Mostrar mensagens com a etiqueta George R. R. Martin. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta George R. R. Martin. Mostrar todas as mensagens

domingo, 22 de agosto de 2021

The Outpost

Devo ter ficado mesmo traumatizada com as minhas experiências “Merlin” e “Atlantis” porque, ao começar a ver “The Outpost”, esperava outra série para dizer mal.
E então não é que a série não só é boa, como, pior um pouco, é viciante? A história é Fantasia Grim Dark, e haveria aqui drama suficiente para um George R. R. Martin escrever 20 livros… se os conseguisse acabar, isto é.
Mas “The Outpost”, embora no Género de “A Guerra dos Tronos", é um Grim Dark light que não tenciona traumatizar ninguém. O ritmo da história é tão alucinante que mal temos tempo de digerir um acontecimento dramático quando já está a acontecer outro. Claro que isto não é bom drama, mas entretém bastante.
“The Outpost” começa com a história de Talon (digo “começa” porque entretanto deixa de ser apenas a história dela para se tornar num universo mais alargado, com um world building bem conseguido que nos conquista de episódio para episódio). Talon é a última sobrevivente da tribo/raça/espécie dos Black Bloods, pessoas como os humanos só que têm sangue negro e orelhas pontiagudas. Os Black Bloods foram massacrados quando Talon era criança, a mando da sinistra Primeira Ordem (há razões, mas não vou contar). Talon foi a única a sobreviver porque um dos assassinos teve pena dela (parece-me). Para passar por humana, Talon cortou as orelhas bicudas que distinguem a raça, o que devia ter sido um momento de ir às lágrimas (mas não foi porque, lá está, isto não é bom drama). Depois de adulta, Talon tem um único objectivo: vingar-se dos homens que mataram todos os Black Bloods.
A partir daqui haveria muito a contar, porque isto é só o início. Confesso que não gostei do primeiro episódio, que teve, sem exagero, umas três ou quatro cenas de porrada. Talon, é óbvio, é a guerreira mais durona lá do sítio. E por falar em lutas, não sei o que raio eles fizeram ou tentaram fazer, que todas as lutas, em vez de realistas, como é desejável, parecem estar em “fast forward”, se é que não foram todas feitas com CGI, o que lhes dá um aspecto de jogo de vídeo que nos tira do sério. Mas o problema maior não foram mesmo as cenas de acção, mas a actriz, Jessica Green (Talon). Eu não costumo criticar actuações porque tenho a sorte de ter apanhado sempre actores e actrizes decentes/competentes, e acredito que com mais experiência (e aulas) Jessica Green até lá chegue, mas em três temporadas de “Outpost” não vi evolução nenhuma e tenho de chegar à conclusão de que foi escolhida por ser gira e credível como guerreira. Há uma cena, por exemplo, em que o objectivo é que ela ficasse triste, e nem com cascas de cebola a rapariga conseguiria arrancar lágrimas daqueles olhos. No primeiro episódio, simpatizei mais com a miudinha que fez de Talon em criança (que esteve em cena menos de 10 minutos) do que com a protagonista, o que é mau, muito mau.
Felizmente, não desisti, pois se a protagonista não é propriamente candidata aos Óscares, a história e os personagens secundários valem bem a série, especialmente os actores mais velhos que forneceram peso e espectáculo onde ele não havia.
Aquele personagem ridículo, Janzo, o que é aquilo? É para nos fazer rir? Eu tive foi pena dele, especialmente quando começaram a dizer-lhe que ele não precisava de mudar porque está muito bem como é. Ora, amigos, o personagem parece sempre à beira de uma apoplexia, como é que pode estar bem como é? Pelo menos que endireite as costas ou fica marreco para sempre. Postura! Não era necessário e não faz rir.
