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segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

21 anos do blog Gotika

Este blog fez 21 anos em Dezembro passado. Não me lembrei de assinalar os 20 anos, mas mais vale tarde do que nunca.
No início, em Dezembro de 2003, o blog foi alojado no Sapo. Devido a períodos prolongados em que os servidores estavam em baixo e a falta de muitas funcionalidades úteis, mudei-me para o Blogger menos de um ano depois, em Setembro de 2004. Entretanto, o Sapo fez-me o favor de apagar o blog original por inactividade, (Obrigadinha Sapo, aqueles 2MB de ficheiros deviam estar a pesar muito, certo?) Ainda cheguei a publicar aqui muitos dos posts relevantes, mas não todos.
 
 
Nestes 21 anos, vi muita coisa acontecer. A blogosfera esvaziou-se. Muitos blogs nasceram e morreram, outros continuam abandonados por aí às teias de aranha. Depois de passar a novidade dos blogs, a maioria das pessoas mudou-se para o Facebook, para o Instagram, sei lá para onde. Nunca gostei dessas plataformas de fotografias e futilidade, mas depressa compreendi (da minha experiência pessoal) que muita gente andava nos blogs para fins de engate, como se a blogosfera fosse um site de dating. Oxalá tenham melhor sorte.

Este blog foi sempre a minha forma preferida de expressão. A princípio publicava posts muito pessoais, até achar que já tinha dito tudo o que queria dizer sobre mim e sobre a sociedade em que vivemos. Durante uns meses quase deixei este espaço às moscas, cheguei a ponderar deixar-me disto, mas resolvi ressuscitá-lo através de críticas de cinema, de televisão e literatura (e música, em muito menor quantidade), em que ainda vou mandando umas bocas à actualidade quando vem a jeito.
Nunca pensei neste blog como maneira de agradar aos leitores. Nesse aspecto, este espaço é muito egoísta. Fico feliz quando me lêem, não me ralo nada que não leiam. Preferia que gostassem do que aqui se escreve, mas ultrapassa-me. Também gostaria de ter mais comentários (actualmente estão abertos a todos) mas fica ao critério dos leitores.
A verdade é que o blog me tem dado muito gozo (e 800.000 visitantes!!!) ao longo de 21 anos. Tenciono ficar por aqui enquanto Blogger quiser. Amém.


 

quinta-feira, 16 de junho de 2022

Blog Gotika atinge 600 mil visitas

Gratidão a todos os leitores e visitantes!

 

 

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

sábado, 27 de fevereiro de 2021

Blog Gotika ultrapassa as 400.000 visitas

 

Quatrocentas mil!
Pena não ter estado aqui para captar o momento dos 400 zero zero zero.
São muitos visitantes. São muitos leitores. Muito obrigada a todos. O blog não existiria sem vós!

domingo, 19 de agosto de 2018

Blog em obras



Após anos de resistência, finalmente decidi experimentar um template mais interactivo. Aqui está ele. Com mais funcionalidades, maior facilidade em seguir posts mais antigos, procurar por etiquetas, lista de updates dos blogs que sigo, essas modernices todas.
Não estou muito satisfeita com o resultado estético. Os templates disponíveis não deixam mudar tudo o que se deseja. Por exemplo, o título do blog. Nem sequer posso escolher pô-lo à direita, à esquerda ou ao meio. No texto e links abaixo dos posts também não consigo mexer. É frustrante.
Assim, o blog vai andar em obras até eu conseguir olhar para ele sem me chatear.
Como é tradição nacional, não é para fazer; é para ir fazendo.
 

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Music is your only friend

Já era tempo de reorganizar o meu perfil em termos de gostos musicais. Necessário incluir o que descobri entretanto. Remover o que entretanto perdeu relevância.
O Winamp dá muito jeito. Pela primeira vez tenho toda a música que ouço digitalizada e nada fica de fora por esquecimento.
É sempre uma reflexão fazer estas listas. Algumas coisas, de que costumava gostar muito em tempos da adolescência, tornaram-se “obsoletas”, para não dizer pior, e sairiam do top  de preferidos. Outras, passaram sem dó nem piedade para um sub-top (uma espécie de classe B). Outras, que há 20 anos estavam no top das minhas preferências, desapareceram da lista e qualquer dia arriscam-se a desaparecer do Winamp também. Não gosto de guardar música que já não ouço e que já não me diz nada. Nem por nostalgia nem por qualquer outra razão.
Posto isto,

Os preferidos, novos e antigos e de sempre:
Adrian Alexis, Arcana, Bauhaus, Christian Death, Dead Can Dance, Joy Division, Lisa Gerrard, Mão Morta, Marilyn Manson, Merciful Nuns, Nick Cave & the Bad Seeds, Peter Murphy, Rammstein, Red Lorry Yellow Lorry, Rosa Crux, Siouxsie & the Banshees, The Creatures, The Cult, The Death Cult, The Fields of the Nephilim, The Garden of Delight, The Mission, The Nefilim, The Sisterhood, The Sisters of Mercy, The Southern Death Cult, Woven Hand.

O que também se ouve com muito prazer no meu Winamp:

Alice In Chains, All About Eve, Frank the Baptist, Ghost Dance, Grinderman, Hamza El Din, Irfan, Le Mystère Des Voix Bulgares, Miranda Sex Garden, Moonspell, Nirvana, Paradise Lost, PJ Harvey, Rubicon, Ruby Blue, Soundgarden, SSV, The Golden Palominos, The Merry Thoughts, The Offspring, Throwing Muses, Type O Negative, Violent Femmes.

All About Eve, Moonspell e Violent Femmes, curiosamente, todos por razões diferentes, passaram do top para a “2ª divisão”. The Mission está quase a passar.
Amar música é como amar alguém. Ama-se, ama-se muito, mas os anos passam e mudam-nos, e mudam o outro, e de repente já não se ama. Às vezes não é culpa de ninguém.



domingo, 2 de junho de 2013

Gotika: arquivos Agosto 2004

agosto 31, 2004

(Falta de) Perspectivas
As minhas perspectivas ao longo da vida:

4 anos: bailarina, cabeleireira, veterinária

8 anos: cabeleireira, veterinária, professora

12 anos: escritora, professora, psicóloga, zoóloga

14 anos: psicóloga (mas não dá porque não há dinheiro para as explicações de matemática, vou ter de escolher Humanísticas - FODA-SE!), logo, socióloga

18 anos: Socióloga não tem saída, Professora também não, logo, Relações Públicas

22 anos: Relações Públicas não tem saída, Publicidade não tem saída, Jornalismo não tem saída... Vou ver o que há no jornal.

32 anos: operadora de call center

Publicado por _gotika_ em 02:26 PM | Comentários: (30)

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Gotika: arquivos Agosto 2004

agosto 26, 2004

É um génio ou não é um génio?!

René Magritte. The Companions of Fear. 1942.
Reparem como as corujas estão plantadas ao chão.





Mais obras de Magritte.

Publicado por _gotika_ em 09:09 AM | Comentários: (9)

terça-feira, 28 de maio de 2013

Gotika: arquivos Agosto 2004

agosto 25, 2004

A educação musical de um jovem gótico

Vocês não imaginam o que eu tive de ouvir nos anos 80! Principalmente a quantidade de punk que me passou pelos ouvidos até ter de dizer "basta, odeio isto!". Mas... a formação de base é a formação de base!
Naquele tempo só tínhamos o Blitz. E os programas do António Sérgio. E uma rádio que dava pelo nome de Correio da Manhã Rádio, 104.7.
Agora a música nova chega-me através da internet, e não vem de cá. Agora dou-me ao luxo de escolher a rádio, já não é a rádio que me escolhe a mim por falta de opções.
Mas foram bons professores, aqueles.
Já ouviram falar de Kraftwerk? Deviam. De Sex Pistols e Clash? Obrigatório.
Custa-me um bocado ouvir putos dizer bem dos Moonspell, que são o máximo, e nunca ouviram Fields of the Nephilim. Ou melhor, ouviram, mas se calhar não sabem o que estão a ouvir e que os Fields of the Nephilim vieram primeiro. (Sem desmerecimento dos Moonspell!)
Deixo-vos a minha lista pessoal, que é incompleta, porque é pessoal. Aquilo que deviam mesmo ouvir.

