sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Gotika: arquivos Março 2004

março 08, 2004

Drácula ainda tem descendentes vivos!

E os parentes de Vlad Drakul não gostam nada que enxovalhem o nome da família...

Publicado por _gotika_ em 02:12 PM | Comentários: (6)


Comentários 08.02.04 +/- 14h00

Apenas um acrescento pessoal ao que a Gotika já comentou. Se nós nascemos neste país, é neste país que, em princípio, temos de construir a nossa vida e dar por ele o nosso esforço. Se não isto é o quê? Uma maternidade? Ou apenas para vir passar férias? Assim preferia ter nascido noutro país para não me dar ao trabalho de ter de mudar de lugar. É espectacular a facilidade com que se vai para o estrangeiro estudar e trabalhar, com bolsas que dão para cobrir as despesas básicas...(leia-se a ironia nesta frase). Será que é um sinal de estupidez querer trabalhar no nosso país e querer que ele seja melhor, que evolua como os outros países vizinhos (já só penso naqueles que estavam em situação semelhante à nossa quando começaram a vir os subsídios comunitários)? Que este seja um país de crescimento social, cultural, económico, científico? Porque é disso que se tem estado a falar. Se a solução é ir embora, então estamos muito bem... O ensino superior em ciências não nos prepara assim tão bem para a vida activa laboral fora da universidade e do meio académico. Ok, a licenciatura serva para fornecer "ferramentas" em determinada área. E quando as "ferramentas" são insuficientes e vêm enferrujadas, para não falar de ausentes, em alguns casos? Ok, nós tratamos de as complementar e desenferrujar, tudo bem. Eu fiz isso. Pós-graduações, mestrados, cursos de formação, 5 anos de trabalho, tudo. E agora? Já depois de bater às portas todas, o que é que resta? Ir para o estrangeiro, ou tentar lutar por alguma coisa cá dentro deste país? Não teremos direito a manifestarmos o estado de coisas ou será sempre interpretado como "lamechice"? Seremos todos estúpidos? É que eu tenho uma família a meu cargo, com todas as implicações que daí advêm. Enviado por Alya em março 8, 2004 09:27 AM

Grande comentário, Alya!
Vou apenas acrescentar que está tudo dito e não me apetece responder mais a pessoas que não sabem o que dizem e nem pensam no que estão a dizer.
As minhas primas estão lá fora mas para exercerem a licenciatura lá fora tiveram de fazer uma parte do curso lá fora também, porque os nossos cursos não têm credibilidade nenhuma fora deste Ensino do terceiro mundo.
Eu não quero ir para fora. Gosto do clima e da natureza. É a única coisa que Portugal tem boa. Também me enerva aquela mentalidade muito portuguesa que é "se for para servir às mesas, vou servir às mesas para o estrangeiro". Eu posso muito bem servir às mesas AQUI. Não vou para fora com o intuito de ganhar dinheiro. Se não posso trabalhar naquilo que estudei, é-me indiferente o que faço... mas gosto do clima. Salve-se o clima!

Certamente o ensino é mau e facilitista. Mas essa é apenas a ponta do iceberg, e por isso falei da Suécia. A razão profunda é a mesma que fez, há séculos, todas as riquezas da Índia demorarem em Lisboa o tempo de transbordo para as naus holandesas e os cofres italianos. Fomos, sem saber, os primeiros empregados de mesa do mundo. É que aqui estás a falar do capitalismo, e o capitalismo é feito de uma percepção do mundo que não soubemos nunca fazer nossa. Um mundo de cálculo e de método. De cumprimento de regras exteriores e de interiorização de regras de eficácia. Um mundo que germinou nas terras frias protestantes e se alimentou da severidade das Bíblias encadernadas a negro. Um mundo de cidades e de quotidiano (um mundo, já agora, que se fez também à custa de lugares escuros e almas caladas, e não foi por acaso que o gótico vitoriano não nasceu nas terras do vinho e do sol...). Foi-nos valendo o Brasil, a África, a França. Foi-nos enganando a ideia de que se "eles", os que mandam, quisessem, o mundo seria perfeito. E agora estamos encurralados no meio da grande revolução do mundo. De facto não fizemos o trabalho de casa. De facto a juventude foi enganada, e nem sequer sabemos bem o que é que correu mal. Resta-nos a mansidão dos mortos ou o combate total que é apanágio dos vivos. Não resta mais nada. Enviado por Goldmundo em março 8, 2004 12:05 PM

