domingo, 31 de março de 2013

Acabar com a vergonha de uma vez por todas!

Hoje é dia de Páscoa. Para quem não sabe (e muitos não fazem ideia), a Páscoa é o dia mais importante do cristianismo (e não o Natal, como muitos erradamente julgam, que não passa da festa pagã do solstício de Inverno, irrelevante para o cristianismo).
O domingo de Páscoa é o dia em que Jesus ressuscitou dos mortos, o dia da esperança, o dia em que Jesus venceu a morte e provou aos crentes que a vida nesta terra é apenas uma passagem. Os bens materiais corrompem-se e desaparecem, mas o espírito é imortal.

Neste dia de Páscoa, quero deixar uma mensagem de esperança.

A notícia sobre a vaga de suicídios "envergonhados" não me sai da cabeça. Este é um problema sociológico, não patológico, que requer uma cura social e não psiquiátrica. As pessoas não estão deprimidas, as pessoas estão desesperadas. Depois de pensar muito nisto, acho que um bom começo era mudar a mentalidade da "pobreza envergonhada" que é, ela sim, uma vergonha da mentalidade deste país. Desesperadas, isoladas na sua vergonha, as pessoas começam a entrar numa espiral de pensamentos depressivos. Não querem falar da sua pobreza, preferem gastar dinheiro em roupa na loja do chinês para "fazer figura" quando, se calhar, têm a luz cortada em casa. Porque também faz parte da mentalidade portuguesa "fazer figura". Sempre foi assim, e é uma mentalidade transversal desde os mais pobres aos mais ricos. Parar de "fazer figura", assumir a pobreza, não ter vergonha de ser pobre, especialmente neste tempos em que as pessoas são pobres por factores externos que não conseguem mudar [sim, eu sei que são pobres porque o país não as deixa evoluir] é um grande passo de orgulho e auto-estima.
Os portugueses precisam de auto-estima. Mesmo rotos e pobres e de luz cortada, devem erguer a cabeça e dizer, como eu vou dizer aqui: só tomo dois banhos por semana porque não há dinheiro para as contas da luz; não ligo o aquecedor quando está frio pela mesma razão (o frio que eu passei este ano, e ainda há quem se admire porque odeio o Inverno, é porque passo frio, pronto!); tenho os pijamas todos rotos porque não quis gastar dinheiro em novos. Preferi gastar o meu pequeno orçamente nas coisas que me cultivam, nas coisas que me inspiram. Livros, concertos, internet, televisão. (E não esqueçamos que através da internet se obtêm muitas destas coisas que lá estão à nossa espera, tesouros para a alma, não roupa e "fazer "figura" para os vizinhos que se calhar têm a luz cortada também.)

Era bom que estas pessoas nesta situação, e noutras piores, parassem de ter vergonha de falar na pobreza em que vivem. Era bom que se juntassem, numa terapia colectiva, era bom que levantassem a cabeça e se enchessem de orgulho e não se deixassem enganar de que são uns falhados (bem sei que deu muito jeito a muita gente convencê-los disto mesmo, de que são uns falhados, de que a culpa é toda deles, de que viveram acima das suas possibilidades, de que não tiveram mérito para isto ou para aquilo - MENTIRAS!!!)
Era bom que se juntassem, com orgulho, e comparassem histórias e expusessem estas mentiras. Que recuperassem a auto-estima que, uma vez perdida, os atira para debaixo de metros e os faz saltar de pontes.

Se esta crise pode servir para que algo evolua, que se comece por algum lado, que se expulse a "pobreza envergonhada", que se nos repugnemos todos de andar no rebanho a "fazer figura". Uma auto-estima por dia vale mais do que todos os antidepressivos.

Porque a vida terrena é efémera. Podem não acreditar na Ressurreição, mas pensem nisto: quando morrerem, quantos bens vão levar convosco para debaixo da terra?

A VIDA É MUITO CURTA PARA VIVER DE CABEÇA BAIXA E ENVERGONHADA COM MEDO DO QUE OS OUTROS PENSAM.


Aleluia!





1 comentário:

Fashion Faux Pas disse...

Epá,eu sou pobre e sempre me assumi como pobre, mas é mais de espirito, mesmo. Não, não tenho dinheiro para fazer poupanças como gostaria - acho que ponho 5€ de parte todos os meses, no banco - e compro roupa na Primark quando compro, principalmente para o meu filho que não pára de crescer. Mas não sou pobre, não materialmente. Não passamos fome, tomamos banhinho todos os dias - que me desculpem mas prefiro tomar banho todos os dias a comprar um livro, é verdade, eu sem banho não sou ninguém - tenho mantas suficientes pra me aquecer no frio, e também não quis gastar dinheiro em pijamas novos, uso os velhos que dão para o gasto. Mas não sou pobre. Felizmente não sou pobre. Não vou de férias para o estrangeiro, e cá dentro vou raramente, não vou ao cinema nem ao restaurant, não tomo o pequeno almoço no café todos os dias, nem vou beber café á rua, se o posso fazer em casa - só bebo um café por dia - mas não sou pobre. Se fosse pobre não comia 3 refeições por dia. Não tinha provalvelmente um tecto. Não podia vestir o puto, nem ler-lhe um livro. Pobre não sou. Não preciso de andar por aí a mostrar a A ou B que todos os dias compro isto e mais aquilo, as minhas roupas têm anos de uso mas eu gosto delas, e de vez em quado sim, compro uma pecinha ou outra novas. POr isso digo, não sou pobre, só se o for de espirito. Mas uma coisa é bem verdade: se hoje em dia não tenho mais é por culpa e responsabilidade minha. Se hoje em dia não tenho um grande emprego, ou um emprego melhorzito, ou mesmo um emprego isso é culpa minha e responsabilidade minha. Porque eu fiz escolhas, opções que me puseram aqui, e se um dia cheguei a passar fome, e a ter a água cortada por falta de dinheiro - e era preciso pagar a prestação da casa, não a água - foi culpa minha e responsabilidade minha. Também há que aceitar os erros, os falhanços, assumi-los de cabeça erguida, e seguir em frente. If at first you don't succeed...