quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

“Dexter” (série TV)


Nunca pensei vir a fazer uma crítica sobre Dexter. A verdade é que perdi o interesse na série algures durante a temporada 2 ou 3, e embora tenha continuado a ver (ainda dava na RTP2!), confesso que era mais hábito do que outra coisa. Isto por várias razões:
1, tornou-se repetitivo. Em todos os episódios, Dexter enrolava alguém em plástico e espetava-lhe uma faca no peito. Dois e três anos disto, convenhamos, aborrece. Aborrece tanto que não percebo porque é que ele não arranjou outro hobby entretanto. Eu não suportava o tédio de fazer sempre a mesma coisa, mas também não sou serial killer, sei lá eu!
2, aquela esquadra de polícia devia ter os polícias mais estúpidos do planeta! Certo, eram polícias normais, não eram profilers do BAU (“Mentes Criminosas”), mas por amor de Deus, nunca ninguém ali leu um livro de psicologia, ou teve uma sessão de formação sobre “Como reconhecer um sociopata”? Apesar de tanta inépcia, duas pessoas chegaram a desconfiar de Dexter, o detective Doakes, logo no princípio, e outra personagem que não vou mencionar para não estragar o suspense a quem ainda não viu as duas últimas temporadas, e ambas foram desacreditadas. A meio da série, um reputado profiler do FBI fez consultadoria com a esquadra (salvo erro, por causa do serial killer Trinity) e não suspeitou de nada (para o que deve ter contribuído o facto de que ele andava a dormir com a irmã de Dexter, mas ainda assim!...). E Rita, a mulher do Dexter! Que idiota não percebe que o marido é um serial killer?! Esta personagem era tão burra, e tão desinteressante, que quando alguém a matou eu encolhi os ombros. Já não serei tão dura quanto a Debra, irmã de Dexter, porque há uma certa cegueira entre parentes chegados que faz com que as pessoas não queiram acreditar nos próprios olhos, especialmente quando o pai de ambos fez os possíveis e impossíveis para esconder da filha a verdadeira natureza do irmão adoptivo. Mesmo assim, uma vez levantada a suspeita (e a suspeita foi levantada), não podia haver um único polícia naquela esquadra que não ficasse atento e de sobreaviso. Em vez disso, amnésia geral.
3, tirando o próprio Dexter, que nos informava dos seus processos mentais em monólogo interior e em conversas imaginárias com o pai falecido (James Remar como Harry Morgan, um dos papéis mais ingratos de uma vida porque nunca ninguém se lembra do personagem que “não existe” embora tenha aparecido do primeiro ao último episódio), todos os outros personagens eram superficiais, incultos, pouco inteligentes (como já expliquei) e de uma mediocridade psicológica de dar dó. (Aquele Masuka, valha-me Deus!...)
Não comecei este artigo com a sinopse de “Dexter” porque, por esta altura, não deve haver ninguém que não saiba quem ele é, mas na remota eventualidade de alguém mais distraído que nunca tenha ouvido falar da série, Dexter é um serial killer que trabalha como técnico forense numa esquadra de Miami. O que o distingue dos serial killers “normais” é que Dexter só mata pessoas que se enquadrem no código que lhe foi ensinado pelo seu pai: Dexter caça os criminosos, os violadores, os outros assassinos. O código de Harry permite a Dexter satisfazer a sua necessidade de matar sem vitimar inocentes contribuindo para a “limpeza” da sociedade (como ele diz, “deitar fora o lixo”).
O grande sucesso de “Dexter” deve-se ao código de Harry. Não acredito que os espectadores estivessem interessados em ver um serial killer matar inocentes, impunemente, semana após semana, temporada após temporada. Mas o que Dexter faz é vigilantismo. Dexter é um justiceiro das trevas que dá sumiço a muitos criminosos que a polícia não consegue apanhar por falta de provas. Dexter é o papão dos maus. (Surpreende-me, agora que penso nisto, que a série não tenha explorado esta vertente. Durante anos o Bay Harbor Butcher foi divulgado nos media, ainda que nunca correctamente identificado, e sabia-se qual era a sua vitimologia. Estranho que não se espalhasse o pânico entre os criminosos de Miami. Com a frequência com que Dexter matava, seria de esperar que esse “papão” fizesse tremer muita gente em certos meios... A série não se lembrou.)
O que Dexter faz encontra simpatia nosso sentido de Justiça, inato, que tanto mais nos atormenta quanto mais horrível o crime que escapa impune. Este sentido de Justiça permite-nos assistir a “Dexter” sem nos incomodarmos com o “método”. Ninguém lamenta as vítimas de Dexter, que não são vítimas nenhumas, que na maioria dos casos até são piores do que ele. Dexter é o grande anti-herói, mas Dexter é também um herói, no pleno sentido do termo, e a sua complexidade de super-anti-herói era o que nos mantinha presos à série, semana após semana.
Desde os primeiros episódios, questionei-me muito se um psicopata conseguiria seguir um código de conduta. Parece-me que não, porque os verdadeiros sociopatas são demasiado narcisistas para deixar de matar quem lhes apetece por causa de um código. Será Dexter realmente um psicopata, ou uma vítima de stress pós-traumático devido ao que assistiu na infância, a quem essa noção foi inculcada na cabeça por um pai adoptivo demasiado preocupado? A relação de Dexter com o pai não era falsa e vazia de afectos, tal como não são falsas e vazias de afectos as relações com a irmã e o filho. Não são relações oportunistas ou manipuladoras (mesmo tendo em conta que a princípio Dexter acredita que tem de mantê-las, unicamente, e ao emprego, e ao casamento, como disfarce de “pessoa normal”). Mas estas relações são autênticas, afectivas, e ele próprio o admite mais perto do final. Um psicopata não consegue sentir estas afeições profundas. As pessoas à sua volta são peões no seu jogo, nada mais, e a perda de uma é substituída por outra. (O que de certa forma aconteceu no caso de Rita, embora Dexter quase tenha sido “obrigado” a casar, à moda antiga.)
Outro “pormenor” importantíssimo para o sucesso da série é que Dexter não é um sádico. A maneira como mata é rápida (pelo menos nunca se viu o contrário): faca no coração. Se houvesse tortura e sadismo, muitos espectadores talvez não conseguissem suportar. A única “tortura” infligida na mesa de matança é psicológica, quando Dexter confronta a “vítima” com os seus próprios crimes. De certa forma, o que se passa é um julgamento em que é explicado ao condenado a razão por que foi escolhido para morrer. (Por isso escrevi “tortura” entre aspas, porque é uma espécie de "leitura da sentença", salvas as distâncias.) A execução, de seguida, é rápida e limpa. O que coloca mais questões quanto à suposta psicopatia de Dexter. Os serial killers têm prazer no acto de matar. Um prazer, especialmente quando é utilizada uma faca, que todos os peritos concordam ser de natureza sexual ou seu derivativo. Ao contrário, por exemplo, de um assassino contratado para quem abater o alvo é puramente profissional. Como é que a necessidade de Dexter se satisfaz com uma morte tão rápida? Não bate muito certo com o que sabemos de assassinos psicopatas.
Mas decidi fechar os olhos e admitir que Dexter, como personagem ficcional, tinha “licença criativa” para ser um psicopata “diferente”, mais “humano”, mas nunca realista, apenas ficcional, e aceitei o personagem como tal. Deu-me um certo gozo pessoal que na última temporada a Dra. Vogel (que o conhece desde pequeno) tenha começado a duvidar do seu diagnóstico ao analisar que as acções altruístas de Dexter para com a família, e amigos, e envolvimentos românticos, não encaixam no perfil de sociopata sem empatia. (O que vem dar-me razão, daí o gozo pessoal.) Depois de ver a série inteira, estou ainda mais inclinada para a hipótese de que Dexter possa não ser um sociopata. Se o fosse, e sem querer revelar o fim, Dexter não decidiria que não pode ficar com ninguém porque destrói (involuntariamente, mas destrói) a vida de todos os que lhe são próximos. E é verdade, destrói. E ele não deseja isso para a irmã, para a mulher que ama (Dexter ama) e muito menos para o filho. Ora, um verdadeiro sociopata estaria já a pensar como usar o puto para atrair as vítimas mais depressa. Um verdadeiro psicopata estar-se-ia nas tintas para os danos colaterais que provoca nos outros porque um verdadeiro psicopata só se preocupa com uma pessoa: ele mesmo. Um verdadeiro psicopata não se sacrifica pelos outros; sacrifica os outros por si.
Não acredito que seja possível na vida real, mas Dexter, personagem ficcional, pode pertencer a uma área cinzenta em que existem traços de psicopatia, sem dúvida, reforçados pela lavagem cerebral que lhe foi feita desde a infância: “És um monstro, não consegues controlar a necessidade de matar, tens de aprender a matar as pessoas certas sem seres apanhado”.