Os Black Bloods são perseguidos porque conseguem invocar demónios através de uma espécie de portal para outra dimensão, ou aquilo a que os humanos chamam demónios e que são afinal outra raça. Aqui notou-se incrivelmente a falta de orçamento desta série, há que dizê-lo. O dinheiro foi todo para o cenário e para o guarda-roupa, porque estes pobres demónios são pessoas vestidas de plástico, e às vezes até se vêem os bigodes de borracha a vibrar. Os olhos, então, notava-se às vezes que eram pintados na cabeça do boneco. Fez-me rir, admito, embora não fosse esse o propósito.
O Outpost é uma espécie de reduto de todos os refugiados do regime agora no poder, a terrível Primeira Ordem, que assassinou o antigo rei, a rainha e toda a sua família, crianças e tudo. Mas a pequena princesa sobreviveu (não vou dizer quem ela é). Vou antes explicar porque é que o drama aqui é muito superficial, tão superficial que não se nota. A princesa sobreviveu porque um nobre falsamente leal à Primeira Ordem, mas leal ao antigo rei, a substituiu pela sua própria filha e a criou como se fosse dele. Isto é, este homem entregou a própria filha e assistiu, impávido e sereno, a vê-la ser decapitada. Rico pai, sim senhor! (Compare-se o dramatismo com o conto de Eça de Queirós, “A Aia”, em que esta também troca o seu filho pelo príncipe herdeiro, suicidando-se de seguida.) Mas este homem até já se esqueceu da filha e afeiçoou-se à jovem que criou como sua, como se a outra menina nunca tivesse existido. Pobre miúda!
Isto significa que existe alguém da família real que tem direito ao trono e decide recuperá-lo, e com a ajuda dos demónios de Talon não será impossível, mas também não será fácil.
Outro momento de dramatismo superficial é quando um dos leais à princesa sofre uma lavagem cerebral (com drogas e magia à mistura) e lhe é ordenado que mate o próprio pai, o que ele faz sem pestanejar. Quando acorda do torpor em que tinha sido lançado, matar o pai é a última coisa de que se lembra. “Ooops, e além de fazer estas coisas todas, matei o meu pai.” Personagens profundíssimos, sem dúvida.
Mas não posso terminar este artigo sem falar da maneira em que a tal princesa, a certa altura, quase foi Daenerysada e transformada num monstro impiedoso. Talvez por terem aprendido com “A Guerra dos Tronos”, os autores da série voltaram atrás antes que acontecesse, ou lá se ia outra personagem empática para o galheiro.
Como numa boa Fantasia Grim Dark, há mortes chocantes (que podiam ter sido mais chocantes, mas esta série não é para adultos) e inesperadas, há objectos e seres mágicos, profecias, e um trono a ser reconquistado. Há muito de interessante para ver, desde que não se perca o fio à meada. Como disse, o ritmo é tão alucinante que por vezes eu tinha de parar e lembrar-me de como se chegou do ponto A ao ponto B, o que nunca é bom sinal. “The Outpost” estreou em 2018, já teve três temporadas e prepara uma quarta (nunca pensei que chegasse tão longe, francamente). Não é nenhuma “Guerra dos Tronos”, mas agradará de certeza à mesma audiência. Recomendo, sem grandes entusiasmos.
Uma última nota para os fantásticos títulos dos episódios, que às vezes nos dão pistas, que outras nos enganam de propósito, e que outras simplesmente nos divertem, como no caso do segundo: “Two Heads Are Better Than None”. Grande verdade! E grandes títulos, parabéns!

