segunda-feira, 31 de outubro de 2005
sexta-feira, 28 de outubro de 2005
quarta-feira, 26 de outubro de 2005
More adventures in the middle [of the] earth
I finally got into Mordor.
I joined the forces of the dark army as a disguise to accomplish my mission. Me and other poor recruited comrades soon were taken to a creepy room where it was said we would have something called "training". There appeared Lady Saruman, as I call her, because her tongue was sweet but she was evil as evil can be and she never fooled me. Our mission was to set attack upon the allies of the enemy who were tempted to turn back to the Good Side of the Force (move to the competition). Musn't let that happen was her motto. And to obtain her goal we were put under the orders of an awful little man who I'll call the Obnoxious Little Orc who would whip us senseless and not allow us to go to the bathroom amongst other tortures.
Half of my fellow comrades in misfortune didn't last the first day. Disappeared, they did, and were not to be seen again. Many more were to follow.
I stood to the very end, disheartened as I was, for I have The Burden (I really need the money).
And so it came to pass that after two days, no more, when I arrived to the Room of Torture I was told by some of my few surviving comrades that the project was no longer! Sauron, the Dark Lord himself, had cancelled it. So the army had been sent to attack the cable tv customers instead. That would not suit my plans, and it would not do, not at all!
Lady Saruman and the Obnoxious Little Orc, defeated, were nowhere to be found, but that was not good news to my mission. In their place, there was this gracious young elf who was in charge of the survivors.
I told him I didn't want to join the cable tv army if I had to pay with my life for it.
"But why?", he asked with genuine surprise.
"Well... ermmmm... ermmm....", I looked for words, but the real answer was "I don't even know what cable tv is, you idiot!", so I diverted the subject: "Where is Lady Saruman and the Obnoxious Little Orc? I wish to have a word with them".
He looked most puzzled. Poor young Elf under the spell of the enemy, I see!
"O Elbereth! Gilthoniel! I do not know them! I'm not even sure what I'm doing here. I'm not from this realm at all!", he answered.
There I saw a good opportunity to escape and I indeed I sought it. Now, back home in the cosy Shire I look for other strategies to penetrate in the heart of the enemy. Not that I want to go there but I have not much choice.
Provisions are running short, alas! But I still have beer. I'm saving it for a merry occasion.
Now I must go. Messages have to be sent to all the corners of Mordor telling the enemy they have a willing soldier to enter their ranks of abuse and torture! Make me a slave, oh make me a slave! I need to eat for Elbereth's sake! And look, I have the Ring, I have the Ring! Take me! Take me!
I joined the forces of the dark army as a disguise to accomplish my mission. Me and other poor recruited comrades soon were taken to a creepy room where it was said we would have something called "training". There appeared Lady Saruman, as I call her, because her tongue was sweet but she was evil as evil can be and she never fooled me. Our mission was to set attack upon the allies of the enemy who were tempted to turn back to the Good Side of the Force (move to the competition). Musn't let that happen was her motto. And to obtain her goal we were put under the orders of an awful little man who I'll call the Obnoxious Little Orc who would whip us senseless and not allow us to go to the bathroom amongst other tortures.
Half of my fellow comrades in misfortune didn't last the first day. Disappeared, they did, and were not to be seen again. Many more were to follow.
I stood to the very end, disheartened as I was, for I have The Burden (I really need the money).
And so it came to pass that after two days, no more, when I arrived to the Room of Torture I was told by some of my few surviving comrades that the project was no longer! Sauron, the Dark Lord himself, had cancelled it. So the army had been sent to attack the cable tv customers instead. That would not suit my plans, and it would not do, not at all!
Lady Saruman and the Obnoxious Little Orc, defeated, were nowhere to be found, but that was not good news to my mission. In their place, there was this gracious young elf who was in charge of the survivors.
I told him I didn't want to join the cable tv army if I had to pay with my life for it.
"But why?", he asked with genuine surprise.
"Well... ermmmm... ermmm....", I looked for words, but the real answer was "I don't even know what cable tv is, you idiot!", so I diverted the subject: "Where is Lady Saruman and the Obnoxious Little Orc? I wish to have a word with them".