A última viagem do Dark Passenger?
Esta é uma série estreada em 2006, num outro tempo televisivo em que os espectadores se contentavam com programas de “polícias e ladrões”, um caso por episódio (“Law and Order”, por exemplo), nada de muito complicado e sem um enredo transversal a todos os episódios. Quando Dexter apareceu, relatando na primeira pessoa os pensamentos de um serial killer, foi refrescante e inovador. Mas o formato manteve-se quase o mesmo. Os enredos giravam em torno de Dexter e das personagens com quem se cruzava e com quem partilhava o segredo, terminando cada temporada ou mais ou menos da mesma maneira, com estas novas personagens a acabar na mesa forrada a plástico (com a rara excepção de Lumen, mais um exemplo da empatia de Dexter).
Sempre tive a sensação sobre esta série que os autores queriam mergulhar em águas profundas (como eram profundos os mergulhos na psique sombria de Dexter) mas nunca saíam da piscina dos pequeninos que o rodeava e onde a série chapinhava sem fim. Como se temessem que a introdução de mais do que uma personagem profunda fosse demasiado complicada para a audiência que se contentava com uma caçada por episódio. Durante seis temporadas a série chapinhou neste formato, a ponto de se tornar repetitiva e desinteressante.
O meu interesse só tornou a despertar na sétima e penúltima temporada, quando Debra descobre quem o irmão é. E então, sim, pelo menos quanto a Dexter e Debra, a série mergulhou em águas profundas. As restantes personagens nunca saíram da piscina dos pequeninos mas Dexter e Debra mergulham no poço sem fundo e perdem o pé, no bom sentido.


Penso que deve ter sido a primeira vez que a série me arrebatou, sempre que Debra confrontava Dexter, e a si própria, com a incredulidade, e a repulsa, e o questionar de tudo em que acreditava daquele irmão adoptivo que julgava perfeito, mais do que isso, que julgava um modelo a seguir! Grande performance de Jennifer Carpenter (Debra), tão mais emocional e de cabeça perdida quanto Michael C. Hall (Dexter) permanece impassível. Bem, já não tão impassível, porque pela primeira vez na vida importa-lhe, importa-lhe muito, o que Debra pensa dele. Pela primeira vez, Dexter não está a lidar com psicopatas como o Ice Truck Killer, ou o Trinity Killer, ou o Doomsday Killer, ou a outra maluca inglesa, ou o outro maluco que queria que Dexter o ensinasse a matar, ou com aquela pobre rapariga Lumen num estado psicológico feito em frangalhos. Desta vez Dexter estava a lidar com uma pessoa normal, uma pessoa com uma consciência moral, uma pessoa que lhe importava, a última pessoa que queria perder, a quem mais certamente perderia.
(Curiosidade: para meu grande espanto, Jennifer Carpenter e Michael C. Hall foram casados na vida real, enquanto a série decorria, e nunca uma pitada de química romântica transpareceu entre eles! Se não me tivessem dito eu não tinha desconfiado. Grandes actores, ambos!)


E aqui estamos, e gostei tanto das duas últimas temporadas da série, finalmente a interacção Dexter/Debra sem segredos!, que aqui estou a declarar o meu arrebatamento. Sei que muitos fãs não gostaram do último episódio, mas que se lixem, eu adorei o último episódio! Aquela cena em que pela última vez Dexter sai no Slice of Life e lança à água aquele corpo amortalhado num lençol branco, durante uma tempestade iminente, e o mar está negro, e o céu está negro, negro, negro, de meter medo, foi tão épico, foi tão gótico! Foi o mergulho em águas profundas de que a série andou à procura desde o princípio!


Sem querer deixar spoilers, li em comentários que muitos fãs ficaram piamente convencidos de que no último episódio Dexter desiste de matar. Quanto a isso só digo uma coisa: não me parece!
Aqueles que, como eu, se desapontaram com a série quando esta se tornou uma dança de psicopatas, fariam bem em dar a Dexter uma segunda oportunidade a partir da sétima série. Sei que vão ficar surpreendidos. Agradavelmente, espero eu.



quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Fear The Walking Dead (série TV)


Assim que foi anunciada, esta “sub-série”, versão de “The Walking Dead” passada em Los Angeles no início do apocalipse zombie, sofreu imediatamente as críticas que denunciavam como seu único motivo de existência o objectivo de capitalizar o êxito da série original. Admito que pensei o mesmo. No entanto, há certas ideias que crescem em nós, e comecei a ficar entusiasmada ao ler a sinopse que prometia acompanhar uma família normal à medida que a civilização desmoronava. A série original não fez isto. Quando Rick Grimes acorda no hospital o apocalipse zombie já ia de vento em popa, Lori e Shane e Carl já tinham fugido de Atlanta, e nunca chegámos a ver o caos dos primeiros dias. Era esse caos que eu esperava ver em “Fear the Walking Dead”.
A série até começa bem. Uma família normal de classe média, na sua vida normal e suburbana, num bairro normal em Los Angeles, pai e mãe e ex-mulher e filhos adolescentes de ambos os casamentos com os problemas normais do quotidiano e um problema suplementar porque o filho mais velho (mas já maior de idade) é toxicodependente. Mesmo assim, em termos relativos, a família é muito funcional. O pai é professor de inglês na escola secundária, a mãe trabalha no conselho administrativo da escola, a ex-mulher é auxiliar de enfermagem (parece-me) mas quer estudar medicina, todos os putos andam na escola excepto o mais velho que dá na veia, até o namorado da filha é um rapaz perfeitamente normal. Era mesmo isto que se pretendia, como é que pessoas perfeitamente normais, com vidas perfeitamente normais, sem qualquer ligação às forças policiais ou militares ou tendências “survivalistas”, que se calhar nunca dispararam uma arma na vida, como é que eles se safam, ou não, no apocalipse zombie quando este rebenta no cenário de uma grande cidade como Los Angeles.
Os episódios iniciais acompanham a família enquanto os primeiros relatos começam a chegar aos media. Existe tanta incredulidade quanto secretismo da parte das autoridades para evitar o pânico. As primeiras pessoas a verem os infectados julgam-nos doentes. Pensa-se que é uma epidemia, como é normal que se pense numa primeira fase. Numa segunda fase, as forças da ordem começam a disparar sobre os infectados (já em estado zombie). Como resultado, vê-se um motim seguido de pilhagem, como também seria de esperar. As auto-estradas para fora da cidade ficam entupidas de trânsito parado, como já tínhamos visto em Atlanta.
Até aqui, julguei que ia fazer uma crítica positiva a esta série. Era mesmo isto que queria ver. O princípio, a desorientação, o pânico, a indecisão quanto ao que fazer. Pessoas normais a reagirem como pessoas normais. E até aqui a série mostra isso, e mostra bem.
E depois não mostra mais nada. Não é um spoiler porque não vou estragar nada aos espectadores, porque assim que chega o exército e isola a parte do subúrbio onde a família mora, por segurança e contenção, não se vê mais nada. Nem motins, nem pilhagens, nem o êxodo para fora da cidade, nem a cobertura jornalística, nem a abordagem científica à epidemia, nem as decisões políticas e militares ao mais alto nível, absolutamente nada. Logo, não posso estragar o que não se vê. E é por isto que esta crítica não pode ser positiva, porque quando o mundo se desmorona e a “nossa” família normal abandona o recinto militarizado, o mundo já é aquilo que conhecemos quando Rick Grimes sai do hospital. Do princípio vemos pouco, e não vemos suficiente.  O objectivo da série não foi atingido. (Quanto a mostrar o princípio, isto é; quanto a capitalizar o êxito de “The Walking Dead”, atingiu perfeitamente.)
Há teorias que explicam que a AMC não quis gastar uma batelada de dinheiro em cenas da cidade em caos (coisas como helicópteros, viaturas, cenários, figurantes, guarda-roupa, maquilhagem, CGI, etc). Se é o caso, que grandes sovinas. “The Walking Dead” é uma das séries de maior sucesso dos últimos tempos. Se não se meter dinheiro aqui, então onde? (Mas este “apocalipse” vai mal para todos, anda tudo aos tostões, compreendo isso.) Compreendo, mas empobreceu a série, e nota-se a absoluta penúria da produção. Acho que é mesmo o que mais salta à vista: o que falta. É Los Angeles, uma cidade de milhões de habitantes, não é uma quinta na Georgia!

 Onde estão as pessoas? Onde estão os carros? Onde estão os efeitos especiais?

Apesar do que falta, não diria que é uma má série para os apreciadores do género. Os seis episódios (apenas seis) lá vão acompanhando a família e explicando como esta acaba por ajudar o apocalipse a propagar-se mais depressa, e não posso contar mais.
Duas notas finais, uma sobre a realização em tons desbotados, quase em sépia, como numa velha fotografia ou num filme muito antigo ou de série B, que nos lembra que estes acontecimentos são o passado, literalmente e simbolicamente. O mundo que vemos no primeiro episódio já não existe no universo de The Walking Dead. Gostei desta falta de cor, tão significativa.
A segunda nota final é sobre este cartaz promocional:


Lamento, mas esta cena nunca acontece. Era interessante, o choque entre o mundo de normalidade dos miúdos a jogar basket e o mundo que se desmorona à volta deles, mas, completamente alheios, os miúdos não percebem que os zombies já vêm a subir a rua. Podia ter acontecido, e o cartaz é fortíssimo no seu simbolismo e só por isso não o considero publicidade enganosa, mas nunca acontece.
A série promete mais do que cumpre, e é pena. Os apreciadores não vão gostar tanto como de “The Walking Dead” e muitos fãs até vão achar os seis episódios aborrecidos. Eu queria ver mais, muito mais. Mais caos, mais pânico, mais tiroteios, mais trânsito, mais centros comerciais, mais edifícios de escritórios, mais hospitais, mais autocarros, mais explosões. Menos cenas filmadas no quintal dos fundos. (Não estou a ser sarcástica. Há mesmo cenas filmadas no quintal dos fundos.) Não vi, e preferia ver.

