terça-feira, 16 de abril de 2013

Gotika: arquivos Maio 2004

maio 28, 2004

Clássicos seleccionados II

Sergei Prokofiev “Montéquios e Capuletos (Romeu e Julieta)”
Se alguma obra musical pode descrever a malvadez, é esta ameaça em forma de música que está presente no conhecidíssimo trecho de “Romeu e Julieta”. Correndo o risco de fazer poesia, ouvem-se punhais nas notas tocadas pelos violinos. O crescendo é um pouco épico e muito inquietante. A tragédia espreita.
Prokofiev nasceu a 23 de Abril de 1891 e morreu a 5 de Março de 1953. É considerado um compositor neo-clássico. O bailado "Romeu e Julieta” data de 1935.

Richard Strauss “Alvorada (Assim Falou Zaratrusta)”
É difícil ouvir certos temas sem lhe associar imagens transmitidas pelos media. O que, de certa maneira, é uma pena. A música tem que valer por si só, tem que desenhar imagens na escuridão e não ser o acompanhamento de imagens alheias. Aqui não consigo dissociar uma coisa de outra e dou por mim a imaginar encontros imediatos com naves espaciais... E o mais grave é que nem sei de onde tirei a ideia.
Richard Strauss nasceu a 11 de Junho de 1864 e veio a morrer a 8 de Setembro de 1949. Biografia e algum som aqui.






Giuseppe Verdi “Coro dos Escravos (Nabuccodonosor)”
Incluída na ópera “Nabuccodonosor”, de 1842, a canção dos hebreus escravizados na Babilónia, que recordam Sião e choram a pátria, está cheia de nostalgia, esperança e desejo de redenção em vez de revolta: “Que inspire o Senhor, ao sofrimento, virtude”.
Verdi era um compositor popular já no seu tempo. Queria encher os teatros com o povo. A sua música era extremamente apelativa e facilmente ficava no ouvido. Enfim, foi um percursor da pop... Acima de tudo, o “Coro dos Hebreus” é uma música bonita. Com tudo de mau e de bom que isso implica. Geralmente implica que na maior parte das audições não aquece nem arrefece.
Verdi compôs na época romântica. Nasceu a 10 de Outubro de 1813 e morreu a 27 de Janeiro de 1901.

Giuseppe Verdi “Dies Irae (Requiem)”
O Dies Irae é uma das partes de um Requiem. A Missa de Requiem de Verdi data de 1874.
Um requiem é uma missa católica usada em funerais e na liturgia do dia de Fiéis Defuntos. O seu nome deriva das palavras introdutórias, “Requiem æternam dona eis, Domine, et lux perpetua luceat eis”. É diferente da missa normal por substituir certas partes mais gozosas, como o Aleluia, por outros hinos, como precisamente o Dies Irae (“Dia do Julgamento”). Este hino aterrador sobre o dia do Juízo Final foi escrito por Thomas de Celano, um dos doze discípulos de Francisco de Assis, por volta de 1250.

Giacomo Puccini “Nessum Dorma (Turandot)”
Ouvida num estado de paixão, esta “canção” deve ser deliciosa. Num estado de não paixão, faz-nos querer apaixonar. O que também é delicioso.
Mas não deixa de ser uma música bonita (ver acima). Pior mesmo é a choraminguice da “Madame Butterfly”, do mesmo Puccini - não há pachorra.
Puccini nasceu a 22 de Dezembro de 1858 e morreu a 29 de Novembro de 1924. É considerado um moderno. Devido à morte do compositor, a ópera “Turandot” também ficou inacabada.

Antonio Vivaldi “As Quatro Estações, Verão”
Primeiro, foi preciso de facto apagar da mente todas as imagens televisivas de borboletas a esvoaçar e flores a desabrochar. Depois, sim, fez-se espaço para apreciar a música. Não diria que ouço aqui o Verão. Antes pelo contrário, parece-me o Outono. Não é por isso que gosto desta composição, mas porque é rápida, enérgica, forte e faz-me pensar impetuosidade dos momentos decisivos. Seja lá o que isso for.
Vivaldi (1678-1741) é um compositor barroco.

Ludwig Van Beethoven “Sonata Ao Luar (Adagio Sostenuto)”
E já que se fala em estações do ano, esta sonata faz-me lembrar o mais profundo inverno. Sozinho, de noite, um homem idoso toca piano. Recorda os dias da juventude longínqua, revisita os momentos e as pessoas que entraram na sua vida, sabe que já não lhe resta muito tempo. Mas aceita o facto placidamente, quase sem lamentação. Quase.
Aborrece-me o facto de este tema também ser demasiado tocado pelos media em geral. Tudo o que é demais enjoa. Mas a verdade é que a própria sonata já é um bocadinho enjoativa por si própria.
Beethoven (1770-1827) compôs entre os períodos clássico e romântico. A sua “Moonlight Sonata” ou “Sonata quasi una fantasia” é de 1801.






Samuel Barber “Adagio”
Esta é, provavelmente, a música mais triste que já ouvi na vida. Aqui não há esperança, não há saída, é a voz de um insuportável desespero que, mais uma vez, apenas a beleza da arte pode redimir. Mas a beleza da arte não é deste mundo, é do outro. De outro mundo de onde chega a inspiração para compor estes sons maiores do que a vida.
Nascido a 9 de Março de 1910 (morreu a 23 de Janeiro de 1981), Samuel Barber é um compositor contemporâneo de estilo dificilmente definível. O seu adagio foi usado em filmes e tocado após as mortes de Roosevelt e Kennedy (Barber era americano):

Barber was the recipient of numerous awards and prizes including the American Prix de Rome, two Pulitzers, and election to the American Academy of Arts and Letters. His intensely lyrical Adagio for Strings has become one of the most recognizable and beloved compositions, both in concerts and films (Platoon, The Elephant Man, El Norte, Lorenzo's Oil).

