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domingo, 10 de dezembro de 2023

The Haunting of Hill House (2018)


“The Haunting of Hill House” é uma série baseada no romance homónimo de Shirley Jackson de 1959. Seria difícil não gostar da série porque “The Haunting” é um dos meus filmes de terror preferidos de todos os tempos (o de 1963, não o de 1999 que não interessa nada). Não li o livro e não consigo avaliar qual é a melhor adaptação, mas deduzo que a narrativa televisiva não possa ser igual à cinematográfica.
Na verdade a série devia antes chamar-se “The Hauting of the Family Crain” porque a assombração persegue esta família durante décadas. Um dos personagens até diz que “a casa considera a família uma refeição inacabada” (ipsis verbis).
A acção passa-se no início dos anos 90, mas todo o ambiente foi pensado para dar uma ideia de intemporaralidade: podia ser nos anos 60, 70 ou 80. A família Crain compra a Mansão de Hill House, na sequência da morte da última herdeira dos Hill, no intuito de a reabilitar e voltar a vender o mais depressa possível para poderem então construir a casa dos seus sonhos. Nunca é dito mas está implícito que Olivia Crain, a mãe, é arquitecta (foi ela quem desenhou esta casa de sonho) e que Hugh, o pai, é o mestre-de-obras. Os Crain têm cinco filhos: Steve, Shirley, Theodora, e os gémeos Nell e Luke. (Só isto é um terror: cinco filhos!) A casa tem uns 100 anos e foi construída à vontade dos Hill a imitar um edifício vitoriano, algo entre um castelo e uma abadia, um verdadeiro horror estético de estilos e gostos duvidosos por dentro e por fora. Mas a casa é grande, espaçosa, ideal para uma família abastada com apetência por residências retro e uma grande sala de bailes, por isso os Crain pretendem passar lá apenas uns dois meses para a remodelar e pôr no mercado. Estes planos vão por água abaixo quando Hugh descobre um problema de bolor negro desde o terceiro andar até à cave (bem-vindos ao meu inferno, família Crain).
Hugh não desiste (até porque empatou todo o dinheiro na casa), mesmo quando coisas suspeitas começam a acontecer. Nell e Luke queixam-se de ser assombrados durante a noite mas ninguém os leva a sério. Mais grave ainda, Olivia começa a agir de forma estranha e a ter enxaquecas e sonhos muito vívidos em que fala com antigos habitantes da casa.
Quem se lembra de “The Haunting” de 1963 vai reconhecer alguns elementos que fizeram deste um grande filme de terror e que têm sido inclusivamente utilizados em filmes posteriores:
O casal Dudley, os caseiros que vivem na extremidade da propriedade e se recusam terminantemente a permanecer na casa de noite. É Clara Dudley quem diz, e repete, o aviso que ninguém ali deve ficar “in the night, in the dark” que nos arrepiou em “The Haunting”.
Os cães a ladrar que os miúdos ouvem à noite mas nunca se vêem.
A escadaria de ferro forjado em espiral na biblioteca.
As pancadas nas paredes e nas portas.
A cena em que alguém aperta a mão de uma das irmãs adormecida, que esta julga ser a irmã mais nova, mas não está ninguém na cama.
O berçário, chamado em “The Haunting” “o coração da casa” e aqui apelidado antes de “estômago” – bem apanhado!
A intenção, desta vez expressa pelo pai, de queimar a casa e salgar o terreno.

Todas estas passagens se encontram em “The Haunting”, mas “The Haunting of Hill House” não é apenas uma série de terror com assombrações e sustos e quem esperar isso vai ficar desapontado. Pelo contrário, existe uma componente dramática muito forte que me recorda outra grande série, “Six Feet Under” (se não viram deviam ver urgentemente!), sobre os problemas de uma família dona de uma agência funerária (uma das irmãs, Shirley, também é agente mortuária). E se há drama nesta família! Olivia, a mãe, suicidou-se em Hill House, atirando-se do patamar superior das icónicas escadas de ferro. O pai, Hugh, nunca quis explicar exactamente o sucedido, embora tenha perdido a custódia das crianças que cresceram com a tia materna. Steve julga que a mãe enlouqueceu e que o pai é culpado de não lhe ter prestado os cuidados devidos. Shirley tornou-se uma controladora ao extremo. Theodora tem o dom de captar vibrações sobrenaturais com o toque e anda sempre de luvas para o evitar. Luke tornou-se toxicodependente. Nell também tem problemas psicológicos, terrores nocturnos e provavelmente stress pós-traumático. Tudo remete para a casa embora ninguém lá more há mais de 20 anos. Hill House continua a assombrar os Crain, apesar das vidas normais que eles tentam levar. Como disse o pai, “uma refeição inacabada”.
A primeira a sucumbir ao apelo da casa é Nell, que se “suicida” nas escadas de ferro da mansão abandonada e vazia. (Peço desculpa pelo spoiler, mas é o que provoca todo o desenlace; ademais, acontece logo nos primeiros episódios e não é exactamente um suicídio…) Gosto tanto do drama desta série que um dos meus episódios preferidos é quando toda a família se junta para o velório e tem uma discussão “das antigas”, com toda a gente a apontar as culpas uns dos outros, a falar nas costas uns dos outros, a atirar à cara quanto dinheiro uns devem aos outros, etc, tudo sem qualquer necessidade de assombrações. É delicioso.
Mas isto é “The Haunting of Hill House” e não fica por aqui, evidentemente. O terror está apenas a começar.
A série tem as incontornáveis influências de clássicos como “Amityville” (o original) e “The Shining”, embora neste último caso seja mais ao contrário (Stephen King chegou a escrever sobre o livro de Shirley Jackson).
Não posso revelar qual é a verdadeira assombração da casa, mas começa tudo com um quarto fechado que ninguém consegue abrir. É de arrepiar os ossinhos. Adorei o puxador em forma de leão e o efeito especial dos créditos de abertura.
Curiosamente, tal como em “American Horror Story: Hotel”, quem morre na casa fica lá para sempre como fantasma. Algumas pessoas, por vários motivos, decidem morrer na casa de propósito por essa razão. Pergunto-me se a ideia também está no livro original? Tenciono ler o mais depressa possível. “The Haunting of Hill House” é uma série a não perder pelos amantes de terror.