 Por outro lado, tivemos a zombie mais sexy que eu já vi na vida!



quinta-feira, 5 de novembro de 2015

“Twilight”, de Stephenie Meyer

Li este livro porque prometi a uma leitora deste blog. Já foi há algum tempo, e não sei se ela ainda anda por aqui para ver que a promessa foi cumprida, mas promessas são promessas.
Sobre o livro em si, achei-o mais bem escrito do que seria de esperar. Tendo em conta que a história é contada na primeira pessoa por uma adolescente, Bella “escreve” como fala, mas é uma escrita cuidada em que mal se nota a intervenção literária do narrador. Nada a apontar quanto à forma.
A questão que me foi posta não foi exactamente sobre a qualidade do livro. Quando aqui publiquei a crítica ao filme homónimo o que me foi perguntado era se eu pensava se tanto o livro como o filme eram algo assim de tão especial que mereciam a autêntica histeria que causaram na altura. (Penso que a histeria já passou. Os adolescentes da altura já devem ter evoluído para a nova moda das sombras de Grey, ou para a moda que estiver a dar no momento.) Bem, consigo perceber como é que o ultra-romantismo de “Twilight” possa afectar uma adolescente na idade da “paixão eterna”. O filme piorou a doença. O rapazinho que interpretou Edward Cullen no filme não era feio e a actriz que encarnou Bella era tão normal que qualquer rapariga se podia identificar. Não penso que seja preciso mais para encantar adolescentes.
Também não acredito que as adolescentes se apercebam de como Edward Cullen é controlador e abusivo (nunca julguem que um gajo que vos entra em casa sem convite o faz por amor, e que vos segue para todo o lado por amor, e que quer sempre saber onde vocês estão por amor; este é o tipo de gajo que acaba também a bater-vos “por amor”). Bella, no livro, é uma personagem que eu comecei a desprezar assim que decidiu que queria ser vampira para ficar com ele “para sempre”. (Curiosamente, não me apercebi desta parte no filme. Nem de que ele fosse controlador nem de que ela queria ser transformada. O filme foi “melhorado” para ser mais politicamente correcto?...) Parecia-me, no princípio do livro, e do que vi no filme, que a personagem era mais adulta e independente, mas Bella transforma-se em propriedade de Cullen por vontade própria e perde todo o meu respeito.
Os verdadeiros apreciadores de vampiros não vão achar nada de interessante neste livro, excepto se pretendam um olhar crítico e curioso quanto ao fenómeno gerado. Com toda a sinceridade, acho que o filme é melhor, especialmente nas partes de acção, e quem viu o filme não precisa de ler o livro *de todo*. A grande novidade que a história introduz (?) na mitologia vampírica é a noção de que os vampiros brilham ao sol (como um peixe) e que por esse motivo não podem sair das sombras ou seriam identificados. Nunca gostei destes vampiros que brilham, mas entre ler no livro e ver no filme, mais vale ver no filme (e ficar horrorizado para sempre).
No campo da literatura de terror, estou muito mal habituada. Na grande maioria, os filmes nunca conseguem ser tão bons como os livros, muito menos superá-los. Este é um caso inverso e acho que isto diz tudo. Não vou ler mais nenhum livro da série, e ainda não vi nenhum filme da saga a seguir ao homónimo “Twilight”. Não existe, simplesmente, qualquer interesse. Até “Os Diários do Vampiro” são melhores (e mais complexos) do que isto. Penso que os adolescentes que se encantaram com esta história (os que entretanto não decidiram que foi só uma “fase” e já a ultrapassaram) fariam melhor em pegar nos clássicos, desde o Drácula à Carmilla à grande Anne Rice, e descobrir os verdadeiros encantos do género.

Edward Cullen a brilhar ao sol, em "Twilight". O horror! O horror!


quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Game of Thrones / A Guerra dos Tronos (segunda parte)

(continuação da primeira parte)


*** CONTÉM SPOILERS, REVELA O FIM DA TEMPORADA***

As irmãs Stark
No primeiro episódio da série, Ned Stark encontra uma ninhada de lobos deixados órfãos por uma loba morta por um veado. O símbolo da casa Stark é o lobo, e existem seis crias, como os seis filhos de Stark. É uma ideia interessante que cada uma das crias venha a ficar interligada ao destino de cada um dos seus donos. O próprio encontro é um presságio da destruição da casa Stark pela casa Baratheon, cujo símbolo é o veado. Ao sacrificar o lobo de Sansa a pedido da família real, Stark prenuncia que Sansa será “sacrificada”, embora não em sentido literal (ou ainda não, a ver vamos). Arya, a filha rebelde, consegue fazer com que o seu lobo fuja à morte para nunca mais ser encontrado, como ela própria desaparece sem deixar rasto.
Sansa, muito diferente da irmã aguerrida, é uma jovem doce e ingénua que se vê prisioneira de gente sem escrúpulos enquanto assiste à morte do pai, à derrota do irmão e ao assassinato da mãe. Sozinha e sem ajuda, é, nas palavras de Lord Baelish, uma vítima, uma mera “espectadora” dos acontecimentos. Uma personagem assim passiva podia não cativar a simpatia dos espectadores, mas tem-lhe conquistado fãs a dignidade e a inteligência com que tenta sobreviver e aprender a jogar um jogo para que nunca foi preparada e para o qual não tem nenhum jeito. Sansa poderá ser a mais inteligente dos Stark e não é difícil que uma pessoa normal se identifique com ela.
Duvido que os autores tenham feito de propósito mas Sansa é um bom exemplo das leis do karma. Se acontecesse na vida real, não seria por acaso que conseguisse escapar a um tirano psicopata só para cair nas mãos de outro. Na vida real, seria expiação. Na história talvez seja apenas um grande azar, e ninguém queria ver mais desgraças acontecerem à pobre Sansa. Espera-se ansiosamente que esteja viva.


Arya Stark nem parece irmã de Sansa. Tem sido uma das minhas personagens preferidas desde que era apenas uma maria-rapaz que não gostava de bordar. Nem toda a gente aprecia ver uma menina inocente transformar-se numa verdadeira assassina movida a ódio e stress pós-traumático, mas não perdeu a minha simpatia. Parte de mim desejava (e ainda deseja) que o seu treinamento em artes mágicas, ou marciais, ou seja lá o que for que é aquele culto dos mortos onde ela foi admitida, a transforme numa ninja implacável. Infelizmente, muitos dos alvos na lista de Arya já morreram, mas haverá sempre mais.
Não gostei da morte de The Hound, que achei francamente descabida. The Hound e Brienne de Tarth discutem sobre qual deles tem mais direito de proteger Arya, que não quer a protecção de ninguém, e enquanto esta se afasta, sem intervir (o que não é nada característico da personagem, esconder-se enquanto outros decidem o seu destino), os dois preferem partir para a estupidez em vez de conversar (os personagens da Guerra dos Tronos preferem sempre partir para a estupidez) e The Hound fica ferido de morte, aparentemente. Grande pequena cabra que é, Arya rouba-lhe o dinheiro e vai-se embora. Mas compreendo a Arya. Depois de tudo o que viu, percebendo que só pode contar consigo própria, não é de lhe estranhar o egoísmo. Até porque Arya ainda não tem idade para reagir de outra maneira. Não é por nada que se diz daquela idade que é a idade do fanatismo, e sempre pensei que a história ia evoluir no sentido em que ela amadureceria naquela espécie de mosteiro onde aprenderia a ter paciência.
Não percebi o que aconteceu a Arya na casa do Faceless God. Ninguém percebeu! Se transgrediu alguma regra, ela não sabia dessa regra, nem ela nem nós! Espero bem que Arya não esteja morta e que os autores arranjem uma boa explicação para o que lhe aconteceu. Para estúpido e absurdo já nos basta “Under the Dome”! Até agora Guerra dos Tronos não caiu na tentação de escavar buracos em que se enterrar. Espero bem que não seja a primeira vez porque aquilo não fez sentido nenhum.


Uma aventura... Na Terra dos Mortos
Não gosto desta aventura infanto-juvenil em que o Bran se meteu com os outros dois adolescentes ainda em idade púbere, mais o Hodor, e mais o lobo. Parece uma aventura dos Cinco. Bran e o outro miúdo vidente decidem que têm de ir procurar uma árvore mágica, e lá vão eles, mesmo sem saberem porquê. Nada me irrita mais do que quando personagens fazem coisas sem saberem porquê. No fim da aventura, Bran encontra um homem muito velho que vive num subterrâneo debaixo das raízes de uma árvore e que promete ensinar-lhe muitas coisas. Aventura infanto-juvenil.
Ficámos a saber, contudo, que Bran tem o poder de possuir um animal com o poder da mente, e de possuir o próprio Hodor (cujo intelecto também não é superior a um animal), o que nos dá uma pista muito importante para o futuro. Se Bran consegue possuir um animal, não conseguirá também controlar dragões? (Os tais dragões de quem já nem a mãe deles dá conta?...)
Por outro lado, adoro o Hodor! Não é um personagem muito original, já vi semelhante não sei onde, mas às vezes invejo os Hodors e gostava de passar um ano sem dizer outra palavra senão “hodor”. A toda a gente, responder “hodor”, e um grande “hodor” para eles todos.
Espero que não matem o Hodor porque não sou a única fã. Da maneira que as coisas vão de mal a pior em Westeros até já há quem pense nisto:

Hodor ao Trono de Ferro!


Renly Baratheon e a rainha Margaery
Tinha muita pinta, o Rei Gay, mas infelizmente não há muito para dizer sobre ele tão depressa morreu vítima de magia negra da Red Witch. Já quanto à rainha Margaery, assim que a vi, e que a ouvi dizer “Eu quero ser a rainha!” tive logo o negro pressentimento de que vamos assistir outra vez à execução de Ana Bolena!


