[contém alguns spoilers]
Quando vemos as duas primeiras temporadas de ”Bates Motel” podemos ter a sensação errada de que servem para encher chouriços. Afinal, toda a gente conhece a história e sabe como vai acabar. Só resta saber como é que se vai chegar lá. Como é que aquele rapazinho amoroso se vai transformar no louco assassino Norman Bates.
No entanto, ao rever estas mesmas temporadas compreendemos a sua importância, e que nos mostram como era a vida “normal” da família Bates antes de tudo descambar numa espiral trágica de destruição. E até percebemos outra coisa, que o jovem actor Freddie Highmore já mostra em Norman um distanciamento dos outros, um pouco à-vontade, uma série de tiques que pareciam normais num rapaz de 17 anos mas que prenunciavam algo de muito mais grave.
Quem diria que seria Dylan, o meio-irmão de Norman e igualmente filho de Norma, que nem sequer existe no filme, a resolver tudo no fim?
Estas primeiras temporadas, com os seus enredos de traficantes de droga (e não só) mostram-nos que por muito disfuncional que seja o submundo do crime, não existe nada mais disfuncional em White Pine Bay do que o que se passa em casa dos Bates. É entre aquelas quatro paredes da casa icónica sobranceira ao motel que o drama ferve, todos os episódios.
Chegamos à terceira temporada e a família disfuncional começa a desagregar-se de maneiras que nunca poderíamos ter adivinhado. De “apagão” em ”apagão”, Norman transforma-se num assassino. Continuamos a empatizar com ele porque Norman também não sabe quem é quando perde a consciência. Foi arrepiante observar como Freddie Highmore se transforma de Norman em Norma em frente ao psiquiatra. Foi arrepiante descobrir que alguns destes encontros com o psiquiatra só aconteceram na cabeça de Norman. Foi arrepiante sabermos que a certa altura Norman saía de casa e comportava-se como Norma, sem que de tal tivesse consciência.
Chegamos à quarta temporada e é altura de a série nos partir o coração. Longe da influência de Norman (que está institucionalizado), Norma e Romero apaixonam-se, e por uma vez na vida Norma experimenta uma relação normal. Se isto não fosse uma tragédia, até poderíamos sonhar com um final feliz. Norma e Romero estão felizes. Romero está tão apaixonado e empenhado na relação que casa com Norma de um dia para o outro, para ela ter seguro para poder internar Norman numa instituição de luxo. Mas é claro que Norman não fica nada feliz quando descobre que a mãe casou com “outro” homem. Como ele próprio diz à mãe: “Nada disto é normal. Éramos só nós dois, lembras-te? O cordão que nos unia para sempre? E agora pões-me de parte como se eu não fosse importante para ti?” Ele tem razão. Muita da culpa da relação disfuncional mãe/filho é efectivamente de Norma. Quando ela se quis afastar, Norman não abriu mão dela. Há muito tempo que aquela relação era tudo menos normal. Por exemplo, foi tudo tão rápido que Norma não quer contar a Norman que se casou, e que se casou principalmente por causa dele, para ter direito ao seguro de Romero, e manda o marido embora por umas noites até ter tempo de explicar o casamento ao filho. Logo nessa noite, Norman está a dormir na cama dela.
Nunca há incesto, de forma alguma. A possessividade de Norman em relação à mãe é de outra natureza, uma natureza que um rapaz mentalmente equilibrado conseguiria ultrapassar, mas Norman não é um rapaz equilibrado. Pela primeira vez, vira a sua fúria contra a mãe. Norma foi avisada, tanto pelo filho Dylan como pelo marido Romero, e chegam a encontrar-se os dois para decidirem um plano de acção. Mas, como eles dizem, Norma é cega em relação a Norman e prefere rejeitá-los a aceitar ajuda contra o filho. O único resultado é a tragédia.
Na quinta temporada, Romero quer vingança. Por sorte de Norman, Romero não a consegue de imediato, deixando o novo assassino em série liberto para continuar o seu reino de terror durante mais algum tempo. Este sim, é o Norman Bates que nós já conhecemos do filme “Psycho” (embora mais novo), com a cena do chuveiro e tudo.
