DESAFIO:
Nem sempre foi assim ou estaremos todos muitos enganados? O que aconteceu à nação determinada que no século XII se tornou independente de Espanha? O que aconteceu à nação empreendedora que com mérito, coragem, saber e visão desbravou caminho pelos mares nunca dantes navegados, uma proeza semelhante às actuais viagens no espaço? O que aconteceu depois dos Descobrimentos que nos reduziu à medíocridade, à mesquinhez, à emigração, à subserviência?
Deixo aqui o desafio a toda a gente que tenha um blog dizer de sua opinião. Explicar o que aconteceu. Historiadores, cultos, incultos, gente com neurónios ou sem eles, é indiferente. Quero saber porque é que Portugal está a implodir.
Façam o vosso texto e avisem-me. Apontem-me para textos já escritos. EU QUERO SABER ISTO!
(...)
Quando e porque é que começou? Porque é que não se fala do assunto? Ao descobrir a origem, o momento chave em que tudo se transformou naquilo que os autores citados dizem, estamos mais perto da cura.
Fica o DESAFIO.
Precisam-se respostas.
Transcrevo o comentário de Luna da caixa de comentários do blog Do Portugal Profundo:
Gotika lançou um DESAFIO sobre uma questão muito pertinente: "porque dorme Portugal?"
Pouca gente hoje em dia medita sobre este assunto talvez pq os intelectuais passaram a estar filiados nos partidos, perdendo a isenção da critica, ou porque não têm também qualquer peso na sociedade, sendo olhados até com desdém.
A consciência e o orgulho nacionais foram morrendo aos poucos. Só por ocasião dos campeonatos de futebol internacionais ou em outras situações muito pontuais ,como a inauguração da Expo 98, vem ao de cima essa vertente..De uma forma geral os Portugueses não gostam de o ser mas, qualquer ser humano consciente, deve gostar do seu País e sentir orgulho nele.
Hoje o que conta são os sinais exteriores de riqueza e a aparência , o interior é perfeitamente secundarizado. Amedrontam-nos constantemente com a infindável crise , pedem que nos sacrifiquemos ao máximo e eles no poder não se coibem de nada e ficam cada vez mais ricos à custa do povo . Alguns Portugueses querem a todo o custo ser “modernos” e ser moderno é únicamente absorver de forma insidiosa as taras e manias americanas ao mesmo tempo que se detesta George W.Bush!É a globalização
Lá fora sente-se que os povos tem orgulho na sua cultura, nas suas origens que permanentemente valorizam.A nossa cultura foi definhando porque ninguém a estimulou..O que vigora é o chico espertismo.Os valores morais andam aos trambolhões.
Portugal está realmente doente e corre o risco de se descaracterizar totalmente , acabando mesmo por deixar de existir como nação. Para isso muito têm contribuido os politicos. Quem vai hoje para a politica? Salvo raras e honrosas excepções são as pessoas ambiciosas ,frustradas, imaturas e mal resolvidas que querem a todo o custo ter poder e mordomias para se sentirem gente .O povo, para o qual dizem trabalhar, só serve para votar, porque de resto é perfeitamente desprezado. Acabam por fazer ao povo aquilo que sempre sentiram na pele.. Querem resolver a vidinha deles, dos seus familiares e amigos e como não têm principios entram em todas as jogadas que lhes faça aumentar o património. Corrompem e são corrompidos facilmente porque os valores não entram em linha de conta e, para culminar, saem sempre ilesos porque a impunidade está instalada. Os escândalos sucedem-se a um ritmo vertiginoso e uma boa parte da população alheia-se de tudo propositadamente porque não se quer incomodar.
Esquerda, direita? Tudo está desfigurado..veja-se como Socrates..que tem muito pouca cultura politica confunde socialismo com politicas de direita pura!!!
Nós , o povo, olhamos em redor e não temos referências , não temos lideres confiáveis e isso é responsável pelo desânimo que está entranhado em muitos de nós.As pessoas passam a olhar para si próprios exclusivamente, ficam cada vez mais egocentricas e tornam-se socialmente apáticas.
Há gente de muito valor em Portugal e, como diz Gotika ,há muitos Portugueses que se destacam no estrangeiro.Mas o que acontece então? Aqui não se dá o devido valor à prata da casa. Há invejas, complexos , pouco estimulo,a amizade deixou de ter um papel essencial na vida das pessoas. Usa-se, manipula-se e depois joga-se fora..é tudo descartável.
Por isso as pessoas partem como sempre fizeram e continuarão a fazer porque Portugal não tem futuro.
Mudar as mentalidades é fundamental e que haja alguém que estude todos estes fenómenos e se criem debates para se tentar melhor a qualidade das pessoas e engrandecer Portugal.