(Nathalie Dormer interpretou Ana Bolena nos “Tudors”, e até parece que o tempo não passou por ela. Pelo contrário, até parece mais nova e ainda mais linda! A actriz deve ser muito corajosa para se meter em duas destas seguidas!) Danadinhos para a maldade como são os autores, não vão repetir uma decapitação. Vão arranjar muito pior e mais chocante. No fim da quinta temporada, a rainha Margaery e o irmão Loras já foram parar aos calabouços da Inquisição lá da terra. O prognóstico é arrepiante.

Stannis, a Red Witch e o Senhor da Luz
Não apenas está Westeros cheio de psicopatas sádicos, como ainda há fanáticos religiosos por todo o lado. Nunca se pense que os autores se inspiram noutra coisa senão na realidade. Obviamente, estes fanáticos do Senhor da Luz, que adoram um só deus e queimam na fogueira os hereges, são inspirados sabemos muito bem em quem. Não é muito de estranhar que os tenham feito os mais odiosos. A série pode ter falhado em alguns desenvolvimentos, mas não falhou neste, e retrata muito bem o crescimento e implantação deste fanatismo levado a tal extremo que se até se pode ver nele a face do Mal. Melisandre, a sacerdotisa, usa uma mistura de religião e magia negra para meter na cabeça de Stannis que é o destino dele ser rei, o escolhido do Senhor da Luz.


Tudo termina de forma horrífica, quando Stannis queima viva a sua única filha, uma criança, na fogueira, em sacrifício ao Senhor da Luz, com a complacência da mãe da menina que só se arrepende tarde demais. Foi a cena mais chocante da Guerra dos Tronos, e uma das cenas mais chocantes que alguma vez se viu em televisão. Eu não gosto muito de ir comparar com os livros, mas tendo em conta a natureza da cena fui investigar e parece que isto não acontece no original. O que nos diz que os autores da série não olharão a meios para produzir efeitos chocantes. Desta vez, parece-me, foram longe demais. O que não significa que o personagem Stannis não tenha sido bem estruturado. Já se sabia que era um homem duro, capaz de tudo para atingir os seus fins, e que já tinha assassinado o irmão Renly, e que já tinha tentado sacrificar na fogueira um filho bastardo do Rei Robert (sobrinho de Stannis) que nem tinha nada a ver com a história, e que já tinha queimado na fogueira alguns parentes. Não é descabido que sacrifique a própria filha, a quem declarava amar, mas é mesmo por amar a sua filha que o sacrifício é valioso. Este vai ser o personagem mais odiado de todos os personagens odiados. Tentei imaginar que castigo merecia um homem que queima na fogueira a sua própria filha pela ambição de conquistar um trono, mas não consigo imaginar castigo suficiente que possa ser infligido por mãos humanas. Este é um castigo para Deus.
O sacrifício não resulta. Metade do exército deserta e Stannis é vergonhosamente derrotado. Sobrevive ao campo de batalha, apenas para ser encurralado por Briene de Tarth que jurou vingar a morte de Renly. No último segundo, não vemos que Stannis morreu. Há a teoria que Brienne não o matou porque o seu código de honra não lhe permitiria matar um homem ferido e indefeso (Brienne é a nobreza em pessoa). Por mim, espero que a Brienne tenha mandado a honra às urtigas e que apague a cara deste sujeito da Guerra dos Tronos.
Quanto à puta da Red Witch, Melisandre, pode morrer depois de ressuscitar o Jon Snow. Vai-me dar ainda mais gozo do que ver o Joffrey morrer, e só espero que não morra tão depressa como o Joffrey morreu.

Os Lannister
Tyrion matou o Lannister errado. Tywin, o patriarca, era um pai duríssimo, e pior ainda para o filho anão, que não considerava digno do nome de família, mas era um homem rijo que inspirava respeito. Os próprios inimigos o admitiam. Épica cena em que Tywin dá um sermão ao filho Jaime sobre o legado da família ao mesmo tempo que esfola um veado. É esse o seu legado, o homem que faz coisas, o homem que consegue coisas. (Grande interpretação de Charles Dance!)


Novamente o simbolismo do veado: Tywin Lannister consegue “eviscerar” a casa Baratheon e colocar os seus netos no trono. Com o desaparecimento de Tywin, um homem que sabia governar, o trono caiu nas mãos da víbora Cersei.
Cersei é uma sociopata funcional. (Para quem não sabe, e estas coisas deviam ser mais divulgadas, não existe diferença nenhuma entre os termos sociopata e psicopata. Os psiquiatras preferem usar ‘sociopata’ para não se confundir com psicótico, que, isso sim, é uma coisa completamente diferente. Também existe a tendência de chamar sociopata aos psicopatas menos óbvios, isto é, funcionais.) A maior parte dos sociopatas que nos rodeiam não são serial killers nem andam por aí a esfolar pessoas. São os sociopatas funcionais. Muitas vezes nem sabemos que são sociopatas se não lidarmos com eles intimamente. Outro mito é o de que os sociopatas/psicopatas são sempre muito inteligentes. Nem sempre, especialmente quando o narcisismo é tão grande que se sentem invencíveis. Cersei é uma víbora, mas uma víbora que serpenteia sem outro rumo excepto as vinganças mesquinhas que lhe ocorrem no momento. O que é que passou pela cabeça daquela cabra estúpida, só porque não gostava muito da nora, para dar poder à Inquisição lá do sítio sem pensar nas consequências? Às vezes os sociopatas lixam-se assim, excesso de confiança. O narcisismo pode provocar-lhes delírios de grandeza e invencibilidade. Com tantos telhados de vidro, a imbecil não pensou que ao dar poder a fanáticos religiosos estes se voltariam contra ela também! O que nos deu imenso gozo! Infelizmente, deixaram-na escapar! Os estúpidos dos fanáticos tiveram-na na mão e deixaram-na escapar! Ou felizmente, porque assim vamos assistir à vingança terrível com que Cersei vai atrás deles, e talvez Margaery e Loras se safem no processo?...


Joffrey, o tirano adolescente, é o psicopata sádico e disfuncional. Ao contrário do psicopata funcional, que aprendeu a passar despercebido em sociedade, o psicopata disfuncional dá logo nas vistas. Na vida real, sádicos descontrolados como Joffrey e Ramsey estariam na prisão. Joffrey não é apenas “mau” e “cruel”. Joffrey é mau e cruel sem razão e por prazer (os psicopatas não sentem empatia). Recordou-me sempre de Calígula, e de outros imperadores romanos loucos e fruto da consanguinidade. Nenhuma cena da Guerra dos Tronos me deu mais prazer do que a morte deste monstro que há muito tempo precisava de ser degolado. É sempre lindo quando os maus se matam uns aos outros. Fiquei um pouco desapontada com Cersei, porque tive esperança de que tivesse sido ela a envenená-lo ao reconhecer o monstro que tinha parido (ela própria admite a desilusão), mas, definitivamente, Cersei é incapaz de fazer algo de bom. Ou de inteligente.
Quanto a Jaime, o irmão-amante, demorei algumas temporadas a chegar a uma conclusão quanto a ele. Afinal, foi ele quem empurrou Bran da janela abaixo logo no primeiro episódio. Se lhe faltava compaixão, antes do cativeiro, e se regressou modificado, não deu para perceber. Mas Jaime revelou-se um homem intrinsecamente bom, apenas péssimo a escolher a quem amar. Alguma vez abrirá os olhos e conseguirá ver a irmã como ela realmente é? Será cego até ao fim?


Chegamos, finalmente, ao melhor.
Tyrion Lannister é uma das melhores personagens que tivemos tido o prazer de conhecer nos tempos recentes. Tyrion é tudo o que as outras personagens não são: profundo, complexo, interessante, imprevisível. Naquele vazio que são as personagens de Westeros e arredores, matar Tyrion seria uma perda irreparável. Não sei se mais alguém reparou, mas sendo inteligente, sem dúvida que é, Tyrion não precisa de ser um génio. Basta-lhe ser mais inteligente do que os outros todos, o que não é difícil. Não há ali nenhuma outra personagem que tenha o mesmo número de neurónios. (Deve ser solitário!) Tyrion impôs-se sem ser um sex  symbol, sem ser particularmente bonitinho, sem ser completamente bonzinho, sem aceitar nenhuma moral senão a sua.


Mas ainda não é, e não sei alguma vez será, a personagem que transcende os motivos mesquinhos de todas as personagens nesta história: inveja, sexo, ambição, cobardia, vingança. Todas as personagens são muito limitadas. Em tantas (porque são imensas!) nenhuma consegue transcender o mais básico da condição humana. Isto diz muito dos autores, não das personagens. Ninguém cria o que não consegue conceber.

O Rei dos Anões conhece a Mãe dos Dragões!
Já aqui me queixei muito da primeira temporada, mas vou queixar-me mais um bocadinho. Durante os três primeiros episódios, sempre que a Daenerys e o irmão dela apareciam eu não tinha ideia de quem eles eram! Só aí a meio da temporada percebi que tinham alguma relação com o Rei Louco, mas só na quinta temporada é que ficou claro que eram filhos do Rei Louco (até aí, permaneci na dúvida se seriam sobrinhos ou filhos e como é que tinham escapado). E durante duas temporadas, não consegui chegar a uma conclusão quanto ao que pensar de Daenerys. Que obsessão é aquela em reconquistar o trono de Westeros onde já não vive desde infância? De onde lhe vem a vontade de libertar os escravos? Será bondade, ou estratégia, visto que não tem mais ninguém a apoiá-la? Será um complexo de Spartacus? As motivações não estão explicadas.