ESTA SÉRIE MERECE SER VISTA: 2 vezes

PARA QUEM GOSTA DE: Six Feet Under, Amityville, The Shining, casas assombradas

 

domingo, 19 de julho de 2020

Stranger Things


[crítica à segunda e terceira temporadas; não revela o fim]

Confesso que passei a segunda temporada de “Stranger Things” com um encolher de ombros. Os autores prometeram que a história se ia tornar mais negra, mas afinal foi mais do mesmo e já sem o impacto da novidade da temporada inicial. A fórmula funcionou e apenas se repetiu a fórmula, mais monstros, os miúdos a caçar os monstros, muita nostalgia, música dos anos 80 (e não a melhor música nem a mais conhecida, ainda por cima. Neste aspecto a última temporada de “American Horror Story: 1984” esteve muito melhor e realmente passava as músicas que eu me lembro de ouvir em todo o lado e a toda a hora na rádio e na TV).
Mas há que admitir, os autores de “Stranger Things” são exímios contadores de histórias, gente que sabe tudo o que funciona para nos viciar. E para nos manipular. Se há coisa em que são ainda mais peritos é em manipular as nossas emoções. E o pior é que nós sabemos que estamos a ser manipulados e já vamos para lá à espera dos altos e baixos emocionais, como quem compra um bilhete para a montanha russa da última temporada, que tanto nos fazem rir como nos fazem chorar. Mesmo que às vezes haja batota pelo meio.
Por exemplo, na segunda temporada Dustin encontra um bichinho estranho e em forma de lesma que parece um girino, mas ao mesmo tempo não é nada como ele alguma vez tenha visto, e nós todos já estamos fartos de saber que aquilo veio do Upside Down e não vai acabar bem. Dustin também teria obrigação de saber, porque Dustin é tudo menos parvo, mas aqui fazem que ele esqueça o que passaram todos a lutar contra o Demogorgon. Leva o bichinho para casa, mete-o no terrário da tartaruga, e começa a alimentá-lo. Há quem discorde, mas a verdade é que até eu achei o bicho fofinho. Especialmente quando certa vez este acorda e se espreguiça, e estica as patinhas de trás à gato. Sim, claro que foi à gato para nos manipular, para ficarmos viciados no bichinho. Só que depois o bicho cresce e transforma-se numa espécie de Demogorgon e mesmo assim não paramos de ser manipulados. Há uma cena em que o bicho, já crescido, anda atrás de Dustin, mas nunca o vemos tentar atacá-lo. O bicho anda atrás de Dustin como qualquer animal de estimação anda atrás do seu cuidador. Isto é mesmo para nos partir o coração, porque já sabemos qual vai ser o destino deste pobre monstro que se calhar até gostava de Dustin. Os autores são ainda mais espertos, porque vemos uma última cena ternurenta no penúltimo ou último episódio, mas nunca vemos o que acontece realmente ao pet de Dustin, porque senão ficávamos todos com um grande amargo de boca. Dustin levou o bichinho para casa, tomou conta dele, e quando ele cresceu e se tornou perigoso expulsou-o, primeiro, e deixou que o matassem depois. Não queríamos pensar isto de Dustin, por isso a série fez batota e não nos deixa ver o que aconteceu ao Demogorgon domesticado que apesar de adulto ainda comia à mão de Dustin.
Outras manipulações são mais corriqueiras. Quando, por exemplo, nos apresentam um personagem novo que não faz parte do cast central, e passamos algum tempo com ele até nos importarmos com o que lhe acontece. E já sabemos o que isso significa, não sabemos? É claro que vai ser ele/ela a morrer para não ser preciso matar nenhum dos protagonistas. “Stranger Things” sabe-a toda e nós fingimos que não percebemos porque também queremos ser entretidos e também não queremos que nenhum dos protagonistas morra. Mas, no reverso da medalha, a certa altura todo o perigo que eles enfrentam perde as consequências porque já sabemos que não lhes vai acontecer nada. Isto priva-nos do nervosismo de roermos as unhas e sentirmos o coração apertado sempre que um dos protagonistas está em grandes apuros. A série pode agradar mais assim a certos espectadores, mas não a todos, e o que ganha em leveza perde em dramatismo.
Não há muita história nova para contar nestas duas temporadas. Os monstros do Upside Down continuam a conseguir passar-se para o nosso lado e os nossos heróis continuam a conseguir derrotá-los com muito custo e sacrifício (mas nunca o sacrifício deles).
