segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Gotika: arquivos Março 2004

março 10, 2004

“Entrevista com o vampiro”




Quem estranha a minha ausência tem razões para desconfiar. Pois ando entretida a ler o livro original, em inglês e tudo, tentando em vão separar-me da impressão do filme. O que é impossível.
Mas quem viu o filme pode ficar descansado, até agora tenho notado que o livro foi fielmente representado, passo a passo, sem tirar nem pôr.
Com uma imprecisãozinha grave: Quem morreu a Louis não foi a esposa ao dar à luz. Louis nunca chegou a casar. Quem morreu foi o seu irmão mais novo, devido a um acidente talvez por culpa de Louis. A versão “esposa e filho” é bem mais romântica mas também muito mais banal. O amor por um irmão é assim algo difícil de explicar?...
Uma parte omitida: Depois de tentarem matar Lestat, Louis e Claudia fogem para a Europa mas não vão direitinhos para Paris. Claudia leva Louis para a Transilvânia atrás das lendas de vampiros, à procura das respostas que Lestat não sabia dar, e encontram por lá uma espécie de vampiros zombies não-inteligentes. Acontece uma batalha gore de Louis contra os zombies. Bom material para um filme de mortos vivos série B, mas a verdade é que o livro não explica muito bem (até aqui) a existência destes zombies nem porque é que são diferentes dos protagonistas...
O livro é grande e a memória é curta, por isso posso adiantar que Brad Pitt desempenhou o papel tão bem que não é possível imaginar outro Louis. Já Tom Cruise... *suspiro* Quando é que Tom Cruise fez alguma coisa bem feita? Talvez em “Eyes Wide Shut”, com Nicole Kidman, mas com certeza devido à direcção implacável de Stanley Kubrik - era impossível falhar (“Lolita”, “Dr. Strangelove”, “Laranja Mecânica”, “2001”, “The Shinning”...)! Desde o primeiro momento percebi que aquele não era o actor para a personagem Lestat, e quanto mais leio do universo das “Vampire Chronicles” mais lamentável me parece o seu desempenho.
Outro erro de casting é António Banderas no papel de Armand. Mas alguém acredita na sua vampiricidade?...
É verdade que no primeiro livro, este “Entrevista com o Vampiro”, Lestat é representado por Louis como um monstro ignorante, egoísta, insensível, vaidoso, oportunista, traiçoeiro, sarcástico e cruel. É também verdade que Lestat é um bocadinho de isto tudo. Mas não é apenas isto. Mais tarde, o próprio Louis confessa que tem saudades do “tirano” que estava habituado a odiar e não percebe porquê. Primeira constatação, porque de facto Lestat não é mentiroso nem falso (como Louis pensou a princípio). Parecendo que não, já faz esquecer meia dúzia de defeitos. Segundo, Lestat tem momentos de verdadeira candura em que mostra a sua estranha bondade debaixo da capa de frieza com que parece encarar o mundo.





Comparando depois a sua experiência com Claudia, a muito interessante personagem da criança vampiro que não se lembra de ter sido humana, Louis acaba por confrontar-se com a verdadeira personificação do Mal.




De humano a vampiro, Louis não perde a angústia de questionar a falta de sentido da existência, tão fascinado pela beleza e efemeridade da vida quanto dominado por impulsos suicidas que nem sempre se esforça por combater. Acaba por se entregar passivamente aos acontecimentos, apenas um espectador que hesita em pertencer completamente à vida ou à morte, ao Mal ou ao Bem.

E depois, é assim... Quem não sabe o que é um gótico tem em Louis o exemplo perfeito.


Publicado por _gotika_ em 06:10 AM | Comentários: (5)


Comentários 10.02.04 +/- 4h00

Sobre o Brasil, o que eu disse foi tão somente - e repito por outras palavras para que se perceba bem - que a dificuldade em sair do ciclo de pobreza se deve muito à mentalidade portuguesa que lá ficou. Já passou demasiado tempo para que se ponha a culpa na colonização. Tal como em Portugal, que nunca foi oficialmente colonizado (embora neste preciso momento esteja vendido à Espanha, o que é uma coisa completamente diferente), reina a mentalidade do chico esperto, do pato bravo, do assalto sistemático aos bens do Estado e da empresa do patrão para benefício próprio, da economia paralela, da fuga aos impostos, do benefício de uma clientela que vampiriza e mantém uma elite no poder, enfim, do salve-se quem puder. Em ambos os casos, Portugal e Brasil, o estado de coisas perpetua-se por culpa de um massa popular inculta e ignorante, muitas vezes analfabeta ou iletrada, mantida por largas décadas à custa da ditadura. As semelhanças são demasiado óbvias para serem coincidência.
Compreendo plenamente o Pedro Henrique. No entanto, também não penso que seria diferente se o país tivesse sido colonizado por outras potências europeias. Seria com certeza um país ainda mais violento - veja-se Cuba, veja-se a Argentina, o Chile, o Haiti, a África inteira! A herança portuguesa é também uma herança de passividade, para o melhor e o pior. Mas não deixa de ser uma herança de imobilismo, e isso é o seu pior.

Ao Simplista Complicado: Da maneira como falas, dás a entender que estás muito satisfeito com a situação, que não é preciso mudar. Lamento muito que penses assim. Eu exijo mais, muito mais!

Publicado por _gotika_ em 04:24 AM | Comentários: (5)

3 comentários:

Fashion Faux Pas disse...

Verdade verdadinha que o Tó das Cruzes a fazer de Lestat é coisa para dar volta a qualquer estômago. E puseste mesmo o dedo na ferida de porque é que eu sempre embirrei com o personagem do Louis: é um gótico chapado, ahahahahahahh!!! Tem graça que quando li este livro fiquei com um calorzinho na barriga de ter gostado tanto, há um ano reli-o e já não gostei. Mas na mesma altura fui pegar nos meus Lumleys todos - e estes vampiros para mim eram o suprassumo do vampirismo - e também já não gostei com a mesma profundidade... será que começo a ficar imune ao feitiço do vampiro? Agora estou oficialmente preocupada!!

katrina a gotika disse...

Tó das Cruzes, lol!
Essa não conhecia.
Por acaso não acho que ele estivesse mal. Pelo contrário, em todos os outros papéis vejo o Lestat.
Mas achas que o outro, o da Rainha dos Vampiros, é mais o "verdadeiro Lestat"?

Da mesma forma, em cada Brad Pitt eu tento ver o Louis, mas não vejo. Podemos tirar daqui a conclusão que Brad Pitt é melhor actor que Tom Cruise?

Fashion Faux Pas disse...

Sim, podemos. E tb não acho que o outro, o Stuart Towsend, por mais que eu goste do homem, seja o Lestat. Acho que ainda não o revi em nenhum actor, mas acho que o Brad Pitt deu um excelente Louis. E voltei a ver um pouco do Louis no Lendas de Paixão.