domingo, 1 de novembro de 2020

Maria Theresia (2017–2019)


“Maria Theresia” é um drama ficcional sobre a vida da arquiduquesa Maria Teresa de Áustria, última governante da casa dos Habsburgos, soberana da Áustria, Hungria, Croácia, Boémia, e outros tantos títulos que não vou citar. Pelo seu casamento com Francisco Estêvão, duque de Lorena, tornou-se igualmente  imperatriz consorte do Sacro Império Romano-Germânico. Esta é a história de uma mulher forte que teve de se impor numa época em que as mulheres não eram consideradas capazes de governar. Era esperado que Maria Teresa cedesse a governação ao marido e em seguida ao filho mais velho, mas ela não o fez e governou durante 40 anos.
Um pormenor que eu não sabia: Maria Teresa foi a mãe de Maria Antonieta (essa mesma). A arquiduquesa teve 16 filhos, dos quais Maria Antonieta foi a filha mais nova. Isto de ser a última filha (e da última governante da casa dos Habsburgos) quase que prenuncia um destino fatídico desde o berço.
Mas voltando a “Maria Theresia”. Gostei muito desta mini-série de duas partes, de produção europeia e falada em alemão (isto é, parece-me que é maioritariamente alemão). Os quatro episódios são longuíssimos, duas horas cada um, mesmo à europeia, mas eu cá acho que não se perdia nada se a série tivesse mais episódios e mais curtos. Acabei por dividi-los eu, de acordo com a minha disponibilidade.
Não conheço a família Habsburgo tão bem como devia conhecer, tendo em conta a sua importância na história da Europa moderna. Vi a série e consultei a Wikipedia para conferir os factos, mas não encontrei todos os pormenores que dramatizaram a vida de Maria Teresa. Deste modo, tudo o que vou dizer a seguir é um comentário à série ficcionada.
Que Maria Teresa foi uma mulher forte não há dúvida nenhuma, uma daquelas que só faz o que quer e que sabe o que fazer para atingir os seus fins.
Maria Teresa não foi preparada para a governação pelo seu pai Carlos VI, ainda à espera de um herdeiro varão que nunca chegou a ter. Na série, Maria Teresa estuda História e Política às escondidas, preparando-se autodidacticamente para a posição que ia ocupar muito em breve. Mesmo assim, apesar dos seus esforços, Maria Teresa cometeu erros de principiante no início da sua governação, que acabaram por não ser culpa sua mas de toda uma estrutura política que não a preparou. Ingenuamente, Maria Teresa julgou que os reinos aliados, que tinham acordado com o seu pai Carlos VI aceitar uma mulher como sucessora, cumpririam a sua palavra. Não cumpriram, e em breve declaravam todos guerra à Áustria, cada um a tentar conquistar territórios para si. Maria Teresa percebe então que tem um exército pequeno, mal equipado e mal treinado. Apesar do apoio da Hungria, onde foi coroada rainha, os Habsburgos estavam a perder a guerra e os seus territórios. Isto tornou Maria Teresa uma mulher endurecida, que compreendeu a necessidade de governar com mão de ferro. Não sei até que ponto a série foi fiel aos factos, mas no seu desespero Maria Teresa alia-se ao barão von Trenck, conhecido mercenário e criminoso de guerra que cometeu atrocidades por onde passou. Mas, como diria Maria Teresa, “ele luta e ganha, e mais ninguém luta por mim”. Neste aspecto, Maria Teresa foi maquiavélica como uma verdadeira Cercei Lannister (ou melhor, George R. R. Martin é que se inspirou, consciente ou inconscientemente, em Maria Teresa ou alguém semelhante), não acreditando ou não querendo acreditar no mau comportamento do seu melhor chefe de guerra. Assim que deixou de precisar dele, contudo, mandou-o prender por todos os crimes cometidos. Maria Teresa podia ser maquiavélica, invocando a razão de Estado acima de tudo, mas não era um monstro sem coração.

