sábado, 28 de setembro de 2013

sem título

O bruxo veio ler-me a mão
viu viagens, viu amantes
mas disse-me, sem compaixão:
“Filhos, não terás não!”

Na linha da minha vida
já não há muito tempo a perder
Pelo caminho fingi-me esquecida
dos sonhos que sonhei ter.

Não me chores quando eu for,
porque agora vou feliz.
Conheci por fim o amor
antes de ir, quando te quis…

Se tu não és último,
próximo deves estar do final.
Na tua mão sou um passarinho doente
à espera da morte invernal.



6/10/1995



terça-feira, 24 de setembro de 2013

Mais silêncio


Mais silêncio


Um segredo é…
Uma promessa calada.
Os dias passam por mim
mas não falo, não direi nada.

Os dias passam e passam
e os loucos enlouquecem
O silêncio mata tudo
e as mentiras permanecem.

Dizem-me que estou viva,
que tenho o futuro na mão.
Dizem-me que o passado morreu
mas nunca lhe vi o caixão.


26/9/1995



sexta-feira, 20 de setembro de 2013

sem título


Pedir paixão aos mortos
é uma loucura desmedida
não há calor no que está frio
não há vida depois da vida.



6/10/1995



segunda-feira, 16 de setembro de 2013

“O Livro dos Espíritos” – Existência de Deus, Panteísmo

Capítulo PROVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS

Onde podemos encontrar a prova da existência de Deus? [pergunta]
– Num axioma que aplicais às vossas ciências não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem e a vossa razão vos responderá.

Para acreditar em Deus, basta ao homem lançar os olhos sobre as obras da criação. O universo existe, portanto ele tem uma causa. Duvidar da existênia de Deus seria negar que todo o efeito tem uma causa e admitir que o nada pode fazer alguma coisa. [Allan Kardec]

Palavras de 1857. Os cientistas actuais têm uma teorias ainda mais estranhas do que “o nada” sobre o início do tempo e da matéria.

Eu tenho uma ideia melhor. Perguntar-Lhe directamente se Ele existe.
Porque não? Quanto aos crentes, porque temem admitir a Deus a sua dúvida? Excepto se não o consideram Bom, e temem a sua Ira. Quantos os descrentes, se Ele não existe, o que se perde em perguntar-Lhe? Excepto se temem receber uma resposta.
Em ambos os casos, tenho reparado que a esmagadora maioria das pessoas tem medo de Lhe perguntar.
Eu não tive. Mas isso é entre mim e Ele.


Capítulo PANTEÍSMO
E o que pensar da opinião de que todos os corpos da natureza, todos os seres, todos os globos do universo, seriam parte da Divindade e constituiriam, pelo seu conjunto, a própria Divindade, ou seja, o que pensar da doutrina panteísta? [pergunta]
– O homem, não podendo ser Deus, quer pelo menos ser uma parte d’Ele.

Fala-se da ideia de que Deus é tudo e está em tudo e tudo é Deus. O diálogo prossegue com a resposta dos espíritos de que Deus não pode ser ao mesmo tempo o Criador e a Criação, porque não é lógico. (A doutrina espírita é, na minha opinião, solidamente lógica, daí o principal motivo por que me atrai.)
A mim não causa impressão que ambas as teorias possam estar correctas. Concebo que o Criador possa ser ao mesmo tempo a Criação, pois, ao criá-la, quem sabe se Deus não é um Ser capaz de pôr uma parte de si em tudo, sendo, ao mesmo tempo, o Criador e a criatura?... Não sei de que "essência" Deus é feito, se é que se pode até falar nestes termos, que Deus possa ser feito de alguma coisa, como o homem. Talvez nos ultrapasse completamente. Pelo que, como disse, concebo que ambas as teorias possam estar correctas sem serem sequer contraditórias. (É por ideias destas que, como expliquei a princípio, não consigo "funcionar" com religiões, doutrinas e muito menos dogmas. Concebo demasiadas hipóteses para me conseguir restringir a uma só.) De Deus só sabemos, agora, que não é um velhinho de barbas brancas sentado algures no universo a olhar cá para baixo. À parte isso, não sei mais nada sobre do que Ele é feito e se pode estar em tudo, literalmente, ao mesmo tempo. Ultrapassa-me.
Na verdade, não é algo que me preocupe muito saber: onde está Deus. Nunca fui de bisbilhotar. Deus interessa-me, sim, e muito, porque sempre quis saber as respostas. A verdade. Mesmo que a resposta seja "criei-vos e a todo o mundo que podem ver porque certo dia me deu na Toda-Poderosa mona, mais nada a acrescentar". Até essa era uma resposta. Desde que seja a verdade.