All About Eve "All About Eve", "Scarlet And Other Stories" (banda muito chegada aos Mission, gótico neo-hippie)

Bauhaus (tudo, mas podem começar por) "Press the eject and give me the tape" (álbum ao vivo)

Christian Death "Only Theatre of Pain", "Sex, drugs & Jesus Christ", "The Scriptures"

(The) Cult (incluindo Southern Death Cult e Death Cult, nomes anteriores a The Cult) "God's Zoo", "Dreamtime", "Love"

Cure - ok, eu não gosto, mas é obrigatório

Cocteau Twins - idem

Dead Can Dance - tudo, mesmo tudo

Faith No More - as velharias

Fields of the Nephilim "Dawnrazor", "Elizium"´, "Earth Inferno" (vale a pena)

Jesus & Mary Chain "Darklands" (introdução ao alternativo pop industrial)

Joy Division "Closer" (Joy Division é um "must")

Love and Rockets "Earth. Sun. Moon" (Love and Rockets é a banda que se formou depois dos Bauhaus, sem o vocalista Peter Murphy)

(The) Mission "Gods Own Medicine", "Children"

Nick Cave & The Bad Seeds (incluindo a banda de Nick Cave, Birthday Party) - não gosto de Birthday Party mas é bom ouvir para perceber o que se fazia naquele tempo

Peter Murphy (ex-vocalista dos Bauhaus) "Love Hysteria"

Red Lorry Yellow Lorry - se encontrarem à venda o "Generation - the best of", já vão com muita sorte

Siouxie & The Banshees "Hyæna", "Through the Looking Glass"

(The) Sisters of Mercy "First and Last and Always", "Floodland", "Vision Thing" (estes senhores são para ouvir mesmo sob pena de total ignorância musical; são uma espécie de Camões do gótico)

Qualquer destas bandas dirá nos seus sites que não é uma banda gótica. Ignorem. É normal. Algumas até não são. Mas contribuiram. The damage is done.
Isto foi apenas uma amostra. Para ser exaustiva devia ir buscar um daqueles velhos flyers que se mandavam pelo correio com o catálogo das K7s para gravar... Ok, esqueçam esta última parte. Não é do vosso tempo.
Espero ter sido útil.

Publicado por _gotika_ em 07:28 AM | Comentários: (50)


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Comentário:
Imagino que os 50 comentários tenham sido críticas por me ter esquecido de tudo o que não incluí.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Gotika: arquivos Agosto 2004

agosto 19, 2004

Pensamento do (outro) dia

"O sábio teme o céu sereno; em compensação, quando vem a tempestade ele caminha sobre as ondas e desafia o vento".

Este estava num comentário do Tapor num porco, mais precisamente aqui.

Já há muito tempo que não escrevo aqui nada sobre a minha vida. Já me acusaram de não fornecer material voyerístico. Acontece que eu tenho as minhas obsessões, e disperso-me, e abstraio-me, e só acabo por voltar ao que realmente interessa.
É curioso, e por isso pus ao blog o título que pus, a única referência estável, e diria mesmo perpétua, na minha vida, é o movimento gótico. Dizem os americanos "home is where your heart is". O lar é onde está o coração. O meu está mesmo por lá.

Quando se tem uma situação de tirania e medo na própria casa, uma pessoa aprende cedo a abstrair-se. Alguns fogem para tão longe que nunca mais regressam. Eu tenho a sorte, ou não, de ainda estar lúcida. Às vezes também me questiono sobre a minha sanidade mas acabo por descobrir que ainda não foi desta.
Contudo, agora acredito que já não me safo. Podemos, como o sábio, desafiar o vento quando vem a tempestade, mas partindo do princípio que ela também se dissipa. Ninguém sobrevive a uma tempestade permanente. Não existem tempestades permanentes. Quando o temporal é muito grande as pessoas aleijam-se. Ficam marcadas. Não são as mesmas.
Aborrece-me um bocado não ter as oportunidades que os outros têm. Aborrece-me e aborreço-me. A minha perda é a vossa perda.
Mas já não tenho inveja. Observo-vos, com perplexidade, a queixar-se que está mau tempo em Agosto, que chove quando estão de férias. A tragédia, o horror, o drama! A chuva em Agosto!
Até já perguntei a Deus porque é que isto está a acontecer. Não a chuva, estou-me nas tintas para a chuva, mas isto tudo. Já Lhe disse que faça o favor de explicar porque não estou a ver o que Ele quer agora. Geralmente Ele quer qualquer coisa, isso é certo, mas não estou exactamente a ver o quê.
Sei que desde a morte anunciada do meu gato me tenho afastado até dos animais, como se tal coisa pudesse acontecer! Inconcebível!
Mas quando se aprende na infância a capacidade da total abstracção, ganha-se um poder imenso que é tão maravilhoso como destrutivo. Fugir do mundo é, também, sair do mundo. Não há um sem o outro.
Sair do mundo é bom para o espírito mas é mau para a vida prática.
E no entanto, é preciso força para enfrentar a tempestade. A abstracção é uma forma de força, de poder.
Um dia, a tempestade há-de acabar-se. Ou acabo eu antes. Seja como for, tudo muda, nada dura para sempre. Ainda estou para ver o que é que Ele quer com isto tudo.

Outro pensamento para o dia: "The darkest hour always comes before dawn".
A hora mais escura é a que precede a madrugada.

Publicado por _gotika_ em 10:37 AM | Comentários: (5)

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Gotika: arquivos Agosto 2004

agosto 12, 2004

Death and the Maiden

Raramente escrevo, mas no outro dia a musa sussurrou-me, ao ouvido, isto:

Death and the Maiden

"Good day to you, Madam, how have you been?
Long time no see you around here.
Have a sit on my bed and tell me the news,
Who's gonna be today, if I may ask.
Oh, I promise you, Madam,
I'll be your easiest task!"

"You think it's funny, little girl, but you wouldn't laugh,
if only you fathom the news I have for you!"

"News, what news would that possible be?
Oh, tell me, tell me, one day you'll come for me?!...
...
Oh, don't give me silence, Madam, it doesn't become you!
I've seen you quite frequently if you want to know
There's always weeping and crying wherever you go.
But I don't blame you, Madam, you only do what you're told.
...
I beg you, don't start crying on me!
Are those real tears in your eyes that I see?!"

"Tears they are, yes, for the news I bring you
isn't pleasant to hear"

"Tell me what you will, I know this is a dream.
I'm used to nightmares, if that's what you mean."

"Remember my affliction; do not to forget what you've seen.
Once I was alive and I dreamt of it too.
A man in tears sat on my bed.
Been in it for centuries, he said.
But now that he had found me he was happy to be leaving.
'After all, how many years can you stand of that weeping?'
Guess now who replaced him when it was time that he left?
Repent, please repent, stop dreaming of Death!
...
(I see you've stopped laughing, that's a good sign.)"

"I'm so sorry for you. I had no idea!
Were you forced to this, could you have said no?"

"Tell me yourself next time we meet.
There's someone I must take, (someone in this very street).
Think about it, little girl, you still have time,
If you want to be Me or you'd want to be mine."

"That's blackmail, you know?
And yet you've come here to make me feel sorry for you?!..."

"Someone must have mercy on me too!
...
(I've been here too long. I really must go.)
When your turn comes to replace me don't be a fool to say no."



Ah! E agora atrevam-se a tentar publicar isto em vosso nome. Go ahead, punk, make my day.

Publicado por _gotika_ em 04:24 AM | Comentários: (13)


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Comentário:
Fui eu que escrevi isto?! Fui mesmo eu que escrevi isto!!!
O inglês parece tão bom que até para mim é difícil acreditar. Parece mesmo que isto me foi sussurado ao ouvido... por alguém.
Mas há um pormenor, e deve haver mais. Não é "sit in my bed" mas "sit on my bed". Acho que se não fosse por isto não acreditava que era meu, mas é.
Ouvi falar de casos em que o escritor se diz inspirado por espíritos...

