segunda-feira, 25 de novembro de 2019

The Passage


Admito que é cada vez mais difícil escrever sobre vampiros de maneira original. É que já se fez tudo, tudinho, de uma forma ou de outra. “The Passage”, valor lhe seja reconhecido, consegue ser original durante todos os episódios… excepto o último.
Cientistas à procura da cura para a gripe das aves ouvem falar de um homem de 200 anos nas florestas da Bolívia a quem os nativos chamam “jararaca” (vampiro). Os cientistas não acreditam em nada de sobrenatural e vão visitar este homem na tentativa de compreender a sua longevidade. Só que este homem é um vampiro, e como os cientistas não dão ouvidos aos avisos, o vampiro acaba mesmo por morder um deles. Como toda a gente sabe, quem é mordido por um vampiro torna-se um vampiro.
Os cientistas não desistem. Recusam-se a acreditar em vampiros e começam a fazer experiências em condenados à morte com o ADN do cientista infectado, sempre em busca de criar o elixir da imortalidade sem os efeitos secundários do vampirismo. Manipulando geneticamente o ADN dos sujeitos, a quem eles chamam “virais” porque se recusam chamá-los vampiros mesmo quando alguns elementos da experiência já lhes chamam o que eles são, os cientistas descobrem que quanto mais jovem for o “sujeito” menos “efeitos secundários” manifesta. Estes efeitos secundários são mais que óbvios 100% vampiro: aspecto de nosferatu, intolerância ao sol, força sobre-humana, poderes psíquicos, e, claro está, os “virais” alimentam-se de sangue e matam sem pensar duas vezes. Para os controlar, os cientistas têm-nos detidos sob grandes medidas de segurança, inclusive a opção de os irradiar com luz do dia, e até têm uma carga de explosivos suficiente para detonar todo o laboratório se for preciso. Mas as experiências com pessoas cada vez mais novas estão a funcionar, e os cientistas têm a “grande ideia” de testar com uma criança. Entra em cena a nossa protagonista, Amy, a miúda órfã de uma mãe toxicodependente, a quem ninguém sentiria a falta se “desaparecesse”. A miúda é esperta e tenta fugir, e consegue mesmo que o agente que a rapta tome o seu lado e a ajude, mas nem mesmo assim têm hipótese. Todo o governo apoia esta experiência clandestina e a miúda é caçada como se fosse uma foragida e é mesmo levada para o laboratório onde é inoculada com o ADN do vampirismo.
Aqui começa a minha grande crítica à série (baseada no livro homónimo de Justin Cronin, mas não conheço o livro e não sei se a série o segue à letra). Os cientistas justificam o que estão a fazer com uma “ameaçadora” pandemia de gripe das aves, mas a série nunca nos mostra nada que nos convença da necessidade do sacrifício de uma miudinha. Pelo contrário, fora do laboratório está tudo normal, ninguém está doente, ninguém está a morrer. O que torna os cientistas nuns monstros maiores do que os vampiros por muito que digam que é para o Bem Maior, blá blá blá.
Estranhamente, apesar de a miúda acabar mesmo por se transformar em vampira, isto nunca tem a gravidade que devia ter. Os cientistas sempre tinham razão, o ADN funciona de forma mais “benéfica” numa criança e Amy é uma vampira diferente, mas nunca percebemos ao certo que tipo de vampira ela é e quais são os seus poderes e vulnerabilidades. Ou até mesmo se precisa de sangue para sobreviver/manter-se forte. E digo que é estranho porque a miúda é a personagem principal, contudo a série chega ao fim e não sabemos exactamente em que é que ela se tornou.
Gostei da parte da série que se passa no laboratório. Gostei principalmente da maneira que os vampiros usam para escapar, não recorrendo à força bruta, como costuma acontecer nestas coisas, mas usando em seu benefício a relutância dos seus captores em acreditar em vampiros. Foi muito original e inteligente. Até a mim me apanhou de surpresa. Sem dúvida o melhor momento da história.
E foi assim, a série prometia, até chegarmos ao último episódio. Nunca me passou pela cabeça que isto se transformasse em mais uma versão de The Walking Dead, com flechas e tudo. Vou fingir que a série acabou um episódio antes, quando ainda era interessante e original. Em resumo, uma série “que se vê bem” sem esperar grande coisa.


segunda-feira, 11 de novembro de 2019

“Solstício”, conto de D. D. Maio, disponível em papel



Para os leitores à antiga, que gostam de tomar um livro nas mãos e afagar-lhe as páginas, “Solstício” já está disponível também em papel, na Bubok:
www.bubok.pt/livros/12040/Solsticio

O site Bubok permite o preview da capa e das páginas iniciais.