Goldmundo, continuas no tempo das caravelas?... Não passou já tanta água debaixo dessa ponte?
O que me parece é que já se podia ter aprendido e aplicado os modelos estrangeiros de sucesso mas há falta de coragem política para mexer nos interesses estabelecidos. O que falta ao povo português é viajar, ver os exemplos lá fora. Onde os carros de facto param antes ainda de o peão chegar à passadeira. Onde há cinzeiros ao longo dos passeios para as pessoas não atirarem beatas para o chão. Onde se recicla o lixo. Coisas de um português ficar parvo. E isto apenas na vizinha Espanha que não é o país mais desenvolvido da Europa.

Por fim, o desemprego não afecta só os licenciados mas também as pessoas mais velhas que, em desespero, têm respondido a anúncios para ir trabalhar para o Reino Unido aliciados por 200 contos por mês, o que lá é um ordenado de miséria, e se vêem privados de assistência médica e direitos, ainda por cima sem saberem falar a língua. Casos dramáticos de todo o tipo.
Também já estou farta de que as pessoas pensem que os desempregados estão nessa situação porque são estúpidos. Pensam assim dois tipos de pessoas: os que ainda não sentiram na pele o desemprego (mas da maneira que isto vai ninguém está livre) e os mais velhos que não imaginam o que é trabalhar a recibos verdes porque no seu tempo se trabalhava numa empresa a vida inteira, da infância até à morte. Muitos recebem com choque a notícia do desemprego como se um dogma existencial tivesse desabado diante dos seus olhos. Nem se deram conta do que lhes ia acontecer!
Sim, é dramático que o país não tenha nada para oferecer excepto biscates e salários de miséria. É dramático que estejamos cada vez mais perto do Brasil: a classe média a afunilar-se, meia dúzia de ricos muito ricos e uma maioria cada vez maior de pobres (a maior parte pobres envergonhados, à "portuguesa").
E por falar no Brasil, onde reina a corrupção, o desrespeito pelos direitos humanos e a quase impossibilidade de encaminhar o país no caminho do desenvolvimento, culpo por esse estado de coisas nada mais nada menos do que a mentalidade portuguesa, eivada dos mesmos males, que deixou por lá a sua herança de cunhas.

Publicado por _gotika_ em 02:09 PM | Comentários: (19)


Comentários 08.02.04 +/- 00h00

Na Suécia, onde o clima nem sequer permitia que houvesse "empregados de mesa", havia fome e camponeses descalços há pouco mais de cem anos.

E?...
Em Portugal ainda há fome e havia camponeses descalços há bem menos de 50 anos.

Nestas terras de sol ignoramos os direitos e julgamos compensar-nos incumprindo os deveres.

Este sim, é um bom comentário.

Eu já dei aulas a futuros licenciados sem emprego. Era deprimente. Não havia sequer luta de classes e professores exploradores. Viviam todos em paz, na absoluta ignorância do que era suposto acontecer ali. Uma estudante disse-me uma vez que eu era diferente dos outros professores, "assim para o intelectual". Isto porque eu gostava de ler, e muitas vezes trazia um livro para o bar, em vez da "Bola". Mas lembro-me também, num exame de fim de curso, de um miúdo desesperado. Precisava muito de passar e tinha-se esquecido da calculadora. Sem ela, como saber quanto era "dez por cento de cem"? Ah sim, e os jipes... Enviado por Goldmundo em março 7, 2004 03:38 PM

É interessante. Admites portanto que o Ensino é facilitista. Admites portanto que as pessoas chegam ao Ensino Superior sem saber fazer contas (e sem saber Português, acrescento eu). Admites que a formação é má e massificada.
Ainda bem. Porque isto até me ajuda a justificar o próximo comentário:



Ó Gotika, isto tudo é muito bonito e eu respeito o sentimento de desilusão das pessoas face ao desemprego em que vivem. Mas bolas, leiam a declaração de Bolonha sobre a criação de um espaço europeu no sector de ensino. A questão já não é aproveitar a massa cinzenta de um país. A questão é europeia. Se falam nos exemplos dos outros países, pois bem, peçam a homologação dos diplomas, desenferrujem o inglês já que têm tanta massa cinzenta e... ala para os outros países. Mas que lamechice. Uma licenciatura não existe para dar empregos, quem tem massa cinzenta, algo a oferecer à comunidade, não fica à espera que o venham chamar ou que lhe arranjem um lugar. O Estado só tem que facultar os estudos e impedir que pessoas com mérito fiquem impossibilitadas de estudar. O resto é com cada um. Há um espaço europeu, há programas de pós-graduações, há bolsas, há estágios, há linhas de crédito, ninhos de empresas. O que é que a malta quer? um cargo de professor de biologia, química ou português num liceu de província dado pelo Estado para o resto da vida? Mas o Estado não dá isso a ninguém (excepto aos boys q são muitos e maus...) Enviado por em março 7, 2004 10:18 PM

Primeiro, o que mais me irrita no teu comentário: "ala para os outros países". Porquê? Eu gosto do clima aqui. Por acaso até nasci aqui. Estás então a admitir que neste país não há futuro...? Que a única solução é fugir...?
"Uma licenciatura não existe para dar empregos, quem tem massa cinzenta, algo a oferecer à comunidade, não fica à espera que o venham chamar ou que lhe arranjem um lugar." E será que a comunidade quer realmente receber alguma coisa ou quer, como tu muito bem insinuas, mandar a massa cinzenta para outras paragens?
"O Estado só tem que facultar os estudos e impedir que pessoas com mérito fiquem impossibilitadas de estudar. O resto é com cada um. Há um espaço europeu, há programas de pós-graduações, há bolsas, há estágios, há linhas de crédito, ninhos de empresas." Então deixa-me elucidar-te que os estudos facultados pelo Estado são de tal má qualidade que não servem para nada lá fora. Pelo menos na maioria dos cursos da área das Humanidades. Na área das ciências já não se passa o mesmo, talvez porque a Ciência é universal, mas a nível de experimentação e investigação o Ensino em Portugal continua a ser risível.
Quanto às (poucas) oportunidades que existem para sair do país - isto partindo do princípio que as pessoas são obrigadas a sair, o que já por si é dramático! - são muitas vezes insuficientes porque a verba oferecida NÃO CHEGA para sobreviver lá fora e nem toda a gente tem condições para, de facto, sair. Porque se for para lá trabalhar e estudar acaba por perder a bolsa e por perder os estudos. Não passa de um imigrante como os outros, não um estudante. E há aqui uma diferença abismal. Os já licenciados, devido à má qualidade da formação que aqui recebem, não têm a mínima possibilidade de competir com os licenciados europeus. Essa então é a maior mentira de todas. Não por falta de massa cinzenta mas por falta de conhecimentos que não lhes foram transmitidos onde deviam ter sido.
Quanto às bolsas e oportunidades verdadeiramente boas, acredites ou não - e da maneira que falas não me pareces muito dentro da realidade - são aproveitadas pelos filhos dos tais boys. De tal modo que não são divulgadas pelo povinho e, quando divulgadas, já estão preenchidas.
Eu sei que é difícil pra algumas pessoas acreditar no lamaçal em que se tornou este país, mas fingir que não estamos no lamaçal só ajuda a perpetuar a lama.
Por isso, antes de abrirem a boca vejam lá se sabem o suficiente daquilo que dizem. Se fosse assim tão fácil as pessoas não estavam na situação em que estão. Não podem ser tantos tão estúpidos.
Mas parece que algumas pessoas estão tão enterradas na lama que já não a vêem ou acham que a lama é normal. Não é.

Publicado por _gotika_ em 12:15 AM | Comentários: (3)


~~§~~


Comentário:
É curioso como esta discussão parece tão actual agora, mas como tanta gente a achava descabida na altura. Tão descabida que eu acabei por me fartar de dizer a mesma coisa. Mas não me calei sem dar luta.

2 comentários:

Fashion Faux Pas disse...

Estava a pensar nisso mesmo. Passaram 8 anos. 8 ANOS!!! E está tudo na mesma. Nada mudou, a não ser para pior. É desesperante.
http://fashionfauxpas-mintjulep.blogspot.com

katrina a gotika disse...

É por isso que faço tanta questão em publicar de novo o que foi apagado, para as memórias mais esquecediças que achavam na altura que se vivia no melhor dos mundos... até que lhes tocou na pele.