Mas não se pense que Norma (Vera Farmiga) sai de cena. Norma está sempre presente, um alter ego de Norman que “toma controlo da situação” quando Norman se sente assoberbado. Norma, personalidade secreta de Norman, mata para o proteger. Por esta altura, Norman está completamente descontrolado, vivendo num mundo de fantasia na sua cabeça em que Norma está viva, em que até põe comida, todos os dias, à sua cadela que ele próprio empalhou depois de atropelada. É a personalidade completamente desagregada.
Valeu a pena ver as primeiras temporadas, como eu dizia, para percebermos como é que se chegou aqui. Não de um momento para o outro mas passo a passo, observando o miúdo adorável de 17 anos transformar-se num serial killer confuso e desorganizado que mal consegue esconder o que está a fazer.
E depois temos Vera Farmiga, uma força da natureza, tão boa no papel de morta como o era no papel de viva. Porque às vezes o que nos perturba mais são os pormenores: a cozinha de pantanas, a tigela de cão a transbordar, os jantares em que Norman insiste em pôr dois pratos, as conversas em que Norma é incluída embora lá não esteja. Verdadeiramente arrepiante. Conseguimos sentir e partilhar o terror ou desconforto, conforme, de quem se apercebe da situação em que caiu.
Quem diria que o que começou tão normalmente, mãe e filho a chegarem a uma casa nova para gerir o negócio do hotel, ia acabar em tal insanidade? Uma insanidade que nós vamos acompanhando e compreendendo, como se Norman, ele próprio, fosse um edifício que vai ruindo aos poucos até já nem restarem alicerces onde se apoiar.
Recomendo esta grande série e direi mesmo que as três últimas temporadas são imperdíveis para os amantes do género. Se já antes conhecíamos Norman Bates, nunca o olharemos da mesma maneira.
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domingo, 31 de outubro de 2021
Bates Motel (2013–2017)
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domingo, 8 de março de 2020
Bates Motel
[crítica à primeira temporada]
Quando ouvi falar de uma série chamada “Bates Motel” e baseada no filme “Psycho”, pensei que o enredo seria: um episódio, um hóspede, um homicídio. Tipo “Dexter”.
A série tenta ser muito mais ambiciosa do que isso. O problema é se consegue atingir o que se propôs. Acabei de ver a primeira temporada e ainda não estou convencida.
“Bates Motel” pretende ser uma prequela de “Pshyco”, anacronicamente passada nos nossos dias, com um Norman Bates adolescente antes de ser o serial killer que conhecemos de Hitchcock. E qual é a figura chave na vida dele que o tornou assim? A mãe, claro está. Esta história é tanto sobre Norma Bates (a mãe), se não mais, como sobre Norman. Os próprios nomes, óbvios, dizem-nos como Norma é possessiva para com o filho. Norman é dela, Norma, e de mais ninguém. Mas esta Norma da série não é a bruxa má que se adivinha do filme (já explicarei porque digo isto).
Na primeira cena da série, o pai de Norman está morto na garagem num acidente muito suspeito. Como consequência desta morte, Norma e Norman mudam-se para a pequena vila costeira de White Pine Bay, onde ela pretende reconstruir a sua vida explorando o motel que comprou com o dinheiro do seguro de vida. Este é logo o primeiro mistério da série. A morte do pai de Norman parece tudo menos um acidente e o dinheiro do seguro dá muito jeito. Como sabemos quem é Norman Bates a nossa tendência é pensar que foi ele… até conhecermos a mãe. E Norma começa a matar, embora em legítima defesa, logo no primeiro episódio.
Não há volta a dar, Norma torna-se uma personagem ainda mais fulcral do que Norman. A interpretação de Vera Farmiga é uma força da natureza. Norma é manipuladora, emotiva, dramática e algo destrambelhada. É o próprio Norman quem a descreve melhor, numa cena em que exasperado lhe grita: “Tu és maluca!” E ela é maluca. Sabem aquelas pessoas que quanto mais se querem desenvencilhar de uma má situação, mais se embrulham? É o caso.