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Gotika: arquivos Agosto 2004

agosto 02, 2004

Um filme: “Náufrago”

Há uns tempos, deixei de ir ao cinema. Numa realidade de escolhas não se pode ter tudo.
De vez em quando a televisão traz-me alguns “vintes”. Os outros terão de ficar para uma outra vida.
Não vou falar da história de sobrevivência. Só por isso o filme merecia 20. Mas essa história é velha e já foi contada e recontada. O que me surpreendeu foi o discurso de Tom Hanks, quase no final, quando se fala do suicídio como única forma de controlar o destino. Se puderem ver de novo, prestem atenção. Eu chorei desalmadamente. E eu não choro a ver filmes. (Eu não choro, ponto final. Muito menos admito, mas que raio, isto é um blog!)

Não é o meu tipo de filme, mas é um 20.

Publicado por _gotika_ em 02:28 AM | Comentários: (47)

domingo, 12 de maio de 2013

Gotika: arquivos Agosto 2004

agosto 01, 2004

“Blackwood Farm”, Anne Rice

A preguiça, ou dispersão, ou obsessões de outras naturezas, fazem com que tenha tido o prazer de uma crítica para escrever, e não o fazer... durante semanas. Ah, valente!

“Blackwood Farm” não é, na minha opinião, um bom exemplo das Vampire Chronicles. Primeiro que tudo, os personagens são novos. É a história de um jovem vampiro, jovem em idade (22 aninhos...) e vampiricidade (1 ano e meio) que ainda mora com a família e passou os últimos anos da sua vida mortal em terríveis lutas de consciência à volta da descoberta da sua sexualidade e bissexualidade.
É a parte “humana” desta história - e é a maior parte da história - as paixões, a família, até os testamentos e os funerais, que me tiram a pica toda.
Eu gosto de fantasia. Para realidade já basta a minha. E pronto, que dizer?... Vampiros por vampiros, prefiro os que sugam sangue.
Mas a parte de "sexo com fantasmas" é um espanto. Aquelas surpresas que não se sabe de onde vêm e que se encontram no momento menos esperado... A abordagem Riceana à sexualidade.
Querem saber? Leiam o livro. Isto é um blog decente.

Pensamentos

“But you love books, then,” Aunt Queen was saying. I had to listen.
“Oh, yes,” Lestat said. “Sometimes they’re the only thing that keeps me alive.”
“What a thing to say at your age,” she laughed.
“No, but one can feel desperate at any age, don’t you think? The young are eternally desperate,” he said frankly. “And books, they offer one hope - that a whole universe might open up from between the covers, and falling into that universe, one is saved.”

Lestat acrescenta que se cada um de nós mergulhasse na outra pessoa como num livro, e a “lesse”, como a vida seria bem mais interessante.
Lembra-me aquele outro pensamento: “Fazem-se mais amigos em dois meses mostrando interesse nos outros do que em dois anos tentando que os outros se interessem por nós”.

“’Oh my precocious one,’ she said. ‘You never fail to charm me. Bisexual is it, how Byronic and charming. Doesn’t that double one’s chances for love? I’m so delighted.’

O preconceito do costume. Com que então, é ponto assente que os bissexuais têm mais hipóteses de encontrar o amor porque tudo o que vem à rede é peixe?
Era tão bom, não era?
As pessoas que não sabem do que estão a falar deviam estar caladinhas.

Missão cumprida. Venha o último, “Blood Canticle”. Já comecei a ler mas como as coisas andam vou precisar de uma forte dose de obsessão compulsiva para terminar. Enfim, ela virá.

Publicado por _gotika_ em 06:40 PM | Comentários: (8)

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Gotika: arquivos Julho 2004

julho 09, 2004

O seu tamanho, por favor?




Hoje já estou a escrever demais mas esta não posso deixar de partilhar.
Fui a um velório. Desses velórios, à tradicional portuguesa, com as velhinhas a dizer "não somos nada na vida" e "já não sofre, coitadinha", que se arrasta pela noite dentro...
Bem, o essencial é que estava ali a fazer cara de enterro quando reparei que o caixão da defunta era mais pequeno do que o habitual. Comentei com os presentes que o caixão era pequeno. Disseram-me que a defunta era pequena e estava magrinha. Perguntei se havia vários tamanhos de caixões, e não é que há mesmo?!...
E eu a pensar que com a normalização da fruta e das embalagens da CEE, os caixões também eram normalizados...
Pois não são; há tamanhos. S, M, L, XL?...
E a cova, também é cavada à medida?
E o funeral, é pago ao quilo?

Publicado por _gotika_ em 12:36 AM | Comentários: (33)


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Comentário:
Este post tornou a ver a luz do dia porque a coisa me abalou. Será que os caixões já são "normalizados" ou ainda há tamanhos?

sábado, 4 de maio de 2013

Gotika: arquivos Julho 2004

julho 04, 2004

Egoísmo

Às vezes não me apetece mesmo nada partilhar porra nenhuma com ninguém.

E a preguiça? E será preguiça? Quando se vive muitos anos na depressão deixa de se dar importância aos pequenos sinais como não ter vontade de levantar da cama de manhã. À tarde. À noite. De não ter vontade de levantar, ponto final.
O desânimo, o não responder a anúncios por achar que não vale a pena, a desmotivação... Por fim, o desinteresse total.

Quero ir viver no mundo dos espíritos.

Publicado por _gotika_ em 06:39 PM | Comentários: (31)


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Comentário:
Este post é relevante porque na altura eu julgava que era depressão. Não era. Era desemprego.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Gotika: arquivos Junho 2004

junho 12, 2004

“Os Versículos Satânicos”, de Salman Rushdie

Sempre pensei, devido ao preconceito que vem associado a uma certa literatura, que este livro de Salman Rushdie - por causa do qual teve (e ainda tem?) a cabeça a prémio por ordem dos fanáticos muçulmanos do costume - fosse um daqueles manifestos trágicos e chorosos em que se relatam os horrores de um regime político.
Em boa hora, e casualmente, me chegou o livro às mãos. Foram muitas as gargalhadas que me proporcionou. Afinal, como se supõe num outro livro célebre, “O Nome da Rosa”, de Umberto Eco, o livro do riso é sempre o livro mais perigoso. Uma gargalhada é uma arma mais poderosa do que um rio de lágrimas. Os imãs muçulmanos devem concordar.
A sinopse na contracapa: “Antes de nascer o dia, numa manhã de Inverno, um avião Jumbo é assaltado e explode por cima do canal da Mancha. (...) Duas figuras caem na direcção do mar sem auxílio de pára-quedas”. E não só sobrevivem à explosão como sobrevivem à queda: “Um milagre, mas ambíguo, porque em breve se nota neles sinais de curiosas transformações”. De facto, enquanto um deles, de nome Gibreel (Gabriel) se começa a transformar num anjo aureolado, o outro, Saladin, e sem ter feito nada para o merecer, transforma-se num diabo de pés de cabra, corpo peludo, cornos na testa e rabinho a condizer com o conjunto.
“Porquê eu?”, perguntar-nos-íamos todos, pergunta-se ele. E como Gibreel o anjo o abandonou à sua sorte, a vingança vem sobre a forma de versículos e de ciúmes e de dar cabo da vida do outro. Sim, uma história de cama. Tudo isto bem envolvido em blasfémia que calha tanto às divindades indianas como às raízes da tradição judaico-cristã e da muçulmana. Quando dói, que doa a todos.
Este livro não é mais blasfemo do que “A Vida de Brian”, dos Monthy Pyhton, mas há sempre aquela gente que não tem sentido de humor.
Mas quem tem sentido de humor e não despreza o surrealismo de uma imaginação delirante, prepare-se para tudo e leia o livro.
É bom absorver a ideia refrescante de que o herói cornudo acusa o pai de “lampadismo mágico, de ser um abre-sesamista”.
Que o problema de Londres e dos ingleses é o clima e que o que é preciso é pôr outros pássaros em cima das árvores e outras árvores debaixo dos pássaros.
E depois querem matar o homem por causa disto? Há de facto quem não tenha nada que fazer.