He looked most puzzled. Poor young Elf under the spell of the enemy, I see!
"O Elbereth! Gilthoniel! I do not know them! I'm not even sure what I'm doing here. I'm not from this realm at all!", he answered.
There I saw a good opportunity to escape and I indeed I sought it. Now, back home in the cosy Shire I look for other strategies to penetrate in the heart of the enemy. Not that I want to go there but I have not much choice.
Provisions are running short, alas! But I still have beer. I'm saving it for a merry occasion.
Now I must go. Messages have to be sent to all the corners of Mordor telling the enemy they have a willing soldier to enter their ranks of abuse and torture! Make me a slave, oh make me a slave! I need to eat for Elbereth's sake! And look, I have the Ring, I have the Ring! Take me! Take me!
sexta-feira, 21 de outubro de 2005
Outra!
A Reditus/Redware, ofereceu-me, para uma posição de operador de registo de dados, 4h/dia, em horário pós laboral, a significativa quantia de 275 euros/mês a recibos verdes.
Desta vez, tive o maquiavélico prazer de fazer a continha à frente da senhora. O desconto obrigatório para a segurança social, os tais 150 euros.
Em papel quadriculado e tudo, escrevi:
275 - 150 = 125 euros
"Portanto, ganho 125 euros...!", e perguntei: "Todas as vossas ofertas são a recibos verdes?"
Ao que ela disse "sim" e ao que eu disse "boa tarde, minha senhora".
Gotika --- Mostrando o país real que não se vê na televisão
Desta vez, tive o maquiavélico prazer de fazer a continha à frente da senhora. O desconto obrigatório para a segurança social, os tais 150 euros.
Em papel quadriculado e tudo, escrevi:
275 - 150 = 125 euros
"Portanto, ganho 125 euros...!", e perguntei: "Todas as vossas ofertas são a recibos verdes?"
Ao que ela disse "sim" e ao que eu disse "boa tarde, minha senhora".
Gotika --- Mostrando o país real que não se vê na televisão
quinta-feira, 20 de outubro de 2005
Um filme: "O turista acidental"

William Hurt faz o papel de Macon Leary, um homem que escreve guias de viagem para pessoas que não gostam de viajar. O lema da colecção é qualquer coisa como "como viajar sem sentir que saiu de casa". Este é também o lema de Macon Leary depois de perder o filho de 12 anos num tiroteio. Como passar pela vida sem sentir. Como passar pela vida como um "turista acidental". Como evitar as situações e as pessoas ou, melhor ainda, como não se deixar envolver por elas.
Apesar do que o filme parece querer transmitir, que no fim o protagonista troca uma reaproximação à sua ex-mulher (Kathleen Turner) pela extravagante Muriel (Geena Davis, na foto) como quem passa a apreciar a viagem em vez de a suportar, um turista acidental é sempre um turista acidental. E não há finais felizes. Só há finais diferentes.
Objectivamente, daria a este filme um 15, mas como sou suspeita e me parece que o filme fala de gente como eu, dou-lhe um 20.
terça-feira, 18 de outubro de 2005
Marco histórico
HOJE, uma empresa de estudos de mercado ofereceu-me, pela tarefa de realizar entrevistas telefónicas cinco horas por dia, de 2ª a 6ª, em horário pós-laboral, a simbólica remuneração de 3,62 euros POR DIA.
Tomando o mês por 20 dias úteis de trabalho, isto dá, ao fim do mês, a interessante remuneração mensal de 72 euros e 40 cêntimos.
A recibos verdes!
Acrescido a este valor, ganharia em média 1 euro por cada entrevista realizada. Uma vez que tenho experiência na função, posso garantir que se tivesse a sorte de realizar uma média de duas entrevistas por hora (10 euros por dia), ganharia ao fim do mesmo mês mais 200 euros.
200 euros mais 72,4 euros dá 272,4 euros.
Um trabalhador a recibos verdes tem de pagar para a segurança social, no mínimo, à volta de 150 euros mensais.
