domingo, 27 de maio de 2007
"Coisa Ruim" (2006)
Amante que sou de filmes de terror, é sempre com grande expectativa que assisto às tentativas nacionais. "Coisa Ruim" (realizado por Tiago Guedes e Frederico Serra e escrito por Rodrigo Guedes de Carvalho) tem bons momentos, muitos e interessantes, e dá a entender que tem asas para levantar voo a qualquer momento. Uma família "bem", de Lisboa, muda-se para uma casa de campo no norte, numa aldeia fortemente supersticiosa onde se acredita em maldições, lobisomens e mafarricos em geral. A consciência colectiva da pequena comunidade acusa-os de os seus antepassados não terem evitado o massacre de uma pobre família da terra às mãos dos poderosos desse tempo, de modo que o único remédio para apaziguar os espíritos errantes é a penitência e o terço.
O enredo tem tudo para fazer deste o primeiro filme de terror português a sério ("I'll See You In My Dreams" é mais um video clip com zombies do que outra coisa), mas nada acontece excepto uns abanões na mobília e umas correntes de ar. Era preciso mais. Era preciso terror físico ("o monstro horrendo", como em "Aliens") ou psicológico (a revelação perturbadora, como em "os Outros", susceptível de tirar o sono a muito gente). Ou ambos, como no "Exorcista", filme que não por acaso é considerado por muita gente o melhor filme de terror de todos os tempos. Mas em "Coisa Ruim" tudo se dilui na sugestão, nas conversas filosóficas de professor de liceu entre os crentes e os cépticos, e o próprio final não se percebe: interpreta-se. Isto é muito interessante para os filmes pretenciosos que caracterizam o nosso velho continente mas falha redondamente quando se mexe no terror.
O filme é um pouco como o país em que se passa a história. Nada de facto acontece, até os fantasmas são serenos como o povo, até do medo se tem medo e se tem medo de fazer medo. E como um filme de terror não é um documentário antropológico mas o filme vale mais por isso do que outra coisa...
13 em 20
PS: Na emissão do filme a que eu assisti, na RTP1, a imagens sofreu imensas falhas de natureza informática. Esperamos que o filme não tenha realmente esses erros, mas passar uma cópia digital de má qualidade não deixou de dar muito mau aspecto. A RTP1 anda a sacar files na candonga?... ;)
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