Publicado por _gotika_ em 08:06 PM | Comentários: (20)

domingo, 28 de abril de 2013

Gotika: arquivos Junho 2004

junho 09, 2004

"Amélie", por Klatuu Niktos
Klatuu, bem conhecido dos comentadores habituais do blog, pediu-me que publicasse este conto (ou episódio?) da sua autoria. Espero que gostem.

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Um conjunto destes relatos só poderia ter por título "Diário De Um Vampiro", a este relato isolado só posso intitular "Amélie".


[Tradução. Original em francês.]


França, 8 de Maio de 1704, condado de … … … .

Há três noites enviei Amélie à cidade por causa do livro que mandei vir da Holanda sobre construção de lunetas. Ontem Amélie não voltou e quando saí para a noite encontrei-a na floresta, assassinada, violada e com o corpo já meio devorado pelos lobos. Não pude deixar de sorrir da inevitabilidade do destino e do meu capricho. Faz um ano que Amélie se tornou a minha serviçal, deparei-me com ela junto ao regato, cercada pela alcateia, tentando defender-se com um ramo verde, mal ferida num ombro e numa perna e, na altura, salvei-a, nem sei bem porquê. A verdade é que odeio lobos e, depois de ter morto dois deles e os restantes terem debandado, seria ilógico tornar-me eu o carrasco daquela criança que tinha roubado à morte, mesmo que o seu sangue fresco e doce me inebriasse a vontade. Além do mais não preciso de disputar carne aos lobos!
Ergui-a nos braços e ela agarrou-se muito a mim. Não chorava, apenas tremia e murmurava sem nexo. Era uma criança do povo com doze anos de corpo mirrado por uma ascendência de alcoolismo, fome e promiscuidade. O seu rosto era uma caricatura da miséria. Magro, de nariz esborrachado, as maçãs do rosto salientes e sempre avermelhadas, os dentes mal implantados, com uns olhos pequenos sempre perplexos. Amélie não passava de comida para lobos e o mundo tinha decidido o seu destino logo ao nascimento, mas levei-a para o pavilhão. Deitei-a, e procurei entre as coisas do alquimista e nos seus preciosos livros os sais e a sabedoria com que lhe tratei as feridas. As feridas cicatrizaram depressa e sem pus e Amélie ficou ao meu serviço. O Conde achou natural que eu tivesse uma mulher à mercê dos meus vícios, ainda que feia e sem malícia. Ele mesmo me teria dado as mulheres todas da aldeia, se eu assim o desejasse. O Conde tinha em mim um aliado que valia bem o seu peso em ouro.
Amélie passou a habitar esta lúgubre casa comigo, esta casa que tinha assistido à morte do seu último hóspede, apunhalado pelos esbirros do Conde, que atribuiu umas febres que teve à magia do seu anterior protegido neste pavilhão decadente. A criança feia era demasiado ignorante para entender que coabitava com uma sombra, depressa se acostumou aos meus hábitos, predestinada por uma linhagem nascida para obedecer, mas passou a chamar-me "Rei dos Lobos". Nem achei isso insólito, ela era como um gato, um ser inútil com quem eu partilhava displicentemente esta toca de pedra. Os gatos produzem estranhos e incompreensíveis sons e também Amélie, que diz coisas tontas e canta, sem motivo, canções camponesas.
Nunca a vi triste. Dizia que era muito feliz ao lado do Seu Senhor Rei dos Lobos, que a tratava muito bem, como uma filha, e que, quando ela casasse, lhe daria um dote. Era uma criatura singular, fazia parte das pequeníssimas e insignificantes coisas do mundo, como as moscas que se acumulavam nas janelas ou as mínimas flores silvestres que ela apanhava nos campos, que juntava em ramos e espalhava pelas duas salas e a antecâmara do pavilhão. Raramente a via, a não ser ao crepúsculo, quando precisava de lhe falar, mas muitas noites Amélie esperava-me, quase vencida pelo sono e beijava-me as mãos e dizia-me para eu punir todos os lobos maus e chamava os seus patéticos deuses em minha protecção. Por vezes o sono derrotava-a e dava com ela aninhada no tapete junto à lareira e, nem sei porquê, levantava-a e estendia-a no seu leito e era então que a fome de provar o seu sangue era mais forte, olhava-a por um momento e depois saía para a noite.
Hoje o Conde organizou uma batida na floresta e encontrou os assassinos de Amélie. O bando de salteadores há semanas que aterrorizava as aldeias. Um foi morto na refrega e aos três que foram capturados ordenou o Conde que fossem esfolados vivos e depois mandou cortar a cabeça aos quatro, que fez espetar em postes, e os corpos foram esquartejados e dados aos cães. Dos dois que escaparam coube-me a mim persegui-los, não fosse eu o cão de caça preferido do Conde! Tinham fugido em direcção às colinas e por todo o trajecto senti o seu cheiro fétido, mescla de suor, sangue e medo. Quando um valado os separou lancei-me sobre o último, o outro não veio em sua ajuda, antes incitou a montada com gritos e bastonadas da espada. Aquele caiu de bruços e vendo que já não conseguia montar de novo, porque o cavalo se afastava em pânico, virou-se para mim e decidiu enfrentar-me, resolutamente, como só os néscios podem.
Era um brutamontes com mãos e ombros de lenhador e nem por um instante lhe ocorreu render-se, o seu parco entendimento privava-o de perceber o que tinha pela frente e com um urro desferiu uma estocada que me atravessou um braço. Permaneci imóvel a olhá-lo. Por estranho que pareça não me importo de ser ferido. Apesar de imortal eu posso sentir a dor física, a única dor que posso sentir, e a dor traz-me memórias. O homem tinha mais ímpeto que engenho e a segunda estocada mal me roçou. Parti-lhe o pescoço, soçobrou a meus pés como um capote atirado para o chão, e alimentei-me dele.
O sangue não é apenas vida, é também alma. A podridão, a crueldade cega e ávida, a sujidade do seu corpo em cima do corpo moribundo de Amélie, a escuridão de toda uma vida sem desígnio, os crimes, os roubos, os lugares, as vítimas, as emoções elementares, comer, fornicar, rir, invadiram o meu ser. Mesmo sabendo que estou mais próximo das feras que dos homens, como não poderia sentir-me superior a ambos? Se eu mato é porque faço parte do códice do mundo e pertenço ao ministério superior da morte, é em mim que terminam todas as ilusões de poderio e a majestade do tempo afirma o seu reino, nunca me sinto perverso, nunca me deleito ou regozijo, sou o decreto vivo que lembra às criaturas que o pó as exige e refreia e é tudo.
A sombra rápida no encalce de um homem, não era mais um vampiro, era o Rei dos Lobos, o vingador de Amélie! O escuro da noite era como um rio sobre cujas águas eu corria. O foragido tinha-se apeado no sopé das colinas e tentava escapar por entre a vegetação densa. Rodeei-o e a noite rodou comigo. Dentro do antiquíssimo silêncio que liga o caçador e a presa o homem deteve-se, ergueu a espada e virou-se de repente para mim. Nesse olhar todas as suas convicções se desfizeram como fumo, a vida era um inferno premeditado e tudo era falso. O seu rosto começou a transfigurar-se e abanava a cabeça, incrédulo e demente. Já estava morto e sabia-o. O Conde tinha-me informado que o chefe do bando era versado na arte da guerra e um exímio esgrimista, sabia ler e tinha viajado, um burguês caído em desgraça.
Fez menção de se defender, mas todo o seu corpo tremia e o rosto, cada vez mais transtornado, revelava agora a caveira oculta que sempre tinha espreitado aquele dia, o último, o dia do horror absoluto em que o nada abriria as mandíbulas por sobre o saco de fel que era a sua alma. Com um gemido largou a espada e ajoelhou-se, uivava e chorava e pedia perdão e pedia à Virgem! Aquele triste e nojento pedaço de carne, que nada tinha visto de sagrado na inocência de Amélie, invocava agora um folhetim de judeus devorado pelas eras. Com as garras da mão esquerda ceguei-o de um golpe.
O homem tombou e soluçava alto, abençoava-se e maldizia-se, ora erguia o tronco ora rastejava de lado como uma cobra espezinhada e com os dedos rasgava a terra. Porque chorava sem olhos acreditaria que uma qualquer eternidade o esperava em vez do tenebroso vazio sem fim? Com a boca cheia de sangue e de lama sentou-se e a língua saiu-lhe para fora num ululo sem nome. Que patética espécie é a humanidade! Agarrei a espada do chão e trespassei-lhe o peito.
Deixei-o ali, para que as feras esfaimadas construíssem a sua eternidade, e trouxe comigo, pela rédea, a montada de Amélie, um presente do Conde que eu tinha posto ao seu dispor. Nunca me sento num cavalo, a farsa de partilhar o mundo com os homens não me leva a tanto, nenhum propósito teria montar um animal que é menos veloz do que eu. A noite corria a meu lado e parecia contente. Amélie estava vingada.
Pelo caminho os lobos e os mochos espreitavam-me e mais de uma vez tive vontade de atacar aquele alazão branco, de sentir-me invadido pela inconsciência dos brutos e a sua vida mortal. Acho as bestas superiores aos homens, têm uma pureza de pedra e não conhecem a culpa. Entre os livros do alquimista há um de que gosto particularmente, um com gravuras de animais do país dos cafres, para além do oceano. Gostaria de ser um leopardo e não haver nada em mim que entendesse o homem, essa doença de pele do mundo que espalha a guerra pelas terras e pelos mares. A sua única utilidade é justificar a minha existência e confirmar o meu destino.
Pensava no sangue do cavalo, mas também no sangue de Amélie. O sangue de Amélie a ensinar-me a cantar canções camponesas e a vaguear pelos prados, leve como a brisa, e achar isso belo. Quando cheguei ao pavilhão sentei-me no alpendre, virado para o sol nascente. O dia fechava-se para mim e o tempo fechava-se sobre estes ferozes eventos. A morte estende o seu domínio sobre todos os sonhos e eu, seu servo, só poderia aquiescer. Tudo seria devorado, este pavilhão lúgubre, estes dias azedos, este Conde cruel amado pelo povo. Eu continuaria e só dentro de mim a lembrança do que se passou aqui teria o seu epitáfio, nos infindos rolos da minha memória qual vasto cemitério, onde, por entre os crânios, um pobre ramo seco de flores silvestres seria a breve vida de Amélie.
Nos escritos que deixou, o alquimista delira que os orbes acima de mim são as raízes de múltiplos seres. Se assim fosse, que terrores infindos esconderia a escuridão dos céus?