272,4 - 150 = 122,4 euros. Vinte e poucos contos.
Achei que devia não só registar como também partilhar esta experiência, este marco histórico na minha vida pessoal e profissional. Porque é verdade, porque aconteceu. E porque há gente que não sabe que isto é verdade. E também porque há gente que ao ler não vai acreditar. Fica o testemunho.
Tomando o mês por 20 dias úteis de trabalho, isto dá, ao fim do mês, a interessante remuneração mensal de 72 euros e 40 cêntimos.
A recibos verdes!
Acrescido a este valor, ganharia em média 1 euro por cada entrevista realizada. Uma vez que tenho experiência na função, posso garantir que se tivesse a sorte de realizar uma média de duas entrevistas por hora (10 euros por dia), ganharia ao fim do mesmo mês mais 200 euros.
200 euros mais 72,4 euros dá 272,4 euros.
Um trabalhador a recibos verdes tem de pagar para a segurança social, no mínimo, à volta de 150 euros mensais.
272,4 - 150 = 122,4 euros. Vinte e poucos contos.
Achei que devia não só registar como também partilhar esta experiência, este marco histórico na minha vida pessoal e profissional. Porque é verdade, porque aconteceu. E porque há gente que não sabe que isto é verdade. E também porque há gente que ao ler não vai acreditar. Fica o testemunho.
Our time is beginning to look black
'Always after a defeat and a respite, the Shadow takes another shape and grows again.'
'I wish it need not have happened in my time,' said Frodo.
'So do I,' said Gandalf, 'and so do all who live the see such times. But that's not for them to decide. All we have to decide is what to do with the time that is given us. And already, Frodo, our time is beginning to look black.'
in "The Fellowship of the Ring", JRR Tolkien
Dark all over Europe
in "Black Planet", The Sisters of Mercy
Não o sentem também?
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J. R. R. Tolkien,
The Sisters of Mercy,
trevas
domingo, 16 de outubro de 2005
Respeito
Alguém ainda sabe definir o que é o "respeito"?
A sério, sem ajuda do dicionário.
Fica o desafio.
A sério, sem ajuda do dicionário.
Fica o desafio.
O país de pernas para o ar - parte II
Mais um post fantástico servido pela taberna do Tapornumporco, que eu vou transcrever na íntegra para a gente mais nova que lê este blog:
Ao que eu comentei em baixo:
E depois pus-me a pensar. Isto de pensar é perigoso. e isto de escrever é cansativo. Este país estimula a preguiça mental. Tenho sempre essa desculpa.
Por isso é que não fiz um post a dizer isto:
Fátima Felgueiras
Era a isto que eu me referia quando dizia aqui há tempos que o país está de pernas para o ar, em inversão de valores extrema.
Como o disse também aquela jornalista cujo nome não me recordo, no "Prós e Contras", quando contou o caso de os pais inscreverem os filhos na escola como NEs (crianças com Necessidades Especiais, vulgo, atrasados mentais) para terem explicações à borla.
E tudo isto acontece, e tudo isto é triste, e tudo isto é Portugal.
O post do Tapor pôs-me a pensar na Revolução e no facto de nunca ter ouvido como ouço agora, 30 anos depois, "dantes era muito melhor!".
Eu não sei se era melhor. Sei que os valores se deterioraram a ponto de se inverterem. E nisto a Revolução falhou. Se a revolução foi apenas o acesso à pornochachada, a revolução foi um erro de Marcelo Caetano. Era só legalizar a Gina e não tinha o 25 de Abril à porta. A Gina e acabar com a guerra na colónias. Assim ficava o português contente.
Agora dêem-lhe Fernando Rocha, muita caralhada, futebol e Fátima, que o povo está contente. O poder voltou à mão dos mesmos senhores de antigamente e de mais meia dúzia de lacaios que alpinaram pela sociedade acima, o povo está cada vez mais analfabeto (embora saiba juntar as letras, não sabe ler), Portugal já não manda em si próprio (e ainda bem!), a terra não é cultivada nem tratada (mas incenciada), a indústria é estrangeira e está a ir-se embora, e os primeiros ministros Emigram (com E!).
