março 10, 2004
“Entrevista com o vampiro”
Quem estranha a minha ausência tem razões para desconfiar. Pois ando entretida a ler o livro original, em inglês e tudo, tentando em vão separar-me da impressão do filme. O que é impossível.
Mas quem viu o filme pode ficar descansado, até agora tenho notado que o livro foi fielmente representado, passo a passo, sem tirar nem pôr.
Com uma imprecisãozinha grave: Quem morreu a Louis não foi a esposa ao dar à luz. Louis nunca chegou a casar. Quem morreu foi o seu irmão mais novo, devido a um acidente talvez por culpa de Louis. A versão “esposa e filho” é bem mais romântica mas também muito mais banal. O amor por um irmão é assim algo difícil de explicar?...
Uma parte omitida: Depois de tentarem matar Lestat, Louis e Claudia fogem para a Europa mas não vão direitinhos para Paris. Claudia leva Louis para a Transilvânia atrás das lendas de vampiros, à procura das respostas que Lestat não sabia dar, e encontram por lá uma espécie de vampiros zombies não-inteligentes. Acontece uma batalha gore de Louis contra os zombies. Bom material para um filme de mortos vivos série B, mas a verdade é que o livro não explica muito bem (até aqui) a existência destes zombies nem porque é que são diferentes dos protagonistas...
O livro é grande e a memória é curta, por isso posso adiantar que Brad Pitt desempenhou o papel tão bem que não é possível imaginar outro Louis. Já Tom Cruise... *suspiro* Quando é que Tom Cruise fez alguma coisa bem feita? Talvez em “Eyes Wide Shut”, com Nicole Kidman, mas com certeza devido à direcção implacável de Stanley Kubrik - era impossível falhar (“Lolita”, “Dr. Strangelove”, “Laranja Mecânica”, “2001”, “The Shinning”...)! Desde o primeiro momento percebi que aquele não era o actor para a personagem Lestat, e quanto mais leio do universo das “Vampire Chronicles” mais lamentável me parece o seu desempenho.
Outro erro de casting é António Banderas no papel de Armand. Mas alguém acredita na sua vampiricidade?...
É verdade que no primeiro livro, este “Entrevista com o Vampiro”, Lestat é representado por Louis como um monstro ignorante, egoísta, insensível, vaidoso, oportunista, traiçoeiro, sarcástico e cruel. É também verdade que Lestat é um bocadinho de isto tudo. Mas não é apenas isto. Mais tarde, o próprio Louis confessa que tem saudades do “tirano” que estava habituado a odiar e não percebe porquê. Primeira constatação, porque de facto Lestat não é mentiroso nem falso (como Louis pensou a princípio). Parecendo que não, já faz esquecer meia dúzia de defeitos. Segundo, Lestat tem momentos de verdadeira candura em que mostra a sua estranha bondade debaixo da capa de frieza com que parece encarar o mundo.
Comparando depois a sua experiência com Claudia, a muito interessante personagem da criança vampiro que não se lembra de ter sido humana, Louis acaba por confrontar-se com a verdadeira personificação do Mal.
De humano a vampiro, Louis não perde a angústia de questionar a falta de sentido da existência, tão fascinado pela beleza e efemeridade da vida quanto dominado por impulsos suicidas que nem sempre se esforça por combater. Acaba por se entregar passivamente aos acontecimentos, apenas um espectador que hesita em pertencer completamente à vida ou à morte, ao Mal ou ao Bem.
E depois, é assim... Quem não sabe o que é um gótico tem em Louis o exemplo perfeito.
Publicado por _gotika_ em 06:10 AM | Comentários: (5)
Comentários 10.02.04 +/- 4h00
Sobre o Brasil, o que eu disse foi tão somente - e repito por outras palavras para que se perceba bem - que a dificuldade em sair do ciclo de pobreza se deve muito à mentalidade portuguesa que lá ficou. Já passou demasiado tempo para que se ponha a culpa na colonização. Tal como em Portugal, que nunca foi oficialmente colonizado (embora neste preciso momento esteja vendido à Espanha, o que é uma coisa completamente diferente), reina a mentalidade do chico esperto, do pato bravo, do assalto sistemático aos bens do Estado e da empresa do patrão para benefício próprio, da economia paralela, da fuga aos impostos, do benefício de uma clientela que vampiriza e mantém uma elite no poder, enfim, do salve-se quem puder. Em ambos os casos, Portugal e Brasil, o estado de coisas perpetua-se por culpa de um massa popular inculta e ignorante, muitas vezes analfabeta ou iletrada, mantida por largas décadas à custa da ditadura. As semelhanças são demasiado óbvias para serem coincidência.
Compreendo plenamente o Pedro Henrique. No entanto, também não penso que seria diferente se o país tivesse sido colonizado por outras potências europeias. Seria com certeza um país ainda mais violento - veja-se Cuba, veja-se a Argentina, o Chile, o Haiti, a África inteira! A herança portuguesa é também uma herança de passividade, para o melhor e o pior. Mas não deixa de ser uma herança de imobilismo, e isso é o seu pior.
Ao Simplista Complicado: Da maneira como falas, dás a entender que estás muito satisfeito com a situação, que não é preciso mudar. Lamento muito que penses assim. Eu exijo mais, muito mais!
Publicado por _gotika_ em 04:24 AM | Comentários: (5)
3 comentários:
Verdade verdadinha que o Tó das Cruzes a fazer de Lestat é coisa para dar volta a qualquer estômago. E puseste mesmo o dedo na ferida de porque é que eu sempre embirrei com o personagem do Louis: é um gótico chapado, ahahahahahahh!!! Tem graça que quando li este livro fiquei com um calorzinho na barriga de ter gostado tanto, há um ano reli-o e já não gostei. Mas na mesma altura fui pegar nos meus Lumleys todos - e estes vampiros para mim eram o suprassumo do vampirismo - e também já não gostei com a mesma profundidade... será que começo a ficar imune ao feitiço do vampiro? Agora estou oficialmente preocupada!!
Tó das Cruzes, lol!
Essa não conhecia.
Por acaso não acho que ele estivesse mal. Pelo contrário, em todos os outros papéis vejo o Lestat.
Mas achas que o outro, o da Rainha dos Vampiros, é mais o "verdadeiro Lestat"?
Da mesma forma, em cada Brad Pitt eu tento ver o Louis, mas não vejo. Podemos tirar daqui a conclusão que Brad Pitt é melhor actor que Tom Cruise?
Sim, podemos. E tb não acho que o outro, o Stuart Towsend, por mais que eu goste do homem, seja o Lestat. Acho que ainda não o revi em nenhum actor, mas acho que o Brad Pitt deu um excelente Louis. E voltei a ver um pouco do Louis no Lendas de Paixão.
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