Quando Robb Stark foi assassinado não tive alternativa senão começar a torcer por ela, mas Daenerys, como governante, é muito impreparada. Ela própria admite, o que prova que não é idiota: “Como é que eu quero reconquistar Westeros se nem consigo manter a ordem em Slaver’s Bay?”. É então que decide ficar por Mereen e governar. Mas Daenerys comete erros de quem não sabe nada de História. Ao retirar aos senhores de Slaver’s Bay o negócio dos escravos, esquece que está a arruinar a economia se esta não for substituída por comércio e outros sectores. Um bom governante sabe distinguir os amigos dos inimigos. Daenerys não faz a mais pequena ideia de quem são os seus aliados, culminando em atirar um dos “suspeitos” aos dragões, o que não podia ser mais contraproducente porque podia estar a vitimar um aliado. Além disso, ninguém gosta de tiranos. Em desespero de causa, Daenerys até pede conselhos à pobre Missandei, uma ex-escrava, que tem de lhe dizer, muito encavacada, que não é competente para a aconselhar (esta sim, tem neurónios!).
Adorei o episódio em que Tyrion chega a Mereen e dá a Daenerys uma tareia de inteligência tão grande que ela fica com o cérebro todo negro.


Diz ele, o que já me tinha passado pela cabeça tantas vezes: “Daenerys, mulher, porque é que tu queres voltar para Westeros? As coisas estão tão más, em Westeros, que até eu e o Varys, os dois homens mais inteligentes dos sete reinos, já nos pirámos de lá para vir aqui para o deserto no meio de nenhures. A sério, mulher, arranja uma vida! Já és rainha de Mereen, já moras no topo desta pirâmide toda fixe, vais voltar para quê? Olha que até os espectadores já estão tão desiludidos com Westeros que metade deles já está a torcer pelo exército dos mortos-vivos, e a outra metade pelo Hodor, e em Westeros ninguém te apoia!” Foi um êxtase! Felizmente, Daenerys não é burra nem louca como o pai dela, e aceita Tyrion como conselheiro.
No fim da temporada, um momento de loucura mirabolante. Encurralada pelos Filhos da Hárpia nos grandes jogos de Mereen, e sem o Spartacus e companhia para lhe safar o pêlo (mas tudo aquilo cheirava a Spartacus, outra série de sucesso, porque não aproveitar?), Daenerys salta para cima do dragão e vai com ele, pelos ares, sem saber para onde.

 Never Ending Story meets Jurassic Park

Agora ela já pode pôr no Facebook: “lol! nem sabem o que aconteceu a mimzinha! Tipo, eu não sei montar dragões nem nada, lol!, mas deu-me na cabeça e montei, e agora estou aqui no meio do nada e o meu fofinho não quer voltar para casa! LOL, estou tão perdida! Assim que voltar, vou comprar-lhe uma coleira com GPS! ;-) E vejam lá, nem sequer bebi nada! Nem um shot! Isto sou eu sóbria, nem queiram saber quando estou bêbeda, lol!”. Mas ela safa-se. Pode muito bem ser a única personagem a chegar viva ao fim disto tudo.
Até porque Daenerys não pode ser humana! Os seres humanos não são imunes ao fogo. Não me admirava nada que fosse um híbrido de extraterrestre, e que um dia destes mude de pele e a gente lhe veja o corpo de lagarto por baixo daquela aparência humana, como em “V”. Continuo sem saber muito bem o que pensar sobre ela. Ainda não estou convencida.
Os dragões são medonhos, parecem uma coisa saída do Parque Jurássico! Mas a mamã deles acha-os amorosos, o que é que se há-de-fazer?

Previsões para o futuro
Jon Snow vai ser ressuscitado!
Todos os maus vão morrer e vão ser substituídos por outra remessa de maus, ainda piores do que os primeiros.
O grande final vai ser o confronto entre o exército dos mortos e os dragões, controlados por Bran, a quem o velho do subterrâneo vai ensinar muitas coisas.
Jon Snow vai conquistar o Trono de Ferro e casar com a Daenerys, vão ter filhos lindos e vão viver felizes para sempre. (Esta teoria não é minha.)
Tyrion, Bronn e Jaime vão fugir para uma terra quente no fim do mundo e passar o resto da vida na borga! Era bom que levassem a Sansa com eles, que afinal é a esposa de Tyrion e as coisas entre eles até estavam a correr bem, e já era tempo de a desgraçada se divertir um bocadinho também! (Esta teoria é minha.)



quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Game of Thrones / A Guerra dos Tronos (primeira parte)


Sei que já cheguei tarde a esta série, só depois de terminar a quinta temporada, mas é como se diz, às vezes mais vale tarde do que nunca. Quando estreou, não tive disposição mental para uma imitação do “Senhor dos Anéis”. O poster promocional com o actor que interpretou Boromir (em cima) foi contraproducente e transmitiu-me a ideia de “imitação” que a série até não é, mas foi o que passou. Devo dizer que não sou fã de fantasia. Também não sou fã de dragões “só porque sim”, e quando tomei conhecimento de que havia dragões à mistura ainda tive menos vontade de ver. Os leitores mais “idosos” lembrar-se-ão do filme infanto-juvenil (mais infantil do que juvenil) “The Never Ending Story”. (Lembram-se? O dragão branquinho, felpudo, fofinho? O príncipe e a princesa? A música do Limahl?) Pois, estas coisas pesam para toda a vida e aventuras com dragões lembram-me toda essa fase da puberdade com o Limahl e os Duran Duran e aquilo a que tínhamos acesso nos telediscos da altura (incluindo o teledisco do Limahl com a princesa e o dragão, porque não me lembro de alguma vez ter conseguido ver o filme todo). Hoje temos nostalgia, mas garanto que a vida antes do gótico não é nada de que tenha saudades.
Já me dispersei. Falava de quê? Pois, a Guerra dos Tronos. Nunca, como este, um título em português deve ter sido mais feliz do que o título original. Porque também o título me dissuadiu de ver. “Game of Thrones” lembrou-se de outros divertimentos de que também não sou fã, Dungeons & Dragons, Magic the Gathering (?) e jogos que tais, coisas de que nunca gostei e de que nunca senti o apelo. A minha ideia da série era uma fantasia bastante adolescente e vazia, e nunca ninguém me disse o contrário.
Está explicado porque deixei passar cinco temporadas sem uma única espreitadela. Só muito recentemente comecei a ouvir rumores que me despertaram a curiosidade a ponto de dar uma hipótese à história. Comecei a reparar no guarda roupa, que é um espanto, e a ponderar a longevidade da série, que não podia ter durado tanto sem motivo, e… Oh, quem é que eu quero enganar?! Foram os white walkers, claro que foram! Um artigo por aí na net, uma imagem, e eu que tinha de saber quem eles eram! Desde o primeiro episódio, desde a primeira cena, fiquei logo agarrada por causa dos white walkers! Bastavam os white walkers e os gajos da Muralha, nem era preciso mais história nenhuma, e já bastava para me viciar!
Mas já lá vamos aos pormenores.

