DESAFIO:
Nem sempre foi assim ou estaremos todos muitos enganados? O que aconteceu à nação determinada que no século XII se tornou independente de Espanha? O que aconteceu à nação empreendedora que com mérito, coragem, saber e visão desbravou caminho pelos mares nunca dantes navegados, uma proeza semelhante às actuais viagens no espaço? O que aconteceu depois dos Descobrimentos que nos reduziu à medíocridade, à mesquinhez, à emigração, à subserviência?
Deixo aqui o desafio a toda a gente que tenha um blog dizer de sua opinião. Explicar o que aconteceu. Historiadores, cultos, incultos, gente com neurónios ou sem eles, é indiferente. Quero saber porque é que Portugal está a implodir.
Façam o vosso texto e avisem-me. Apontem-me para textos já escritos. EU QUERO SABER ISTO!
(...)
Quando e porque é que começou? Porque é que não se fala do assunto? Ao descobrir a origem, o momento chave em que tudo se transformou naquilo que os autores citados dizem, estamos mais perto da cura.
Fica o DESAFIO.
Precisam-se respostas.
Antes de transcrever as respostas, uma clarificação que eu julgar estar bem definida no desafio mas talvez não o esteja.
NÃO PROCURO MAIS DESCRIÇÕES DOS SINTOMAS CONHECIDOS E IDENTIFICADOS HÁ MAIS DE UM SÉCULO. PROCURO AS CAUSAS DO DECLÍNIO DE PORTUGAL. ATÉ AGORA NINGUÉM ME CONVENCEU.
Passemos, pois, a palavra aos intervenientes.
Comentário de Red:
Ora boas...
Desta vez ao contrário do 1º desafio lançado, não vou responder com versos metafóricos, que são mais interrogações que respostas.
Desta vez vou tentar um discurso mais coerente e de certa forma ciêntifico, para tal vou tentar mobilizar alguns dados empíricos.
Em primeiro lugar uma contextualização, para tal vou definir o que é o Global, não o global dos dicionários de sociologia, mas o Global que temos...
“Vejamos o que o global veio introduzir. No império do Global não há direitos adquiridos, há contratos...O lugar do indivíduo (do consumidor ou produtor) tem de ser conquistado, a pulso, no mercado, o seu desempenho tem de ser rentabilizado, a sua utilidade demonstrada. Há necessidade de uma contínua negociação, rentabilização, competição. As pessoas são dispensáveis, só interessam como função – de consumir ou de produzir – isto é, tornaram-se recursos: os recursos humanos!...Quem não é rentável não existe, não conta para o mundo global. Pode ser eliminado, pois não tem qualquer rentabilidade económica. Torna-se um peso para a sociedade globalizada e eficiente que, no limite, o despreza”1. isto é o global que temos só considera uma variável, a variável Capital, uma vez que a variável trabalho é local, “ A força do trabalho, só está globalizada num pequeno segmento da mesma, entre os trabalhadores de mais elevadas qualificações... (como analistas financeiros, engenheiros informáticos, publicitários de imagem ou estrelas desportivas)...O capital é global, o trabalho é local: nessa separação cria-se um vazio que torna ineficazes os processos de regulação e controle que se criaram na sociedade industrial”2 o que isto significa então em termos práticos? ora vejamos o que nos diz Casttels “...a produção de bens e serviços está globalmente articulada, em torno de um núcleo de 65 000 empresas multinacionais que, apesar de apenas empregarem uns 200 milhões de trabalhadores (há 3 000 milhões de trabalhadores no mundo), representam 40% do produto bruto mundial e 75% do comércio internacional. O comércio externo é pois a vida ou morte das economias, mas representa sobretudo a internacionalização da produção.”3 isto significa em termos práticos o seguinte. O conceito de globalização remete-nos de um ponto de vista económico, para a abertura dos mercados, isto é, um mercado global em que as fronteiras politicas e geográficas perdem importância, e em que os estados perdem gradualmente a influência politica sobre o mercado económico, numa lógica de causa efeito, isto reflecte-se numa concorrência também ela global, (onde interessa produzir bem, muito e barato).Num mercado global, interessa ás empresas reduzir custos de produção e aumentar o produto total, noutras palavras aumentar a produtividade, isto tem se reflectido numa fuga das empresas para mercados com uma mão de obra mais barata, e por vezes mais qualificada, consequentemente deparamos com um aumento do desemprego e precarização dos vínculos laborais, e aqui temos a VARIAVEL MAIS IMPORTANTE do caso especifico