Para os amantes do e-reader, “Solstício” continua disponível para download gratuito em formato epub, aqui:
www.bubok.pt/livros/11942/Solsticio

“Solstício” é um drama romântico no género Low Fantasy. A acção centra-se em torno das celebrações do solstício de inverno em terras pagãs.

Sinopse
A noite mais longa do ano. Eric, o imperador, visita a sua prima Hildegaard nas Terras Verdes em busca da família que nunca teve e da esposa que quer vir a ter. Em terra de bruxas, sem acreditar nelas, espera-o confrontar-se com as suas próprias raízes num mundo isolado e proscrito que nunca conheceu, que nunca será o seu, e de que sempre fará parte.

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Operador de Call Center, de H.M.S. Pereira

 

Encontrei este livro por acaso, na editora Bubok, já há alguns anos. Na altura estava disponível para fazer download gratuito. Fiz. Olhei para as primeiras páginas, achei a escrita decente, e guardei até ter oportunidade de ler. Actualmente parece-me que o livro só está disponível para venda em papel, mas posso estar enganada.
Admito que o que me atraiu imediatamente foi o título, operadora de hell center que sou também, mas o livro acabou por ser mais interessante do que esperava dele.
Esta é a história das peripécias de Henrique Pissada, jovem que desistiu dos estudos por desilusão com os cursos e que acabou a trabalhar na “LusoCabo” porque foi o que encontrou primeiro. Asseguro que todos os horrores descritos são verdade: os contratos renovados mensalmente pelas empresas de trabalho temporário, os subsídios de férias e Natal incluídos no “ordenado” para parecer às pessoas que ganham mais, o supervisor (único que não é sub-contratado) que passa lá o dia de manhã à noite, a mudança de instalações mês sim mês não, o trabalho em part time porque falar como um robô durante oito horas por dia é de uma violência que só quem já teve a experiência consegue compreender. Óptimo livro para quem nunca trabalhou num call center ficar a conhecer o que se passa com os desgraçados que atendem o telefone.
Mas não se pense que este é um livro “triste”. Pelo contrário, é uma sátira divertida a uma geração entre a minha e a seguinte, a geração dos que tiraram um curso e nunca tiveram oportunidade de trabalhar no que estudaram, dos que moram com os pais ou amigos ou desconhecidos, em quartos alugados, porque trabalham mas não têm independência financeira, dos sonhos acalentados mas inúteis, das noites no Bairro Alto à toa pelas ruas. Toda uma geração completamente à toa.
Henrique Pissada é um protagonista que nos faz rir. Directo, cínico, vai relatando as suas peripécias com uma linguagem autêntica, exactamente como se fala, até mesmo um pouco como se escreve num call center (Existe uma linguagem própria de call center. É como entrar numa realidade paralela.) Henrique Pissada é preguiçoso, indiferente, egoísta, algo desonesto, anti-social, e porco. Daqueles que só toma banho e muda de roupa porque tem de aparecer minimamente apresentável no trabalho. Só mesmo minimamente. Este gajo é tudo o que uma mulher detesta num homem e ainda se pergunta porque é que não tem vida sexual. Mas não é que lhe importe muito, porque acha que tê-la não compensa o trabalho que dá.
Também Henrique Pissada anda à toa, vivendo de dia para dia sem se preocupar com um futuro mais longínquo. E com razão, porque não há futuro longínquo no horizonte. O futuro acaba ao fim do mês, com a renovação ou não do contrato. Depois, não se sabe. Continua-se à toa.
Não julgava que ia gostar tanto deste livro, especialmente considerando o protagonista. Mas admito que também gostei do livro por causa do protagonista. Henrique Pissada despe-se, na primeira pessoa, e mostra-nos quem é, e diz as coisas que se calhar até todos pensamos às vezes sem nunca admitir. Eu admito que Henrique Pissada me fez rir para dentro muitas vezes, e uma ou outra vez até para fora.
Recomendo vivamente a toda a gente que gosta de sátira e não se importa de ler umas verdades.
Não sei se o autor escreveu mais livros, ou até mesmo a continuação das aventuras de Henrique Pissada, mas em caso afirmativo gostava de conhecer mais obras de H. M. S. Pereira.