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domingo, 22 de agosto de 2021

The Outpost

Devo ter ficado mesmo traumatizada com as minhas experiências “Merlin” e “Atlantis” porque, ao começar a ver “The Outpost”, esperava outra série para dizer mal.
E então não é que a série não só é boa, como, pior um pouco, é viciante? A história é Fantasia Grim Dark, e haveria aqui drama suficiente para um George R. R. Martin escrever 20 livros… se os conseguisse acabar, isto é.
Mas “The Outpost”, embora no Género de “A Guerra dos Tronos", é um Grim Dark light que não tenciona traumatizar ninguém. O ritmo da história é tão alucinante que mal temos tempo de digerir um acontecimento dramático quando já está a acontecer outro. Claro que isto não é bom drama, mas entretém bastante.
“The Outpost” começa com a história de Talon (digo “começa” porque entretanto deixa de ser apenas a história dela para se tornar num universo mais alargado, com um world building bem conseguido que nos conquista de episódio para episódio). Talon é a última sobrevivente da tribo/raça/espécie dos Black Bloods, pessoas como os humanos só que têm sangue negro e orelhas pontiagudas. Os Black Bloods foram massacrados quando Talon era criança, a mando da sinistra Primeira Ordem (há razões, mas não vou contar). Talon foi a única a sobreviver porque um dos assassinos teve pena dela (parece-me). Para passar por humana, Talon cortou as orelhas bicudas que distinguem a raça, o que devia ter sido um momento de ir às lágrimas (mas não foi porque, lá está, isto não é bom drama). Depois de adulta, Talon tem um único objectivo: vingar-se dos homens que mataram todos os Black Bloods.
A partir daqui haveria muito a contar, porque isto é só o início. Confesso que não gostei do primeiro episódio, que teve, sem exagero, umas três ou quatro cenas de porrada. Talon, é óbvio, é a guerreira mais durona lá do sítio. E por falar em lutas, não sei o que raio eles fizeram ou tentaram fazer, que todas as lutas, em vez de realistas, como é desejável, parecem estar em “fast forward”, se é que não foram todas feitas com CGI, o que lhes dá um aspecto de jogo de vídeo que nos tira do sério. Mas o problema maior não foram mesmo as cenas de acção, mas a actriz, Jessica Green (Talon). Eu não costumo criticar actuações porque tenho a sorte de ter apanhado sempre actores e actrizes decentes/competentes, e acredito que com mais experiência (e aulas) Jessica Green até lá chegue, mas em três temporadas de “Outpost” não vi evolução nenhuma e tenho de chegar à conclusão de que foi escolhida por ser gira e credível como guerreira. Há uma cena, por exemplo, em que o objectivo é que ela ficasse triste, e nem com cascas de cebola a rapariga conseguiria arrancar lágrimas daqueles olhos. No primeiro episódio, simpatizei mais com a miudinha que fez de Talon em criança (que esteve em cena menos de 10 minutos) do que com a protagonista, o que é mau, muito mau.
Felizmente, não desisti, pois se a protagonista não é propriamente candidata aos Óscares, a história e os personagens secundários valem bem a série, especialmente os actores mais velhos que forneceram peso e espectáculo onde ele não havia.
Aquele personagem ridículo, Janzo, o que é aquilo? É para nos fazer rir? Eu tive foi pena dele, especialmente quando começaram a dizer-lhe que ele não precisava de mudar porque está muito bem como é. Ora, amigos, o personagem parece sempre à beira de uma apoplexia, como é que pode estar bem como é? Pelo menos que endireite as costas ou fica marreco para sempre. Postura! Não era necessário e não faz rir.