Português, a qualificação! senão vejamos em vários estudos realizados em Portugal a desqualificação emerge sempre como a variável mais importante no sentido de explicar os fenómenos que remetem este país para o pelotão de trás, (atenção que a influência das variáveis é facilmente demonstrável em termos estatísticos através de um conceito simples chamado o R de Pearson) mas não vou entrar em explicações de conceitos, correndo o risco de nunca mais sair daqui, de facto vejamos, temos uma população em que mais de 50% dos nossos cidadãos apenas têm o ensino Primário, e vamos lá meter as culpas nos senhores do costume, o ESTADO NOVO, parece que estamos a usar uma frase feita, mas que não deixa de ser real, interessava ao estado uma população inculta, e 30 anos ainda é pouco para vencer este paradigma, fruto disto vivemos num país de inteligentes incultos, com elites rascas, e numa ideologia paternalista, ou seja alguém nos vais resolver os problemas , e esperamos que o estado tome conta de nós, quem tem ideias ou critica este paradigma é apelidado de radical ou de pertencer a uma qualquer contracultura, enfim fomos arrastados para este turbilhão da globalização ( que não é mais que a globalização do capital) ao invés de uma globalização cultural geral, sem estarmos minimamente preparados, com isto afirmo, a emergência das novas economias como a china Índia ou Brasil, só vai piorar este quadro já de si bem negro. Interessa-nos mudar as nossas elites, e os nossos paradigmas, se não podemos mudar este Global, então temos de mudar o país para que o mesmo se adapte. Parece-me é que já vamos tarde...
1-Caraça, João, in Prefácio, A sociedade em rede em Portugal, Campo das letras, p 9, Porto, 2005.
2-Casttels. Manuel, in Capitulo inicial, A sociedade em rede em Portugal, Campo das letras, p 22, Porto, 2005.
3-Idem, p 23.
Acho que a tua explicação está muito focada na actualidade e nos efeitos da globalização. Procuro causas mais antigas, as mesmas dos sintomas de que falava Eça de Queirós n'"Os Maias", muito antes dos chineses.
Cito-te de novo: "de facto vejamos, temos uma população em que mais de 50% dos nossos cidadãos apenas têm o ensino Primário, e vamos lá meter as culpas nos senhores do costume, o ESTADO NOVO, parece que estamos a usar uma frase feita, mas que não deixa de ser real, interessava ao estado uma população inculta, e 30 anos ainda é pouco para vencer este paradigma, fruto disto vivemos num país de inteligentes incultos, com elites rascas, e numa ideologia paternalista, ou seja alguém nos vais resolver os problemas , e esperamos que o estado tome conta de nós, quem tem ideias ou critica este paradigma é apelidado de radical ou de pertencer a uma qualquer contracultura," Tudo isto está em Portugal muito antes do Estado Novo.
Mais?...
Comentário de Goldmundo, em várias partes, por opção do próprio, e a nosso bem pela graça de Deus:
Bem, tantas coisas para dizer. Vai ter de ser aos bocadinhos.
"O que aconteceu à nação determinada que no século XII se tornou independente de Espanha?"
Bem, não houve uma "nação determinada". No séc. XII, e nos anteriores desde que os romanos colapsaram, a questão era essencialmente militar. Coragem individual, espírito guerreiro, talvez fé e honra, que são as duas coisas que fazem com que sobreviver a todo o custo possa não ser sempre a opção a seguir. A inteligência é necessária, mas é a inteligência do lobo ou a do falcão. Ao povo, pedia-se que fosse povo: trabalhar nos campos, ter filhos, viver e esperar.
Quando surge aquilo a que agora chamamos capitalismo, ou comércio (em larga escala) as coisas tornam-se diferentes, muito diferentes. A honra do comerciante é diferente da honra do rei: trata-se de pagar a tempo e horas, de entregar a mercadoria a tempo e horas. Trata-se de cumprir contratos e não de cumprir regras morais. E aí aconteceu (não só a nós, também aos espanhóis) algo de dramático. Navegámos, e expulsámos os turcos da Índia, e uma vez um soldado português enfrentou sozinho, num bote, 22 navios de guerra do Sultão. Mas a certa altura isso não bastava.
- O D. Afonso Henriques não era "periférico" de coisa nenhuma. Quanto mais longe estivessem o Papa e o Rei de França e o Imperador menos gente ele tinha que o chateasse. Mas o comerciante de Lisboa no tempo dos Descobrimentos tem desvantagem (acesso ao crédito, acesso a mercados de matéria-primas, etc) face aos do centro-europa.