Klatuu Niktos

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“You could call me a Goth, I think”

(Lestat:) “My longing for the microphone is gone, but I won’t give up the fancy clothes. I can’t give them up. I’m the prisoner of capricious fashion and am actually quite plain tonight. I think nothing of piling on the lace and the diamond cuff links, and I envy Quinn that snappy leather coat he’s wearing. You could call me a Goth, I think” He glanced at me very naturally, as though we were both simple humans. “Don’t they call us snappy antique dresses Goth now, Quinn?”
“I think they do”, I said, trying to catch up.

“Blackwood Farm”, Anne Rice


^§^ . ^§^ . ^§^ . ^§^ . ^§^ ...


Queridíssimo Lestat, ser gótico não está na roupa que se veste. É certo que o visual é muito importante para nós góticos - e não preciso de lhe explicar porque sei que nos compreende perfeitamente - mas não há nada mais blasfemo que uma criatura insegura e solitária começar a vestir-se “assim” para se sentir integrada durante os anos de caça à queca.
Bem sei, Monsieur de Lioncourt, que a sua caça é outra. Quem sou eu para criticar as necessidades alheias?... E compreendo que só no meio de nós a sua estranheza de aparência passe despercebida aos simples mortais, e que isso lhe deva ser muito conveniente.
Mas não esqueça, senhor Lestat, que os verdadeiros góticos - um pouco à semelhança da sua “gente” - também se reconhecem uns aos outros à distância. Parece que estão sempre distraídos, mas garanto-lhe que estão a controlar tudo e mais alguma coisa.
Não serão as rendas e os botões de punho que o salvarão, Lestat de Lioncourt. Está avisado: pode parecer igual a nós para os outros todos, mas nós sabemos quem é quem. Não passará despercebido. O verdadeiro gótico sabe o que é pó de arroz branco e o que é pele. Tenha cuidado. Use o pó de arroz. Não custa nada.
Mas não desista já! Apesar da nossa inegável frieza para com estranhos, nunca o movimento gótico deixou de acolher um irmão espiritual. O caminho é árduo e implica duras provas... Anos e anos de música e noite, de noite e música. Muito dinheiro gasto em roupinha. Muitos acessórios, muitos sapatos, muito verniz. Muitas horas à frente do espelho a pintar a cara e a arranjar o cabelo. Mas tempo é o que não lhe falta, deveras? Insista. Não desista. Uma destas noites alguém falará consigo. Se tiver sorte, talvez até um verdadeiro gótico lhe dirija mais do que três palavras e dois olhares furtivos.
Não espere que lá por ser um verdadeiro vampiro os góticos o acolham de braços abertos. Era só o que faltava. No movimento gótico são todos iguais: brancos e pretos, homens e mulheres, bruxas e vampiros. São muitos anos a bater à porta para entrar. É muito eyeliner.
E lembre-se, senhor “eu sou o vampiro Lestat”, gótico a sério é o Corvo porque está morto. Gótico a sério é o seu amigo Louis, que nunca disse que é gótico e se vai chorando da vida entre duas dentadas.
O tempo só recompensa os perseverantes. E a recompensa também não é nada de jeito. Por isso é que a maioria dos candidatos a gótico acaba por ir parar às Docas.
A recompensa é apenas uma noite atrás da outra. Poucos são os chamados e menos ainda os escolhidos. Só se sente em casa quem está em casa.
Se é a sua casa, entre à vontade e sente-se onde quiser.
O Gótico abraça quem abraça o Gótico.

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quarta-feira, 24 de abril de 2013

Gotika: arquivos Junho 2004

junho 07, 2004

“Mulholland Drive”: A poesia filmada




David Lynch. 2001.

Ficar em casa num sábado à noite para ver um filme não faz parte dos meus hábitos. Mas ainda não tinha visto “Mulholland Drive”. Dou o tempo por mais que bem empregue. Não é todos os dias, anos, décadas, que se vê um filme assim.
Há muito tempo que David Lynch deixou de ser “bom”. Passou o estatuto de excepcional, de genial, e agora não faz cinema, faz poesia fílmica.
A piada desse ano, na gala dos óscares, foi: “criámos uma nova categoria para quem entendeu ‘Mulholland Drive’”. Digo eu que os últimos filmes de David Lynch não são tanto para compreender logicamente como para interpretar. Cada cena fala por si, como cada poema de um mesmo livro. Se por acaso o primeiro poema fizer algum sentido em relação ao último, é interessante, mas não obrigatório.
O que se passa em “Mulholland Drive”? Um sonho? O último voo da imaginação à beira da morte? Uma sequela das referências já lançadas em “Lost Highway”? Espera-se uma trilogia? Na verdade, não importa. Como se diz o filme, “tudo é ilusão”. A própria memória que temos das nossas vidas pode não passar da ilusão de uma série de imagens mais ou menos ficcionadas que por qualquer razão decidimos guardar para revisitar mais tarde. A continuidade, a rotina, o dia a seguir ao outro, isso raramente guardamos e se o fazemos é porque esse todo ajuda a recordar uma parte especial.
Sim, a parte, aqui, é mais importante do que o todo. Cada imagem é por si só uma história completa.
Nem toda a gente gostará do estilo. Devem-me perdoar até uma certa falta do entusiasmo que David Lynch merecia mas acontece que é um amor antigo. Quando se ama algo/alguém há muito tempo, a reacção já não é tão efusiva como nos tempos de paixão... E quanto a mim, David Lynch - que é simplesmente o autor do meu filme preferido, “O Homem Elefante” - pode agora dedicar-se tranquilamente à sua poesia de sombras, medo e beleza. Eu continuo a “lê-lo” com todo o prazer.