Alguém me sabe dizer quais eram as coisas positivas do outro regime? Começo a interessar-me. Porque será?
Agora chamem-me fascista. Mas não é de estranhar. O país está de pernas para o ar. Quem quer a mudança é, de facto, um reaccionário. Portanto, neste momento, eu sou uma reaccionária.
E sei que apenas os mais velhos vão perceber o que eu quero dizer com isto.
É que eu não sou reaccionária. Eu sou a resistência. E actualmente a resistência revê-se nos ideais de uma certa direita. Eis a ironia da coisa.
E temos o país de pernas para o ar.
Gina – A Verdadeira Trombeta Da Revolução (Gina – Parte 1), por Rodox
Nos dias seguintes à doideira televisiva do pós-25 de Abril, vim para a rua e para a cidade, expectante da novidade e mudança. Afinal e contudo, prós meus olhos de puto de ciclo nada tinha mudado. Ao contrário da Tv, aqui por Coimbra não havia soldados pelas ruas, chaimites nas praças, ou cravos nas lapelas. Os prédios estavam na mesma, as pessoas passavam na mesma a caminho dos empregos e demais destinos, cafés normais, aulas normais, autocarros normais, jornais normais. Ora, porra, mas afinal o que mudou agora que caiu a recém descoberta ditadura e que se vai fazer o homem novo? Frustração total. O “anormal”, o “revolucionário” estavam escondidos na Tv ou em Lisboa, ou então reservados ao mundo adulto. Que se lixe a revolução!, tudo na mesma comá lesma!
De repente, poucos dias a seguir, tropecei na revolução! Nos quiosques e bancas de jornais, apareceram as Ginas. E não eram fechadas, mas abertas e escancaradas. Cenas hard de enrabadelas, esporradelas e canzanas, não a posição, mas mesmo com canzanas enormes e uivantes. A doideira pornográfica explodiu e as Ginas - suprema bandeira e vanguarda -, apareciam agora pelas ruas a fora, com pompa e muita gosma. Viva Revolução! Mas mais, não só a coisa era escancarada, como toda a gente se estava nas tintas para os putos ranhosos, que descaradamente gastavam em Ginas a féria da refeição da cantina e do bilhete de troley!
Foi aí e só aí que me apercebi da mudança revolucionária. Agora sim havia revolução, abertura e liberdade. Pouco depois já se viam os cartazes a anunciar o Último Tango Em Paris e liberdade das liberdades, o Garganta Funda começou a passar no Avenida. Os cartazes de cinema que anunciavam a onda porno eram explícitos e duros. A horda moralista andava de bola baixa e só alguns anos depois é que se começaram a ouvir as primeiras vozes contra o desparrame. Quais cravos, quais chaimites, quais cabeludos, quais carapuças, Gina, meus caros, a Gina é que foi a trombeta anunciadora da revolução e a grande viragem em relação à antiga senhora. Que aderiu ao porno também, vintage, claro!
Ao que eu comentei em baixo:
É pena que a revolução se tenha ficado por aí. Vou até mais longe. A revolução foi isso. Agora já se pode falar de sexo. O português está contente. Siga a marinha. Dêem-lhes pornochachada e Fernando Rocha que o fado já não serve. Fica ainda Fátima e Futebol porque disso eles gostam.
E depois pus-me a pensar. Isto de pensar é perigoso. e isto de escrever é cansativo. Este país estimula a preguiça mental. Tenho sempre essa desculpa.
Por isso é que não fiz um post a dizer isto:
Fátima Felgueiras
Era a isto que eu me referia quando dizia aqui há tempos que o país está de pernas para o ar, em inversão de valores extrema.
Como o disse também aquela jornalista cujo nome não me recordo, no "Prós e Contras", quando contou o caso de os pais inscreverem os filhos na escola como NEs (crianças com Necessidades Especiais, vulgo, atrasados mentais) para terem explicações à borla.
E tudo isto acontece, e tudo isto é triste, e tudo isto é Portugal.