- A expulsão dos judeus (forçada por Espanha) não ajudou.
Segunda parte
Uma nota prévia ao comentário de Red: a ideia de que interessava ao Estado Novo uma população "inculta" é evidentemente um dos tristes mitos contemporâneos. A ver se nos entendemos: Portugal está repleto de escolas primárias e de liceus construídos nos anos 30/40/50 (aliás, com uma arquitectura perfeitamente reconhecível: "olha uma escola primária"). O que não interessava - mas é um assunto DIFERENTE - era a difusão das "ideologias de esquerda", como é óbvio. No entanto, ao contrário de agora, qualquer pessoa "urbana e culta" falava e lia duas ou três línguas estrangeiras, e o país (ou melhor, Lisboa, Porto e Coimbra)abarrotava de livros franceses e ingleses de todos os quadrantes.
Voltando ao assunto principal: o gap" entre Portugal e a Europa começou com o desenvolvimento do capitalismo. Não tivemos Revolução Industrial. Não tivemos dinastias burguesas de várias gerações, a trabalhar (ao modo burguês, isto é, como "empresários", mas a trabalhar) por sucessivas gerações e a acumular fortunas enormes.
As razões para isto são pouco conhecidas ainda (Pedro Brito, da Faculdade de Letras do Porto, é a única pessoa que conheço a estudar seriamente este ponto): tudo indica que, ao contrário da Europa do Norte, a preocupação de quem enriquecia era "afidalgar-se". Se conhecem o Minho (basta ver fotos de Viana e Ponte de Lima na net) vêem que está coberto de "solares" do século XVIII: os camponeses emigravam para o Brasil, faziam fortuna, voltavam para comerciar durante uns tempos e mal podiam faziam um casamento na nobreza, construiam um palácio... e passavam a viver de rendas agrícolas. Era bom enquanto durava. (era muito mal visto um "fidalgo" trabalhar, o que nunca aconteceu em Inglaterra, por exemplo).
Para quem goste de literatura "gótica" (a clássica, a dos anos 1750-1850), sugiro que vejam o que era a Espanha e Portugal aos olhos de ingleses e franceses: do lado de cá dos Pirinéus entravam numa espécie de Transilvãnia Ocidental, com ciganos, igrejas em ruinas e campos por cultivar. Por isso, e não pelo Sol do Algarve, aqui estiveram Byron, Walpole (o inventor" do romance gótico) e vários outros. Foram eles que "fizeram" Sintra, que era um ermo com um castelo arruinado.
(continuo)
O terramoto não ajudou (mil palácios destruídos em Lisboa), e também não ajudou uma coisa pouco conhecida: poucos anos depois do terramoto houve um misterioso incêndio na Alfandega de Lisboa, que servia de "registo central" aos documentos que provavam dividas dos comerciantes (de exportação/importação): grandes empresas arruinaram-se aí.
Mas não é o terramoto (nem as invasões francesas) a causa, as coisas vêm mais de trás.
Pensem em filmes como o "Patriota" com o Mel Gibson, ou filmes do tempo de Napoleão: aqueles grandes exércitos de infantaria, linha após linha de soldados profissionais com espingardas e baionetas: Portugal teve de importar generais para os organizar, como agora importa espanhóis para "gestores de topo". Não aprender o capitalismo e não ter a revolução burguesa significa não aprender organização, não aprender planeamento. Fazer as coisas ao modo de cada um, como o artesão da Idade Média. Nos últimos 300 anos, isso tornou-se cada vez mais um desastre.
Suponho que o facto de termos sido um país católico não ajudou: ao contrário das igrejas "protestantes", o clero católico desconfiava do progresso, dos "estrangeiros", das novas ideias. Cada vez mais as nossas coisas foram actos isolados e "heróicos", como a travessia aérea do Gago Coutinho, a travessia de África de Serpa Pinto, os romances do Eça ou a poesia do Pessoa: uma coisa de um só, que não deixa rasto nem escola.
O quotidiano continuou aldeão, e por isso continuou ineficaz: o compadrio, que agora nos horroriza no topo do Estado, foi inventado no adro das aldeias. Faz-se assim porque "sempre se fez", trabalha-se com este porque é primo de um amigo. Uma vez assisti a um telefonema feito directamente para o Presidente da República para "livrar um rapaz da tropa, a mãe é do meu tempo e boa moça, viúva coitada": e o rapaz livrou-se, sim. Os tribunais nunca funcionaram (funcionaram nos países em que os ricos precisavam que eles funcionassem para cobrar dívidas ou para impedir o Estado de fazer leis absurdas: aqui repercutia-se a dívida no seguinte ou falava-se com Lisboa para alguém "fechar os olhos".