Luna
Continuam a precisar-se de respostas. Fica o DESAFIO.
9 comentários:
Ora boas...
Desta vez ao contrário do 1º desafio lançado, não vou responder com versos metafóricos, que são mais interrogações que respostas.
Desta vez vou tentar um discurso mais coerente e de certa forma ciêntifico, para tal vou tentar mobilizar alguns dados empíricos.
Em primeiro lugar uma contextualização, para tal vou definir o que é o Global, não o global dos dicionários de sociologia, mas o Global que temos...
“Vejamos o que o global veio introduzir. No império do Global não há direitos adquiridos, há contratos...O lugar do indivíduo (do consumidor ou produtor) tem de ser conquistado, a pulso, no mercado, o seu desempenho tem de ser rentabilizado, a sua utilidade demonstrada. Há necessidade de uma contínua negociação, rentabilização, competição. As pessoas são dispensáveis, só interessam como função – de consumir ou de produzir – isto é, tornaram-se recursos: os recursos humanos!...Quem não é rentável não existe, não conta para o mundo global. Pode ser eliminado, pois não tem qualquer rentabilidade económica. Torna-se um peso para a sociedade globalizada e eficiente que, no limite, o despreza”1. isto é o global que temos só considera uma variável, a variável Capital, uma vez que a variável trabalho é local, “ A força do trabalho, só está globalizada num pequeno segmento da mesma, entre os trabalhadores de mais elevadas qualificações... (como analistas financeiros, engenheiros informáticos, publicitários de imagem ou estrelas desportivas)...O capital é global, o trabalho é local: nessa separação cria-se um vazio que torna ineficazes os processos de regulação e controle que se criaram na sociedade industrial”2 o que isto significa então em termos práticos? ora vejamos o que nos diz Casttels “...a produção de bens e serviços está globalmente articulada, em torno de um núcleo de 65 000 empresas multinacionais que, apesar de apenas empregarem uns 200 milhões de trabalhadores (há 3 000 milhões de trabalhadores no mundo), representam 40% do produto bruto mundial e 75% do comércio internacional. O comércio externo é pois a vida ou morte das economias, mas representa sobretudo a internacionalização da produção.”3 isto significa em termos práticos o seguinte. O conceito de globalização remete-nos de um ponto de vista económico, para a abertura dos mercados, isto é, um mercado global em que as fronteiras politicas e geográficas perdem importância, e em que os estados perdem gradualmente a influência politica sobre o mercado económico, numa lógica de causa efeito, isto reflecte-se numa concorrência também ela global, (onde interessa produzir bem, muito e barato).Num mercado global, interessa ás empresas reduzir custos de produção e aumentar o produto total, noutras palavras aumentar a produtividade, isto tem se reflectido numa fuga das empresas para mercados com uma mão de obra mais barata, e por vezes mais qualificada, consequentemente deparamos com um aumento do desemprego e precarização dos vínculos laborais, e aqui temos a VARIAVEL MAIS IMPORTANTE do caso especifico Português, a qualificação! senão vejamos em vários estudos realizados em Portugal a desqualificação emerge sempre como a variável mais importante no sentido de explicar os fenómenos que remetem este país para o pelotão de trás, (atenção que a influência das variáveis é facilmente demonstrável em termos estatísticos através de um conceito simples chamado o R de Pearson) mas não vou entrar em explicações de conceitos, correndo o risco de nunca mais sair daqui, de facto vejamos, temos uma população em que mais de 50% dos nossos cidadãos apenas têm o ensino Primário, e vamos lá meter as culpas nos senhores do costume, o ESTADO NOVO, parece que estamos a usar uma frase feita, mas que não deixa de ser real, interessava ao estado uma população inculta, e 30 anos ainda é pouco para vencer este paradigma, fruto disto vivemos num país de inteligentes incultos, com elites rascas, e numa ideologia paternalista, ou seja alguém nos vais resolver os problemas , e esperamos que o estado tome conta de nós, quem tem ideias ou critica este paradigma é apelidado de radical ou de pertencer a uma qualquer contracultura, enfim fomos arrastados para este turbilhão da globalização ( que não é mais que a globalização do capital) ao invés de uma globalização cultural geral, sem estarmos minimamente preparados, com isto afirmo, a emergência das novas economias como a china Índia ou Brasil, só vai piorar este quadro já de si bem negro. Interessa-nos mudar as nossas elites, e os nossos paradigmas, se não podemos mudar este Global, então temos de mudar o país para que o mesmo se adapte. Parece-me é que já vamos tarde...