O sadismo está na moda?
A série não me desiludiu. Esperava uma guerra dos tronos e é uma guerra dos tronos. Longa, sangrenta e implacável. Nesse aspecto, não fui ao engano. Mas, por outro lado, considerando o sucesso da série, e que é baseada em livros e não somente num argumento televisivo, esperava mais complexidade do enredo. Não li os livros, e do que vejo da série também não tenciono ler (se os livros são melhores a série já os estragou para mim), pelo que não posso comparar diferenças e este comentário vai ser só sobre a série. (O que não importa, porque uma adaptação deve ser uma obra completa em si própria, e se não o for não é uma boa adaptação, e até me irrita um bocadinho quando leio comentários de pessoas que teimam em cruzar as histórias dos livros e dos filmes/séries como se fossem o mesmo enredo. Não é!)
Tenho ouvido dizer que a história é complicada. Não, a história é muito simples: há um trono e todos o querem, ponto final. Dizer que a história é complicada é uma crítica à má gestão dos personagens, (propositada, eu sei, mas não a torna boa por ser propositada), alguns que caem ali de pára-quedas nem sabemos de onde, outros que são mal apresentados ou caracterizados, outros que morrem ou desaparecem tão cedo que nem percebemos o que é andaram lá a fazer. Posso dizer que cheguei ao fim da primeira temporada, a mais confusa de todas, sem perceber muito bem que Theon Greyjoy não era um dos filhos do Stark, e, se não era, porque é que parecia que era. E ainda hoje, após cinco temporadas, se me perguntarem assim de repente quantos filhos tem/teve o patriarca Stark, não consigo responder sem pensar um bocadinho e se calhar esqueço-me de um ou outro. Muitos filhos, muitas personagens, muitas referências a outras personagens, presentes e passadas, todas despejadas no primeiro episódio. Coitada desta espectadora, quem é julgou que eu (alguém?) era capaz de associar tantas caras a tantos nomes? A primeira temporada foi toda assim e só na segunda comecei a perceber quem era quem.
O maior problema desta série, efectivamente, são as personagens. Quase em todos os episódios morre uma personagem principal. Aqueles espectadores que gostam de se agarrar a uma personagem preferida (ou odiada) não vão ser nada felizes a ver esta série. Eu não sou desses espectadores. Podiam morrer todos, mesmo todos, e eu ainda ia querer saber quem é que vai ficar no Trono de Ferro. É claro que com o desenrolar da acção vão aparecendo favoritos e menos favoritos, mas para mim é sempre a história que importa. O que me aborrece, na maneira como os personagens principais vão morrendo (o que até se percebe, numa série que retrata uma guerra, desde que as mortes não sejam completamente descabidas), é que cada vez que morre uma personagem fundamental à acção a história leva uma guinada súbita, o espectador é atingido por um camião na auto-estrada, anda ali às aranhas e já não sabe onde é que está a história e para onde é que deve olhar agora que chegou a um beco sem saída. Convém, para o espectador não se perder, que algumas personagens chave sirvam de coluna dorsal à acção e não desapareçam! Até se pode contar uma história desta maneira, até podem morrer todos na sexta temporada e isto acabar na décima temporada com um elenco completamente novo! Mas é uma boa maneira de contar uma história? Na minha opinião, não é. Na minha opinião, é uma péssima maneira de contar uma história. Felizmente, não me afecta muito. Nunca fui de perder o interesse numa história porque Fulano ou Fulana morreu. Que seja o Rei dos Mortos Vivos a sentar-se no Trono de Ferro, eu quero saber o FIM!
Agora vou falar do que realmente detesto nesta série. Nesta e noutras semelhantes porque tem sido uma tendência que só serve para me estragar o prazer televisivo. O sadismo desta série, como o sadismo dos Tudors, como o sadismo de Spartacus, como o sadismo de Hannibal, atinge limites insuportáveis. Tem sido uma tendência, e talvez uma tendência que atraia algum público (quem, pergunto-me?, e estremeço) mas afasta outro. A mim, estraga-me completamente a série. Gostava de poder ver outra vez, como faço em casos semelhantes de séries com muitos personagens, mas não posso porque os níveis de violência gratuita e sadismo já fizeram com que me custasse ver uma vez, quanto mais duas! É a minha experiência como espectadora que está a ser prejudicada. De onde é que vem esta ideia de que os espectadores querem ver tortura e violência injustificada (porn torture, como lhe chamam)? Não sei, porque sem dúvida a série seria tão ou mais apreciada se as horrendas perversidades não fossem acentuadas como se a série tivesse sido feita para psicopatas. Desde quando é que o sadismo está na moda?
Houve um pouco de tudo. O que me costuma indignar mais é a violência gratuita para com animais (quem é que quer ver alguém a decapitar um cavalo sem razão nenhuma, pergunto-me?!), mas desta vez conseguiram ultrapassar todos os níveis do horrível quando queimaram viva uma menina na fogueira, por ordem do próprio pai, enquanto ele assistia impávido. Que monstro quer ver isto, e com tantos pormenores e com tanto requinte? Até onde vai o mau gosto? Estamos a fazer televisão para psicopatas porquê? Não nos bastam os reais, os que existem e têm prazer em divulgar os horrores que praticam?
Não era minha intenção dar um tom tão sério a este artigo, mas acho que é algo para pensar a sério e sem brincadeiras. Será mesmo o sadismo que aumenta as audiências? Ou a audiência submete-se ao sadismo porque gosta da história mas preferia não ver meninas queimadas vivas na fogueira? O que é que tudo isto diz das audiências? Deixo as perguntas.

A partir daqui, vai haver spoilers. Quem ainda não viu até à quinta temporada devia parar e voltar mais tarde. Este artigo ainda cá vai estar, se Blogger quiser!


*** CONTÉM SPOILERS, REVELA O FIM DA TEMPORADA***


Os white walkers e a Muralha
Por onde hei-de começar? Que tal pelo princípio? Não era o que esperava ver de uma série conotada com “fantasia” que a primeira cena do primeiro episódio fosse uma cena de zombies.


Era mesmo a última coisa que esperava ver. Obviamente, fiquei viciada. Como referi acima, bastava este enredo para fazer a história e está tudo dito! Afinal, o terror é que o meu género. Assim que este elemento entra numa história, francamente, tudo passa para segundo plano. Qualquer personagem que apareça é secundário porque numa história de terror o personagem principal é sempre o monstro.
Tem sido um prazer assistir, temporada após temporada, ao aproximar do exército dos mortos. Da maneira que as coisas vão em Westeros, já há muito boa gente a torcer para que os white walkers desçam por ali abaixo e comam aqueles psicopatas todos. Há ali alguém que se aproveite? É verdade que ainda não se percebeu exactamente o que é que eles querem, mas tendo em conta que não comem bebés e que ressuscitam os mortos, não são eles a mostrar mais misericórdia naquele mundo impiedoso?
E depois, há os cavalos. Desde a primeira vez que vi os cavalos zombie até me estremece o coração de ternura e antecipação quando sei que vão aparecer. Por todos os outros que são atingidos por lanças e decapitados e queimados, (e pelos dois cavalinhos devorados por walkers no Walking Dead), já era altura de ver isto:


Isto é que eu nunca tinha visto, e desculpem lá, enternece-me o coração. Quem é que são os monstros, afinal?
Mas esta não é uma história de terror e (infelizmente) temos de falar das pessoas. Desde o primeiro episódio, nunca me entrou na cabeça o conceito da Muralha. Que sentido é que faz que os guardiões da Muralha sejam compostos, na sua maioria, por criminosos arrastados para lá contra a sua vontade e obrigados a fazer um voto de castidade? É um motim à espera de acontecer. Perguntem ao Capitão Flint de "Velas Negras". E como é que tão poucos se tentam escapar para lá da Muralha? Morte por morte, que morram livres. Passou-me logo pela cabeça assim que percebi o sistema de recrutamento. Obviamente, passou pela cabeça do Mance Rayder também, e talvez de muitos outros. Só faria sentido se entretanto os reis de Westeros tivessem deixado de acreditar na ameaça dos walkers (parece que o Inverno deles não chega todos os anos) e negligenciassem a guarda da Muralha, como me parece que fazem, mas a série não o explica convenientemente logo na primeira temporada e o espectador tem que adivinhar. Ora, era muito mais proveitoso não gastarem tantos minutos a decapitar cavalos e aproveitarem para os dedicar, em vez disso, a explicar a mentalidade de Westeros, de que o espectador nada sabe. Enquanto o espectador adivinha e não adivinha, vai-se considerando que aquela gente toda é muito estúpida por entregar a derradeira defesa dos Reinos a um bando de condenados! Motim à espera de acontecer, como acontece mesmo no Craster, e como acontece quando matam uma das personagens mais amadas da série, e talvez o único homem entre eles com os neurónios suficientes para fazer a diferença.


Ah, mas está Jon Snow mesmo morto? E permanecerá morto? Desta vez os fãs não estão a aceitar de ânimo leve e já existem várias teorias. Melisandre, a Red Witch, que acaba de chegar à Muralha, pode ressuscitá-lo (já outro antes dele foi ressuscitado pela mesma Fé no Senhor da Luz, várias vezes) e depois o próprio Jon Snow pode matar a puta de merda que merece uma morte bem lenta e dolorosa, se o Davos não a apanhar primeiro quando descobrir o que ela fez à princesa Shireen.
Outra teoria, os walkers estavam muito interessados nele da última vez que o observaram...
Eu tenho a minha teoria, de que o destino de cada uma das crianças Stark está interligado ao dos direwolves que adoptaram (seis lobos, seis crianças), e o que acontece aos lobos prenuncia o que vai acontecer ao seu dono. Não se viu que tivessem matado o Ghost!


Muitos espectadores estão muito preocupados com o Ghost. Eu também estou mais preocupada com o Ghost do que com outro personagem qualquer, sinceramente, mas seria muito bom que o Jon Snow não tivesse morrido mesmo e que o esperasse um destino muito maior do que aquela Muralha idiota e inútil que não vai servir para nada sem ele.


Antes de encerrar a Muralha, mais alguém reparou que o Samwell Tarly é uma homenagem descarada ao Samwise Gamgee do "Senhor dos Anéis"? A devoção do escritor manifesta-se. Este Sam é exactamente o contrário do outro. Quando o outro era inculto, este é erudito. Quando o outro era valente, este declara-se cobarde. Mas não é, e sabemos que não é. As únicas semelhanças entre eles não são o nome e a abundância de carnes. Samwell Tarly é o Sam que decide "abandonar" o seu "Frodo" porque sabe que não o pode carregar e não o consegue defender, mas é também o Sam que reconhece que deve partir para servir o bem maior, porque este Sam, desde pequeno, queria ser um Gandalf.
O Sam da Guerra dos Tronos conquistou-me mais respeito, pelas suas limitações e inteligência, do que o Sam do Senhor dos Anéis. Respeito e simpatia. Não queria que este morresse, mas o futuro não parece risonho.

Os Starks
Inteligência é coisa que não abunda na família Stark. A ideia com que fiquei deles, na primeira temporada, é de que eram uns nobres feudais e provincianos, contentes lá na terrinha deles e ignorantes de tudo o que se passava no mundo lá fora. Ned Stark não fazia ideia no que se ia meter ao aceitar ser Hand of the King do Rei Robert. Típica história do camarada de armas que não vê o amigo há 17 anos, quando andaram na tropa, e entretanto o amigo transformou-se num homem execrável mas o camarada continua a ver o amigo de que se lembrava de outrora. Até aqui, tudo desculpado, mas o que se passou na viagem devia ter-lhe aberto os olhos. Uma briga entre a sua filha Arya, um miúdo camponês e Joffrey, o príncipe herdeiro, faz com que o lobo de Arya ataque o filho de Robert. Sem consequências, mas Cersei, a víbora, exige que Ned Stark mate o lobo. Arya já tinha libertado o lobo, mas Cersei não se importa. Ainda havia o lobo de Sansa, irmã de Arya, que matasse esse. Ora, foi neste momento, precisamente neste momento, que Ned Stark devia ter percebido que estava a lidar com gente cruel e tirânica. Mais um neurónio naquele cérebro e teria ficado tão "doente" que não podia, de maneira nenhuma, aceitar o convite do Rei, ou qualquer desculpa que servisse. Em vez disso, matou o lobo da filha, ainda uma cria. E logo aqui, para mim, ficou "marcado". Não foi só a injustiça de tudo isto, não foi só o Rei (ou a rainha) ter mandado matar o miúdo camponês que não fez nada, foi a cegueira, a falta de inteligência de Stark na sua aceitação de que era assim que devia ser e que matar o lobo de Sansa era uma prova de lealdade.
Não lhe serviu de lição, e já em King's Landing continuou a meter o nariz no que não devia, e quando finalmente contribuiu involuntariamente para apressar a morte do Rei Robert ainda não tinha percebido como as coisas funcionavam e apareceu com um papel assinado pelo rei para depor a rainha da sua posição de regente. Teimosia, orgulho, ingenuidade. Não lhe correu bem.