Mas na terceira temporada, finalmente, os miúdos deixaram de ser tão infantis e começaram a entrar na puberdade. E a puberdade é muito gira, desde que não sejamos nós a passar por ela. Will, pobre puto, ainda quer jogar ao Dungeon & Dragons, mas os amigos entretanto encontraram um interesse que arruma qualquer jogo a um canto: agora têm namoradas! Will ainda não partilha esse tipo de interesse e sente-se posto de lado. Mas Mike e Lucas também só começaram a jogar este novo “jogo” há poucos meses, e sentem-se uns peixes fora de água. Alguns dos diálogos são hilariantes e lembram-me coisas que nós dizíamos uns aos outros quando éramos da idade deles. “Não sabes que as mulheres são uma espécie diferente?”, pergunta Lucas a Mike, quando Eleven cortou com Mike mas Mike quer reatar, e Lucas fala como se já soubesse tudo sobre as mulheres porque tem mais um ou dois meses de experiência, o que já o torna algo perito no assunto: “As mulheres não são racionais. Eu já deixei de andar com a Max uma meia dúzia de vezes e sempre consegui que ela fizesse as pazes comigo. Queres saber como voltar para ela? Quanto dinheiro tens? Tens de comprar-lhe um presente.” Confesso que ri às gargalhadas com as certezas deste miúdo, quando tudo era tão simples e fácil de resolver.
Mas não é, que o digam Joyce e Hopper, os adultos com a experiência toda que nem mesmo assim conseguem entender-se numa relação romântica. “Oh, poupem-me! Parem de discutir e vão fazer sexo, já, porque já ninguém vos atura!”, diz-lhes alguém, e foi a cena em que mais me ri. Não foi só isto que me fez rir, há todo um contexto que não interessa contar porque não há nada como ver.
Mas do que gostei mesmo, mesmo, foi da relação que se estabeleceu entre Hopper e Eleven, desde que ele a acolheu em segredo no fim da primeira temporada. Eleven pode ser uma miúda com super poderes, mas não passa de uma miúda que precisa de uma figura paternal, e Hopper pode ser um polícia empedernido e durão, mas é também o homem que perdeu uma filha. Quando, na segunda temporada, Eleven chega a casa já de noite, depois de sair sem dizer (ela tem doze anos, afinal, tem de pedir permissão), e vê ao longe, no alpendre, a luz do cigarro de Hopper, sentado no escuro, a fazer-lhe uma espera para lhe dar o arroz, e Eleven se sente comprometida como se nem fosse super-poderosa, é já uma dinâmica pai/filha que está a acontecer. Uma dinâmica nascida não de relações de sangue, mas mais forte ainda do que estas porque é uma dinâmica que surge do amor, da vulnerabilidade de um e de outro, ambos tão fortes e senhores de si e ambos tão necessitados da relação familiar que nunca tiveram ou que foi interrompida cedo demais.
Na terceira temporada, Hopper já age como um pai de facto, um pai à antiga, e um pai atarantado porque agora tem uma filha que namora com um rapaz (um rapaz, sozinhos no quarto dela!), e Hopper impõe regras e regras que Eleven, como qualquer miúda da sua idade, faz questão de não cumprir, e tudo isto o coloca à beira de um ataque de nervos de fumar cigarros um atrás do outro e arrancar os cabelos.
Esta série tem nostalgia que baste para todos, mas esta foi a relação que mais me interessou, uma relação entre pai e filha que é verdadeiramente original porque Eleven não é uma miúda qualquer. Este pai adoptou uma filha na mesma medida em que a filha adoptou um pai.
E por falar em nostalgia, aquela conversa entre os adolescentes Steve e Robin no chão da casa de banho do centro comercial, ambos completamente pedrados, que começa numa discussão filosófica sobre o filme “Regresso ao Futuro” e acaba com ela a confessar que gosta de miúdas, quando Steve já estava a avançar para outras águas que não as da amizade. Isto sim, trouxe-me memórias, de outras casas de banho, de outras conversas, de outras pedradas, de outras confissões.
E é assim que “Stranger Things” nos agarra. Há ali algo para todos, como na feira popular da terceira temporada, e nem começo a contar-vos a nostalgia que me bateu ao lembrar a nossa velhinha Feira Popular, onde toda a gente ia e onde toda a gente se divertia, e as saudades que eu tenho dela nas noites de verão…
“Stranger Things” vai provocar-nos no âmago das nossas recordações e são as nossas recordações, nem mais nem menos, que fazem o sucesso desta série. A fórmula resulta e não faço a mínima ideia de quanto mais tempo possa durar.
Na terceira temporada, referências e homenagens a “Terminator” (não era um Terminator, mas que parecia, parecia), a Parque Jurássico e a Alien. Fora as outras todas que eu não apanhei ou que nunca vi porque não eram o meu género.