Mas se Norma é maluca, quem sai aos seus não degenera: Norman é mais maluco do que ela. Norman é tão “maluco” que nem sabe que é maluco. Tal como no filme, o adolescente Norman já sofre de episódios dissociativos com “apagões” em que não se lembra do que fez, à mistura com alucinações que muitas vezes nos fazem questionar se aquilo que estamos a ver está mesmo a acontecer ou se se passa apenas na cabeça dele. (Se calhar a intenção da série não era criar esta ambiguidade, mas a partir do momento em que o protagonista alucina conversas e situações a nossa dúvida é inevitável.) O domínio de Norma sobre ele é tanto manipulativo como impróprio. Norma não se parece aperceber (ou não quer admitir) que o filho já tem 17 anos. Prestes a perder o controlo sobre tudo na sua vida, Norma usa Norman como o seu ponto de apoio, quando devia ser ao contrário, ao mesmo tempo que este Norman quase adulto quer fazer tudo para ajudar a mãe, criando entre ambos uma relação de co-dependência com que muitos espectadores se vão identificar de certeza (excepto, espero eu, a parte em que Norma se vai deitar na cama com o filho como se este tivesse 3 anos).
Como se não bastasse todo este drama (direi mesmo patologia) que mãe e filho trazem com eles, White Pine Bay também não é um lugar muito seguro onde se viver. Aparentemente uma vila pacata à beira-mar, toda a economia de White Pine Bay gira em torno de criminalidade em vários graus, desde o cultivo de marijuana ao tráfico de escravas sexuais. E tudo, parece, com o conhecimento do xerife Romero (Nestor Carbonell, o Richard Alpert de “Lost”), que sabe muito mais do que dá a entender. Há até teorias de que é ele o grande Chefão do crime todo, o que nunca é confirmado na primeira temporada mas não me admiraria mesmo nada. Esta “vila pacata cheia de segredos” tem feito com que “Bates Motel” seja comparado a “Twin Peaks” e até a “Breaking Bad” (por causa das actividades criminais em cada canto), mas na minha opinião as semelhanças começam e acabam aí.
Várias séries dentro da mesma série, mas no mau sentido
Um dos grandes problemas da primeira temporada, embora com certeza tenha sido feito de propósito não fossem os espectadores aborrecerem-se, é que às vezes parece que estamos a ver séries diferentes na mesma série.
Se não, vejamos. Nesta versão, Norman tem um meio-irmão mais velho, Dylan, filho de Norma e de um relacionamento anterior ao pai de Norman (este relacionamento também é um mistério). Dylan, no meio desta maluquice toda, é um gajo normal. E por ser normal, saiu de casa o mais cedo possível e tem uma relação distante e conflituosa com a mãe. Mas, ao perder o emprego, vê-se obrigado a ir morar com ela em White Pine Bay. Nota-se que Dylan é um jovem desenrascado, mas talvez por pobreza (ele próprio se queixa que nunca tinham dinheiro para nada) não parece ter estudos. Ao chegar a White Pine Bay arranja um trabalho justamente com o gangue da marijuana, e é tão bom no que faz que é logo promovido. Mas apesar da sua ocupação criminal, Dylan acaba por revelar-se um jovem sensível e amigo do irmão, talvez a única influência normal na vida dele, que quer afastá-lo da influência tóxica de Norma. É impossível não gostar de Dylan. O próprio Norman começa por não gostar muito dele (especialmente porque Dylan odeia Norma) mas Dylan acaba mesmo por conquistá-lo com amizade, conselhos e companheirismo. Acompanhar Dylan é como ver outra série, uma série de drama e crime em que um jovem tenta desenrascar-se como pode.
Depois, temos um sub-enredo Young Adult à volta da escola nova de Norman. As miúdas populares da escola, por alguma razão, engraçam com ele, e uma delas, Bradley, até dorme com ele num momento vulnerável da vida dela. Norman julga que é o início de uma relação séria, mas afinal o sexo não significou nada para Bradley. (Alerta Norman Bates: aos 17 anos já foi seduzido, usado e descartado por uma rapariga bonita e inacessível… o que obviamente o deixa magoado. Mas magoado a ponto de querer matar todas as mulheres bonitas? Ainda não.) Ao mesmo tempo, Norman conhece Emma, uma rapariga com uma doença pulmonar grave, que, esta sim, tem um grande fraquinho por Norman, embora não seja correspondida. É através dela que Norman se envolve na descoberta das escravas sexuais chinesas que são traficadas em White Pine Bay, sendo que o motel era uma base de operações para os traficantes. Todo este sub-enredo é típico de Young Adult, em que os adolescentes se metem em aventuras que são areia a mais para a camioneta deles.