Isso significa que o 25 de Abril, passado o folclore inicial, foi o desabar de um capitalismo em fase cancerosa sobre um país do séc. XVI. E ainda por cima, quando (anos 80) a ideologia exportada pelos americanos era a de que o capitalismo ia trazer consigo a paz da democracia. Tentou-se isso na Rússia, também.
O problema seguinte é o de perceber porque é que a Espanha triunfou quando nós falhámos. Também teve o Franco, e teve uma guerra civil que durou 3 anos. Também era um país de fidalgos e ciganos. E agora prepara-se para ultrapassar a Inglaterra em poder económico.
É curioso que Sócrates nos peça para olhar a Finlândia, com a Espanha mesmo ao lado. Se eu fosse o autor do Portugal Profundo, talvez sugerisse duas ou três explicações :)
(a continuar, acho...)
Obrigada pela paciência em escrever isto tudo, Goldmundo. Valerá a pena se a alma não é pequena (e a nossa não deve ser porque insistimos em escarafunchar a madeira podre das fundações da casa).
As tuas questões põem-me mais perguntas.
Cito e provoco.
A inteligência é necessária, mas é a inteligência do lobo ou a do falcão. Ao povo, pedia-se que fosse povo: trabalhar nos campos, ter filhos, viver e esperar.
Também o mesmo era pedido a todos os povos europeus, ou não?...
- A expulsão dos judeus (forçada por Espanha) não ajudou.
E todavia, mesmo sem judeus, a Espanha fez e faz coisas enquanto Portugal definhava e definha. Muitas culpas foram atribuídas aos judeus; não comeces também tu a desculpar-te com a falta deles. ;)
Voltando ao assunto principal: o gap" entre Portugal e a Europa começou com o desenvolvimento do capitalismo. Não tivemos Revolução Industrial. Não tivemos dinastias burguesas de várias gerações, a trabalhar (ao modo burguês, isto é, como "empresários", mas a trabalhar) por sucessivas gerações e a acumular fortunas enormes.
Agora sim, se não estamos no osso, estamos perto dele.
Não aprender o capitalismo e não ter a revolução burguesa significa não aprender organização, não aprender planeamento. Fazer as coisas ao modo de cada um, como o artesão da Idade Média. Nos últimos 300 anos, isso tornou-se cada vez mais um desastre.
Eis uma boa questão. O que faltou ou o que falhou para não percebermos com o exemplo dos outros quando até os intelectuais do século XIX já o apontavam? Somos burros? Não somos burros. O que trava, então, as mentes nacionais?
(Estamos a chegar perto.)
Suponho que o facto de termos sido um país católico não ajudou: ao contrário das igrejas "protestantes", o clero católico desconfiava do progresso, dos "estrangeiros", das novas ideias.
O exemplo de Espanha também faz deste um ponto mudo.
Aliás, o exemplo da Espanha faz-nos pensar muito e muito. Mas a Espanha não é o inimigo. O inimigo é a falta de reflexão sobre a nossa própria estagnação.
QUE CONTINUE O DEBATE!
MEXAM-SE! ESPALHEM-NO!
6 comentários:
Gotika, para já quanto à última "pergunta-provocação":
"O que faltou ou o que falhou para não percebermos com o exemplo dos outros quando até os intelectuais do século XIX já o apontavam? Somos burros?"
Não, não somos. A questão não é essa, e não gosto de levar a questão para "alma do povo", "raça degenerada", "povo estúpido" ou coisas assim. O capitalismo (a burguesia, a vida nas cidades) implicou a aprendizagem de um conjunto de regras pequeninas (não aquelas que preocupam a polícia e os tribunais), quotidianas: Numa palavra, regras "chatas". A pontualidade, por exemplo (não por acaso uma "característica" dos ingleses e alemães). Os hábitos. A necessidade de ser visto como pessoa "respeitável" não por ter sangue azul mas pelo seu modo de vida.
Diz-se que o filósofo Kant era tão pontual no dia-a-dia (ele era professor numa universidade) que o relógio da Igreja era acertado pela sua passagem. O que é extraordinário nesta história, se reparares bem, não é o Kant: os filósofos são comummente excêntricos. O extraordinário é que, na cidadezinha onde vivia, ALGUÉM SE PREOCUPASSE EM ACERTAR O RELÓGIO DA IGREJA. Eu queria uma estátua a esse herói anónimo.