He originally wrote it as the second movement of a string quartet in 1936, but within two years arranged it for string orchestra. In this form, it became not only his most popular work, but also an unofficial American anthem of mourning, played after the deaths of Presidents Roosevelt and Kennedy.





Maurice Ravel “Bolero”
Épico e hipnótico. Genial.
Aluno de Gabriel Fauré (ver artigo anterior, sob “Pavane”), Maurice Ravel nasceu a 7 de Março de 1875 e morreu em 28 de Dezembro de 1937.

Bach “Toccata e Fuga em Ré Menor”
Não é de estranhar que certos temas sejam associados ao movimento gótico mesmo que muitos góticos não os conheçam. O que é de estranhar é que assim que os conhecem os góticos passem a gostar deles mesmo sem saber que os temas são associados ao movimento gótico. O que é um fenómeno completamente diferente e misterioso. É o caso da “Toccata e Fuga em Ré Menor” - em inglês “Toccata and Fugue in De minor”. Toda a vida conheci e toda a vida gostei. Não fazia ideia que mais tarde me vinham dizer que esta música está para os góticos como o relâmpago para o trovão.
Porque é épico? Porque é tocado em órgão e soaria muito melhor na ressonância magnífica de uma igreja? Pela sua grandeza? Pela sua elevação? Porque sim?
Tudo o resto que Bach escreveu me parece o rascunho da “Toccata e Fuga”. (Eu avisei.) É a tal coisa. Parece que a inspiração vem de outro mundo. Aqui Bach excedeu-se, para nosso gáudio.
Quem não sabe mesmo do que estamos a falar pode partir daqui.
Bach é considerado um barroco. Nasceu a 21 de Março de 1685 e morreu a 28 de Julho de 1750.

Publicado por _gotika_ em 08:04 PM | Comentários: (14)


Clássicos seleccionados I

Não sou de facto uma apreciadora de música clássica e erudita. De uma catrefada de êxitos que me foram gentilmente cedidos por um amigo - e falo de muitos, muitos megas! - o meu gosto só aproveitou meia dúzia. Talvez por o crivo ser tão apertado esta meia dúzia tenha mais valor. A minha opinião é subjectiva e não vale mais do que isso mas gostava de partilhar esta meia dúzia de raridades que tiveram a honra de me agradar. São poucas, muito poucas.

Carl Orff "O Fortuna"
Toda a gente conhece esta música, nem que seja como "a música do Old Spice". "O Fortuna" é o tema de abertura da ópera "Carmina Burana". Tenho o registo integral mas não morro de amores.
Descrever música por palavras não é fácil. Digamos que este épico, "O Fortuna", poderia servir para mobilizar multidões.
Carl Orff nasceu a 10 de Julho de 1895 e morreu a 29 de Março de 1982. É portanto um contemporâneo e não é um bom exemplo quando se pretende falar da música do passado... Mas que vos dizia eu? Avisei.





Gabriel Fauré "Pavane"
Gabriel Fauré nasceu a 12 de Maio de 1845 e morreu a 4 de Novembro de 1924. Foi professor de Maurice Ravel, de quem também falaremos. É considerado um pós romântico.
A versão de "Pavane" que me apaixonou tem acompanhamento coral. Depois de muita pesquisa, e de já ter desistido de encontrar o que procurava, vim a descobrir por acaso que o poema de "Pavane" foi escrito por Robert de Montesquiou-Fezensac.
"Pavane" é uma canção triste, aliás, quase todas as que vou descrever são canções tristes, mas há nesta uma doçura, uma aceitação, uma espécie de outono da vida... E no entanto, por ser tão terna e dolorosa, podia também ser uma canção de amor. Como o original não inclui palavras, cada um pode senti-lo à sua maneira.

Tomaso Giovanni Albinoni "Adagio"
Nascido a 14 de Junho de 1671 (morreu a 17 de Janeiro de 1751), Albinoni é um barroco que atraiu a atenção de Bach, seu contemporâneo.
Mas este Adagio é demasiado intemporal para parecer barroco. Ouve-se aqui a mesma tristeza do referido "Pavane" mas com uma nota trágica a fazer pesar o todo.

Wolfgang Amadeus Mozart "Lacrimosa"
A angústia está presente do princípio ao fim e ameaça mergulhar no maior desespero não fora a beleza que a salva. Foi a última obra escrita pelo compositor que morreu a 5 de Dezembro de 1791 (nasceu a 27 de Janeiro de 1756). "Lacrimosa" faz parte do seu requiem inacabado. O resto da obra - e o génio - de Mozart são sobejamente conhecidos (mas não me dizem grande coisa). Mozart é considerado um romântico.





Pyotr Ilych Tchaikovsky "O Lago dos Cisnes", Cena 10 Acto II
Já aqui, a tragédia ameaça e cumpre. A história é bem conhecida. Rendo-me ao seu clímax fatal.
“O Lago dos Cisnes” foi escrito em 1875. Tchaikovsky nasceu a 7 de Maio de 1840 e morreu a 6 de Novembro de 1893. É um compositor romântico.

(Continua. Quando, não sei.)

Publicado por _gotika_ em 02:37 AM | Comentários: (12)


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Comentário: 
Estes dois posts continham muitos mais links, incluindo onde ouvir a música. Também esses links desapareceram. Nem os compositores clássicos escapam à efemeridade da internet.

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