sábado, 23 de dezembro de 2017

O Exorcista (série)

[crítica à primeira temporada]

E depois da banhada que foi "Outcast", nada como uma série com demónios a sério, padres a sério, exorcismos a sério. Esta série não engana. É o que é, com muita acção e algumas surpresas!
Não vou estragar as surpresas. Direi apenas que é uma verdadeira sequela do filme e não tem vergonha de o ser. Se é uma boa ou má sequela, isso agora é outra questão.
Uma mulher católica e devota, Angela Rance, está convencida de que uma das suas filhas está possuída por um demónio e pede ajuda ao padre da paróquia, Tomas Ortega. Este, moderno e novato, começa por dizer-lhe que o Diabo é uma metáfora. Mas uma visita à casa de Angela fá-lo mudar de ideias.
Desde o início, a série é cheia de surpresas. Quem está possuído não é a irmã deprimida, como a mãe de ambas julgava, mas a outra, a que espalha felicidade. Muitas mais surpresas se seguem.


Se é uma série à altura do filme homónimo? Não. Nem por sombras. Tentou-se criar um ambiente semelhante, sombrio e ameaçador, mas nunca nos arrepia como o filme de 1973. Culpo principalmente os truques cinematográficos de fazer dar um salto na cadeira, que não passam disso, um susto gratuito e vazio, e efeitos especiais que nunca convencem, só prejudicam. Em certa medida, alguns destes efeitos especiais podiam estar no "Sobrenatural", especialmente aquele em que os demónios se manifestam como entidades de fumo que entram dentro do possuído pela boca. Tão Sobrenatural que quase esperávamos que ali entrassem os irmãos Winchester! Em vez deles, temos a minha cena preferida, a única que realmente me surpreendeu e empolgou.
Paralelamente à possessão que se passa na casa da família católica, onde já foi chamado também o exorcista puro e duro que é o padre Marcus porque era demais para o padre Tomas, os demónios da cidade têm em marcha uma conspiração para matar o Papa. (Parece ou não parece o Sobrenatural?) Um outro padre, o padre Bennet, entra sem aviso num desses antros de capangas possuídos… e eu pensei que ia acabar muito mal para o padreco. Pois não é que o padreco é um durão e dá uma valente coça aos possuídos? Mas não pareceu nada engraçado na altura. Foi de roer as unhas.
Entretanto, o nosso bem conhecido Pazuzu lá continuava a fazer as diabruras dele e a ameaçar torcer pescoços, mas nunca conseguiu ser a ameaça tenebrosa que nos deu pesadelos ao ver o filme original. Continua ordinário, continua porcalhão, continua a ser um bully, mas como todos os bullies ordinários e porcalhões já só nos causa desprezo, não medo. A série falhou, aqui, como sequela. As sequelas cinematográficas do primeiro filme conseguem reinventar Pazuzu e criar o mesmo ambiente de terror que nos desconforta e perturba. No Exorcista, série, já sabemos que aqueles padres durões vão dar uma coça ao Pazuzu e tudo terminará bem.
Mais interessante é mesmo a conspiração, mas quanto a esta é a motivação que falha. Por que diabo quereriam os diabos matar o Papa? Tal como disse aqui a respeito de "Outcast":
Aniquilar a “concorrência” vai contra o objectivo. Sem concorrência, como é que se corrompem as almas? A concorrência é necessária. Quanto maior e melhor a concorrência mais gozo em corromper as almas.
E é mesmo de acreditar que o assassinato do Papa por um padre possuído, transmitido em directo, causasse assim tanto choque numa era em que vemos ataques terroristas a torto e a direito? Não. Eu sei isto, vocês sabem isto, os diabos também sabem isto.
O Exorcista, série, não é portanto uma obra de excelência, mas vê-se com todo o prazer na sua simplicidade de não fugir às regras. Os diabos são maus, os padres são bons, as rapariguinhas são inocentes.
E repito, os padres são bons. Consoante a preferência, tanto o Tomas, como o Marcus, como o Bennet. Há para todos os gostos. Eu até já começava a ter um fraquinho pelo Marcus quando descobri que afinal o super-padre joga no outro campo. Sorte a minha! Escolho-os mesmo bem!...


Mas que dizia?... Ah pois, não dizia, porque não quero revelar mais nada. Recomendo aos amantes d’O Exorcista e a todos os amantes do terror em geral, não que esperem medo, mas entretenimento que baste com alguns apontamentos tétricos que não vão desiludir.
Eu cá vou ver a segunda temporada. Os padres Tomas e Marcus vão começar a trabalhar juntos e prevêem-se mais exorcismos a sério, demónios a sério, possessões a sério. Às vezes o prazer está nas coisas simples da vida.



sábado, 2 de dezembro de 2017

Medici, Masters of Florence

 

Tudo o que disse aqui sobre o rigor histórico de “Victoria”, não poderei dizer sobre “Medici, Masters of Florence”. Desta vez, e para meu desgosto, em vez de uma representação verídica dos Medici, e se há bastante a dizer sobre os Medici!, novamente enveredaram por uma versão fantasiada e falseada sobre uma das famílias mais importantes do Renascimento. É pena. É sempre pena.
Pelo menos não deliraram a figura de Cosme de Medici como o fez “Da Vinci’s Demons” (série que eu via por masoquismo e na esperança de que o Da Vinci da série conseguisse chegar a Marte metido num barril de madeira movido a vapor de água, que foi só o que faltou) mas mesmo assim transformaram de tal maneira personagens, inclusive matando um deles que não morreu assim na vida real e cuja descendência se sentou no trono de França, o que não é coisa pouca, que mais valia terem feito uma série ficcional sobre uma família de nome parecido, os Mellinis ou algo que o valha, inspirada na vida dos Medicis.  Era mais honesto e menos irritante.
Para começar, Giovanni de Medici, pai de Cosme, nunca é assassinado, o que deita por terra todo o drama “policial” de descobrir quem o matou. E isto foi só o início. Desgosta-me assistir a séries históricas que não respeitam a História, e desgosta-me ainda mais quando o objectivo é criar um enredo mais violento, supostamente mais interessante, para ver se capta a audiência da Guerra dos Tronos.
Não bastou que o actor de Cosme seja Richard Madden, o Robb Stark King in the North da Guerra dos Tronos, como ainda foram buscar David Bradley, o Walder Frey da mesma Guerra dos Tronos, para fazer o papel do pai da sua noiva, Contessina, e combinar o casamento entre ambos numa cena fria e desagradável, levando toda a gente a pensar, inevitavelmente, no Red Wedding.

[Por falar em Guerra dos Tronos, quem tem saudades da Lady Olenna pode ver a actriz Diana Rigg na segunda temporada de “Victoria” como Duquesa of Buccleuch, num papel quase igual ao da Lady Ollena embora menos dramático e mais humorístico.]

Eu tinha muito interesse nesta série devido à importância que banqueiros como os Medici tiveram no despontar do Renascimento. Vi algo disto, mas queria ver mais. E havia mais para ver. Não havia necessidade de assassinatos que nunca aconteceram e de drama fantasioso. A realidade foi suficientemente interessante, e ainda nem chegámos ao Maquiavel!
Encontrei este artigo sobre todas as imprecisões da série, para quem quiser comparar: Medici Masters of Florence. Truth and Fiction in the TV series

Se nos conseguirmos esquecer disto tudo, é uma série que entretém. Mas não educa.