Uma relação complexa
Mas o mais interessante neste drama ficcionado é sem dúvida a sua relação com o marido Francisco Estêvão. Tudo indica que casaram por amor, o que por si só já era estranho à época. Mas conhecendo esta Maria Teresa, muito capaz de levar a água ao seu moinho, até não é assim tão estranho. Francisco Estêvão também era o que se chama “torcido”, isto é, não muito fácil de manusear, o que estava à altura dela. Durante os primeiros tempos foram felizes, até ao momento em que Maria Teresa sucedeu ao seu pai. Aí é que começaram os problemas, numa versão de “love will tear us apart”. Assim que Maria Teresa se torna governante e é declarada a guerra, esta deixa de ter tempo para o marido e até para os filhos. Segundo a Wikipedia, Maria Teresa terá dito que “se não estivesse quase sempre grávida teria ido sozinha para a batalha”. Mas apesar de “sempre grávida”, Maria Teresa não parava de governar nem no momento de dar à luz. Francisco Estêvão compreende-lhe a posição, mas sente-se diminuído ao lado da mulher. Por exemplo, não o deixam entrar no Conselho Privado porque não tem a linhagem que lhe garanta lá um lugar. Sem o desejar, Francisco Estêvão ressente-se da situação. Dedica-se então a criar uma indústria de tecidos que tinha por objectivo rivalizar com a da Flandres, e ao que parece foi muito bem sucedido e um grande empresário do seu tempo. Longe de viver à sombra da mulher, Francisco Estêvão começou por usar os seus negócios para equipar o exército. Sem que ela soubesse, arriscou mesmo vender uniformes ao inimigo, que assim, sem o saber, estava a financiar o exército de Maria Teresa. Isto é traição, claro está, mas Francisco Estêvão também tinha uma costela maquiavélica, como a esposa. O que os separou a pouco e pouco foi o orgulho ferido de Francisco Estêvão, que arranjou amantes inconsequentes para se entreter na ausência da mulher, talvez julgando que era aceitável e comum à época, e o orgulho ferido de Maria Teresa ao descobrir que ele as tinha. Mas Maria Teresa não o confrontou nem lhe fez uma cena. Se calhar por ser comum à época, se calhar porque sabia que o perderia se o confrontasse (que ele também não era homem de aturar críticas e Maria Teresa tinha a perfeita consciência de que o negligenciava por motivos de Estado), Maria Teresa sofreu em silêncio. Depois, de forma egoísta e novamente maquiavélica, iniciou uma perseguição às prostitutas e a todas as mulheres de pouca virtude, mesmo as nobres, ambicionando assim atingir as amantes do marido. Com isto, pondo os jesuítas a agirem como espiões e polícia de costumes (Maria Teresa era católica), estes acabam por descobrir que Francisco Estêvão não apenas pertence a uma loja maçónica como é o seu grão-mestre! Muitos dos seus contactos com as ditas mulheres nem sequer eram de natureza íntima, mas a maneira de comunicar com os maridos delas sem os comprometer com a maçonaria. Finalmente, Francisco Estêvão conta a Maria Teresa tudo o que ela não sabe, da maçonaria, do financiamento do exército (de onde é que ela pensava que vinha o dinheiro?), e que ele nem sequer acredita em Deus. Foi um choque, mas mais uma vez Maria Teresa reage de uma forma muito madura e moderna e propõe que passem a viver separados. Francisco Estêvão aceita, mas volta a dizer-lhe que só a ama a ela e que as outras não significam nada.
Neste período de separação, na série, pelo menos, outros acontecimentos na vida de Maria Teresa fazem-na perceber que errou em muitas coisas. Principalmente na questão das perseguições à falta de virtude, que abandona. E ainda não é tarde para se reconciliar com Francisco Estêvão.
Gostei desta relação complexa e quase moderna, sem o banal “felizes para sempre”, sem conflitos artificiais para criar tensão. Tenho algumas dúvidas de que as coisas se tenham passado assim na realidade, mas do ponto de vista ficcional foi muito bem feito. A relação entre o casal é a alma da série.


Parece-me que a série não era para ter uma segunda parte. Se calhar a primeira parte teve tanto sucesso que decidiram continuar. Mas mudaram muitos dos actores, incluindo a própria Maria Teresa, o que me fez ficar ali completamente perdida durante uma boa meia hora. Felizmente não lhe mudaram a mãe nem o marido, ou a minha desorientação teria sido total. Não me importo que o mesmo actor interprete vários papéis na mesma série (“American Horror Story”) mas mudar os actores que interpretam o mesmo papel não ajuda a criar uma ligação com a personagem.
“Maria Theresia” passou na RTP2 e recomendo a toda a gente que gosta de História em geral e de mulheres fortes em particular.


segunda-feira, 29 de julho de 2019

Game of Thrones / A Guerra dos Tronos (final)


[crítica ao FIM; spoilers do último episódio]