O post do Tapor pôs-me a pensar na Revolução e no facto de nunca ter ouvido como ouço agora, 30 anos depois, "dantes era muito melhor!".
Eu não sei se era melhor. Sei que os valores se deterioraram a ponto de se inverterem. E nisto a Revolução falhou. Se a revolução foi apenas o acesso à pornochachada, a revolução foi um erro de Marcelo Caetano. Era só legalizar a Gina e não tinha o 25 de Abril à porta. A Gina e acabar com a guerra na colónias. Assim ficava o português contente.
Agora dêem-lhe Fernando Rocha, muita caralhada, futebol e Fátima, que o povo está contente. O poder voltou à mão dos mesmos senhores de antigamente e de mais meia dúzia de lacaios que alpinaram pela sociedade acima, o povo está cada vez mais analfabeto (embora saiba juntar as letras, não sabe ler), Portugal já não manda em si próprio (e ainda bem!), a terra não é cultivada nem tratada (mas incenciada), a indústria é estrangeira e está a ir-se embora, e os primeiros ministros Emigram (com E!).
Alguém me sabe dizer quais eram as coisas positivas do outro regime? Começo a interessar-me. Porque será?
Agora chamem-me fascista. Mas não é de estranhar. O país está de pernas para o ar. Quem quer a mudança é, de facto, um reaccionário. Portanto, neste momento, eu sou uma reaccionária.
E sei que apenas os mais velhos vão perceber o que eu quero dizer com isto.
É que eu não sou reaccionária. Eu sou a resistência. E actualmente a resistência revê-se nos ideais de uma certa direita. Eis a ironia da coisa.
E temos o país de pernas para o ar.
"O Senhor dos Anéis", de J.R.R. Tolkien
Para os não iniciados, dos quais até há cerca de um ano eu fazia parte, "The Lord of the Rings" é uma trilogia composta por "The Fellowship of the Ring", "The Two Towers" e "The Return of the King". Ler a obra completa é uma aventura com consequências. Não me admira que tanta gente tenha ficado "sob o poder do Anel", como eu lhe chamo.
Para começar, não concordo nada que a obra seja uma trilogia. Cada um dos três livros não faz sentido sem o antecessor. Esta é uma obra completa, com um princípio, meio e fim, independentemente do seu tamanho.
(Custa-me a perceber como é que os três livros originaram três filmes se toda a história poderia ser condensada num só, e com muito mais efeito, na minha opinião. Ainda não vi os filmes porque gosto de ler os livros primeiro. Neste caso, pelo que já me disseram dos filmes, fiz muito bem porque a história foi corrompida. Mas que venham os filmes! Veremos.)
A primeira parte de "The Fellowship of the Ring" não é fácil de ler. Em bom português, é uma grande seca. Aproveito também para enfatisar que a leitura da obra sem a ajuda dos mapas se torna ainda mais difícil. Muitas vezes a localização é essencial para compreender a história e todos nós sabemos como certas descrições podem ser aborrecidas. Tolkien não foge à regra. Um ponto em seu desfavor. Nem toda a gente está interessada em decorar todos os lugares e lugarejos da Terra Média.
A história só começa mesmo a interessar quando dá lugar à acção. Porque se trata de um épico, nada mais nada menos, em que a componente psicólogica dos personagens tem de ser adivinhada porque não nos é servida pelo autor.
Tolkien usa velhas lendas como Sigfried e o anel dos Nibelungos e Artur e a sua espada Excalibur. Velhos arquétipos postos em movimento numa história que, por isto mesmo, perde em originalidade o que ganha em perspectiva. E isto tem a ver com o motivo que "aquece" o primeiro livro: a importância do Anel do Power.
One Ring to rule them all,
One Ring to find them,
One Ring to bring them all
and in the darkness bind them.