Publicado por _gotika_ em 07:06 PM | Comentários: (6)

sábado, 20 de abril de 2013

Gotika: arquivos Junho 2004

junho 05, 2004


“Blood and Gold” - a história de Marius

Venus and Mars
Painter: Sandro Botticelli
(1445-1510)


“Blood and Gold” (“Sangue e Ouro”, Anne Rice) é a história do vampiro Marius, um ser tão antigo quanto Cristo, ou mais ainda.
O livro percorre os últimos 2000 anos pela perspectiva de Marius. É uma leitura extremamente excitante para quem gosta de História (quem não gosta pode sempre passar à frente...). E por ser a história de um dos patriarcas dos vampiros, um Filho dos Milénios (“Child of the Millenia” no original), “Blood and Gold” pode servir também como um excelente resumo das Vampire Chronicles no seu todo, uma espécie de sumário das origens da maioria das personagens que a seu tempo se vão cruzando na vida de Marius e compondo a inesperada teia de relações que percorre a saga.
Disse eu aqui, quando comentei “Merrick”: “É o melhor livro de Anne Rice que já li”. OK, risquem. Actualizem. As mesmas palavras vão agora para “Blood and Gold”. É mesmo verdade que os escritores envelhecem como o vinho do Porto. Gostei de ter demorado a ler “Blood and Gold”, gostei de ser obrigada a parar para reflectir, gostei da profundidade dos diálogos e das emoções das personagens.
E ainda não li nada de Anne Rice escrito depois do 11 de Setembro... A curiosidade mata-me.


A data precisa do nascimento de Marius não nos é revelada, apenas que nasceu no reinado do Imperador Augusto - que durou nada mais nada menos do que 44 anos (de 31 Antes de Cristo a 14 Depois de Cristo).
Por esta altura nasceu Marius, um rico Senador da Roma Imperial, um intelectual do seu tempo, um estudioso que se dedicava às viagens e à escrita de volumes e volumes de História. Não havia em Marius a mais pequena sombra de escuridão ou perversidade. Nada poderia fazer supor que fosse subitamente arrancado à vida para uma existência que lhe era completamente alheia só porque falava línguas, conhecia o Egipto e era elegível para a missão de resgatar os primeiros pais de todos os vampiros.
A sua existência tornou-se no balanço entre o sangue que tirava e o ouro que dava de volta (o título é eloquente), numa tentativa constante de preservar os inocentes e satisfazer as suas necessidades assassinas apenas através do sacrifício do Malfeitor. Como o próprio Marius reconhece, alimentar-se apenas daqueles que julga piores que ele próprio é a sua desculpa para manter uma consciência limpa.
Apesar desta tragédia, desta injustiça que lhe foi imposta contra a sua vontade, deste pesadelo que se abateu eternamente sobre ele, Marius nunca se revolta contra a existência, nunca desespera, nunca perde o gosto pela vida. Nem depois dos golpes mais dolorosos dos seus inimigos, nem da perda sucessiva de todos os que ama, nem da mais completa solidão.
Admiro Marius e as pessoas como Marius, que nunca se apaixonam pela morte por mais terrível que se torne a vida. Onde poderá Marius ter ido buscar tanta força, tanta resistência? Ao incorruptível sentido de Justiça, à sua inabalável confiança no progresso da Humanidade, à inalienável Bondade do seu carácter?
Como é que Marius nunca enlouquece, nem nos momentos mais negros? Qual é o segredo desse equilíbrio? Nas antípodas, temos um Louis depressivo para quem a crueldade da natureza é por si só motivo de sofrimento insuportável. Pelo meio, temos um Lestat maníaco-depressivo que, como a doença indica, oscila entre períodos de profunda depressão e de perigosa euforia. Qual é, então, o segredo de Marius?


Pensamento do dia: quem são os teus deuses?
Marius começa a contar a sua história quando encontra um outro vampiro antigo, o viking Thorne, que tinha estado adormecido e afastado do avanço da civilização durante séculos e séculos.
“Quais eram os teus deuses?”, pergunta-lhe Thorne.

---------- Imaginem agora o mesmo diálogo daqui por uns mil, dois mil anos. A mesma pergunta da mesma criatura viking. A resposta de um ser do século XX deste lado do mundo: “Não existem deuses mas um só Deus, Absoluto, Único, e o Seu filho Jesus Cristo”. Pergunta alguém do ano 3000/4000: “O que é deus?” ------------


The evil doer, the little drink e a consciência pesada
Quando se é um vampiro e se procura o que Marius chama uma “paz com o mundo”, uma consciência tranquila, é preciso elaborar um esquema de moralidade em que o sacrifício da vida humana seja justificado. Para Marius, isto significava dar caça apenas ao Malfeitor (o famoso “evil doer” no original). Thorne preferia a “pequena bebida” (“little drink”), pousando sobre mortais como um colibri de flor em flor mas sem lhes tirar a vida. Marius e Thorne vão juntos a um night club - penso que é um night club porque é um local onde os casais dançam agarrados - e alimentam-se dos presentes sem lhes causar a morte. Mas esta proeza requer já uma perícia de séculos. No mínimo, requer que o vampiro se disponha a esse trabalho. E requer o tal sistema moral que, por exemplo, Louis subverte completamente.
Para Louis, exactamente ao contrário de Marius, o imoral é escolher as vítimas, é julgar este ou aquele como “pior que eu”, é decidir quem vive ou quem morre. Por isso a própria Rainha dos Malditos, Akasha, o acusou de ser o mais predatório de todos os vampiros por não fazer distinção entre velhos e crianças, homens e mulheres, bons e maus. Louis simplesmente tomava para si o primeiro que se atravessasse no seu caminho. Mas não todos. Só os estranhos. Mesmo na sua recusa de julgar, era incapaz de suportar na consciência a morte de alguém que o tinha como amigo.
De Louis, diz Lestat em “The Tale of the Body Thief”:
“For a long moment, I spied upon him. I loved to do this. Often I followed him went he went hunting, simply to watch him feed. The modern world doesn’t mean anything to Louis. He walks the streets like a phantom, soundlessly, drawn slowly to those who welcome death, or seem to welcome it. (I’m not sure people really ever welcome death.) And when he feeds, it is painless and delicate and swift. He must take life when he feeds. He does not know how to spare the victim. He was never strong enough for the “little drink” which carries me through so many nights; or did before I became the ravenous god.”

-------- À parte, um poema de amor:
(Lestat)
His face, quite thin and finely drawn by nature, an exquisitely delicate face for all its obvious strength, was gorgeously flushed. He had hunted early, I’d missed it. I was for one second completely crushed.
Nevertheless it was tantalizing to see him so enlivened by the low throb of human blood. I could smell the blood too, which gave a curious dimension to being near him. His beauty has always maddened me. I think I idealize him in my mind when I’m not with him; but then when I see again I’m overcome.
Of course it was his beauty which drew me to him, in my first nights here in Louisiana, when it was a savage, lawless colony, and he was a reckless, drunken fool, gambling and picking fights in taverns, and doing what he could to bring about his own death. Well, he got what he thought he wanted, more or less.
-------- Peço desculpa pela interrupção. O artigo segue dentro de momentos. Continuo a recusar-me a traduzir “The Tale of the Body Thief”. Gosto demasiado do original.

Lestat, como o próprio diz, não acredita que alguém realmente deseje a morte. As suas vítimas são delicadamente escolhidas por serem perversas... ou por serem boas. Ou por outra amoral razão qualquer que se prende mais com uma escolha estética ou um puro capricho do momento. Lestat é sempre imprevisível, até quando mata.
Armand, por outro lado, e ao contrário do que pensa, sempre conseguiu ensinar a Louis o seu método de procurar levar a morte aos que desejam morrer - o que não deixa de ser uma infernal doçura. Em “Merrick”, Louis chega mesmo a escutar as preces dos mortais e atendê-las. Por isso lhe chamam também “Merciful Death” (morte misericordiosa).
David, mais poderoso embora mais novo no Sangue, entretêm-se com a lendária “little drink”.