Existe mais a comentar sobre este tema quando se falar do regresso da alma ao todo de Deus, como algumas doutrinas defendem actualmente.




quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Espiritismo, fundamentos doutrinais

Antes de passar aos comentários considerei importante e útil enumerar alguns dos pilares fundamentais em que assenta a doutrina espírita.
De "O Livro dos Espíritos":


Resumimos assim, em poucas palavras, os pontos mais importantes da Doutrina que eles* nos transmitiram, a fim de respondermos mais facilmente a algumas objecções.
[*os Espíritos, nota minha]

«Deus é eterno, imutável, imaterial, único, Todo-Poderoso, soberanamente justo e bom.»
«Criou o universo, que compreende todos os seres animados e inanimados, materiais e imateriais.»
«Os seres materiais constituem o mundo visível ou corporal; os seres imateriais, o mundo invisível ou espírita, ou seja, dos Espíritos.»
«O mundo espírita é o mundo normal, primitivo, eterno, preexistindo e sobrevivendo a tudo.»
«O mundo corporal é apenas secundário, poderia deixar de existir ou nunca ter existido, sem alterar a essência do mundo espírita.»
«Os Espíritos vestem temporariamente um corpo material perecível, cuja destruição pela morte lhes devolve a liberdade.»
«Entre as diferentes espécies de seres corporais, Deus escolheu a espécie humana para a encarnação dos Espíritos que atingiram um certo grau de desenvolvimento, o que lhe dá a superioridade moral e intelectual sobre os outros.»*
[*Entenda-se “superioridade moral e intelectual” sobre espíritos menos desenvolvidos; nota minha]


«A alma é um Espírito encarnado, sendo o corpo apenas o seu envoltório.» (…)
«Os Espíritos pertencem a diferentes classes e não são iguais em poder, inteligência, saber e nem em moralidade. Os da primeira ordem são os Espíritos superiores, que se distinguem dos outros por sua perfeição, os seus conhecimentos, a sua proximidade de Deus, pela pureza dos seus sentimentos e do seu amor ao bem: são os anjos ou Espíritos puros. Os das outras classes não atingiram ainda essa perfeição; os das classes inferiores são inclinados à maioria das nossas paixões: ao ódio, à inveja, ao ciúme, ao orgulho, etc. Eles se satisfazem no mal; entre eles há os que não são nem muito bons nem muito maus, são mais trapaceiros e importunos que maus, a malícia e a irresponsabilidade parecem ser sua diversão: são os Espíritos desajuizados ou levianos.»

Conheço muitos destes, e encarnadíssimos, e infelizmente temos de os aturar todos os dias.



«Os Espíritos não pertencem perpetuamente à mesma ordem. Todos melhoram ao passar pelos diferentes graus da hierarquia espírita. Esse progresso ocorre pela encarnação, que é imposta a alguns como expiação e a outros como missão. A vida material é uma prova que devem suportar várias vezes, até que tenham atingido a perfeição absoluta, é uma espécie de exame severo ou de depuração, de onde saem mais ou menos purificados.»

“A vida material é uma prova que devem suportar.” A vida material não é boa.