(nota: a cidade era Koenigsberg, depois chamada Kaliningrad. Na zona oriental da Alemanha, depois integrada na Rússia. A Europa profunda)
O círculo vicioso aqui é que este tipo de aprendizagem requer disponibilidade mental, ou predisposição mental, para aprender. E mesmo essa predisposição tem de ser... aprendida (nós não a temos generalizada). Por isso é que o desenvolvimento do capitalismo "clássico" foi crucial: é que a concorrência obriga à aprendizagem, a bem ou a mal.
Os "intelectuais" do séc. XIX diziam preguiçosamente "olhem para Paris, seus provincianos. Eu próprio passo lá o Verão para não me sentir estupidificado". Mas dizer isso e não dizer nada é a mesma coisa, do ponto de vista que aqui interessa. Muito mais efeito teve o facto de o Eça e outros terem LIDO romances franceses e COMEÇADO A ESCREVER como se escrevia em Paris.
Não resisto a duas notas, a partir da edição de hoje do "Público":
1) Os vereadores de Lisboa demitiram-se, como se sabe. Em consequência, uma série de coisas que estavam agendadas ficaram por aprovar (ou rejeitar). Uma delas um loteamento requerido pelo Sporting. O presidente do Sporting terá dito a jornalistas, ou ao povo, que "em atenção à sua história", o clube "merecia" que a Câmara tivesse tratado do seu assuntozinho com particular carinho.
2) A Constança Cunha e Sá, na sua crónica, diz que o Dr. Jardim inaugurou uma estrada que fica a chamar-se "a estrada da Maria". Explica-se o nome: uma "senhora Maria", que tratou dos filhos dele (Dr. Jardim) em pequeno ou coisa assim, veio pedir a estradinha. E à senhora Maria o Dr. Jardim não pode recusar nada.
(Nota: Não sei se isto é verdade ou lenda anti-Jardim: para o meu argumento, tanto faz)
Isto é o modo "feudal" de viver: o Sporting, como um fidalgo, acha que tem mais direitos. O Dr. Jardim, como um fidalgo, aprecia a Senhora Maria. A lei é vista como uma coisa com que os policias intimidam os ciganos: entre pessoas civilizadas, tudo se resolve nos salões.
E isto não envolve, necessariamente, um juízo sobre o "carácter" ou a "honestidade" das pessoas: aqui está, também, um conjunto de regras. Se eu puder escolher, prefiro as regras "burguesas" que a Europa inventou há 400 ou 500 anos. São mais eficientes, só por isso.
Estás no Titanic, a quinhentos metros do Iceberg. E dizes "por favor dêem-me os planos do navio. Quero saber o que falhou nos cálculos dos engenheiros".
Foi para pessoas assim que a orquestra tocou até ao fim. Não sei se, contas feitas, valerá a pena: mas li também o que escreveste sobre os pecados e o amor. E penso que Deus recolherá as almas dos que não temeram.
hellena corvo: não, o titanic já bateu e vai a pique (daí agora se ver caso Sócrates, caso Câmara, etc). A maioria dos passageiros ficou nos camarotes a dormir e nem sabem o que os espera. Os salva vidas já estão cheios. Se eu lá estou também, no convés, a vê-los partir, pelo menos entretenho-me com a música e as causas do desastre. Daqui também não me safo.
Sim. Mas isso é lucidez. E a lucidez é coisa que não abunda. E ao contrário do que se diz, a lucidez não nasce só do cérebro.
era para ter respondido no timing certo mas quase duas semanas fora e sem acesso regular à internet adiaram a minha resposta. De qualquer modo o Goldmundo já mencionou aquele que seria o motivo que eu daria - a "manutenção" do catolicismo vs expulsão de judeus & não-impacto da reforma protestante.
A diferença é que enquanto o Goldmundo o menciona quase como acessório (supões que) eu o colocaria no cimo de todos os motivos. Afinal o pobre bonzinho era o premiado no juízo final no catolicismo e o homem com sucesso o era nas igrejas protestantes, em especial o calvinismo.
É claro que depois temos a Espanha e a teoria à partida desmorona-se.
Conversa fiada. Portugal só não existe como mais uma autonomia Espanhola por culpa da Inglaterra.
Vários exemplos podem ser dados, foram-se todos os anéis ficaram apenas os dedos.
Habituámo-nos a baixar a cerviz a ser sacaninhas para ganhar na rasteirada, desde o Afonso I
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