Os Black Bloods são perseguidos porque conseguem invocar demónios através de uma espécie de portal para outra dimensão, ou aquilo a que os humanos chamam demónios e que são afinal outra raça. Aqui notou-se incrivelmente a falta de orçamento desta série, há que dizê-lo. O dinheiro foi todo para o cenário e para o guarda-roupa, porque estes pobres demónios são pessoas vestidas de plástico, e às vezes até se vêem os bigodes de borracha a vibrar. Os olhos, então, notava-se às vezes que eram pintados na cabeça do boneco. Fez-me rir, admito, embora não fosse esse o propósito.
O Outpost é uma espécie de reduto de todos os refugiados do regime agora no poder, a terrível Primeira Ordem, que assassinou o antigo rei, a rainha e toda a sua família, crianças e tudo. Mas a pequena princesa sobreviveu (não vou dizer quem ela é). Vou antes explicar porque é que o drama aqui é muito superficial, tão superficial que não se nota. A princesa sobreviveu porque um nobre falsamente leal à Primeira Ordem, mas leal ao antigo rei, a substituiu pela sua própria filha e a criou como se fosse dele. Isto é, este homem entregou a própria filha e assistiu, impávido e sereno, a vê-la ser decapitada. Rico pai, sim senhor! (Compare-se o dramatismo com o conto de Eça de Queirós, “A Aia”, em que esta também troca o seu filho pelo príncipe herdeiro, suicidando-se de seguida.) Mas este homem até já se esqueceu da filha e afeiçoou-se à jovem que criou como sua, como se a outra menina nunca tivesse existido. Pobre miúda!
Isto significa que existe alguém da família real que tem direito ao trono e decide recuperá-lo, e com a ajuda dos demónios de Talon não será impossível, mas também não será fácil.
Outro momento de dramatismo superficial é quando um dos leais à princesa sofre uma lavagem cerebral (com drogas e magia à mistura) e lhe é ordenado que mate o próprio pai, o que ele faz sem pestanejar. Quando acorda do torpor em que tinha sido lançado, matar o pai é a última coisa de que se lembra. “Ooops, e além de fazer estas coisas todas, matei o meu pai.” Personagens profundíssimos, sem dúvida.
Mas não posso terminar este artigo sem falar da maneira em que a tal princesa, a certa altura, quase foi Daenerysada e transformada num monstro impiedoso. Talvez por terem aprendido com “A Guerra dos Tronos”, os autores da série voltaram atrás antes que acontecesse, ou lá se ia outra personagem empática para o galheiro.
Como numa boa Fantasia Grim Dark, há mortes chocantes (que podiam ter sido mais chocantes, mas esta série não é para adultos) e inesperadas, há objectos e seres mágicos, profecias, e um trono a ser reconquistado. Há muito de interessante para ver, desde que não se perca o fio à meada. Como disse, o ritmo é tão alucinante que por vezes eu tinha de parar e lembrar-me de como se chegou do ponto A ao ponto B, o que nunca é bom sinal. “The Outpost” estreou em 2018, já teve três temporadas e prepara uma quarta (nunca pensei que chegasse tão longe, francamente). Não é nenhuma “Guerra dos Tronos”, mas agradará de certeza à mesma audiência. Recomendo, sem grandes entusiasmos.
Uma última nota para os fantásticos títulos dos episódios, que às vezes nos dão pistas, que outras nos enganam de propósito, e que outras simplesmente nos divertem, como no caso do segundo: “Two Heads Are Better Than None”. Grande verdade! E grandes títulos, parabéns!

domingo, 11 de abril de 2021

Sinbad (2012–2013)

Depois de tão escaldada e irritada por séries juvenis como “Merlin” e “Atlantis”, comecei a ver “Sinbad”, outra série feita no Reino Unido, na quase certeza de que era mais uma para criticar sem piedade. Surpresa das surpresas, até gostei. Ao contrário das outras duas, e tendo em consideração que é um produto infanto-juvenil, esta pelo menos faz sentido. Mas há muito mais para gostar.