domingo, 8 de março de 2020

Bates Motel


[crítica à primeira temporada]

Quando ouvi falar de uma série chamada “Bates Motel” e baseada no filme “Psycho”, pensei que o enredo seria: um episódio, um hóspede, um homicídio. Tipo “Dexter”.
A série tenta ser muito mais ambiciosa do que isso. O problema é se consegue atingir o que se propôs. Acabei de ver a primeira temporada e ainda não estou convencida.
“Bates Motel” pretende ser uma prequela de “Pshyco”, anacronicamente passada nos nossos dias, com um Norman Bates adolescente antes de ser o serial killer que conhecemos de Hitchcock. E qual é a figura chave na vida dele que o tornou assim? A mãe, claro está. Esta história é tanto sobre Norma Bates (a mãe), se não mais, como sobre Norman. Os próprios nomes, óbvios, dizem-nos como Norma é possessiva para com o filho. Norman é dela, Norma, e de mais ninguém. Mas esta Norma da série não é a bruxa má que se adivinha do filme (já explicarei porque digo isto).
Na primeira cena da série, o pai de Norman está morto na garagem num acidente muito suspeito. Como consequência desta morte, Norma e Norman mudam-se para a pequena vila costeira de White Pine Bay, onde ela pretende reconstruir a sua vida explorando o motel que comprou com o dinheiro do seguro de vida. Este é logo o primeiro mistério da série. A morte do pai de Norman parece tudo menos um acidente e o dinheiro do seguro dá muito jeito. Como sabemos quem é Norman Bates a nossa tendência é pensar que foi ele… até conhecermos a mãe. E Norma começa a matar, embora em legítima defesa, logo no primeiro episódio.
Não há volta a dar, Norma torna-se uma personagem ainda mais fulcral do que Norman. A interpretação de Vera Farmiga é uma força da natureza. Norma é manipuladora, emotiva, dramática e algo destrambelhada. É o próprio Norman quem a descreve melhor, numa cena em que exasperado lhe grita: “Tu és maluca!” E ela é maluca. Sabem aquelas pessoas que quanto mais se querem desenvencilhar de uma má situação, mais se embrulham? É o caso.
Mas se Norma é maluca, quem sai aos seus não degenera: Norman é mais maluco do que ela. Norman é tão “maluco” que nem sabe que é maluco. Tal como no filme, o adolescente Norman já sofre de episódios dissociativos com “apagões” em que não se lembra do que fez, à mistura com alucinações que muitas vezes nos fazem questionar se aquilo que estamos a ver está mesmo a acontecer ou se se passa apenas na cabeça dele. (Se calhar a intenção da série não era criar esta ambiguidade, mas a partir do momento em que o protagonista alucina conversas e situações a nossa dúvida é inevitável.) O domínio de Norma sobre ele é tanto manipulativo como impróprio. Norma não se parece aperceber (ou não quer admitir) que o filho já tem 17 anos. Prestes a perder o controlo sobre tudo na sua vida, Norma usa Norman como o seu ponto de apoio, quando devia ser ao contrário, ao mesmo tempo que este Norman quase adulto quer fazer tudo para ajudar a mãe, criando entre ambos uma relação de co-dependência com que muitos espectadores se vão identificar de certeza (excepto, espero eu, a parte em que Norma se vai deitar na cama com o filho como se este tivesse 3 anos).


Como se não bastasse todo este drama (direi mesmo patologia) que mãe e filho trazem com eles, White Pine Bay também não é um lugar muito seguro onde se viver. Aparentemente uma vila pacata à beira-mar, toda a economia de White Pine Bay gira em torno de criminalidade em vários graus, desde o cultivo de marijuana ao tráfico de escravas sexuais. E tudo, parece, com o conhecimento do xerife Romero (Nestor Carbonell, o Richard Alpert de “Lost”), que sabe muito mais do que dá a entender. Há até teorias de que é ele o grande Chefão do crime todo, o que nunca é confirmado na primeira temporada mas não me admiraria mesmo nada. Esta “vila pacata cheia de segredos” tem feito com que “Bates Motel” seja comparado a “Twin Peaks” e até a “Breaking Bad” (por causa das actividades criminais em cada canto), mas na minha opinião as semelhanças começam e acabam aí.