«Ao deixar o corpo, a alma retorna ao mundo dos Espíritos, de onde havia saído, para recomeçar uma nova existência material, depois de um período mais ou menos longo, durante o qual permanece no estado de Espírito errante.»
«O Espírito deve passar por várias encarnações. Disso resulta que todos nós tivemos muitas existências e que ainda teremos outras que, aos poucos, nos aperfeiçoarão, seja na Terra, seja em outros mundos.» (…)
«A alma tinha a sua individualidade antes de sua encarnação e a conserva depois que se separa do corpo.»
«Na sua reentrada no mundo dos Espíritos, a alma reencontra todos aqueles que conheceu na Terra e todas as existências anteriores desfilam na sua memória com a lembrança de todo o bem e de todo o mal que fez.» (…)
«A moral dos Espíritos Superiores resume-se, como a de Cristo, neste ensinamento evangélico: ‘Fazer aos outros o que quereríamos que os outros nos fizessem’, ou seja, fazer o bem e não o mal. O homem encontra neste princípio a regra universal de conduta mesmo para as suas menores acções.» (…)
«Mas também nos ensinam* que não há faltas imperdoáveis que não possam ser apagadas pela expiação. Pela reencarnação, nas sucessivas existências, mediante os seus esforços e desejos de melhoria no caminho do progresso, o homem avança sempre e alcança a perfeição, que é o seu destino final.»
[*os Espíritos; nota minha]




Comentários nos posts seguintes.



segunda-feira, 9 de setembro de 2013

sem título


Há passos estranhos fora dos sentidos
o campo dorme na escura paz da alma
na seara dourada que a noite acalma
pássaros negros esvoaçam sem voos definidos.

Dias longos sem memória esquecidos e quebrados
Mais longos que a morte para trás repousam
Só interessa o momento em que os olhos ousam
Perder-se na escuridão dos terrores achados.

Parece que os passos se aproximam da porta
chamam calados sofrendo o sono cerrado
voam asas chorando a clamar ao céu alado
desesperando que a noite não dorme – está morta!



10-11-1988



Comentário: Este é daqueles que quase tinham ido para o lixo. Ainda bem que não foi. Pode parecer "tipo Florbela Espanca" mas não é bem. Eu também tenho experiência de searas.



quinta-feira, 5 de setembro de 2013

sem título

Sinto-me como bocados de neve
caindo aos poucos, lentamente,
e derretendo delicadamente
debaixo do meu sangue que ferve.

Sinto-me uma asa leve
que voa em círculos fechados
os olhos doloridos, pesados
fecham-se sobre a neve.

Sinto um pulsar aflito
tremendo as luzes das velas
que se apagam no escuro lá fora.

Estou algures no infinito
sem morada debaixo das estrelas
e sem rumo a seguir agora.



26-5-89



Comentário: A última estrofe, aquela que realmente conta, continua a fazer todo o sentido. É curioso, porque tinha 17 anos quando a escrevi.


domingo, 1 de setembro de 2013

"O Livro Dos Espíritos", de Allan Kardec

Para quem não sabe, "O Livro Dos Espíritos", de Allan Kardec, é um livro religioso, o livro doutrinário da religião espírita, que como todos os livros religiosos exige um respeito particular. Citando a contra-capa do meu exemplar, "é a compilação dos ensinamentos dessa doutrina renovadora e em expansão, que nos faz entender tudo o que antes parecia incompreensível. Eis uma obra que, mais do que um livro para ser lido, é um manual de conduta para a vida". Que ninguém tenha dúvidas, é um livro religioso e doutrinário e é assim que o vou encarar nos posts que pretendo publicar sobre ele.