E depois temos toda a maluquice de Norma, que contagia quem contracena com ela e que muitas vezes transforma a série numa comédia negra (ou apenas comédia?). O problema é que não se percebe se o objectivo destas cenas era mesmo serem cómicas, ou se ficaram tão disparatadas que nos deixam a pensar se é para rir ou não.
Todos estes sub-enredos podiam funcionar perfeitamente, mas em “Bates Motel” simplesmente não encaixam muito bem, criando a tal sensação de que foi tudo ali pespegado com fita-cola e que estamos a ver “filmes” diferentes no mesmo filme.
Um sub-enredo muito falhado
Mas ainda sobre as escravas sexuais, foi onde a série meteu mesmo a pata na poça. Um assunto grave como este devia ser tratado com a maior seriedade, mas “Bates Motel” tratou-o com uma leviandade quase cómica. Quando deixou de interessar ao enredo principal, o sub-enredo das escravas sexuais desapareceu num instante. A escrava sexual foi, aparentemente, abatida a tiro nos bosques por um dos vilões, sem que víssemos a morte, sem que nunca mais ninguém se importasse com ela nem em descobrir o seu corpo. Pobre escrava sexual, não passou de um filler para encher episódios. Muito mau, muito mau.
O actor que faz de Deputy Shelby, o traficante de escravas, também não podia ter sido mais mal escolhido. É nada menos do que Mike Vogel (que eu conheço principalmente como protagonista de outra péssima série, “Under the Dome”; quando é que dão um papel como deve ser a este actor, que merecia muito melhor do que isto?).
Ora, basta olhar para Mike Vogel. Isto não é um homem que precise de manter uma escrava chinesa presa na cave. Isto é um homem que deve ter uma fila de mulheres à porta daqui até à China. [Sim, também estou a ser leviana, mas não resisti à piada.] Na vida real, a procura de escravas sexuais não tem nada a ver com necessidades e/ou atractivos físicos dos abusadores, mas com factores muito mais desviantes, entre eles o desejo de domínio absoluto sobre a vítima e o sadismo. Este Deputy Shelby devia ser um tipo asqueroso e sádico, mas não é nada do que vemos aqui (ou não tivemos tempo de ver porque a personagem nunca chegou a ser desenvolvida como devia ser.) O pobre actor bem tenta, o melhor que pode, transmitir este factor asqueroso à sua personagem, mas nunca teve muito com que trabalhar. Em vez de um traficante de pessoas, os seus diálogos eram mais adequados a um criminoso vulgar, um traficante de droga, por exemplo. O Deputy Shelby foi a personagem mais mal conseguida num cast que, pelo contrário, nos apresenta personagens bastante sólidas e credíveis. Mais valia terem arranjado antes uma rede de exploração de trabalho de imigrantes ilegais, o que é igualmente mau, mas não tão mau como o rapto e violação de mulheres.
Este sub-enredo das escravas sexuais foi tão mal feito, e as críticas foram tantas, que se calhar os autores da série nem o quiseram corrigir e acabaram com ele abruptamente.
Os bons momentos superam os maus
O que funciona muito bem é a dinâmica entre Norma e Norman, e até mesmo Dylan, quando a família disfuncional se encontra dentro de portas.
Aqui nota-se que “Bates Motel” foi pensado a partir de “Psycho”, com o infame cenário exterior e interior da casa e do motel, e os personagens vestidos num guarda-roupa tão retro que podia bem passar pelos anos 60, e principalmente aquelas televisões antiquíssimas onde Norman gosta de ver filmes a preto e branco. [O maior mistério da série, na minha opinião, é como é que eles conseguem manter aquelas televisões a funcionar quando há muito tempo que a minha pifou e mandar arranjar uma televisão daquelas fica mais caro do que comprar um plasma, já para não falar que essas televisões não tinham entrada para cabo nem gravador de vídeo, só para antena analógica, então como é que Norman consegue ver os filmes a preto e branco se não tem um canal “Memória”?] O pai de Emma é também um taxidermista que ensina Norman a embalsamar animais, o que faz sentido com o filme. E algumas vezes os realizadores da série filmam certas cenas com um toquezinho de Hitchcock que resulta muito bem, como daquela vez em que Norma encontra um cadáver autopsiado na sua cama e desata a gritar histericamente, algo que podia ter feito parte do filme original ou de filmes da mesma época, ou a cena em que Bradley rejeita Norman, sozinhos, rodeados de nevoeiro, e não deve ter havido um espectador que não tenha pensado que era ali, que era já, que Norman a estrangulava de raiva.