Várias séries dentro da mesma série, mas no mau sentido
Um dos grandes problemas da primeira temporada, embora com certeza tenha sido feito de propósito não fossem os espectadores aborrecerem-se, é que às vezes parece que estamos a ver séries diferentes na mesma série.
Se não, vejamos. Nesta versão, Norman tem um meio-irmão mais velho, Dylan, filho de Norma e de um relacionamento anterior ao pai de Norman (este relacionamento também é um mistério). Dylan, no meio desta maluquice toda, é um gajo normal. E por ser normal, saiu de casa o mais cedo possível e tem uma relação distante e conflituosa com a mãe. Mas, ao perder o emprego, vê-se obrigado a ir morar com ela em White Pine Bay. Nota-se que Dylan é um jovem desenrascado, mas talvez por pobreza (ele próprio se queixa que nunca tinham dinheiro para nada) não parece ter estudos. Ao chegar a White Pine Bay arranja um trabalho justamente com o gangue da marijuana, e é tão bom no que faz que é logo promovido. Mas apesar da sua ocupação criminal, Dylan acaba por revelar-se um jovem sensível e amigo do irmão, talvez a única influência normal na vida dele, que quer afastá-lo da influência tóxica de Norma. É impossível não gostar de Dylan. O próprio Norman começa por não gostar muito dele (especialmente porque Dylan odeia Norma) mas Dylan acaba mesmo por conquistá-lo com amizade, conselhos e companheirismo. Acompanhar Dylan é como ver outra série, uma série de drama e crime em que um jovem tenta desenrascar-se como pode.
Depois, temos um sub-enredo Young Adult à volta da escola nova de Norman. As miúdas populares da escola, por alguma razão, engraçam com ele, e uma delas, Bradley, até dorme com ele num momento vulnerável da vida dela. Norman julga que é o início de uma relação séria, mas afinal o sexo não significou nada para Bradley. (Alerta Norman Bates: aos 17 anos já foi seduzido, usado e descartado por uma rapariga bonita e inacessível… o que obviamente o deixa magoado. Mas magoado a ponto de querer matar todas as mulheres bonitas? Ainda não.) Ao mesmo tempo, Norman conhece Emma, uma rapariga com uma doença pulmonar grave, que, esta sim, tem um grande fraquinho por Norman, embora não seja correspondida. É através dela que Norman se envolve na descoberta das escravas sexuais chinesas que são traficadas em White Pine Bay, sendo que o motel era uma base de operações para os traficantes. Todo este sub-enredo é típico de Young Adult, em que os adolescentes se metem em aventuras que são areia a mais para a camioneta deles.


E depois temos toda a maluquice de Norma, que contagia quem contracena com ela e que muitas vezes transforma a série numa comédia negra (ou apenas comédia?). O problema é que não se percebe se o objectivo destas cenas era mesmo serem cómicas, ou se ficaram tão disparatadas que nos deixam a pensar se é para rir ou não.
Todos estes sub-enredos podiam funcionar perfeitamente, mas em “Bates Motel” simplesmente não encaixam muito bem, criando a tal sensação de que foi tudo ali pespegado com fita-cola e que estamos a ver “filmes” diferentes no mesmo filme.

Um sub-enredo muito falhado
Mas ainda sobre as escravas sexuais, foi onde a série meteu mesmo a pata na poça. Um assunto grave como este devia ser tratado com a maior seriedade, mas “Bates Motel” tratou-o com uma leviandade quase cómica. Quando deixou de interessar ao enredo principal, o sub-enredo das escravas sexuais desapareceu num instante. A escrava sexual foi, aparentemente, abatida a tiro nos bosques por um dos vilões, sem que víssemos a morte, sem que nunca mais ninguém se importasse com ela nem em descobrir o seu corpo. Pobre escrava sexual, não passou de um filler para encher episódios. Muito mau, muito mau.
O actor que faz de Deputy Shelby, o traficante de escravas, também não podia ter sido mais mal escolhido. É nada menos do que Mike Vogel (que eu conheço principalmente como protagonista de outra péssima série, “Under the Dome”; quando é que dão um papel como deve ser a este actor, que merecia muito melhor do que isto?).


Ora, basta olhar para Mike Vogel. Isto não é um homem que precise de manter uma escrava chinesa presa na cave. Isto é um homem que deve ter uma fila de mulheres à porta daqui até à China. [Sim, também estou a ser leviana, mas não resisti à piada.] Na vida real, a procura de escravas sexuais não tem nada a ver com necessidades e/ou atractivos físicos dos abusadores, mas com factores muito mais desviantes, entre eles o desejo de domínio absoluto sobre a vítima e o sadismo. Este Deputy Shelby devia ser um tipo asqueroso e sádico, mas não é nada do que vemos aqui (ou não tivemos tempo de ver porque a personagem nunca chegou a ser desenvolvida como devia ser.) O pobre actor bem tenta, o melhor que pode, transmitir este factor asqueroso à sua personagem, mas nunca teve muito com que trabalhar. Em vez de um traficante de pessoas, os seus diálogos eram mais adequados a um criminoso vulgar, um traficante de droga, por exemplo. O Deputy Shelby foi a personagem mais mal conseguida num cast que, pelo contrário, nos apresenta personagens bastante sólidas e credíveis. Mais valia terem arranjado antes uma rede de exploração de trabalho de imigrantes ilegais, o que é igualmente mau, mas não tão mau como o rapto e violação de mulheres.
Este sub-enredo das escravas sexuais foi tão mal feito, e as críticas foram tantas, que se calhar os autores da série nem o quiseram corrigir e acabaram com ele abruptamente.