1-Caraça, João, in Prefácio, A sociedade em rede em Portugal, Campo das letras, p 9, Porto, 2005.
2-Casttels. Manuel, in Capitulo inicial, A sociedade em rede em Portugal, Campo das letras, p 22, Porto, 2005.
3-Idem, p 23.
:)
Dark kiss.
Gotika, vou continuar aqui o comentário no post anterior sobre isto.
Uma nota prévia ao comentário de Red: a ideia de que interessava ao Estado Novo uma população "inculta" é evidentemente um dos tristes mitos contemporâneos. A ver se nos entendemos: Portugal está repleto de escolas primárias e de liceus construídos nos anos 30/40/50 (aliás, com uma arquitectura perfeitamente reconhecível: "olha uma escola primária"). O que não interessava - mas é um assunto DIFERENTE - era a difusão das "ideologias de esquerda", como é óbvio. No entanto, ao contrário de agora, qualquer pessoa "urbana e culta" falava e lia duas ou três línguas estrangeiras, e o país (ou melhor, Lisboa, Porto e Coimbra)abarrotava de livros franceses e ingleses de todos os quadrantes.
Voltando ao assunto principal: o gap" entre Portugal e a Europa começou com o desenvolvimento do capitalismo. Não tivemos Revolução Industrial. Não tivemos dinastias burguesas de várias gerações, a trabalhar (ao modo burguês, isto é, como "empresários", mas a trabalhar) por sucessivas gerações e a acumular fortunas enormes.
As razões para isto são pouco conhecidas ainda (Pedro Brito, da Faculdade de Letras do Porto, é a única pessoa que conheço a estudar seriamente este ponto): tudo indica que, ao contrário da Europa do Norte, a preocupação de quem enriquecia era "afidalgar-se". Se conhecem o Minho (basta ver fotos de Viana e Ponte de Lima na net) vêem que está coberto de "solares" do século XVIII: os camponeses emigravam para o Brasil, faziam fortuna, voltavam para comerciar durante uns tempos e mal podiam faziam um casamento na nobreza, construiam um palácio... e passavam a viver de rendas agrícolas. Era bom enquanto durava. (era muito mal visto um "fidalgo" trabalhar, o que nunca aconteceu em Inglaterra, por exemplo).
Para quem goste de literatura "gótica" (a clássica, a dos anos 1750-1850), sugiro que vejam o que era a Espanha e Portugal aos olhos de ingleses e franceses: do lado de cá dos Pirinéus entravam numa espécie de Transilvãnia Ocidental, com ciganos, igrejas em ruinas e campos por cultivar. Por isso, e não pelo Sol do Algarve, aqui estiveram Byron, Walpole (o inventor" do romance gótico) e vários outros. Foram eles que "fizeram" Sintra, que era um ermo com um castelo arruinado.
(continuo)
O terramoto não ajudou (mil palácios destruídos em Lisboa), e também não ajudou uma coisa pouco conhecida: poucos anos depois do terramoto houve um misterioso incêndio na Alfandega de Lisboa, que servia de "registo central" aos documentos que provavam dividas dos comerciantes (de exportação/importação): grandes empresas arruinaram-se aí.
Mas não é o terramoto (nem as invasões francesas) a causa, as coisas vêm mais de trás.
Pensem em filmes como o "Patriota" com o Mel Gibson, ou filmes do tempo de Napoleão: aqueles grandes exércitos de infantaria, linha após linha de soldados profissionais com espingardas e baionetas: Portugal teve de importar generais para os organizar, como agora importa espanhóis para "gestores de topo". Não aprender o capitalismo e não ter a revolução burguesa significa não aprender organização, não aprender planeamento. Fazer as coisas ao modo de cada um, como o artesão da Idade Média. Nos últimos 300 anos, isso tornou-se cada vez mais um desastre.
Suponho que o facto de termos sido um país católico não ajudou: ao contrário das igrejas "protestantes", o clero católico desconfiava do progresso, dos "estrangeiros", das novas ideias. Cada vez mais as nossas coisas foram actos isolados e "heróicos", como a travessia aérea do Gago Coutinho, a travessia de África de Serpa Pinto, os romances do Eça ou a poesia do Pessoa: uma coisa de um só, que não deixa rasto nem escola.
O quotidiano continuou aldeão, e por isso continuou ineficaz: o compadrio, que agora nos horroriza no topo do Estado, foi inventado no adro das aldeias. Faz-se assim porque "sempre se fez", trabalha-se com este porque é primo de um amigo. Uma vez assisti a um telefonema feito directamente para o Presidente da República para "livrar um rapaz da tropa, a mãe é do meu tempo e boa moça, viúva coitada": e o rapaz livrou-se, sim. Os tribunais nunca funcionaram (funcionaram nos países em que os ricos precisavam que eles funcionassem para cobrar dívidas ou para impedir o Estado de fazer leis absurdas: aqui repercutia-se a dívida no seguinte ou falava-se com Lisboa para alguém "fechar os olhos".