Não sei até que ponto é uma série para crianças. Reparei num quadradinho azul-claro no canto do écran com o número 7. O que é isto? Como não costumo ver séries para crianças, não sei, mas desconfio que é para maior de sete? Sim, a história é simples de acompanhar e até aparece um grifo no segundo episódio que ajuda os protagonistas, mas não sei se às vezes não é muito pesado para sete anos. Como daquela vez, por exemplo, em que um monstro comeu o braço a alguém e se vê o “braço decepado”, osso e sangue à mostra. Eu achei um bocadinho realista demais para um público infantil, mas se calhar agora os putos até vêem “A Guerra dos Tronos”. Por outro lado, apesar da simplicidade da história, os personagens não são tão bidimensionais como é costume e não sei se um miúdo desta idade tem capacidade de lhes compreender as nuances. Eu aconselharia a uma idade entre os 10 e os 13, mas já volto a este ponto.
Sinbad é mesmo Sinbad o Marinheiro. Um jovem irresponsável, vive de expedientes até ter o azar de matar acidentalmente o filho de um nobre importante num antro de luta a dinheiro. Este nobre importante, Lord Akbari, não é outro senão Naveen Andrews, o Sayid Jarrah de “Lost”, e que bem que este homem faz de vilão atormentado. Tão atormentado, na verdade, que não sei até que ponto uma criança ia compreender isto. No mundo infantil há os bons e os maus, não existe a área cinzenta em que um vilão pode ter alguma razão.
Cego de vingança, Lord Akbari manda matar o irmão de Sinbad, que este adora, para que Sinbad sinta a dor que ele sente. Quando isto acontece, a avó de Sinbad, furiosa por este ter sido o causador da morte do irmão bom e responsável, põe-lhe uma maldição: Sinbad tem de andar no mar durante um ano, com um colar ao pescoço que o estrangula se passar mais de um dia em terra. A avó é uma feiticeira, como é óbvio, e não faz isto por malvadez. Quer que Sinbad aprenda a lição de que os seus actos têm consequências. Entretanto, Lord Akbari sofre pela morte do único filho e decide que a vingança não bastou. Agora quer matar Sinbad também, e decide persegui-lo até aos confins do mundo. Para tal, pede ajuda à feiticeira Taryn, cujas práticas estavam banidas da Pérsia por ordem do soberano, irmão de Akbari, que não gosta de magia.
Aqui, confesso, cheirou-me tanto a “Merlin” que enjoou (“Merlin” terminou em 2012, ano de estreia de “Sinbad”), mas a série afastou-se desse enredo depressa, talvez por perceber que já ninguém tinha paciência para ver o mesmo outra vez. Foram espertos.
A única ligação à Pérsia é mesmo o ponto de partida, porque de resto “Sinbad” é uma série de Fantasia com um world building próprio muito bem feito em que somos mergulhados num tempo e espaço ficcionais sem outras semelhanças com a realidade histórica. (Alguns críticos não perceberam que estavam a ver Fantasia. É triste mas ainda acontece.) Perseguido por Lord Akbari, Sinbad tem de fugir num navio que quase naufraga durante uma tempestade. Os únicos sobreviventes, que se tornam companheiros de Sinbad, são meia dúzia de personagens que não podiam ser mais diferentes, alguns bons até ao tutano, outros de passado e presente duvidosos.
Todos os episódios são uma aventura diferente e a série aproveita para desenvolver cada um dos personagens, contando-lhes a história. Dei por mim a ficar interessada. Não deslumbrada, nem nada que se pareça, mas é uma boa série para ver ao fim do dia, com sono e um copo de vinho, sem ter de pensar muito, mas ainda nos fazendo pensar um bocadinho. O enredo principal vai sempre acompanhando as aventuras dos amigos náufragos, e nunca temos a sensação de episódios que só ali estão a encher “chouriços”.