Mas Norman é um miúdo adorável, por quem torcemos, com quem não é difícil empatizar porque sabemos que durante os episódios dissociativos ele não tem consciência do que faz. Por exemplo, Norman encontra uma cadelinha abandonada e quer logo ficar com ela, mesmo quando Norma não aprova. Quando a cadela morre atropelada (isto foi para manipular os nossos sentimentos) Norman fica devastado e leva-a ao pai de Emma para a embalsamar. Como é que não se gosta de um miúdo assim?
E depois existe ainda um outro sub-enredo, em que uma professora de Literatura de Norman, de trinta anos no máximo, bonita e sexy, se interessa demasiado por ele. Em todas as cenas em que estão juntos sempre me pareceu que aquilo era ainda mais impróprio do que a relação super imprópria de Norman com a mãe. Abraços e festinhas na cara? Isto, comigo, e esse professor/professora era logo denunciado ao Conselho Directivo. Não admira que o pobre Norman fique traumatizado com as mulheres. É preciso ter azar com tantas malucas na vida dele. No fim da temporada, esta professora aparece degolada depois de uma cena em que Norman a vê mudar de roupa (talvez de propósito à frente dele), expondo uma lingerie super sexy. Mas se pensam que isto é um spoiler, pois não é! Porque antes disto a vemos ter uma violenta discussão ao telefone com um ex-namorado que parece estar a ameaçá-la (e que, segundo outras pistas, também deve estar ligado às actividades criminais da terra). Norman estava em casa da professora antes de ela morrer e volta para casa muito perturbado, com um dos seus “apagões”, mas nada nos garante que tenha sido o seu primeiro homicídio. Conhecendo a série e as suas voltas e reviravoltas, não me admirava nada que tivesse sido antes o tal ex. Mas esse é um mistério para a segunda temporada.
A verdade é que “Bates Motel” devia ser a prequela de como Norman Bates se transforma num assassino e estamos todos à espera do momento inevitável em que ele comece a matar. O maior problema da série é que não se está a ver como é que vão transformar aquele miúdo adorável num serial killer. Não é preciso ser um grande psicólogo para perceber que o problema do Norman Bates do “Psycho” era a repressão sexual e a educação puritana que recebeu. Aquela cena do duche, a faca e a mulher nua, tudo aquilo é sexualidade reprimida. E não é difícil de imaginar a Norma Bates do filme como uma daquelas mulheres para quem o sexo é algo de sujo e pecaminoso, sempre a dizer ao filho “aquelas ordinárias, olha como se comportam agora, sem decência nenhuma, isto não é de boas raparigas, não dês o desgosto à tua mãe de andar com essas galdérias, etc”. Ora, a Norma da série não é nada disto e repressão sexual é coisa que não existe naquela casa. Pelo contrário, eu diria mesmo que existe descontracção sexual a mais. Tanto da parte de Norma, sexualmente muito activa sem o esconder dos filhos, como da miúda da escola que dormiu com Norman e não significou nada, como da parte da professora que anda sempre vestida como uma mulher fatal. A temática sexual paira sempre sobre o enredo nas suas formas mais extremas (desde a parte das tais escravas sexuais até às alusões ora subtis ora explícitas de incesto, passando pela violação mostrada logo no primeiro episódio e muito realista), às vezes de forma dramática e bem feita, outras vezes não tão bem conseguida. Será por aí que a psique frágil de Norman vai ser afectada? É que uma mãe destrambelhada não chega para fazer um serial killer. A própria série o prova com o caso de Dylan, filho da mesma mãe e criado na mesma maluquice.
“Bates Motel” é uma série com muitos desequilíbrios e altos e baixos, mas estranhamente viciante, talvez devido à solidez dos personagens. Os momentos bons superam os maus e conseguimos seguir a história com interesse por muitos desvios mal pensados que nos surjam ao caminho. Além disso, a série vale a pena nem que seja só pela performance fantástica de Vera Farmiga, que eu não conhecia (embora o nome não me fosse estranho uma vez que conheço a irmã mais nova, Taissa Farmiga, de “American Horror Story”). Fiquei fã.
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