------- Tenho para mim, apesar de toda a minha hipócrita moralidade cristã, que se fosse um vampiro acabava por fazer como Lestat: a vitória do capricho. Qual moralidade, qual Malfeitor. Nada de caçar ratos, como Louis fazia no princípio, antes de conseguir suportar a morte humana. Nada de me armar em Anjo Exterminador do Juízo Final, como Marius. Mas pouparia as crianças. As crianças merecem uma hipótese de me provar que estou errada, que o ser humano não é pior do que os animais. --------


Os segredos de Marius
Infelizmente para mim, Anne Rice prefere descrever as antigas civilizações de esplendor, progresso e espalhafato. Roma Antiga, Bizâncio, Egipto, o Renascimento, o Barroco. Da negra Idade Média, ou até do negro século XX durante a guerra, Anne Rice não gosta de falar. É pena.
E assim Marius salta toda a sua existência na Idade Média, queixando-se da Peste Negra e das mentalidades atrasadas desse tempo, até da arte medieval - sem deixar de mencionar que o Gótico era algo de novo e fascinante - até chegar ao Renascimento. Os artistas voltaram-se para o seu tempo, o tempo de Marius, em busca de inspiração. As deusas e deuses da Grécia e Roma antigas voltaram a embelezar os palácios da Europa. Era apenas natural que Marius ficasse irremediavelmente perdido de amores pela arte da época. E por Boticelli. De facto, Boticelli entra na história, conversa com Marius, e é para Boticelli que Marius inventa o sobrenome “de Romanus”. Sandro para aqui, Sandro para ali, foi por muito pouco que Marius, apaixonado pelo homem e pela sua arte, não transformou Boticelli num vampiro. E hoje teríamos uma Vénus a nascer das ondas com dentinhos de vampira - o que não deixava de ser muito mais interessante do que a monotonia do quadro original. (Mas aqui perdoem-me a blasfémia de uma mentalidade do século XX!...)
Marius volta a entrar no mundo dos mortais ao comprar um palácio em Veneza onde abriga jovens rapazes aprendizes da pintura e das outras artes, e onde conhece Amadeo (Armand) e Bianca.
Marius, Amadeo e Bianca são protagonistas das cenas mais quentes de todas as Vampire Chronicles. Há até um episódio a três, quando os dois homens já são vampiros e Bianca é apenas mortal, que... Não. Este é um blog decente. E por ser um blog depressivo, passemos para o episódio em que os vampiros satânicos de Roma destroem a casa e a vida de Marius por o considerarem um herege sem Deus - será uma piada ao Vaticano? Não é o coven de Roma que obriga os seus vampiros a viverem uma vida de eterna penitência e sacrifício? Não é o coven de Roma que canta incessantemente o Dies Irae? Não é o coven de Roma que corrompe a fé do inocente Amadeo e a converte no fanatismo do monstro Armand?

(Marius, no Renascimento)
“De facto, eu estava a desfruir de um Tempo Perfeito. Perguntava-me se para cada imortal haveria um Tempo Perfeito. Perguntava-me se corresponderia ao auge da vida dos mortais - aqueles anos quando se é mais forte e se vê as coisas com a maior clareza, aqueles anos em que uma pessoa pode mais fielmente confiar nos outros, e procurar alcançar uma felicidade perfeita para si próprio.
Boticelli, Bianca, Amadeo - estes eram os amores do meu Tempo Perfeito.”

------- Melhor do que viver um Tempo Perfeito é ter a consciência de que ele está a acontecer, diria eu. Nada mais triste do que só dar por ele quando já passou. --------

Marius seria muito provavelmente um grande homem de Estado ou das Artes ou do Saber se não tivesse sido subitamente levado para as trevas. Mesmo do Outro Lado, continua a ser respeitado como uma espécie de Senador do mundo dos vampiros, um sábio, o antigo guardião dos Primeiros Pais, um ser digno de confiança pela sua noção de Honra e Justiça.
Mas não perfeito. Conhecido pelas suas fúrias memoráveis, por ser demasiado controlador e demasiado orgulhoso, Marius perde todos os que ama exactamente porque a sua possessividade acaba por asfixiá-los.
Não se pode ser bom a tudo.
Marius termina sozinho, no fim do século XX, tirando as ocasionais e breves visitas da sua eterna Pandora e do seu anjo de Boticelli, Armand (Amadeo). Mas nunca mais juntos. Talvez a relação entre eles já seja tão íntima que não permite a harmonia. É sabido que a proximidade arruina o amor mais depressa do que a distância...
Na sua casa, Marius recolheu o vampiro Daniel, o mesmo rapaz da “Entrevista” a Louis, o mesmo que Armand trouxe para os vampiros, porque Daniel está pura e simplesmente louco e não pode ficar sozinho - diz-se que foi do alcoolismo da sua vida mortal. Mais uma vez, Marius é o bom samaritano, o santo, o anfitrião. O eterno solitário.
Tal como as pessoas não conseguem compreender a melancolia de Louis, eu não percebo o amor que Marius tem pela vida. Nunca desejou a morte? Porquê? Qual é o seu segredo?
O segredo de Marius está-me vedado.

Publicado por _gotika_ em 09:58 PM | Comentários: (46)

terça-feira, 16 de abril de 2013

Gotika: arquivos Maio 2004

maio 28, 2004

Clássicos seleccionados II

Sergei Prokofiev “Montéquios e Capuletos (Romeu e Julieta)”
Se alguma obra musical pode descrever a malvadez, é esta ameaça em forma de música que está presente no conhecidíssimo trecho de “Romeu e Julieta”. Correndo o risco de fazer poesia, ouvem-se punhais nas notas tocadas pelos violinos. O crescendo é um pouco épico e muito inquietante. A tragédia espreita.
Prokofiev nasceu a 23 de Abril de 1891 e morreu a 5 de Março de 1953. É considerado um compositor neo-clássico. O bailado "Romeu e Julieta” data de 1935.

Richard Strauss “Alvorada (Assim Falou Zaratrusta)”
É difícil ouvir certos temas sem lhe associar imagens transmitidas pelos media. O que, de certa maneira, é uma pena. A música tem que valer por si só, tem que desenhar imagens na escuridão e não ser o acompanhamento de imagens alheias. Aqui não consigo dissociar uma coisa de outra e dou por mim a imaginar encontros imediatos com naves espaciais... E o mais grave é que nem sei de onde tirei a ideia.
Richard Strauss nasceu a 11 de Junho de 1864 e veio a morrer a 8 de Setembro de 1949. Biografia e algum som aqui.






Giuseppe Verdi “Coro dos Escravos (Nabuccodonosor)”
Incluída na ópera “Nabuccodonosor”, de 1842, a canção dos hebreus escravizados na Babilónia, que recordam Sião e choram a pátria, está cheia de nostalgia, esperança e desejo de redenção em vez de revolta: “Que inspire o Senhor, ao sofrimento, virtude”.
Verdi era um compositor popular já no seu tempo. Queria encher os teatros com o povo. A sua música era extremamente apelativa e facilmente ficava no ouvido. Enfim, foi um percursor da pop... Acima de tudo, o “Coro dos Hebreus” é uma música bonita. Com tudo de mau e de bom que isso implica. Geralmente implica que na maior parte das audições não aquece nem arrefece.
Verdi compôs na época romântica. Nasceu a 10 de Outubro de 1813 e morreu a 27 de Janeiro de 1901.

Giuseppe Verdi “Dies Irae (Requiem)”
O Dies Irae é uma das partes de um Requiem. A Missa de Requiem de Verdi data de 1874.
Um requiem é uma missa católica usada em funerais e na liturgia do dia de Fiéis Defuntos. O seu nome deriva das palavras introdutórias, “Requiem æternam dona eis, Domine, et lux perpetua luceat eis”. É diferente da missa normal por substituir certas partes mais gozosas, como o Aleluia, por outros hinos, como precisamente o Dies Irae (“Dia do Julgamento”). Este hino aterrador sobre o dia do Juízo Final foi escrito por Thomas de Celano, um dos doze discípulos de Francisco de Assis, por volta de 1250.