Às palavras "One Ring to rule them all" percebe-se toda a história da trilogia e a razão de ser do "Senhor dos Anéis". Um só Anel tem o poder (mágico?...) de prostrar todos os seres aos pés de um só senhor. Ao mesmo tempo, quem possui o Anel é mais ou menos depressa corrompido pelo seu poder maléfico. A razão de ser desta "maldição" nunca é explicada mas é simples de compreender. O poder absoluto corrompe absolutamente. "Se queres conhecer o vilão, põe-lhe o pau na mão". Neste caso, o Anel. O próprio Frodo, no fim dos fins, é corrompido pelo poder do Anel. Corrompido para sempre e para sempre angustiado pela escuridão do poder que recaíu sobre ele. O livro fala de um "fardo" (burden), e esse fardo é a responsabilidade que recai sobre quem tem o poder. Uma boa consciência sente-se afligida pelo impacto da sua acção nos outros; uma má consciência não pensa duas vezes. Sobre a primeira, paira a escuridão; sobre a segunda reina a escuridão.
"We must do without hope"
A escuridão é também a essência do Inimigo. A história desenvolve-se num clima de terror em que a ausência de esperança está sempre presente. Uma das minhas linhas preferidas:
Trata-se de uma luta desesperada até ao último fôlego e contra todas as probabilidades. Uma luta só vencida pelo poder da inteligência contra hordas e hordas de inimigos. E, periclitantemente, os protectores do Anel não podem fazer outra coisa senão resistir pois se não resistirem morrerão, e se resistirem morrerão também. Entre a morte e a morte, é uma questão de escolher como se morre. E é todo este enredo de perigo iminente que mantém o leitor preso à história.
Outra das minhas passagens preferidas:
Mordor, o Inimigo
A história foi escrita após a segunda guerra mundial. Tolkien sempre negou que o Inimigo fosse uma metáfora da Alemanha nazi. Mas nega em vão, porque é evidente que o é. Consciente ou inscientemente, Tolkien retratou o horror do avanço militar das forças do Reich e o esforço conjunto dos Aliados quando a democracia parecia para sempre perdida. Em Mordor, o reino do inimigo, nada cresce, nada vive, tudo está envenenado.
E por coinciência, se eu acreditasse em coincidências, numa recente série de dois episódios que retrata a vida de Anne Frank, esta está num campo de concentração quando diz à sua irmã Margot: "Ouve, pássaros! Não se ouviam pássaros em Birkenau. Nada vive em Birkenau. Só corvos e abutres."
Mordor, onde nada cresce, onde tudo está envenenado.
E tudo isto se perdeu mais ou menos da consciência colectiva da humanidade. Será que se perdeu mesmo? Será que como nos reinos não afectados directamente pelo poder do Inimigo, as pessoas continuam a fazer a sua vida como se nada se tivesse passado quando os Viajantes regressam a casa?
E foi isto o que mais me tocou em toda a história. O final. Porque quando Frodo regressa ao Shire, corrompido, doente e destruído para sempre, ele a quem coube a tarefa de salvar o mundo sem a ter pedido, encontra destruição e tirania na sua própria casa e tem de lutar mais uma vez como se tudo o que fizera não valesse de nada. E nos anos seguintes, na sua própria terra, Frodo nunca é reconhecido como um verdadeiro herói. A sua coragem e determinação, o seu sacrifício, entre os seus pares são vistos como actos longíquos e de pouca importância. Frodo já não pertence ao seu mundo de gente pequenina e é obrigado a retirar-se para sempre para o mundo nebuloso das lendas. Ninguém é profeta na sua terra, diz-se.
Eis a moral da história. A homens nobres cabe o sacrifício, mas em último caso este sacrifício não é desprovido de egoísmo. Porque para salvar a pele salvam-se os outros por arrasto, mesmo quando estes não agradecem ou não têm o discernimento de perceber o que foi feito por eles.
E é por não ser uma história de heróis predestinados, mas de um conjunto de hobbits arrastados para circunstâncias inimagináveis que os obrigam a lutar contra poderes infinitamente superiores, que eu gosto do "Senhor dos Anéis".
Durante o épico, no entanto, é subentendido que nada aconteceu por acaso, mas nada também é prova do contrário.
Frodo é qualquer um de nós.
