Gina – A Verdadeira Trombeta Da Revolução (Gina – Parte 1), por Rodox
Nos dias seguintes à doideira televisiva do pós-25 de Abril, vim para a rua e para a cidade, expectante da novidade e mudança. Afinal e contudo, prós meus olhos de puto de ciclo nada tinha mudado. Ao contrário da Tv, aqui por Coimbra não havia soldados pelas ruas, chaimites nas praças, ou cravos nas lapelas. Os prédios estavam na mesma, as pessoas passavam na mesma a caminho dos empregos e demais destinos, cafés normais, aulas normais, autocarros normais, jornais normais. Ora, porra, mas afinal o que mudou agora que caiu a recém descoberta ditadura e que se vai fazer o homem novo? Frustração total. O “anormal”, o “revolucionário” estavam escondidos na Tv ou em Lisboa, ou então reservados ao mundo adulto. Que se lixe a revolução!, tudo na mesma comá lesma!
De repente, poucos dias a seguir, tropecei na revolução! Nos quiosques e bancas de jornais, apareceram as Ginas. E não eram fechadas, mas abertas e escancaradas. Cenas hard de enrabadelas, esporradelas e canzanas, não a posição, mas mesmo com canzanas enormes e uivantes. A doideira pornográfica explodiu e as Ginas - suprema bandeira e vanguarda -, apareciam agora pelas ruas a fora, com pompa e muita gosma. Viva Revolução! Mas mais, não só a coisa era escancarada, como toda a gente se estava nas tintas para os putos ranhosos, que descaradamente gastavam em Ginas a féria da refeição da cantina e do bilhete de troley!
Foi aí e só aí que me apercebi da mudança revolucionária. Agora sim havia revolução, abertura e liberdade. Pouco depois já se viam os cartazes a anunciar o Último Tango Em Paris e liberdade das liberdades, o Garganta Funda começou a passar no Avenida. Os cartazes de cinema que anunciavam a onda porno eram explícitos e duros. A horda moralista andava de bola baixa e só alguns anos depois é que se começaram a ouvir as primeiras vozes contra o desparrame. Quais cravos, quais chaimites, quais cabeludos, quais carapuças, Gina, meus caros, a Gina é que foi a trombeta anunciadora da revolução e a grande viragem em relação à antiga senhora. Que aderiu ao porno também, vintage, claro!
Ao que eu comentei em baixo:
É pena que a revolução se tenha ficado por aí. Vou até mais longe. A revolução foi isso. Agora já se pode falar de sexo. O português está contente. Siga a marinha. Dêem-lhes pornochachada e Fernando Rocha que o fado já não serve. Fica ainda Fátima e Futebol porque disso eles gostam.
E depois pus-me a pensar. Isto de pensar é perigoso. e isto de escrever é cansativo. Este país estimula a preguiça mental. Tenho sempre essa desculpa.
Por isso é que não fiz um post a dizer isto:
Fátima Felgueiras
Era a isto que eu me referia quando dizia aqui há tempos que o país está de pernas para o ar, em inversão de valores extrema.
Como o disse também aquela jornalista cujo nome não me recordo, no "Prós e Contras", quando contou o caso de os pais inscreverem os filhos na escola como NEs (crianças com Necessidades Especiais, vulgo, atrasados mentais) para terem explicações à borla.
E tudo isto acontece, e tudo isto é triste, e tudo isto é Portugal.
O post do Tapor pôs-me a pensar na Revolução e no facto de nunca ter ouvido como ouço agora, 30 anos depois, "dantes era muito melhor!".
Eu não sei se era melhor. Sei que os valores se deterioraram a ponto de se inverterem. E nisto a Revolução falhou. Se a revolução foi apenas o acesso à pornochachada, a revolução foi um erro de Marcelo Caetano. Era só legalizar a Gina e não tinha o 25 de Abril à porta. A Gina e acabar com a guerra na colónias. Assim ficava o português contente.
Agora dêem-lhe Fernando Rocha, muita caralhada, futebol e Fátima, que o povo está contente. O poder voltou à mão dos mesmos senhores de antigamente e de mais meia dúzia de lacaios que alpinaram pela sociedade acima, o povo está cada vez mais analfabeto (embora saiba juntar as letras, não sabe ler), Portugal já não manda em si próprio (e ainda bem!), a terra não é cultivada nem tratada (mas incenciada), a indústria é estrangeira e está a ir-se embora, e os primeiros ministros Emigram (com E!).
Alguém me sabe dizer quais eram as coisas positivas do outro regime? Começo a interessar-me. Porque será?
Agora chamem-me fascista. Mas não é de estranhar. O país está de pernas para o ar. Quem quer a mudança é, de facto, um reaccionário. Portanto, neste momento, eu sou uma reaccionária.
E sei que apenas os mais velhos vão perceber o que eu quero dizer com isto.
É que eu não sou reaccionária. Eu sou a resistência. E actualmente a resistência revê-se nos ideais de uma certa direita. Eis a ironia da coisa.
E temos o país de pernas para o ar.
3 comentários:
Ainda bem. Aqui não se advoga o fascismo.
Em relação aos comentários não anónimos: teve de ser, e o que tem de ser tem muita força.
Gotika,
Só em relação ao final do teu não-post: por isso eu escrevi num comentário há uns dias atrás que a dicotomia esquerda-direita tinha de ser relativizada... Os valores de exigência, trabalho, esforço, honestidade e respeito pelo dinheiro dos contribuintes são hoje tão raros que se tornam revolucionários! Revolucionários e de direita! Daí o paradoxo!
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