Então, quem é que se sentou no Trono de Ferro? Ninguém.
A maioria das críticas são unânimes e eu concordo: durante as duas últimas temporadas foi tudo a correr, de plot point em plot point, sem tempo para aprofundar personagens. A maior vítima desta pressa foi a pobre Daenerys, transformada num monstro em 30 segundos para andar com o enredo para a frente. Nem a actriz nem a personagem mereciam isto. A ideia que tentou ser vendida é que Daenerys enlouqueceu, mas o que passou não foi convincente, nem como loucura nem como evolução natural da personagem. Daenerys não pareceu louca, pareceu monstruosa. Conseguiram transformar a Daenerys no Hitler, basta olhar para este cenário:


Só falta a suástica de 5 metros de altura. Heil!
Outro personagem desnecessariamente atropelado na pressa de chegar ao fim foi Jaime. O desgraçado ia a caminho da redenção, e até compreendo que tenha regredido a meio do caminho. Mas não em meia hora, por amor de Deus! E qual foi a necessidade daquilo com a Brienne (tirando fan service, isto é?) Se queria voltar para a irmã, que voltasse. Mas o que se passou foi que o personagem não sabia o que queria, não sabia quem queria, não sabia o que estava a fazer nem para onde se virar. Coitado, transformado em barata tonta. Merecia um fim mais consistente, quer se redimisse ou não. Mas os criadores da série estavam cheios de pressa para ir fazer outra coisa qualquer (que algo me diz que não vou ver).


O que mais não fez sentido
Perdi qualquer esperança de que o fim da série fizesse sentido quando acabaram com o Night King daquela maneira (o rei dos zombies, para quem não sabe). Este é um desgosto pessoal, admito, porque eu estava realmente a torcer pelos zombies. Talvez não esperasse que vencessem, mas nunca pensei que dessem tão pouca luta. Uma batalha, um episódio, uma ninja adolescente. E assim acabou a maior ameaça de Westeros em milhares de anos, a razão da existência da Muralha, a primeiríssima cena da série. Enfim, nem tenho palavras. Foi mesmo uma desilusão. Nem cheguei a perceber afinal o que é que os zombies queriam. Houve um episódio que explica que a criação deles foi uma espécie de feitiço contra o feiticeiro, mas isso não explica qual era a ambição que os movia. Os zombies não paravam de aumentar as fileiras do seu exército dos mortos. Para quê? O objectivo era invadir o Sul. Porquê? Num dos episódios raptaram um bebé e transformaram-no num deles. Com que objectivo? Por que raio precisavam de um bebé? Só “porque sim” não é resposta. Agora nunca vou perceber para que é que queriam o bebé.
Não pretendo ler a saga de George R. R. Martin, mas, quando e se o homem a escrever a história dos zombies, seria um livro que me interessaria. E talvez possa vir daí a minha conclusão consistente. Mas para isso é preciso que Martin escreva e é melhor não esperar de pé.
Depois desta correria desenfreada, chegámos finalmente ao último episódio. E deste, confesso, gostei da primeira parte (que tem a duração de um episódio inteiro). Especialmente a cena dramática entre a Daenerys e o Jon Snow. Até gostei do dragão! Foi das raras vezes em toda a série que de facto me importei com os personagens. Admito que me surpreendi por ter gostado tanto, porque quase tudo o que aconteceu em “A Guerra dos Tronos” teve principalmente um efeito de choque (o Red Wedding, a morte da princesa Shireen, o sadismo de Joffrey e de Ramsay, as fogueiras de Melisandre, as execuções-por-dragão de Daenerys, tudo porno-tortura) mas a isto eu senti. Finalmente, Jon Snow conseguiu pôr a funcionar o Tico e o Teco e agiu com a cabeça. Teria tido mais pena da Daenerys, mas depois de a transformarem no Hitler em 30 segundos já não deu para empatizar grande coisa.
Já a segunda parte do último episódio foi um festival de disparate. Bran? Eu já me tinha esquecido de que Bran era um personagem. E aquela reunião de nobres(?) e outras pessoas com o Torgo Nudho? Quem era aquela gente que ali apareceu do nada? Custava alguma coisa apresentarem-nas? Alguns descobri quem eram a ler críticas. Outros ficarão para sempre no mistério do meu desinteresse. Afinal, isto era a Guerra dos Tronos. O mínimo que se pode esperar é que o espectador reconheça os sobreviventes.
O fim foi completamente incoerente. Torgo Nudho não ia esperar sei lá quanto tempo por um julgamento com gente que não lhe diz nada. Assim que Torgo Nudho virasse costas, Jon Snow não ia para a Muralha. E qual Muralha? O próprio Jon Snow pergunta “ainda há uma Muralha?”, e com ele nós todos. Já não há Night King, nem sequer cavalos zombies e dragões de gelo. O que é que alguém vai fazer para a Muralha?
Bran e Sansa só acabaram como acabaram, os donos do pedaço, porque o verdadeiro Rei devia ter sido o irmão/primo deles. Essa é que é a verdade e devia ter sido a conclusão lógica da história.

