quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Benzodiazepinas e outras aberrações

Hoje tava eu a pastilhar com dois ou três Xanaxes, um Prozac e mais meia dúzia de lorazepans genéricos - que isto comigo é sempre a abrir, sempre a dar na merda! - quando descobri que sou uma drógada, fónix! Plaavre ed hnroa, nme sie coom é qee etosu a cnosegiur esrcevre cmo antta dorag an cbaeça!
(Se conseguiram perceber a frase acima, não se preocupem, não estão doidos. A mente tem o poder de reconhecer as palavras embora as letras estejam trocadas desde que lá estejam as letras todas. Aprendi num email.)

Anda a polícia de trânsito a fazer testes às benzodiazepinas, à heroína, à cocaína, ao haxixe e ao ecstasy, para detectar os condutores que conduzem sob o efeito de droga. Assim, tudo no mesmo saco. Eu dou na benza desde os 14 anos. Todos os dias dou na benza. Fiz o liceu e a faculdade a dar na benza. Vou trabalhar todos os dias a dar na benza. Fónix, até tirei a carta a dar na benza! Dia sem benza não é dia.
Eu sei que não sou grande exemplo de lucidez. Ainda agora, por causa da pedrada da benza, quase espetei o teclado contra o monitor. É como eu digo, nem sei como é que estou a escrever isto tudo sem cair da cadeira, tal é a pedra.

Agora, muito a sério, compreendo perfeitamente o sentido de detectar drogas que alteram a consciência a ponto de distorcerem a realidade. Mas toda a gente sabe, por experiência própria ou por observação, que os comprimidos para dormir, os ansiolíticos, os antidepresivos, não alteram a realidade nem causam delírios nem diferenças de comportamento como as outras drogas referidas e o álcool.
Para quem não sabe, que fique agora a saber, todos os medicamentos que referi (comprimidos para dormir, ansiolíticos, antidepresivos) causam efeitos secundários que podem perturbar o funcionamento normal e quotidiano nos primeiros dias da toma. Aliás, vem na literatura inclusa: "não conduzir nem manejar máquinas perigosas enquanto não conhecer os efeitos". Se um destes medicamentos causa distorção da realidade, delírio, agressividade, alterações comportamentais, euforia, etc, etc, como as outras drogas e o álcool, o que às vezes acontece!, o tratamento deve ser suspenso imediatamente e deve-se procurar outro mais adequado. Se o medicamento funcionar como se pretende (induzir o sono, acalmar, melhorar o humor), a pessoa habitua-se em poucos dias e pode fazer tudo o que as outras pessoas fazem. É por isso que as pessoas sob estes medicamentos podem trabalhar, andar na rua, tomar conta dos filhos, tomar decisões responsáveis e legalmente válidas e, também, conduzir.
É claro que não passa pela cabeça de ninguém responsável ir conduzir depois de tomar comprimidos para dormir. Os comprimidos para dormir dão sono. Se a pessoa for irresponsável ao ponto de o fazer, não é mais irresponsável que o condutor que, não tomando comprimidos nenhuns, não pára de conduzir embora esteja sonolento e corra o risco de adormecer ao volante. Os fármacos de que falo não induzem no condutor a sensação de "invencibilidade", prazer e euforia que as outras drogas e o álcool provocam. Toda a gente sabe isto. O condutor irresponsável que sabe que estes medicamentos de toma continuada lhe prejudicam o raciocínio é o mesmo condutor irresponsável que atende o telemóvel quando conduz. Não é a droga que o transforma, é a atitude que o que o faz agir.
Os comprimidos para dormir, os antidepressivos, os ansiolíticos, tal como o tabaco, são substâncias que não alteram a percepção da realidade nem causam delírios, e ainda estou para ver a pessoa que apesar destes efeitos secundários os continua a tomar, porque os efeitos secundários não são fonte de prazer.

