O meu afilhado nasceu!
Não vou explicar a extensão deste “afilhadanço”, apenas que fui eu que dei a ideia e que fico contente por ver que ele escreve!
Ele escreve de uma maneira que é só dele e de mais ninguém e eu achei que não devia escrever para a gaveta, ou pior, não escrever sequer.
Hoje ele já tem tudo a funcionar, tudo certinho, faltam lá visitantes.
Por isso, se puderem, dêem um saltinho a esta Ribeira Negra.
Sou a madrinha. Babada!
Publicado por _gotika_ em 10:17 PM | Comentários: (7)
Armand, a hárpia
E pronto, vamos lá cascar outra vez no vampiro Armand.
(Ao mesmo tempo, aproveitando para cascar em todos os “vampiros Armands” que por aí há, e não são poucos! Por isso, se alguém estiver a ler e enfiar a carapuça...)
À segunda vez que Anne Rice (na figura de Lestat) associa a personagem de Armand a uma hárpia, confesso que me despertou a curiosidade e tive de ir pesquisar. Em toda a galeria de monstros da antiguidade não me lembrava exactamente do que era a hárpia.
E era então um monstro com tronco de mulher, asas, pés de abutre, longas garras e face pálida e esfomeada. Originalmente a hárpia era um símbolo da Justiça, uma criatura criada pelos deuses para atormentar os malfeitores, mas degenerou numa criatura maléfica por si só. Na “Odisseia” de Homero, as hárpias eram ventos que arrastavam os marinheiros para longe. Na Idade Média, a hárpia transformou-se no símbolo da ganância e do diabo, e a ideia prevaleceu. Na língua inglesa, significa uma pessoa vil, implacável e extorcionista. Enfim, só palavras meigas.
Cá está ela, a hárpia:
Por outro lado, a figura delicada de Armand lembra um anjo de Caravaggio. Aposto tudo que era neste que Anne Rice estava a pensar, e pelo que vi nos sites dedicados às vampire chronicles, não sou a única:
(São Mateus e o Anjo)
É engraçado que uma vez li na Boa Estrela algo que me deixou os cabelos em pé e que quis transcrever aqui mas depois o tempo passou e... O que interessa é que se aplica agora. Entre várias medidas para ter sucesso na vida, uma delas era: “Tente descobrir o que as pessoas vão querer antes de elas descobrirem o que querem. Fazer alianças multiplica o poder. Faça com que as outras pessoas o ajudem e colaborem, unindo-se em direcção ao mesmo alvo”. Eu chamo a isto “manipulação”, mas de um ponto de vista muito realista, sim, isto funciona. Lembro-me de ter pensado que se para ter sucesso na vida tivesse de seguir aqueles 50 conselhos - como é que a Boa Estrela publica um artigo tão pouco edificante ainda não percebi - nunca teria sucesso porque prezo muito a minha consciência. É que eu tenho uma, e pesa-me.
Agora, que a manipulação e o intriguismo resultam, se resultam!
Não sei se o vampiro Armand lê a Boa Estrela, ou talvez tenha nascido ensinado. Todos nascemos com um dom especial.
Pois o dom de Armand é o poder. Mudam as circunstâncias, mudam os ideais, mas Armand tem o dom de “ficar sempre do lado certo”. Qualquer político devia ver em Armand uma inspiração.
Mais do que o intriguista que separa os amigos para seu proveito, Armand é sempre e toda a vida o líder do coven dos vampiros “civilizados”. Como o consegue? Quase por artes mágicas, torna-se na personificação da lei em vigor no momento - o Estado, podemos assim dizer - e chama a si os que temem viver na insegurança. Lestat não faz parte de coisa nenhuma e Louis está sempre tão ocupado a ter pena de si próprio que nem se apercebe que existe um mundo além do seu umbigo. Armand deseja os dois porque possivelmente tem uma certa inveja de não precisarem de quem lhes diga o que fazer. A liberdade é um conceito que Armand não compreende. Na sua ânsia de sobreviver, não se terá esquecido de viver? Que existência triste.
Quando Lestat foi criado, Armand tinha um coven de vampiros que viviam debaixo do cemitério e se dedicavam ao satanismo. Isto porque alguém lhes disse que era assim que deviam fazer, e alguém estipulou as regras que seguiam há séculos. Por ignorância, Lestat acaba por mostrar aos vampiros da altura que havia alternativa. E isso destruiu o pequeno mundo de Armand. O que fazer agora? Os vampiros revoltavam-se, queriam ser livres.
Primeiro, ainda destruiu uns quantos. Depois pensou duas vezes, deitou fora as suas roupas medievais, transformou-se num cavalheiro do século XVIII e voltou a liderar o coven do Teatro dos Vampiros - onde estavam os sobreviventes... de ele próprio.
Virar a casaca! Esse magnífico dom que já transformou maoístas em sociais-democratas! Pois...
Primeiro, Armand tenta seduzir Lestat para o seu grupinho de “discípulos de Armand” ... Mas Lestat nunca acreditou muito nele. Talvez porque antes de o seduzir, Armand o quis incinerar numa pira de fogo? Pormenores.
Por altura do encontro com Louis, o nosso Armand era o dono e senhor do Teatro dos Vampiros. Tinha também um escravo humano, uma espécie de guloseima fora das refeições, que matou num instante quando conheceu Louis. Afinal, este não era importante. Louis foi importante por uns tempos, mas depois também perdeu o interesse. Então já lhe podia dizer a verdade. Antes não era conveniente.
Depois da “fase Louis”, Armand não perdeu muito tempo a encontrar outra vítima. Lembram-se do jornalista que entrevista Brad Pitt em “Entrevista com o Vampiro”? Chama-se Daniel Molloy e também é uma criatura adorável. Ainda era humano e já me inspirava arrepios. Dele só se vê cobardia: tem medo de Louis e tem medo da morte, e tem medo de Armand quando este o começa a perseguir. O que quer dele o vampiro? Aprender sobre o século XX. Sente-se desactualizado, está a perder o poder. Durante anos leva a cabo o seu assédio de hárpia esfomeada até que Daniel confessa que está apaixonado pelo Mal. O Mal que há em Armand. E Daniel quer ser também o Mal. Ser um vampiro. Ser imortal. Nunca questiona a ética desse seu desejo.
É de facto uma bela amostra de ser humano, não haja dúvida!
Por fim lá consegue o que deseja, e o entrevistador do vampiro torna-se vampiro também. “A minha herança de Louis”, diz Armand.
Este prepara tudo para um grande coven onde, como não podia deixar de ser, ele é que manda. Mas também não teve o melhor dos resultados...
Apesar de tudo, reconheço que a hárpia tem os seus encantos. Armand não faz vítimas ao acaso. Senta-se e espera que as pessoas que desejam morrer cheguem até ele. Essa parte é amorosa!
Ainda não li o livro todo dedicado ao vampiro Armand (mas já cá o tenho, yes!) e já algo me diz que ainda me vou arrepender desta maledicência. Com certeza tanta perversidade e falta de moral tem uma origem. Nas entrelinhas quase que se adivinha: na sua adolescência como humano, Armand foi vendido a um bordel onde terá sofrido os calvários deste mundo e do outro. Ainda vamos chegar à conclusão que Armand é uma espécie de “menino da Casa Pia”...
Será desculpa suficiente?
Publicado por _gotika_ em 10:00 PM | Comentários: (2)
1 comentário:
As palavras passaram tudo aquilo que sinto de uma maneira fácil,adorei cada frase sua como se fosse minha parabéns !
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