Os vencedores
Apesar de tudo isto, algumas personagens conseguiram conquistar-me. Tyrion, não é novidade, sempre foi o meu preferido. Embora no fim tenha tido momentos de burrice que não fazem justiça ao personagem (e Varys, idem) quando decidiu agir com honra e coragem em vez de ser inteligente. Só se safou graças ao Jon Snow, que foi mais esperto. Não deixa de ser irónico.


Sansa nunca foi preferida do público desde o início mas eu sempre vi nela o potencial daquilo em que se tornou. Se se pode dizer que alguém ganhou a Guerra dos Tronos, esse alguém é Sansa, não apenas sobrevivente mas vencedora, não apenas uma Lady mas uma Rainha. Gostei.


Também gostei da última tirada de Samwell Tarly, sugerindo dar voz ao povo para escolher os seus governantes. Momento brilhante de alguém à frente do seu tempo. Infelizmente, ninguém lhe ligou nenhuma.


Arya, a miúda ninja, não sei o que lhe aconteceu mas perdi completamente o interesse por ela. Lembra-me aquela cena d’“Os Diários do Vampiro” em que eles desligam a humanidade. Foi o que me pareceu, que ela desligou a humanidade e se tornou uma espécie de super-Arya. Super-heróis não são o meu género e nunca serão.
Mas, no meio disto tudo, uma personagem cresceu no meu coração. Brienne de Tarth, que a princípio era bidimensional e irrelevante, nas últimas temporadas tornou-se uma mulher de carne-e-osso, não apenas uma mulher “que queria ser homem” mas alguém que amou (um homem que não a merecia), que sofreu, e que se elevou ao abandono com a maior das dignidades. Não sou daquelas que só fica satisfeita quando as personagens têm um final romântico mas, se Brienne quiser pensar no assunto, há sempre o Tormund. Depois de amestrado, e com maneiras à mesa, quem sabe, ainda se encontram para tomar um copo?


Tormund, o “gigante” (gigante entre aspas, porque nesta série há gigantes a sério) voltou para o norte, para lá da Muralha, de coração partido. Mas estar longe não é estar morto.
Para minha felicidade, Ghost (o lobo ou direwolf) também foi com ele. Esteve difícil, mas o bicho safou-se. Ainda bem, nesta série que se fartou de matar animais. Quem é que, não sendo um serial killer com nostalgia pela infância, quer ver isso?


Em suma, uma boa cena dramática (Tyrion, Daenerys, Jon Snow, Drogon) não basta para compensar a enorme frustração que foi assistir ao final desta série. Eu até não sou uma daquelas fãs “die hard”, não estou desiludida e em lágrimas, mas não é por isso que não tenho direito a um final que faça sentido. Desde que os criadores da série ficaram sem os livros para os guiar o enredo foi por água abaixo e nunca mais se elevou ao nível das primeiras temporadas.  Resta-nos esperar pelo Martin, se entretanto ele não perdeu o interesse em escrever o resto.



Primeira parte da crítica à série até à quinta temporada AQUI

Segunda parte da crítica à série até à quinta temporada AQUI