Mas aqui, no final da primeira temporada, percebeu-se que as personagens não eram tão bidimensionais como pareciam. Sempre pensei que Ned Stark ia ser orgulhoso e teimoso até ao fim, e não retiraria as acusações, e não pediria misericórdia. No último momento, despontou-lhe mais um neurónio e pediu desculpa. Não lhe adiantou de nada, mas serviu para se perceber que os personagens podiam evoluir e que a história ia demorar tempo a desenvolver-se.
Entretanto, em mais uma pérola da estupidez Stark, Catelyn Stark decide prender o primeiro Lannister que encontra para o acusar de tentar matar o seu filho Bran. Nunca passou por aquela cabeça tentar descobrir primeiro qual dos Lannisters o tinha feito. Estava ali à mão o anão, vamos acusar o anão! Com esta medida, consegue começar uma guerra, não vinga o que fizeram ao Bran porque prendeu um inocente, e felizmente Tyrion consegue escapar. Serviu isto tudo para nos mostrar o material genético dos herdeiros dos Stark. (E Catelyn ainda conseguiu fazer coisas mais estúpidas do que o papel dela em "Resurrection".)
Começada a guerra para vingar Ned Stark, o princípio até é auspicioso para o seu filho Robb, aclamado Rei no Norte. Robb reúne um exército e avança para Sul sem nunca perder uma batalha. A série não é muito eficaz a mostrar a passagem do tempo mas é-nos dito que a campanha militar já durava há um ano quando Robb comete os erros fatais que não podia cometer. As tropas já não estavam tão motivadas como de início e os senhores vassalos estão desejosos de voltar para casa. Robb sabe disto, mas insiste. Numa disputa com um dos nobres acerca do refém Jaime Lannister, comete um erro ainda maior e acaba por perder uma parte importante do seu exército. Não contente com isso, ainda quebra um acordo com o nobre que lhe permitiria passagem para Sul, quando já não tem condições de continuar e vencer. O que Robb devia ter feito, para mitigar os erros, seria recuar e aquartelar-se no norte, onde os inimigos teriam dificuldade em atacá-lo, e daí pensar numa estratégia diferente enquanto ainda tinha vantagem. Mas os Stark não sabem quando desistir!


Entre o excesso de confiança, o sentido de dever, e a noção equivocada de que venceriam porque lutavam por uma causa justa, perderam aliados, perderam a vantagem, meteram-se na boca do lobo e perderam o norte. Certo que sofreram uma traição vil, mas, por causa deles, os Greyjoy, primeiro, e os Bolton, depois, ficaram à solta para aterrorizar as pessoas humildes que os Stark deviam ter protegido. Se tivessem pensado nas pessoas. Se tivessem pensado. Mas os Stark nunca pensam muito e quando pensam raramente acertam.
Mesmo assim, eu simpatizava com eles, e quando lhes aconteceu o que aconteceu na casa do velho Walder Frey (quase tão velho como o Setrakian de "The Strain", mas não tanto, porque Walder Frey, embora igualmente sinistro, não tem gotas de elixir vampírico para os olhos), fiquei sem saber por quem torcer. Muitos espectadores devem ter odiado a série neste momento.

Then Greyjoy e os outros da terra dele
De Theon Greyjoy não se sabia quase nada até decidir que era uma boa ideia trair o amigo Robb para tentar ganhar as boas graças de um pai que o despreza e a quem não via desde infância. Afinal, Theon Greyjoy era um refém na casa dos Stark desde a última guerra. Ah! Então era isso que ele era! Porque nunca se percebeu da parte dos Stark que o tratassem como menos do que um filho, o que torna a traição ainda mais grave e imperdoável.
O homem vem de uma terra onde adoram o Deus Afogado (Kthuhlu?) e tem a espinha dorsal de uma alforreca. O pai diz-lhe que tem de mudar de roupa, ele muda. O marinheiro diz-lhe que tem de mandar, ele manda. Alguém lhe sugere tomar Winterfell nas costas de Robb, ele segue o conselho. Um dos seus homens diz que ele tem de matar, ele mata. Quando as coisas lhe correm mal e o psicopata Ramsey lhe diz que agora tem que ser Reek, ele é Reek.


Mas quando Sansa pediu ajuda à alforreca, a alforreca não ajudou. Não há redenção que o salve. Este gajo precisa de morrer. Não matou os dois miúdos Stark porque não os apanhou. Em vez disso, matou dois órfãos. Nada o redime, nada. Com alguma sorte, Sansa Stark podia usá-lo como saco de treino para apunhalar alguém no pescoço e talvez o que resta desta carcaça ainda servisse para alguma coisa. As vítimas costumam causar-me compaixão mas este gajo só me causa asco. Merece tudo o que lhe aconteceu, já pagou o karma do que fez, pode bem ser despachado. E quanto àquela gente da ilha dele, os Greyjoy e os Iron Men, também não trouxeram nada de interessante à história. Que se afoguem todos e desapareçam da Guerra dos Tronos.


(continua na segunda parte deste artigo)


quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Drácula (série TV)

*** contém spoilers, mas não revela o final ***

Primeiro que tudo, estou muito agradecida a esta série! Tão agradecida, para que conste, que a minha apreciação é assumidamente parcial. Antes desta série, sempre que pensava no Jonathan Rhys Meyers só me vinha à cabeça, como se gravada por um ferro em brasa, a imagem de Henrique VIII (“The Tudors”). Obviamente, Jonathan Rhys Meyers foi escolhido para o papel para facilitar a vida aos espectadores que de outro modo não apenas teriam de assistir aos caprichos de um monarca abjecto com uma predilecção por cortar cabeças (especialmente cabeças de rainhas), como também teriam de olhar para a carantonha de um monarca abjecto e feio (como era a criatura na realidade), o que seria duplamente penoso. O casting de Jonathan Rhys Meyers tornou a experiência menos dolorosa. (Mas um monarca abjecto e feio não merecia que Jonathan Rhys Meyers lhe vestisse a pele!)
Desde os “Tudors”, portanto, não conseguia pensar em Jonathan Rhys Meyers sem horror e asco, o que era a todos os níveis uma pena!
Nem tenho palavras para agradecer que essa imagem tenha sido substituída, e com o tempo, oxalá, completamente desvanecida, e me lembre antes desta:


Embora, para dizer a verdade, Jonathan Rhys Meyers interprete os dois papéis da mesma maneira, resultando de modo elogioso para Henrique VIII que não podia ter metade do charme deste Drácula. Meyers lá tem a sua razão, um monstro é um monstro, a diferença é apenas ficcional. Mas basta de reminiscências dos “Tudors”, série que já bastou ver uma vez e não é agradável de recordar. Falemos de “Drácula”, 2013-14, série de TV.



Conde de Monte-Drácula
A minha reacção ao saber deste “Drácula” não foi famosa: “Oh não! Mais uma adaptação de Bram Stoker e ‘atravessei oceanos de tempo para te encontrar!’...”
(Por falar em *ainda* mais uma adaptação. Parece que existe um novo Drácula, filme, do qual vi algumas cenas pavorosas em que o nosso Vlad lutava usando artes marciais! Sim! Artes marciais! Drácula Kung Fu! Este arrisca-se a ser o único filme de Drácula que eu não vou ver jamais. Nem a minha compulsão obsessiva de ver tudo o que é vampiros resiste na presença de artes marciais. Não, obrigada, não.)
A série surpreendeu-me. Trata-se, sim, de uma adaptação do clássico de Bram Stoker, passada na Inglaterra vitoriana e elencando todas as personagens que já conhecemos (Drácula, Mina, Jonathan, Lucy, Renfield e Van Helsing). Mas o espectador vai ser confrontado com alguns choques, e alguns espectadores, creio, não vão conseguir ultrapassar o primeiro episódio. O que seria uma pena, na minha opinião, porque a série começa de forma esquisita mas torna-se bastante interessante.
O primeiro grande choque... Bem, antes terei de explicar porque é que Drácula está em Londres. (Não é um spoiler “grave” porque tudo o que vou dizer é esclarecido nos dois primeiros episódios.) Drácula, o verdadeiro, o único, o Impalador, Vlad Drakul, princípe da Valáquia, está em Londres sob a identidade de Alexander Grayson, empreendedor americano de grande mas recente fortuna de origem obscura (como não seria de estranhar de um americano arrivista), para se vingar da Ordem do Dragão. No seu tempo, a Ordem do Dragão queimou na fogueira a esposa adorada de Vlad (a série nunca explica exactamente porquê) e foi também a Ordem do Dragão que como castigo por heresia, e usando rituais ocultos, transformou Vlad no primeiro caminhante das Trevas, para sempre amaldiçoado. (O que foi uma péssima ideia que a Ordem do Dragão teve, mas avançando.) A Ordem do Dragão existe ainda na Inglaterra vitoriana, na forma de uma sociedade oculta, corrupta e fanática, composta apenas dos mais ricos e poderosos que não olham a meios para atingir os fins. Drácula também não olha a meios para atingir os fins. E começa a vingança. Drácula não pretende simplesmente matar os líderes; quer destruir, para sempre e de uma vez por todas, a Ordem do Dragão, e vai usar tudo ao seu dispor para o conseguir: compra, suborno, chantagem, embuste, difamação, homicídio. Tirando a parte do homicídio, a vingança de Alexander Grayson recorda o maravilhoso enredo do Conde de Monte Cristo e vai deliciar quem gosta de uma boa história de vingança.
Os ricos e poderosos da Ordem do Dragão acabam de descobrir a importância que o petróleo vai ter na economia mundial do futuro. (Como nós tão bem sabemos.) Estão dispostos a começar uma guerra com o Império Otomano para ter acesso ao petróleo do Médio Oriente. (Nós também sabemos que sim, e como!, e ainda!) Drácula pretende cortar o mal pela raiz. E aqui vem o grande choque: Drácula apresenta-se como um empresário que quer implementar uma fonte de electricidade limpa, sem fios, barata, não poluente, não dependente do petróleo!!! Electricidade gerada a partir do campo magnético da Terra!!! (Era bom, não era?) E com isto pretende destruir as grandes fortunas dos membros da Ordem da Dragão, impossibilitando a dependência petrolífera, e acabar com esta para sempre!
Quanto à Ordem do Dragão, bastará mencionar que são uma cambada de capitalistas ricos, exploradores, poluidores, os donos do mundo, os donos dos mercados, os donos dos homens, e também a mim me apetecia arrancar-lhes à dentada algumas cabeças, mesmo não sendo vampira, e daqui exorto, inequivocamente:
Drácula, amigo, o povo está contigo!


