um mafioso. A certa altura esta sugere mesmo “telefonar ao pai para resolver a situação”, o que Morales recusa igualmente.
Como se não bastasse, a polícia está mais interessada em investigar a empresa, suspeitando de fuga aos impostos. Morales encontra-se a meio de um grande negócio: adquirir um terreno no porto, que lhe permitirá descarregar e armazenar combustível com maior lucro. Para isso, não pode falhar o pagamento acordado. Mas, ao saber da investigação, ao mesmo tempo que acontece um tiroteio entre um condutor e os assaltantes, o banco, que prometera apoiá-lo, retira-lhe o financiamento.
Morales é ambicioso e é o patrão, o que não costuma resultar em termos de simpatia. Mas não é ambicioso a qualquer preço. Na verdade, é um homem honestíssimo, que quer sempre fazer tudo com a maior correcção. Não é difícil começar a torcer por ele muito depressa. Mas até mesmo o homem mais honesto se encontra por vezes em áreas cinzentas. Chamar a Máfia para o proteger é uma tentação quando o trabalho de uma vida se encontra prestes a desmoronar devido a actos criminosos de outrem. Não deveria ele responder na mesma moeda? Mais grave ainda, Anna, a esposa, confessa-lhe que desde há anos anda a desviar dinheiro da empresa para uma conta pessoal em nome de ambos. Logo, a investigação não será tão inofensiva quanto Morales julgava a princípio. Conseguirá ele manter os seus princípios e salvar tudo o que construiu? E, depois disto, conseguirá salvar também a sua família? Sem incorrer em spoilers, direi apenas que no fim é a sua humanidade que o salva.
“Um Ano Muito Violento” é a prova de como uma história aparentemente simples pode ser bem contada com suspense e tensão. O filme está classificado como Acção mas eu colocava-o antes no Drama, e só não é tecnicamente um policial porque o protagonista não faz parte das forças da ordem, embora acabe por ser ele a fazer o papel de detective. Além disso, o filme tem uma vertente de época. Aquilo é mesmo 1981, para o bem e para o mal.
Aconselho a toda a gente que gosta de filmes de Máfia, crime, policiais e dramas do género.

14 em 20

 

domingo, 14 de agosto de 2022

Vikings (2013–2020)