Muitas vezes as pessoas começam este tipo de "revelações" religiosas com o típico "entrei em contacto com este livro numa época vulnerável da minha vida". Não é o caso. O meu é o outro caso: "o mestre aparece quando o aluno está pronto". Mas não me lembro de como este livro veio parar às minhas mãos, nem de como o adquiri, nem de como ouvi falar dele. Um dia, o livro estava aqui, e o livro eclipsou todas as circunstâncias que o rodearam.
Isto talvez seja uma surpresa para quem lê este blog, porque não é tema de que fale muito porque simplesmente não tenho necessidade de falar dele, mas existe uma minha faceta que é muito espiritual. Não direi "religiosa" porque tentei a religião organizada (várias, até) e cheguei à conclusão de que comigo não funciona. Não é por isto nem por aquilo, simplesmente não funciona. Talvez seja eu que tenha uma espiritualidade demasiado desorganizada. Mas a espiritualidade existe.
Se é para me classificar da maneira convencional, sou cristã. Embora eu prefira dizer de mim que "tento ser cristã" porque ser cristão é muito difícil e, na minha visão da espiritualidade, não é apenas acreditar nisto ou naquilo. Daí o ser muito difícil ser cristão.
Já pensava assim, quando pela primeira vez li "O Livro dos Espíritos", depois dos vinte e cinco anos, antes dos trinta, algures por aí. Isto também pode ser confuso para algumas pessoas mas fundamentalmente sou uma pessoa racional. Até a fé, para mim, tem de ser racional. E agora é que muita gente se vai insurgir, dizendo que a fé é o contrário do racional. Podem ficar na vossa que eu fico na minha. Talvez os comentários que vou fazer às passagens deste livro tragam novamente o tema, talvez não. Não é importante para mim explicar porque é que a fé é racional. Para mim, tinha de ser. (Com as devidas distâncias, "ver para crer como São Tomé", e não digo mais nada.)
O "Livro dos Espíritos", através da reencarnação compreendida sob uma perspectiva cristã, fez para mim sentido de muitas coisas que até aí eram nebulosas. Essa é que é a parte que me interessa.

"O Livro Dos Espíritos" é uma compilação de perguntas e respostas feitas em sessões espíritas aos espíritos desencarnados. (Sim, aos mortos.) Cheguei a pensar, durante uns tempos, em experimentar o espiritismo eu própria, mas desisti da ideia. Algo me diz, não sei ao certo se completamente ao contrário da doutrina espírita, que a vida não é apenas uma preparação para a morte. Algo me diz que a vida, ou melhor, a experiência da vida, ou de todas as vidas aqui e noutros lugares, faz parte do desígnio do Criador para as criaturas. Isto é, Deus não nos fez só para nos purificarmos para uma nova existência, mas para experimentar a vida. (O que não quer dizer que seja bom, mas lá iremos, talvez.) Nesta perspectiva, não me parece que, pelo menos para alguns de nós, seja benéfico fazer hábito de falar com os mortos. Com toda a franqueza! Vou ter muito tempo de falar com os mortos... também. Quando for um deles. Qual é a pressa?...
Mas compreendo, por outro lado, que aqueles que perderam um ser querido para a morte já não se consigam desligar do outro lado. Não só compreendo, partilho. Acontece comigo, porém, que a minha maldição é ao mesmo tempo uma bênção: não me morreu ninguém a quem eu ame ou que me amasse com quem eu queira voltar a falar, e aqueles que partiram e a quem eu amo não falam. Ficamos assim, então.
O meu interesse em falar com os mortos é igual ao meu interesse em falar com os vivos. Nunca fui falar com os mortos. Mas não ponho de parte. Como disse, qual é a pressa? Lá os hei-de encontrar também.

Vou começar aqui uma série de posts em comentário às ideias de alguns espíritos. Advirto que pode ferir susceptibilidades e a partir daqui fica o aviso.
Saliento também que este foi um livro escrito por Allan Kardec em 1857 (embora às vezes, pela actualidade, não pareça), e que considero a data importante porque os espíritos estavam a falar para pessoas do século XIX. Muitas das coisas que disseram são, do ponto de vista científico, extraordinárias para a época. Não é tema que me interesse particularmente, mas não deixo de o salientar.
Quanto ao resto, continua.