Acabada a primeira temporada de 10 episódios, perguntei-me se havia segunda. Para meu espanto, não havia. Foi cancelado. E digo “para meu espanto” depois de cinco intermináveis temporadas de “Merlin” e duas de “Atlantis”, que eu já só via por hate watching. Isto intrigou-me e fui investigar. Li algumas críticas. E as minhas suspeitas confirmaram-se. “Sinbad” foi vítima de ser demasiado pesado para crianças e demasiado leve para adultos, um pouco o que aconteceu também a “Atlantis” no fim. As crianças não conseguem compreender os personagens e os adultos acham-nos demasiado estereotipados. O world building de Fantasia está muito bem feito mas pedia mais drama a encher este cenário. Numa altura em que competia com “A Guerra dos Tronos”, não tinha qualquer hipótese.
Vou dar o exemplo do segundo episódio, em que os náufragos vão parar a uma ilha de ladrões canibais. Que são canibais é a princípio só insinuado mas lá para o meio do episódio torna-se muito claro: vão ser comidos. A rainha dos canibais escolhe um dos homens para dormir com ela (antes de o comer mesmo, isto é), e Sinbad oferece-se em vez dele para tentar descobrir como escapar. Ora, meus amigos, isto é violação. Se fosse um homem a escolher uma mulher para dormir com ele sob ameaça de morte, o que não teriam gritado os pais das criancinhas a quem a série era supostamente destinada. Sinbad vai para a cama com a rainha dos canibais porque não tem outra escolha se a quer “empatar”. É a vida dele e dos amigos que está em jogo. Não me parece um enredo infantil. Mas este é precisamente o episódio que acaba com a ajuda do grifo. A rainha dos canibais tem um grifo aprisionado a quem Sinbad liberta. O grifo ajuda por gratidão. Ora, este já é um enredo infantil. Mas o episódio andou ali entre o pesadíssimo e o infantil como se água e azeite se misturassem. Eu assisti de boca aberta a perguntar-me: quem é o público-alvo desta série? É que não dá para ser leve e pesado ao mesmo tempo. Acaba por não agradar a ninguém, nem aos miúdos nem aos graúdos. Na minha opinião foi isto que ditou a curta carreira de “Sinbad”, que, dirigido a um público mais adulto, ou o contrário, a um público mais infantil, podia ter sido uma série mais satisfatória.
Assim, ficou ali no morno e não foi quente nem frio. Mas como morno que é, aconselho a adultos ensonados antes de dormir.
E já falei no Naveen Andrews como vilão? Por onde é que o homem tem andado? As saudades que eu tinha dele.

 

domingo, 23 de agosto de 2020

Atlantis (2013–2015)


Atlantis” foi escrito pela mesma gente que criou “Merlin” e, para não destoar, é igualmente mau. Menos mau do que “Merlin” pela única razão de que só durou duas temporadas e foi logo cancelado porque a BBC não quis dar mais pão a malucos. Eu pergunto mesmo como é que deixam estas pessoas escrever para a BBC?... Cunhas, só pode. Tanta incompetência não se explica de outra maneira.
Mesmo assim, custa-me perceber como que é coisas destas acontecem (ou alguém as deixa passar) a um nível profissional, numa cadeia de televisão de prestígio. Os problemas começam logo no primeiro episódio. Jasão é um jovem dos nossos dias que se mete num submarino para investigar o local onde o barco do pai dele naufragou. Aparentemente, Jasão tem dúvidas de que o pai esteja morto, ou algo assim, porque só passámos cinco minutos com isto. Quando estava no fundo do mar, uma luz (portal?) suga-o de repente e Jasão acorda numa praia, nu da silva, que já é uma praia de Atlantis. É a Atlântida, mas até me custa chamar Atlântida àquela cidadezinha perfeitamente banal da Antiga Grécia, a lembrar Creta. Imediatamente, Jasão, vindo dos nossos dias, começa a falar perfeitamente Grego Antigo (é inglês, mas vocês percebem o que quero dizer com isto). O que nem é o pior, porque Jasão sente que finalmente chegou a um local que sempre lhe foi familiar e isto podia ter sido explicado de várias formas. Mas não foi. Jasão mete-se logo em apuros e acaba por ser salvo por dois amigos, Hércules e Pitágoras. Hércules, não sei que piada parva quiseram fazer com o Hércules mitológico, é um bêbedo gabarolas (interpretado por Mark Addy, o rei Robert Baratheon da Guerra dos Tronos, mas não o reconheci). Já Pitágoras é mesmo o Pitágoras, esse mesmo, o do Teorema. Ou, pelo menos, no episódio piloto deram a entender que sim, mas parece que também abandonaram essa ideia (?).