Para começar, não concordo nada que a obra seja uma trilogia. Cada um dos três livros não faz sentido sem o antecessor. Esta é uma obra completa, com um princípio, meio e fim, independentemente do seu tamanho.
(Custa-me a perceber como é que os três livros originaram três filmes se toda a história poderia ser condensada num só, e com muito mais efeito, na minha opinião. Ainda não vi os filmes porque gosto de ler os livros primeiro. Neste caso, pelo que já me disseram dos filmes, fiz muito bem porque a história foi corrompida. Mas que venham os filmes! Veremos.)
A primeira parte de "The Fellowship of the Ring" não é fácil de ler. Em bom português, é uma grande seca. Aproveito também para enfatisar que a leitura da obra sem a ajuda dos mapas se torna ainda mais difícil. Muitas vezes a localização é essencial para compreender a história e todos nós sabemos como certas descrições podem ser aborrecidas. Tolkien não foge à regra. Um ponto em seu desfavor. Nem toda a gente está interessada em decorar todos os lugares e lugarejos da Terra Média.
A história só começa mesmo a interessar quando dá lugar à acção. Porque se trata de um épico, nada mais nada menos, em que a componente psicólogica dos personagens tem de ser adivinhada porque não nos é servida pelo autor.
Tolkien usa velhas lendas como Sigfried e o anel dos Nibelungos e Artur e a sua espada Excalibur. Velhos arquétipos postos em movimento numa história que, por isto mesmo, perde em originalidade o que ganha em perspectiva. E isto tem a ver com o motivo que "aquece" o primeiro livro: a importância do Anel do Power.
One Ring to rule them all,
One Ring to find them,
One Ring to bring them all
and in the darkness bind them.
Às palavras "One Ring to rule them all" percebe-se toda a história da trilogia e a razão de ser do "Senhor dos Anéis". Um só Anel tem o poder (mágico?...) de prostrar todos os seres aos pés de um só senhor. Ao mesmo tempo, quem possui o Anel é mais ou menos depressa corrompido pelo seu poder maléfico. A razão de ser desta "maldição" nunca é explicada mas é simples de compreender. O poder absoluto corrompe absolutamente. "Se queres conhecer o vilão, põe-lhe o pau na mão". Neste caso, o Anel. O próprio Frodo, no fim dos fins, é corrompido pelo poder do Anel. Corrompido para sempre e para sempre angustiado pela escuridão do poder que recaíu sobre ele. O livro fala de um "fardo" (burden), e esse fardo é a responsabilidade que recai sobre quem tem o poder. Uma boa consciência sente-se afligida pelo impacto da sua acção nos outros; uma má consciência não pensa duas vezes. Sobre a primeira, paira a escuridão; sobre a segunda reina a escuridão.
"We must do without hope"
A escuridão é também a essência do Inimigo. A história desenvolve-se num clima de terror em que a ausência de esperança está sempre presente. Uma das minhas linhas preferidas:
"Alas! I fear we cannot stay here any longer," said Aragorn. He looked towards the mountains and held up his sword. "Farewell, Gandalf!" he cried. "Did I not say to you: if you pass the doors of Moria, beware? Alas that I spoke true! What hope have we without you?"
He turned to the Company. "We must do without hope," he said. "At least we may yet be avenged. Let us gird ourselves and weep no more! Come! We have a long road, and much to do."
Trata-se de uma luta desesperada até ao último fôlego e contra todas as probabilidades. Uma luta só vencida pelo poder da inteligência contra hordas e hordas de inimigos. E, periclitantemente, os protectores do Anel não podem fazer outra coisa senão resistir pois se não resistirem morrerão, e se resistirem morrerão também. Entre a morte e a morte, é uma questão de escolher como se morre. E é todo este enredo de perigo iminente que mantém o leitor preso à história.
