abril 01, 2004
Barbarismo
Apesar de já ser 1 de Abril, o que eu vou dizer não é de forma nenhuma irónico e também não é mentira, embora seja susceptível de várias interpretações. Hoje vimos na televisão imagens fantásticas (porque assombrosas) da mutilação de corpos americanos no Iraque. Vi imagens que só tinha visto semelhantes num filme de ficção, “Predador”: corpos mutilados pendurados de cabeça para baixo. Neste caso, o “predador” não é extraterrestre mas, para meu espanto, é tão humano como a presa.
No entanto, não fiquei chocada. Fiquei boquiaberta, sim, mas não chocada. Há aqui um pormenor que me faz pensar. Os corpos foram mutilados depois de mortos. Aqui há 500 (ou menos) anos, teriam sido desmembrados enquanto vivos. E arrastados por cavalos enquanto vivos.
Para descanso da minha consciência, estas mutilações foram efectuadas post mortem. Sei que isto vos vai parecer estranho, e irónico, e tudo isso, mas aqui é que se vê também o progresso da Humanidade enquanto TODO.
Sim, foi barbarismo, mas já houve mais e pior. Ali, o que aconteceu foi o descarregar de uma frustração colectiva no símbolo do opressor, como se os corpos fossem os bonecos que se incendeiam nas manifestações. Em tempos medievais, as execuções das pessoas (VIVAS) eram bárbaras e o povo aplaudia como se estivesse num espectáculo.
Por estas razões obscuras - não sei se me estou a fazer entender - acho que sim, a Humanidade progride. Lentamente, muito lentamente, mas progride. Por isso, haja razão para ter esperança.
Publicado por _gotika_ em 01:43 AM | Comentários: (15)
Temos revolução?
Este blog tem-me mostrado uma característica de mim própria - se não um defeito grave, ainda não decidi - que é o facto de ser obsessiva. Nunca imaginei ser tão obsessiva!
Mas enquanto não me passa a fase vampiresca, vamos ao estado da nação. (A fase política não há maneira de passar...)
Hoje tive de sair de casa para uma entrevista de emprego para nada. Eu explico. A entrevista não era para emprego nenhum, e eu já sabia disso quando lá fui. Uma entrevista numa empresa de recursos humanos (e nada pequena) que me chamou para uma entrevista para a eventualidade de aparecer qualquer coisa onde eu “caiba”. E não estamos a falar de emprego para licenciados. Não, estamos a falar de coisas bem mais modestas.
Esta de uma entrevista “para nada” nunca me tinha acontecido. Ou já? Sim, talvez em 1994/1995. É o tal ciclo da “toma” e “retoma” da crise, sendo que quem “toma” com ela somos sempre nós. Sim, eu sei que esta é uma boca revisteira e populista.
Por ser fim de mês, por ter havido greve da Carris de manhã e os autocarros demorarem à tarde, porque as empresas de transportes suburbanos vão abolir o acordo com o passe social, porque subiu a gasolina para mais de um euro, porque as falências não param e o desemprego também não, porque o dinheiro não chega, tudo isto junto, garanto-vos que nunca tinha ouvido tantos protestos e reclamações como hoje!
Era na paragem, era dentro dos autocarros, foi de tarde e foi de noite. Hoje esteve tudo fulo da vida em Lisboa!
Isso é que é estranho porque eu hoje estava tão bem disposta, mas tão bem disposta... Mas eu estou apaixonada. Apaixonada pela escrita de Anne Rice mas não interessa, o que interessa é que estou apaixonada.
Acho que o governo devia distribuir ecstasy para de repente nos apaixonarmos todos e suspirarmos pelas pestanas do Durão e pelas madeixas da Manuela e pela carecada do Portas. Como eu lhes chamo, quando estão os três no Parlamento, juntinhos, tão bonitos, a santíssima trindade. A Manuela, por ser do sexo feminino, cabe o papel de Espírito Santo. Durão e Portas alternam.
E ouvi uma palavra nova no autocarro: “Isto é uma vragonha!”. VRAGONHA. Inclusive, ouvi falar do 25 de Abril, e não foi pela mesma pessoa.
Publicado por _gotika_ em 01:41 AM | Comentários: (4)
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