É o grande choque do primeiro episódio. Drácula, empresário?! Electricidade verde e sem fios?! No século XIX?! E internet também, não? E já agora, televisão a cores, para vermos estas séries de ficção científica?
Aconselho todos os espectadores a fecharem os olhos a esta tolice, uma tamanha tolice que pode afastar muita gente da série logo no primeiro episódio. É daquelas coisas que podem ofender irreparavelmente os intelectos mais apegados às ciências, o que compreendo, mas, como em tantas outras séries do género, às vezes temos mesmo de fingir que acreditamos se queremos apreciar o que interessa. Na minha opinião, vale a pena fechar os olhos porque há muito a apreciar. Até porque todo este ambiente laboratorial de experimentação com electricidade nos vai proporcionar cenas que evocam outro grande clássico da época, Frankenstein! E agora vou falar do segundo choque:

Van Helsing está a trabalhar com Drácula!!!
Sim, o caçador de vampiros mais famoso do mundo está de conluio com aquele que é o seu arqui-rival, o seu arqui-inimigo, o seu nemesis! E porquê? Porque a Ordem do Dragão também lhe matou a família. (Com quem eles se foram meter!) Isto não quer dizer que Drácula e Van Helsing sejam amigos. Longe disso. Mas Van Helsing é um homem racional e frio, e sabe a quem recorrer. Logo na primeira cena do primeiro episódio, vemos dois exploradores a penetrar no túmulo onde Drácula repousa há séculos. (Muito Indiana Jones.) Algo me fez logo adivinhar que um deles era Van Helsing (quem mais poderia ser?), mas pensei, mais logicamente, que Van Helsing procurava o túmulo para matar Drácula, como é costume, no que podia ser a última cena de uma história contada a partir do fim. Foi um choque perceber o quanto estava enganada. Mas um choque refrescante, admito.

Tão amigos que eles não são.

A verdade é que o personagem Van Helsing se tornou um herói por mérito próprio na cultura popular mais recente. O velho professor, fanático e algo excêntrico, do livro de Stoker, já não cai bem como caía na época. Entretanto, tivemos Van Helsing, o sex symbol, e penso que tudo mudou desde aí. Este Van Helsing (Thomas Kretschmann, que por sua vez já encarnou Drácula em “Dracula 3D”, que eu ainda não vi) é um professor de meia idade, entre o génio científico e o homem de acção. É dele a ideia da electricidade magnética, é dele a invenção do soro que permite a Alexander Grayson caminhar ao Sol durante o dia. Van Helsing também se quer vingar e também não olha a meios para atingir os fins. Enquanto Van Helsing fornece a inteligência, Drácula fornece o músculo. O maniqueísmo na ficção é algo do passado. Neste novo universo de personagens “cinzentos” já não existem muitas personagens completamente boas ou completamente más. Gosto desta adaptação que apresenta os personagens à luz da modernidade. Quem contava com outra adaptação de Stoker “à letra” pode esperar ainda outros choques:

Renfield. Adorei o que fizeram com este personagem! Não é o louco babado do hospício que come moscas e clama “Mestre! Mestre!”. Este Renfield (Nonso Anozie) é um ex-escravo norte-americano que conseguiu tirar um curso de Direito graças a um mecenas abolicionista, mas viu fechadas todas as portas de emprego devido à sua cor. Também Renfield tem muitas razões para estar zangado com os donos do mundo. Renfield, à sua maneira, também se quer vingar.

Imaginam o meu choque ao perceber que Renfield é o senhor grande e negro e, acima de tudo, são da cabeça?!

Lucy Westenra (Katie McGrath). Esta não é a Lucy namoradeira e vitoriana que só pensa em arranjar um marido. Esta é a Lucy inexperiente que ainda não sabe em que equipa joga, mas acaba por descobrir, e é na equipa da Mina. Infelizmente, não é correspondida. Infelizmente, tendo em conta as alternativas, muitos espectadores torceram para que ficassem juntas. Faziam um par bonito. Mas o que não tem de ser não tem de ser.

Como é que se podia não torcer por isto?

Jonathan Harker (Oliver Jackson-Cohen). Este também não é o Jonathan virtuoso e debilitado e merecedor de simpatia que Stoker nos apresenta. Este Jonathan é um homem frio e ambicioso, ávido de subir na vida, que chega a sugerir deixar para trás os amigos antigos (e pobres) quando começa a relacionar-se com a alta sociedade. Tem que ser Mina a intervir para que Jonathan “veja o seu erro”. No fundo, percebe-se disto que Jonathan não muda de ideias nem vê erro nenhum, só quer agradar à futura mulher (nesta versão, Mina e Jonathan ainda não são casados). Jonathan é o tipo de homem que descarta quem já não lhe é útil, e também não olha a meios para atingir os fins. Sem Mina, onde estaria a sua consciência? Aparentemente, em lado nenhum.

Não é o Jonathan Harker querido e fofinho da história de Stoker.

Por fim, Mina Murray (Jessica De Gouw), ainda o nome de solteira. Talvez seja um dos maiores choques que a Mina “doméstica” e bem comportada, do livro, se transforme, nesta série, numa mulher independente e progressista e estudante de medicina. Jonathan revela que não a merece quando é apanhado em flagrante a dizer que depois do casamento Mina se vai deixar dessas “coisas”. Mina ouve, mas perdoa-o, porque o amor é cego. E porque o amor é cego, Mina acaba por ser magneticamente atraída pelo americano recém-chegado que a adora e admira, na mesma medida em que o carácter de Jonathan progressivamente a repele. É científico. Grayson nem precisa de sex appeal sobrenatural, e não o usa. Mas esta Mina é mais racional do que emotiva e luta contra a paixão... enquanto consegue.
Afinal, Drácula sempre cruzou oceanos de tempo para a encontrar, porque (aproveitando a mitologia já existente em torno dos dois, que vem dos filmes e não do livro original de Stoker) Mina é, de facto, a reencarnação de Ilona, mulher de Vlad. Este encontro do amor, inesperado, perturba Grayson e quase o distrai da sua missão de vingança. Drácula tem aqui uma crise de consciência como também já faz parte da mitologia do vampiro moderno (o que temos de agradecer aos vampiros da senhora Rice) e por causa de Mina sente a ânsia de viver novamente, como homem, à luz do Sol. O soro, contudo, não é suficiente...

Sempre cruzaram oceanos de tempo para se encontrarem...

Todos estes novos elementos se tornam bastante interessantes à medida que a história se desenrola e são motivo para levar a sério a adaptação que recomendo vivamente.
O final é muito bom e surpreendente e abre portas para uma segunda temporada que não vai existir (a série foi mesmo cancelada). Sendo assim, a série merecia pelo menos mais um ou dois episódios para fechar a história. Talvez os autores tenham planeado uma segunda temporada mas as audiências não foram suficientes para a justificar? É uma pena. Como digo, o fim prometia, no mínimo, um último episódio para o grande e épico confronto que já ninguém esperava. E mais não posso revelar.
Posso apenas recomendar, e quando a série for repetida tenciono ver de novo. Não imagino porque é que esta adaptação tenha passado tão despercebida. Desconfio que foi a tal energia magnética, limpa e sem fios que estragou a série para muitos espectadores do primeiro episódio que não lhe deram a hipótese de um segundo. Manias de meter ficção científica em tudo às vezes dão nisto. Afinal, a tal energia magnética até não era importante para a história e podiam ter arranjado um esquema que envolvesse bancos, especulação, escândalos e política. Atingia os mesmos fins, e talvez a série tivesse mais hipóteses. Se é verdade que os fins justificam os meios, também há meios tão incompetentes que nem os fins servem. Acho que este foi um desses casos.