Para uma série que andou por aqui durante sete anos e que teve 90 e tal episódios, o que tenho a dizer é muito breve.
Vi o final de “Vikings” com aquele alívio “acabou, acabou, acabou” de ser libertada de um vício prejudicial. Ou melhor, era incontrolável como olhar para um desastre rodoviário: sangrento e horroroso. Confesso que cheguei a pensar, no fim da quinta temporada e devido ao grande hiato que aconteceu entretanto (por alguma razão passaram meses, um ano inteiro, sem aparecer na televisão?), que a série tinha acabado por causa da pandemia, e ainda bem, porque eu não queria tornar a vê-la. A minha primeira opinião não mudou, pelo contrário, foi piorando ao longo das temporadas.
“Vikings” queria ser a história de Ragnar Lothbrok e dos seus filhos, todos eles míticos e propícios a serem romanceados, mas a crítica é unânime quanto ao facto de que o enredo andou muito perdido após a morte de Ragnar, e nunca tornou a encontrar-se. Isto não era inevitável, foi simplesmente um caso de não se conseguir estabelecer os filhos de Ragnar como personagens sólidas. Tirando, talvez, Ubbe, aquele que consegue chegar mais longe, embora os seus feitos (na narrativa da série) tenham ficado em completa obscuridade. Ivar o Sem Ossos era demasiado sádico para que pudéssemos sentir empatia por ele; Hvitserk andou perdido num inferno de motivações contraditórias e dependências incapacitantes (pese embora a óptima interpretação de Marco Ilsø); Sigurd Snake in the Eye, coitado, desapareceu antes de aparecer. E Bjorn, filho mais velho de Ragnar e Lagertha, nunca conseguiu escapar à sombra do pai excepto no campo de batalha, tornando-o um personagem oco e fácil de esquecer.
A certa altura a série sacrificou o enredo e as personagens pela sumptuosidade dos cenários e nunca mais saiu dali. Não é difícil de entender. As reconstruções históricas são fabulosas. Eu própria já só assistia por causa delas. Nem me importo que quase nada tenha acontecido em Paris, na Rússia, até na Arábia (?) onde me parece que Bjorn foi parar durante alguns episódios. Só faltou termos visto Bizâncio. Esta é uma série que não precisa de enredo: vê-se só pelo espectáculo.
A porno-tortura continuou, ou não fosse uma série de Michael Hirst, até ao último episódio, em que ele próprio pôs o pé no travão. Talvez Michael Hirst receie não ter espectadores se não houver bastante porno-tortura. Mas agora, finalmente, após ver a sexta e última temporada, compreendi o que é que Michael Hirst deseja mesmo fazer. Michael Hirst quer criar as suas próprias cenas shakespearianas. E, devo admiti-lo, é nas cenas shakespearianas que ele brilha: nos monólogos e diálogos “to be or not to be”, nos momentos de surrealismo meditativo, no Vidente que volta do túmulo para fazer profecias, nas visões de Cristo no campo de batalha, no momento em que o drogado Hvitserk alucina uma serpente rastejante, monstruosa, e julga que é Ivar que veio para o matar. A sexta temporada foi cheia destes momentos e foi a melhor, na minha opinião, que adoro surrealismo.
A porno-tortura continuou e, como sempre, foi escusada. A incursão na Rússia, por exemplo, que tinha por objectivo humanizar Ivar. Menos porno-tortura antes e as atrocidades a que ele assistiu teriam tido verdadeiro impacto. Assim? O que é que ele viu que ele próprio não tivesse feito? Sim, compreendo, o efeito de espelho. Mas, no fim de contas, parece que Ivar não mudou assim tanto, simplesmente se tornou mais contido. Nem teve tempo de mostrar o que tinha mudado, na verdade. Então, de que valeu? A viagem à Rússia valeu pela arquitectura, pelas paisagens, pelos trajes, pelas cerimónias. Se isto é um elogio a uma série que devia ter enredo? Não é. Mas vê-se mesmo sem ele.
“Vikings” podia ter sido uma série grandiosa, mas auto-sabotou-se. Hirst esqueceu-se completamente do que dá vida a uma boa história: boas personagens, sólidas e consistentes. A partir daí foi tudo por água abaixo. Salvam-se os cenários.
Também não gostei do último confronto: deus cristão contra os deuses nórdicos. Não me parece plausível nem histórico. “Vikings” devia passar-se no século VIII mas foi sempre uma amálgama dos séculos VIII e IX. Mesmo assim, ainda não era o tempo das Cruzadas, das Jihads, das guerras religiosas. Este ainda era o tempo em que a Igreja era perseguida, não perseguidora. Era o tempo em que toda uma nação se convertia porque o monarca se decidia converter. O povo não se importava desde que a sua religiosidade se mantivesse. E foi assim que a Igreja teve de transformar as celebrações pagãs em dias santos, e é por isso que celebramos o Sol Invictus junto ao Solstício. Para as gentes do século VIII e IX o deus cristão não era o bicho papão que é agora. Isto foi anacrónico (à frente do tempo, neste caso).
Hirst conseguiu pelo menos uma coisa: Ivar, Ragnar, Bjorn, Lagertha, não serão esquecidos pela geração que assistiu a “Vikings”. Esse desejo de Ivar, no mínimo, foi atingido. Mas eu ainda queria ver esta história bem contada. Os filhos de Ragnar não se perderam assim tão facilmente na obscuridade do mito.
Gostei de Ubbe e da sua chegada à terra misteriosa a Oeste. Historicamente não foi ele, mas é sempre empolgante.


ESTA SÉRIE MERECE SER VISTA: 1 VEZ

 

domingo, 7 de agosto de 2022

The Meg / Meg: Tubarão Gigante (2018)

Há muito tempo que eu andava a tentar pescar este filme. Não é todos os dias que se vê um megalodonte sem ser em fóssil. “The Meg” é um Jurassic Park com um gigantesco tubarão extinto.
Começa como estas coisas começam sempre: uma expedição de biólogos marinhos na Fossa das Marianas descobre, a mais de 11 mil metros de profundidade, um novo ecossistema virgem, pré-histórico e até aqui desconhecido. É tudo muito bonito até um dos submarinos ser atacado por uma lula gigante, lula esta que foge muito depressa à aproximação de algo ainda maior… Muito mau sinal!
Eis que ele aparece, o megalodonte (o CGI é muito bom), e os submarinos têm de se pôr a milhas a toda a pressa. Mas, como sempre acontece nestas coisas, o megalodonte segue-os até à superfície onde encontra um novo território de caça sem predadores à altura. O megalodonte consegue partir uma baleia em duas!
O resto já se adivinha e não é preciso contar. Saliento apenas o momento de reflexão: “descobrimos, destruímos”. Neste caso, sem tempo para mais, não havia grande alternativa.
Há muitas caras conhecidas neste filme, das quais destaco Cliff Curtis (o Travis Manawa de “Fear the Walking Dead”). Mas o meu preferido mesmo é Rainn Wilson (o Dwight Schrute de “The Office”) e quem viu de “The Office “ sabe que vale a pena ver Rainn Wilson nem que seja a descascar batatas (ou beterrabas, neste caso).
Este é um filme excelente para se ver antes de ir à praia, ou mesmo na praia, ou mesmo numa bóia, a vogar, de pés na água. Banhos felizes!

14 em 20