Discriminação

A coisa mais aberrante, contudo, nesta lei da palhinha da droga, é o facto de não ser aleatória como é o teste do balão. É o polícia que escolhe, suspeita, desconfia do indivíduo e determina se deve aplicar o teste, pelo aspecto do fulano. Ou seja, se é um pai de família, barrigudo e de bigode, é óbvio que não é drogado porque gente assim dá no tintol ou na cerveja. Um gajo de fatinho e gravata é óbvio que não é drogado nem dá na branca, porque se veste bem e tal e conduz um carro desportivo. Um gajo vestido de preto, cheio de brincos, com uma t-shirt do Marilyn Manson ou pior, se não está bêbedo só pode ser drogado! Cospe aqui prá palhinha.
Mais uma vez, isto é contra toda a experiência e observação. Muitos toxicodependentes o foram durante anos sem que ninguém desconfiasse. Qual é o sentido deste teste?

A raiz do mal

Infelizmente, mesmo que se erradicasse todo o álcool e drogas das estradas, ainda assim não se deixava de morrer em acidentes estúpidos que podiam ser evitados.
Toda a gente sabe que a grande causa dos acidentes é o excesso de velocidade e o desrespeito pelas regras de trânsito, com ou sem álcool, com ou sem drogas.
Toda a gente sabe que nas escolas de condução se ensina que o amarelo é para parar. Toda a gente sabe que um condutor que se atreva a fazer isso está a pedir que se lhe espetem por trás. Toda a gente sabe que conduzir neste país é fugir. Fugir do gajo da frente que não diz para onde vai, fugir do gajo de trás que apita e aperta embora já se vá no limite de velocidade, fugir do gajo do lado que vai a ultrapassar às rasquinha em frente a um camião e que quando o vir vai guinar para cima de nós... As estradas portuguesas são de meter medo.
Aliás, nada melhor é exemplo do desatino deste país do que se vê nas estradas. O que se aprende na escola não se faz, então porque há escola e não se aprende com a experiência, à americana, se não para alimentar um nicho de interesses? Atenção, não estou a dizer que sou contra as escolas de condução, pelo contrário, sou contra é a sua falta de autoridade. E porque se continua a acelerar à maluca pelas estradas portuguesas, ultrapassando quando não se tem visibilidade porque se está com pressa, desrespeitando as mais elementares regras da carta? Porque se permite e tolera este comportamento? O que raio é isso da "tolerância zero"?! Tolerância zero devia ser todos os dias. Isso é que me assusta, não são as benzodiazepinas.

Está-me a passar o efeito da moca. Vou ali tomar mais uns Lorénins e um Morfex e já cá volto depois de reabastecer...


PS: A minha indignação com esta estupidez não é por ser directamente afectada. Já há anos não que não conduzo e não preciso de o fazer. A principal razão que me dissuade é a selvajaria das estradas portuguesas e as manobras suicidas e homicidas que vi em muita gente perfeitamente sóbria que conduz e continua a conduzir até ao dia em que diz que "foi azar" meter-se debaixo do camião, o que também já vi. A única máquina perigosa que manejo é mesmo este computador, onde repudio a ignorância, os falsos conceitos, a discriminação e a injustiça.

2 comentários:

Fernando disse...

Muito boa, esta tua posta. Com esta nova lei já comecei a stressar. Eu, que só falo em público após um Lexotan, estou tramado. Medo dos palcos ou palhinha?

Os yuppies de Wall Street andam de fato e gravata e, segundo consta, é coca a toda à hora... Há vários estudos publicados que indicam que aproximadamente 30% dos acidentes de automóvel se deve ao abuso de substâncias (álcool, drogas, etc.). Um desses estudos aparece aqui: http://www2.potsdam.edu/hansondj/DrivingIssues/1101913925.html
Caso tenhas pachorra para ler o que eu e duas colegas escrevemos sobre o tema dos acidentes em Portugal, deixo-te aqui um link:
http://repositorium.sdum.uminho.pt/dspace/bitstream/1822/3799/1/Krakow%20(2005).pdf
Esta é uma versão antiga. Entretanto o artigo foi revisto e submetido para publicação. Estamos à espera...

kkafka disse...

Eu digo:
tu deves um cadito pró parvo e pseudo-alguma coisa.
essa tempestade toda por causa da cena da lei na estrada,já tá td tratado,benzos não contam.é a 1ª vez que venho a um blog.andava a pesquizar "benzodiazepinas" pk tenho alguma dificuldade em arranjar receitas,se alguem me puder ajudar...
com esta cena toda acho ke criei um blog :IRRESPONSABILIDADE VITALICIA,visitem