Ora, isto é a típica história do homem do futuro que viaja ao passado, não é? Não. Porque nunca –NUNCA– mais se fala do pormenor de que Jasão veio do futuro. Para todos os efeitos, Jasão podia ter chegado a Atlantis vindo de uma vilarota qualquer, da mesma maneira que Merlin chegou a Camelot. Exactamente da mesma maneira. O que aconteceu é que devem ter achado que a premissa do episódio piloto era demasiado ambiciosa e abandonaram-na. É como se nunca tivesse acontecido. É como se esperassem que os espectadores fossem tão imbecis que nunca mais se lembrassem desse “pormenor”. 
Isto não é escrita profissional, nem em televisão nem em lado nenhum. Estas decisões tomam-se antes de o primeiro episódio ir para o ar. Em caso de dúvida, algumas séries até são visionadas por uma audiência beta que testa os primeiros episódios. Os senhores criadores de “Atlantis” decidiram simplesmente passar-nos um atestado de estupidez.
Eu nem sabia que “Atlantis” era dos mesmos autores. À medida que os episódios se foram passando, no entanto, e o facto de Jasão ser do futuro nunca mais ter sido mencionado, e aquilo começar a ser “três amigos vão em aventuras, derrotam os vilões e voltam para casa”, as semelhanças com “Merlin” saltaram à vista. Fui investigar e pronto, lá está, a explicação. “Atlantis” era para ser uma série como “Merlin”, com episódios só para encher até acontecer alguma coisa ao enredo nos últimos episódios da temporada. O que se justificava se a temporada fosse longa, mas são apenas 12 episódios. Não se justifica o encher de chouriços.
Até porque “Atlantis”, ao contrário de “Merlin” no princípio, até tem um enredo. Jasão, personagem que ficou sempre bidimensional do princípio ao fim, é aparentemente o herdeiro legítimo ao trono de Atlantis. Mas o trono está ocupado por um usurpador, o rei Minos, casado com a rainha Pasífae, madrasta da bonita-boazinha-inteligente-corajosa-e-perfeita-em-todos-os-sentidos princesa Ariadne. Pasífae é má como as cobras e quer matar o marido e a enteada para ficar ela no trono. Jasão e Ariadne apaixonam-se um pelo outro.


Os mitos vão com as urtigas, como já tinha acontecido com “Merlin”. Estes autores estão convencidos de que fazem melhor do que os mitos arturianos e gregos. Não me importava de um bocadinho de mistura, de modo a ser Jasão a matar o Minotauro e a apaixonar-se por Ariadne (em vez de Teseu), mas demais é demais. E demais foi mesmo a história de Medusa, que os próprios autores devem ter achado tão estúpida que não sabiam o que fazer com ela. Medusa, aqui em “Atlantis”, era uma mulher normal que trabalhava no palácio. Mas, quando ela abriu a caixa de Pandora, olhou lá para dentro e transformou-se na Górgona Medusa, a tal com serpentes em vez de cabelos.