Os bons momentos superam os maus
O que funciona muito bem é a dinâmica entre Norma e Norman, e até mesmo Dylan, quando a família disfuncional se encontra dentro de portas.


Aqui nota-se que “Bates Motel” foi pensado a partir de “Psycho”, com o infame cenário exterior e interior da casa e do motel, e os personagens vestidos num guarda-roupa tão retro que podia bem passar pelos anos 60, e principalmente aquelas televisões antiquíssimas onde Norman gosta de ver filmes a preto e branco. [O maior mistério da série, na minha opinião, é como é que eles conseguem manter aquelas televisões a funcionar quando há muito tempo que a minha pifou e mandar arranjar uma televisão daquelas fica mais caro do que comprar um plasma, já para não falar que essas televisões não tinham entrada para cabo nem gravador de vídeo, só para antena analógica, então como é que Norman consegue ver os filmes a preto e branco se não tem um canal “Memória”?] O pai de Emma é também um taxidermista que ensina Norman a embalsamar animais, o que faz sentido com o filme. E algumas vezes os realizadores da série filmam certas cenas com um toquezinho de Hitchcock que resulta muito bem, como daquela vez em que Norma encontra um cadáver autopsiado na sua cama e desata a gritar histericamente, algo que podia ter feito parte do filme original ou de filmes da mesma época, ou a cena em que Bradley rejeita Norman, sozinhos, rodeados de nevoeiro, e não deve ter havido um espectador que não tenha pensado que era ali, que era já, que Norman a estrangulava de raiva.
Mas Norman é um miúdo adorável, por quem torcemos, com quem não é difícil empatizar porque sabemos que durante os episódios dissociativos ele não tem consciência do que faz. Por exemplo, Norman encontra uma cadelinha abandonada e quer logo ficar com ela, mesmo quando Norma não aprova. Quando a cadela morre atropelada (isto foi para manipular os nossos sentimentos) Norman fica devastado e leva-a ao pai de Emma para a embalsamar. Como é que não se gosta de um miúdo assim?
E depois existe ainda um outro sub-enredo, em que uma professora de Literatura de Norman, de trinta anos no máximo, bonita e sexy, se interessa demasiado por ele. Em todas as cenas em que estão juntos sempre me pareceu que aquilo era ainda mais impróprio do que a relação super imprópria de Norman com a mãe. Abraços e festinhas na cara? Isto, comigo, e esse professor/professora era logo denunciado ao Conselho Directivo. Não admira que o pobre Norman fique traumatizado com as mulheres. É preciso ter azar com tantas malucas na vida dele. No fim da temporada, esta professora aparece degolada depois de uma cena em que Norman a vê mudar de roupa (talvez de propósito à frente dele), expondo uma lingerie super sexy. Mas se pensam que isto é um spoiler, pois não é! Porque antes disto a vemos ter uma violenta discussão ao telefone com um ex-namorado que parece estar a ameaçá-la (e que, segundo outras pistas, também deve estar ligado às actividades criminais da terra). Norman estava em casa da professora antes de ela morrer e volta para casa muito perturbado, com um dos seus “apagões”, mas nada nos garante que tenha sido o seu primeiro homicídio. Conhecendo a série e as suas voltas e reviravoltas, não me admirava nada que tivesse sido antes o tal ex. Mas esse é um mistério para a segunda temporada.
A verdade é que “Bates Motel” devia ser a prequela de como Norman Bates se transforma num assassino e estamos todos à espera do momento inevitável em que ele comece a matar. O maior problema da série é que não se está a ver como é que vão transformar aquele miúdo adorável num serial killer. Não é preciso ser um grande psicólogo para perceber que o problema do Norman Bates do “Psycho” era a repressão sexual e a educação puritana que recebeu. Aquela cena do duche, a faca e a mulher nua, tudo aquilo é sexualidade reprimida. E não é difícil de imaginar a Norma Bates do filme como uma daquelas mulheres para quem o sexo é algo de sujo e pecaminoso, sempre a dizer ao filho “aquelas ordinárias, olha como se comportam agora, sem decência nenhuma, isto não é de boas raparigas, não dês o desgosto à tua mãe de andar com essas galdérias, etc”. Ora, a Norma da série não é nada disto e repressão sexual é coisa que não existe naquela casa. Pelo contrário, eu diria mesmo que existe descontracção sexual a mais. Tanto da parte de Norma, sexualmente muito activa sem o esconder dos filhos, como da miúda da escola que dormiu com Norman e não significou nada, como da parte da professora que anda sempre vestida como uma mulher fatal. A temática sexual paira sempre sobre o enredo nas suas formas mais extremas (desde a parte das tais escravas sexuais até às alusões ora subtis ora explícitas de incesto, passando pela violação mostrada logo no primeiro episódio e muito realista), às vezes de forma dramática e bem feita, outras vezes não tão bem conseguida. Será por aí que a psique frágil de Norman vai ser afectada? É que uma mãe destrambelhada não chega para fazer um serial killer. A própria série o prova com o caso de Dylan, filho da mesma mãe e criado na mesma maluquice.
“Bates Motel” é uma série com muitos desequilíbrios e altos e baixos, mas estranhamente viciante, talvez devido à solidez dos personagens. Os momentos bons superam os maus e conseguimos seguir a história com interesse por muitos desvios mal pensados que nos surjam ao caminho. Além disso, a série vale a pena nem que seja só pela performance fantástica de Vera Farmiga, que eu não conhecia (embora o nome não me fosse estranho uma vez que conheço a irmã mais nova, Taissa Farmiga, de “American Horror Story”). Fiquei fã.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