Outra das minhas passagens preferidas:
`And we shouldn't be here at all, if we'd known more about it before we started. But I suppose it's often that way. The brave things in the old tales and songs, Mr. Frodo: adventures, as I used to call them. I used to think that they were things the wonderful folk of the stories went out and looked for, because they wanted them, because they were exciting and life was a bit dull, a kind of a sport, as you might say. But that's not the way of it with the tales that really mattered, or the ones that stay in the mind. Folk seem to have been just landed in them, usually – their paths were laid that way, as you put it. But I expect they had lots of chances, like us, of turning back, only they didn't. And if they had, we shouldn't know, because they'd have been forgotten. We hear about those as just went on – and not all to a good end, mind you; at least not to what folk inside a story and not outside it call a good end. You know, coming home, and finding things all right, though not quite the same – like old Mr Bilbo. But those aren't always the best tales to hear, though they may be the best tales to get landed in! I wonder what sort of a tale we've fallen into? '
`I wonder,' said Frodo. 'But I don't know. And that's the way of a real tale. Take any one that you're fond of. You may know, or guess, what kind of a tale it is, happy-ending or sad-ending, but the people in it don't know. And you don't want them to.'
'No, sir, of course not. Beren now, he never thought he was going to get that Silmaril from the Iron Crown in Thangorodrim, and yet he did, and that was a worse place and a blacker danger than ours. But that's a long tale, of course, and goes on past the happiness and into grief and beyond it – and the Silmaril went on and came to Eärendil. And why, sir, I never thought of that before! We've got – you've got some of the light of it in that star-glass that the Lady gave you! Why, to think of it, we're in the same tale still! It's going on. Don't the great tales never end? '
'No, they never end as tales,' said Frodo. `But the people in them come, and go when their part's ended. Our part will end later – or sooner.'
Mordor, o Inimigo
A história foi escrita após a segunda guerra mundial. Tolkien sempre negou que o Inimigo fosse uma metáfora da Alemanha nazi. Mas nega em vão, porque é evidente que o é. Consciente ou inscientemente, Tolkien retratou o horror do avanço militar das forças do Reich e o esforço conjunto dos Aliados quando a democracia parecia para sempre perdida. Em Mordor, o reino do inimigo, nada cresce, nada vive, tudo está envenenado.
E por coinciência, se eu acreditasse em coincidências, numa recente série de dois episódios que retrata a vida de Anne Frank, esta está num campo de concentração quando diz à sua irmã Margot: "Ouve, pássaros! Não se ouviam pássaros em Birkenau. Nada vive em Birkenau. Só corvos e abutres."
Mordor, onde nada cresce, onde tudo está envenenado.
E tudo isto se perdeu mais ou menos da consciência colectiva da humanidade. Será que se perdeu mesmo? Será que como nos reinos não afectados directamente pelo poder do Inimigo, as pessoas continuam a fazer a sua vida como se nada se tivesse passado quando os Viajantes regressam a casa?
E foi isto o que mais me tocou em toda a história. O final. Porque quando Frodo regressa ao Shire, corrompido, doente e destruído para sempre, ele a quem coube a tarefa de salvar o mundo sem a ter pedido, encontra destruição e tirania na sua própria casa e tem de lutar mais uma vez como se tudo o que fizera não valesse de nada. E nos anos seguintes, na sua própria terra, Frodo nunca é reconhecido como um verdadeiro herói. A sua coragem e determinação, o seu sacrifício, entre os seus pares são vistos como actos longíquos e de pouca importância. Frodo já não pertence ao seu mundo de gente pequenina e é obrigado a retirar-se para sempre para o mundo nebuloso das lendas. Ninguém é profeta na sua terra, diz-se.
Eis a moral da história. A homens nobres cabe o sacrifício, mas em último caso este sacrifício não é desprovido de egoísmo. Porque para salvar a pele salvam-se os outros por arrasto, mesmo quando estes não agradecem ou não têm o discernimento de perceber o que foi feito por eles.
E é por não ser uma história de heróis predestinados, mas de um conjunto de hobbits arrastados para circunstâncias inimagináveis que os obrigam a lutar contra poderes infinitamente superiores, que eu gosto do "Senhor dos Anéis".
Durante o épico, no entanto, é subentendido que nada aconteceu por acaso, mas nada também é prova do contrário.
Frodo é qualquer um de nós.
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