domingo, 28 de abril de 2019

Rosemary’s Baby / A Semente do Diabo (série TV 2014)



Há uma razão por que “Rosemary’s Baby” (filme de 1968, realizado por Roman Polanski) é quase tão conhecido como “O Exorcista”. De temática semelhante a “The Omen” (1976), “Rosemary’s Baby” não é um filme de sustos mas de envolvimento psicológico, em que o ambiente opressivo, a sensação de que algo de muito errado se passa, vai crescendo até nos oprimir também.
“Rosemary’s Baby”, a mini-série televisiva de 2014, é um remake do filme, com uma divisão entre 2 a 4 episódios segundo a opção de visionamento. Uma vez que o filme é um clássico inesquecível, quis ver a série com todo o interesse. Fiquei muito desapontada.
Guy e Rosemary são um casal americano a viver em Paris por motivos profissionais. Guy, o marido, é um professor universitário em início de carreira no departamento de Literatura, um jovem ambicioso e frustrado porque o seu salário não permite mais do que as exíguas instalações da universidade. Rosemary ainda se encontra traumatizada pelo aborto espontâneo que sofreu, mas o casal continua a desejar um filho. Subitamente, como se fosse coincidência, Guy e Rosemary são abordados por outro casal mais velho, pessoas ricas e influentes, cuja amizade lhes proporciona um nível de vida de classe alta. Roman, o marido, ajuda Guy na sua carreira, enquanto Margaux, a esposa, incentiva a futura gravidez de Rosemary. Como nós já sabemos, mesmo sem termos visto o filme porque já se tornou cultura geral, este casal pertence a um culto satânico cujo objectivo é encontrar uma mãe para o filho do Diabo. Uma das reviravoltas mais perversas é que o marido de Rosemary se alia ao culto devido aos benefícios materiais que lhe são proporcionados. No filme original, é uma descoberta chocante.
Com um enredo destes, é quase incompreensível que este remake não consiga verdadeiros momentos de tensão. Nem sequer a traição de Guy consegue evocar em nós o verdadeiro terror que a outra protagonista sentiu no filme de 1968. Rosemary, já a viver no luxuoso apartamento emprestado por Margaux e Roman, encontra uma fotografia de um casal que viveu previamente no mesmo local. Desconfiada, até se dirige à polícia. Mas tão depressa desconfia como é imediatamente confortada por uma Margaux muito pouco sinistra. Até os momentos das mortes de todos aqueles que se atravessam no caminho, ou que têm informação valiosa a partilhar, não nos causam o choque devido tendo em conta que não são umas mortes quaisquer. Aqui há intervenção diabólica. A série devia conseguir tirar-nos o sono. Também não chego a dizer que a série nos dá sono, mas as mortes acontecem sempre muito longe dos protagonistas ou não os afectam o suficiente. Rosemary nunca está tão aterrorizada como devia estar. E, como ela, também nós não estamos.
A quem viu o filme, advirto que esta série não aquece nem arrefece. A quem não viu o filme, aconselho que veja.




A personagem que me preocupou mais foi a gatinha preta que só ali anda, aparentemente, para dar “ambiente”. Lá está esta gente a perpetuar estereótipos nocivos. Porque é que os satânicos oferecem ao casal uma gata preta? Porque é que não lhes oferecem uma catatua colorida, por exemplo? O casal não quer ficar com a gata e nunca lhe põem nome. Chamam-lhe mesmo Sem-Nome, e por ali anda o bicho sem que ninguém goste dela. A gatinha até tem um papel importante quando leva Rosemary a descobrir uma das passagens secretas, mas de resto o objectivo da sua presença é o de ser mais um símbolo “maléfico”.
Maléfico é quem perpetua estas noções perigosas. É mais que sabido que os gatos pretos têm mais dificuldade em ser adoptados, só para falar da consequência menos grave. É triste que isto ainda não seja levado em conta na ficção com a gravidade que realmente tem.


“Rosemary’s Baby” é uma mini-série que podia ter aproveitado o potencial de recriar a história nos nossos dias de maneira eficiente, mas, tal como os protagonistas, sentimo-nos sempre demasiado confortáveis para nos que cause o mesmo impacto do filme original.


sábado, 20 de abril de 2019

O proibido



Transgression is fundamental to the artistic imagination, because the imagination deals with the forbidden.
 



Nick Cave, in Thoughts on Modern Rock Music