American Horror Story: VAMPIROS!!!


Tropecei nesta série quase por acaso, lá muito escondida depois de The Walking Dead, como se a Fox tivesse vergonha de a mostrar ou não acreditasse que American Horror Story valesse audiências por si própria. Bem, tem sido um dos meus "prazeres envergonhados" mas também não é assim tanto caso para ter vergonha. Ao longo das cinco temporadas que já vi (há uma sexta), a série evoluiu e ganhou uma qualidade que talvez nem os próprios criadores esperassem da sua estreia, American Horror Story: Murder House.
Não comecei por ver a primeira temporada, a que só assisti recentemente. Caí de pára-quedas na segunda, "Asylum". E devo dizer que durante dois ou três episódios fiquei de boca aberta sem saber o que pensar. "Hospício" é um bom título, porque tudo aquilo me parecia uma doidice de uma mistura sem pés nem cabeça, um esmagador exagero de histórias e sub-histórias de terror, como se fosse a obra de alguém a quem tivesse sido dada oportunidade de fazer uma única série, e essa apenas, e tivesse querido meter tudo lá dentro: um hospício de freiras nos anos 50 (coisa já por si bastante assustadora, mesmo sem os choques eléctricos e os castigos corporais), uma história de lésbicas, uma ninfomaníaca, um psiquiatra serial killer, uma freira possuída pelo Diabo, um médico nazi fugido da Europa que faz experiências com os pacientes, e como se isto tudo não bastasse, e até acho que me estou a esquecer de qualquer coisa, extra-terrestres que vão e vêm e abduzem e devolvem quem lhes apetece! Uma salada russa de horror! Mas afinal a loucura era propositada.

American Horror Story: Asylum

American Horror Story é mesmo assim, um estonteante desfilar dos horrores e mitos e traumas que se alimentam do psiquismo americano profundo. O que explica o nome da série e acaba por ser o fio condutor entre temporadas. É curioso também como tão ao gosto americano estas histórias acabam sempre por ter um final feliz em família, nesta vida ou na outra. (Se vir mais uma família a enfeitar a árvore de Natal, vomito!)

 American Horror Story: Murder House

A segunda perplexidade que me causou esta série aconteceu na temporada seguinte, "Coven", com uma história de bruxas rivais (as finas e as pobres, que é como quem diz, a feitiçaria das brancas e o vodu das pretas...) em New Orleans. (Onde mais poderia ser?... Se isto tem a ver com o universo da Anne Rice ou se é o universo da Anne Rrice que tem a ver com isto, desconheço. Nunca me interessei pela saga das bruxas de Anne Rice.) 

 American Horror Story: Coven

A segunda perplexidade, dizia eu, é que muitos dos actores são os mesmos da temporada anterior a interpretar papéis completamente diferentes. Não é comum, e passada a confusão inicial o espectador habitua-se, mas este é um método muito próprio do teatro que denuncia a ambição da série. Uma ambição plenamente conseguida com grandes exibições de Jessica Lange, Kathy Bates, Denis O'Hare (que eu praticamente só conhecia de True Blood) e os outros actores mais jovens e/ou menos conhecidos que encontraram aqui uma grande oportunidade.
Admiro particularmente os momentos irrepreensíveis de Jessica Lange, a mesma que em 1976 era considerada apenas uma sex symbol para figurar na mão de King Kong. Com lucidez e ironia, esta senhora tem aproveitado magistralmente a sua idade em extraordinários papéis a tender para as divas acabadas de Hollywood nos tempos áureos das grandes estrelas de cinema. Como é que era aquela linha, "Mr. DeMille, estou preparada para o meu grande plano!"?... Jessica Lange nunca esteve tão preparada para o seu grande plano. Tem tido vários em American Horror Story e não consigo decidir em qual das personagens gostei mais dela. Ver esta mulher actuar é um prazer por si só. (Quem me dera ser assim quando tiver aquela idade!...) 