Giacomo Puccini “Nessum Dorma (Turandot)”
Ouvida num estado de paixão, esta “canção” deve ser deliciosa. Num estado de não paixão, faz-nos querer apaixonar. O que também é delicioso.
Mas não deixa de ser uma música bonita (ver acima). Pior mesmo é a choraminguice da “Madame Butterfly”, do mesmo Puccini - não há pachorra.
Puccini nasceu a 22 de Dezembro de 1858 e morreu a 29 de Novembro de 1924. É considerado um moderno. Devido à morte do compositor, a ópera “Turandot” também ficou inacabada.

Antonio Vivaldi “As Quatro Estações, Verão”
Primeiro, foi preciso de facto apagar da mente todas as imagens televisivas de borboletas a esvoaçar e flores a desabrochar. Depois, sim, fez-se espaço para apreciar a música. Não diria que ouço aqui o Verão. Antes pelo contrário, parece-me o Outono. Não é por isso que gosto desta composição, mas porque é rápida, enérgica, forte e faz-me pensar impetuosidade dos momentos decisivos. Seja lá o que isso for.
Vivaldi (1678-1741) é um compositor barroco.

Ludwig Van Beethoven “Sonata Ao Luar (Adagio Sostenuto)”
E já que se fala em estações do ano, esta sonata faz-me lembrar o mais profundo inverno. Sozinho, de noite, um homem idoso toca piano. Recorda os dias da juventude longínqua, revisita os momentos e as pessoas que entraram na sua vida, sabe que já não lhe resta muito tempo. Mas aceita o facto placidamente, quase sem lamentação. Quase.
Aborrece-me o facto de este tema também ser demasiado tocado pelos media em geral. Tudo o que é demais enjoa. Mas a verdade é que a própria sonata já é um bocadinho enjoativa por si própria.
Beethoven (1770-1827) compôs entre os períodos clássico e romântico. A sua “Moonlight Sonata” ou “Sonata quasi una fantasia” é de 1801.






Samuel Barber “Adagio”
Esta é, provavelmente, a música mais triste que já ouvi na vida. Aqui não há esperança, não há saída, é a voz de um insuportável desespero que, mais uma vez, apenas a beleza da arte pode redimir. Mas a beleza da arte não é deste mundo, é do outro. De outro mundo de onde chega a inspiração para compor estes sons maiores do que a vida.
Nascido a 9 de Março de 1910 (morreu a 23 de Janeiro de 1981), Samuel Barber é um compositor contemporâneo de estilo dificilmente definível. O seu adagio foi usado em filmes e tocado após as mortes de Roosevelt e Kennedy (Barber era americano):

Barber was the recipient of numerous awards and prizes including the American Prix de Rome, two Pulitzers, and election to the American Academy of Arts and Letters. His intensely lyrical Adagio for Strings has become one of the most recognizable and beloved compositions, both in concerts and films (Platoon, The Elephant Man, El Norte, Lorenzo's Oil).

He originally wrote it as the second movement of a string quartet in 1936, but within two years arranged it for string orchestra. In this form, it became not only his most popular work, but also an unofficial American anthem of mourning, played after the deaths of Presidents Roosevelt and Kennedy.





Maurice Ravel “Bolero”
Épico e hipnótico. Genial.
Aluno de Gabriel Fauré (ver artigo anterior, sob “Pavane”), Maurice Ravel nasceu a 7 de Março de 1875 e morreu em 28 de Dezembro de 1937.

Bach “Toccata e Fuga em Ré Menor”
Não é de estranhar que certos temas sejam associados ao movimento gótico mesmo que muitos góticos não os conheçam. O que é de estranhar é que assim que os conhecem os góticos passem a gostar deles mesmo sem saber que os temas são associados ao movimento gótico. O que é um fenómeno completamente diferente e misterioso. É o caso da “Toccata e Fuga em Ré Menor” - em inglês “Toccata and Fugue in De minor”. Toda a vida conheci e toda a vida gostei. Não fazia ideia que mais tarde me vinham dizer que esta música está para os góticos como o relâmpago para o trovão.
Porque é épico? Porque é tocado em órgão e soaria muito melhor na ressonância magnífica de uma igreja? Pela sua grandeza? Pela sua elevação? Porque sim?
Tudo o resto que Bach escreveu me parece o rascunho da “Toccata e Fuga”. (Eu avisei.) É a tal coisa. Parece que a inspiração vem de outro mundo. Aqui Bach excedeu-se, para nosso gáudio.
Quem não sabe mesmo do que estamos a falar pode partir daqui.
Bach é considerado um barroco. Nasceu a 21 de Março de 1685 e morreu a 28 de Julho de 1750.

Publicado por _gotika_ em 08:04 PM | Comentários: (14)


Clássicos seleccionados I

Não sou de facto uma apreciadora de música clássica e erudita. De uma catrefada de êxitos que me foram gentilmente cedidos por um amigo - e falo de muitos, muitos megas! - o meu gosto só aproveitou meia dúzia. Talvez por o crivo ser tão apertado esta meia dúzia tenha mais valor. A minha opinião é subjectiva e não vale mais do que isso mas gostava de partilhar esta meia dúzia de raridades que tiveram a honra de me agradar. São poucas, muito poucas.

Carl Orff "O Fortuna"
Toda a gente conhece esta música, nem que seja como "a música do Old Spice". "O Fortuna" é o tema de abertura da ópera "Carmina Burana". Tenho o registo integral mas não morro de amores.
Descrever música por palavras não é fácil. Digamos que este épico, "O Fortuna", poderia servir para mobilizar multidões.
Carl Orff nasceu a 10 de Julho de 1895 e morreu a 29 de Março de 1982. É portanto um contemporâneo e não é um bom exemplo quando se pretende falar da música do passado... Mas que vos dizia eu? Avisei.





Gabriel Fauré "Pavane"
Gabriel Fauré nasceu a 12 de Maio de 1845 e morreu a 4 de Novembro de 1924. Foi professor de Maurice Ravel, de quem também falaremos. É considerado um pós romântico.
A versão de "Pavane" que me apaixonou tem acompanhamento coral. Depois de muita pesquisa, e de já ter desistido de encontrar o que procurava, vim a descobrir por acaso que o poema de "Pavane" foi escrito por Robert de Montesquiou-Fezensac.
"Pavane" é uma canção triste, aliás, quase todas as que vou descrever são canções tristes, mas há nesta uma doçura, uma aceitação, uma espécie de outono da vida... E no entanto, por ser tão terna e dolorosa, podia também ser uma canção de amor. Como o original não inclui palavras, cada um pode senti-lo à sua maneira.

Tomaso Giovanni Albinoni "Adagio"
Nascido a 14 de Junho de 1671 (morreu a 17 de Janeiro de 1751), Albinoni é um barroco que atraiu a atenção de Bach, seu contemporâneo.
Mas este Adagio é demasiado intemporal para parecer barroco. Ouve-se aqui a mesma tristeza do referido "Pavane" mas com uma nota trágica a fazer pesar o todo.

Wolfgang Amadeus Mozart "Lacrimosa"
A angústia está presente do princípio ao fim e ameaça mergulhar no maior desespero não fora a beleza que a salva. Foi a última obra escrita pelo compositor que morreu a 5 de Dezembro de 1791 (nasceu a 27 de Janeiro de 1756). "Lacrimosa" faz parte do seu requiem inacabado. O resto da obra - e o génio - de Mozart são sobejamente conhecidos (mas não me dizem grande coisa). Mozart é considerado um romântico.





Pyotr Ilych Tchaikovsky "O Lago dos Cisnes", Cena 10 Acto II
Já aqui, a tragédia ameaça e cumpre. A história é bem conhecida. Rendo-me ao seu clímax fatal.
“O Lago dos Cisnes” foi escrito em 1875. Tchaikovsky nasceu a 7 de Maio de 1840 e morreu a 6 de Novembro de 1893. É um compositor romântico.

(Continua. Quando, não sei.)

Publicado por _gotika_ em 02:37 AM | Comentários: (12)


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Comentário: 
Estes dois posts continham muitos mais links, incluindo onde ouvir a música. Também esses links desapareceram. Nem os compositores clássicos escapam à efemeridade da internet.