Isso significa que o 25 de Abril, passado o folclore inicial, foi o desabar de um capitalismo em fase cancerosa sobre um país do séc. XVI. E ainda por cima, quando (anos 80) a ideologia exportada pelos americanos era a de que o capitalismo ia trazer consigo a paz da democracia. Tentou-se isso na Rússia, também.
O problema seguinte é o de perceber porque é que a Espanha triunfou quando nós falhámos. Também teve o Franco, e teve uma guerra civil que durou 3 anos. Também era um país de fidalgos e ciganos. E agora prepara-se para ultrapassar a Inglaterra em poder económico.
É curioso que Sócrates nos peça para olhar a Finlândia, com a Espanha mesmo ao lado. Se eu fosse o autor do Portugal Profundo, talvez sugerisse duas ou três explicações :)
(a continuar, acho...)
Kiss.
outra nota ao texto de Red:
De acordo com a descrição da "globalização". Não vejo a relação com o nosso problema. Se não fosse ela, estávamos menos atrasados?! Claro, e daí?
"30 anos é pouco para nos educarmos?" Isso é um argumento paternalista: os meios de educação andam aí à nossa espera. O que impede um estudante universitário português de estudar EM MÉDIA 8 horas POR DIA, como os americanos, japoneses e alemães? A Super Bock? :)
Bem vou ver se me explico melhor desta vez. 50% da população portuguesa só tem o ensino primário = Facto, a seguir á revolução de abril um organismo da ONU que avalia o grau de competências escolares criou o grau zero para portugal.
O ensino preparatório e secundário do estado novo era inexistente para o comum dos cidadãos (apenas existia para uma pequena burguesia).
Os manuais escolares eram então doutrinas, demorou mais 8 ápos o 25 de abril a reparar esta lacuna.
Quanto á existencia de escolas de facto existem, mas vá-se lá então explicar 40% de analfabetismo funcional...
Já agora não creio que o terramoto tenha tinha alguma influência negativa, pelo contrário permitiu ordenar o território urbano lisboeta, os restantes paises europeus sofreram muito mas muito mais na 1º e 2º guerras mundiais. já em relação á revolução industrial, ou a não existência em portugal, de facto seria impossivel ter uma revolução industrial com um pais fechado, que apenas experimentou alguma abertura na decada de 60 com a adesão á EFTA em resposta á criação da CEE.
Agora sim, começam a responder a perguntas em vez de apenas descrever os sintomas. Esses já todos os conhecemos pelo menos há um século. Darei destaque às respostas.
RED:
1) o tal grau zero não foi "a seguir à Revolução de Abril". Foi a seguir a, PELA PRIMEIRA VEZ, uma geração de crianças ter sido educada (?) pelos professores da geração de Abril (isto é, os que tinham 18-25 anos em 1974).
2) o analfabetismo era muito grande, pois era. Está associado à percentagem da população rural. Isso quer dizer que o capitalismo não se desenvolveu, durante o tempode Salazar, suficientemente depressa. O meu argumento é que o desenvolvimento estava a ser tão rápido quanto possível. Tratava-se de recuperar 400 anos.
3) Não vejo que doutrina há num manual de matemática ou num manual de química.
Esqueci-me do terramoto. É simples compreender a "influência negativa". As grandes fortunas de Portugal estavam em Lisboa. Se fossem da nobreza, assentavam no ouro. O ouro estava em cofres. E os cofres foram soterrados. Isso aconteceu a grande parte do próprio tesouro do Estado. Ou então eram de comerciantes que importavam mercadorias. Que estavam em armazéns junto ao Tejo, uma vez que vinham de barco. Não havia papel-moeda, nem bancos centrais, nem investimento na bolsa, nem investimento no estrangeiro, nem seguradoras. Pela mentalidade da época, uma das prioridades foi... reconstruir igrejas (só na Praça do Chiado há 3).
Mas, mais uma vez, o Pombal importou "empresários" do estrangeiro, como agora tentamos importar a Auto-Europa. Quase todos faliram. O que faltava? técnicos, organização, redes de estradas, crédito bancário, produtividade. Tal como na Auto-Europa.
A "reconstrução de Lisboa" (meia dúzia de quarteirões entre o Rossio e o Tejo) demorou 25 anos. Em 1800 (45 anos depois!) ainda havia ruínas por todo o lado.
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