 Jessica Lange em American Horror Story: Murder House

Cada temporada tem o seu tema, e é natural que cada tema provoque maior ou menor agrado. Gostei da primeira temporada, "Murder House", que vai brincar com os mitos da casa assombrada e do Frankenstein louco (o médico, não o monstro), entre outros, tentando um pouco fazer lembrar os filmes sobre o bebé-Anticristo (Rosemary's Baby, The Omen), mas não se aventuraram muito por aí. Já não gostei tanto da quarta temporada, "Freak Show", porque não acho graça à ideia em si, e não gostei de toda aquela violência entre pessoas de carne e osso em que o sobrenatural quase não aparece. Não é o meu género de terror.

American Horror Story: Freak Show

E de repente... VAMPIROS!!!

O que é o meu género, o que eu não consigo deixar de ver nem que seja para dizer mal... Os leitores frequentes já sabem.
Não era isto que eu esperava de American Horror Story: Hotel, e ainda nem vi metade da temporada e já estou a recomendar. Vampiros! Crianças vampiro! Se não vos convence, o primeiro episódio começa ao som de "Decades" de Joy Disivion, sim, Joy Division!, e mais tarde passa "Neverland" dos Sisters of Mercy, sim, Sisters of Mercy!, e mais alguns, e até "Bela Lugosi is Dead" dos Bauhaus! E vampiros! E crianças vampiro! E muito de Shinning:

American Horror Story: Hotel

Concebido para uma audiência gótica? Talvez. Mas não deviam tê-lo sido também "Murder House" e "Coven"? Porque é que só os vampiros é que têm direito a música gótica? Não sei. Já desisti de perceber o que é que as pessoas normais pensam dos góticos.
E por falar em pessoas normais, em "Hotel" tive a oportunidade de conhecer bem a cara à Lady Gaga. Acreditem se quiserem, não a conhecia, nunca a tinha olhado duas vezes, se já ouvi alguma das músicas dela não sei porque desconheço e não tenho interesse em conhecer, e se passasse por ela na rua não a conhecia. Mas agora conheço-a! E sei que sempre que olhar para ela é só disto que me me vou lembrar:

Lady Gaga em American Horror Story: Hotel

Não há ninguém que convença a senhora a vestir-se sempre de preto? Fica-lhe tão bem!
E era isto, e basicamente: vampiros, vampiros, vampiros. E crianças vampiro. E Denis O'Hare num espaventoso papel de bicha que ainda não sei se também é vampiro ou não. E Kathy Bates noutro fantástico papelão. O resto é o mesmo do costume, mas: vampiros, vampiros, vampiros! Este "Hotel" está cheio de vampiros!
Os fanáticos do género, se ainda não viram, já sabem o que têm a fazer.



quinta-feira, 28 de julho de 2016

The Unborn / Espírito do Mal (2009)

 

Há muito tempo que não consigo fazer uma crítica a um filme de terror. Exactamente o mesmo tempo há que não vejo nada que mereça ser criticado. É verdade que cada vez é mais difícil produzir um filme deste género que seja completamente original e que cumpra o objectivo (terror = aterrorizar, assustar), mas não é também verdade que o objectivo é plenamente atingido em quase todos os episódios de The Walking Dead? Desconfio bem que os bons argumentistas se mudaram para a televisão: Breaking Bad, Lost, Wayward Pines, American Horror Story, Sobrenatural, só alguns nomes sem pensar muito. Onde os argumentistas estão muito melhor, na minha opinião. Não é estranho que dê por mim a preferir uma boa série a um filme medíocre de 90 minutos. Da mesma maneira que sempre preferi um romance de mil páginas a qualquer conto curto. Gostar de séries é uma sequência natural.
 The Unborn / Espírito do Mal também não merece grande crítica. Pelo menos fez algum sentido, que há muito tempo os filmes de terror que tenho visto nem se esforçam por fazer! A heroína começa a ser assombrada por um espírito errante que quer voltar ao mundo dos vivos e possuí-la. A primeira parte até é bem construída, promissora de algo interessante. Infelizmente, o filme perde-se muito depressa em sustos e gritos, e imagens de "meter medo" completamente previsíveis que acabam por não meter medo porque não têm consistência lógica em que se basear. Assim:


A rapariga grita muito, grita que se farta, grita demais, o fantasma grita quando a vê, as visões gritam também. Tive de baixar o som muitas vezes tal era a gritaria. As imagens de meter medo, como esta acima, faziam mais sentido na capa de um álbum de death metal ou coisa assim. E depressa o filme descambou num exorcismo, e aqui começou a desfilar a sucessão de clichés que toda a gente já viu um milhão de vezes. Até nazis o filme conseguiu meter! Dou-lhes um pontinho pela originalidade, ainda assim, porque supostamente foi um exorcismo hebraico. Não sei se foi ou não, só relato o que me venderam. (Mas nunca vi uma heroína gritar tanto durante um exorcismo sem que ninguém lhe estivesse a fazer mal nenhum. Este filme devia-se chamar "Screams", mas o nome já estava registado.)
Entristece-me dizê-lo mas este foi o menos pior filme de terror que vi em muitos anos. Pelo menos teve cabeça, tronco e membros, e entreteve-me durante os 90 minutos. Não é um filme de se que exija mais.

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