quarta-feira, 27 de junho de 2007

À superfície

Do Portugal Profundo


Só hoje vi este banner de solidariedade para com o blog Do Portugal Profundo. Mais vale tarde do que nunca por isso cá está ele.

"Wolf Creek" (2005)




Realizado por Greg Mclean, este filme que recorda os clássicos "Fim de Semana Alucinante" ("Deliverance", de 1972) ou "Terror na Auto-estrada" ("Duel", de 1971) é baseado numa história real. Três jovens regressam a casa numa longa viagem de carro que atravessa o deserto australiano quando de repente a normalidade das suas vidas encontra o Mal. Este seria mais um daqueles filmes idiotas de massacres de adolescentes se os eventos retratados não pudessem de facto acontecer a qualquer pessoa, ingenuamente apanhada numa situação imprevista em que a vida deixa de ter valor.
Há muito tempo que um filme não me fazia pensar "podia ser eu".

16 em 20

Vozes a acordar

"Mas mais triste fico quando começo a olhar para os títulos que os principais jornais 'puxam' à primeira. Leio que há cada vez mais portugueses a ficarem falidos. Como as empresas que morrem. Como os negócios que deixam de ter sentido. Fico a saber que os meus compatriotas, muitos, centenas, que nasceram aqui neste rectângulo à beira Atlântico como eu, estão a alimentar as redes de escravatura da Europa. Estão cada vez mais pobres. Estão cada vez mais desesperados. Estão, portanto, na disposição de aceitar tudo. Porque têm, cada vez menos, quase nada. E partilhando o mesmo espaço, a mesma primeira página ali está: grandes bancos lucram quase nove milhões de euros por dia. É muito dinheiro!"

Rui Pedro Batista, in "Metro",
11/6/2007

domingo, 24 de junho de 2007

Vampiros e flores vermelhas

No céu cinzento sob o astro mudo
Batendo as asas pela noite calada
Vêm em bandos com pés de veludo
Chupar o sangue fresco da manada

Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhes franqueia as portas à chegada
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada

A toda a parte chegam os vampiros
Poisam nos prédios, poisam nas calçadas
Trazem no ventre despojos antigos
Mas nada os prende às vidas acabadas

São os mordomos do universo todo
Senhores à força, mandadores sem lei
Enchem as tulhas, bebem vinho novo
Dançam a ronda no pinhal do rei

Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada

No chão do medo tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos na noite abafada
Jazem nos fossos vítimas dum credo
E não se esgota o sangue da manada

Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhe franqueia as portas à chegada
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada

Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada



Zeca Afonso, "Os Vampiros"






(Não estou de modo algum a dizer que a censura regressou. Este post é apenas uma inocente canção sobre vampiros com uma florzinha para enfeitar o blog.)

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Tempo de casulo

Como uma cobra que muda de pele, sinto que estou a mudar.

sábado, 16 de junho de 2007

Pensamento do dia

Não há virtude de barriga vazia.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

À frente

"You just spent too much time running away to realise whatever you're running toward"

in "Lost"


Tenho-me questionado sobre a razão da existência (da minha em particular) desde que tomei consciência de que era uma pessoa, mais precisamente desde o momento em que me apercebi da mortalidade da condição humana. Deveria ter uns três anos nessa altura. Ao observar, distanciadamente e ao longo de muito tempo, o decurso da minha vida, cheguei à conclusão que o único propósito para eu estar aqui é cumprir uma sentença. Desde esse momento de lucidez, na tenra infância, me senti presa, encarcerada, sem fuga possível. Todas as minhas aspirações se resumem a ser livre. O poder, que eu considero o inverso da liberdade, nunca me disse nada. Nunca quis ter grilhões que me prendessem ao mundo. E contudo aqui estou, contrariada e à espera de uma oportunidade de escapar.
A frase citada lembrou-me, no entanto, de um pormenor que muitas vezes esqueço mas do qual estou bastante consciente: tudo isto tem um propósito. Não tenho a mais pequena dúvida. Como numa lição da escola, a repetição é a base da aprendizagem.
Não, não sei para o que corro quando fujo do que está aqui, mas duma coisa tenho a certeza: não corro em vão. E muito menos sem destino. Vou para algum lado. E quanto mais avanço mais próxima sinto essa realidade. Embora corra a olhar para trás, como um animal perseguido, sei que vou no caminho certo. E que está lá. À frente.