Pára tudo! Medusa, uma das três irmãs Górgonas? A Caixa de Pandora, de onde vem o mito ocidental que a última coisa a perder é a esperança? O que é que uma coisa tem a ver com a outra? Pois, não sei, mas os autores da série acharam que era giro trucidar dois mitos da cultura ocidental ao mesmo tempo. Mas estes são os mesmos autores que acharam giro que Jasão viesse dos nossos dias, no primeiro episódio, para abandonarem a ideia logo a seguir. A ideia de Medusa também deve ser resultado de um fim de tarde no pub, todos a beberem pints e a comerem peixe frito. Na altura, se calhar, pareceu-lhes muito original e interessante. Depois de se meterem no buraco, para agravar um pouco mais, a única solução que encontraram foi matar uma personagem que até era simpática e não merecia aquele fim.
A intriga palaciana não chegou, e os autores transformaram Pasífae numa bruxa com poderes iguais aos de Morgana em ”Merlin”. Foi como estar a ver a mesma série mas com outros personagens. Ariadne, igualmente, como Guinevere e Morgana, não é uma princesa qualquer, mas uma princesa que sabe lutar, cozinhar, fazer curativos, e ainda tem jeito para a governação e a política. Podiam tê-la feito ainda um bocadinho mais perfeita? Mais uma temporada e aposto que Ariadne ia desenvolver poderes mágicos também.
Se calhar o aspecto mais interessante dos episódios filler foram as lutas na arena. Desta vez os autores foram atrás do sucesso de “Spartacus” e nem lá faltou o Batiatus, para não termos dúvidas mesmo nenhumas (o actor John Hannah, a quem reconheci imediatamente a cara odiosa de “Spartacus”, mesmo com a maquilhagem de leproso, aqui na personagem de pai de Jasão). Muitas das aventuras dos três amigos (e de Medusa e Ariadne) eram desculpas para termos Jasão a lutar em jogos vários, na arena, de vida ou de morte. E houve morte, houve sim senhor, e, honra lhe seja feita, em “Atlantis”, como não acontecia em”Merlin”, até temos sangue nas espadas (quando a produção não se esquecia de o pôr lá). Até temos a aparição do Touro de Bronze, uma das formas de execução mais cruéis e horripilantes de que tenho conhecimento. Havia aqui muito a explorar, muito mesmo. Acima de tudo, havia a explorar o desaparecimento da Atlântida, que devia ter sido o enredo final numa série chamada Atlantis… mas não chegámos lá.
Duas temporadas e o enredo continuou em passo de caracol no meio do filler, com muitos sub-plots que não adiantavam nada ao avanço da história, exactamente à “Merlin”, um passo para a frente e dois para trás e tudo na mesma. No final da segunda temporada, que eu já sabia que ia ser a última, pensei que finalmente ia ver o fim da história. Qual não foi a minha surpresa quando percebi que os autores estavam a pensar na renovação, que só agora é que iam pôr o Jasão e os argonautas em busca do Tosão de Ouro! Tiveram tanto tempo. Mas quiseram fazer render o peixe. Desta vez a BBC, ou as audiências, fartaram-se. Acabou mesmo assim, a meio da história. Não considero isto um spoiler porque nunca houve fim para contar. Enfim, mais uma série mal feita e frustrante.
Notei uma ligeira diferença em relação a “Merlin”, mesmo assim. Se “Merlin” andou sempre num registo infanto-juvenil (até ao fim, que foi emocionalmente brutal), “Atlantis” correu mais riscos. Tanto a nível de violência (as passagens com o Touro de Bronze, embora nunca tenha sido usado, foram de facto arrepiantes) como de outro teor. Nos últimos episódios, Pitágoras e Ícaro apaixonam-se. Isso mesmo, o génio e o mito. Até temos um beijo nos lábios, o primeiro beijo nos lábios entre dois homens que vi numa série com este registo juvenil. Não julguei que eles fossem lá, mas parece que os tempo já o permitem. Foi interessante, admito, mas questiono a intenção. Aquela paixão apareceu ali muito depressa, como algo de desesperado para dar interesse à série e pôr as pessoas a falar –e aqui estou eu, a falar da série– mais do que para abordar a homossexualidade. Ou seja, o que podia ter sido bastante inovador pareceu-me mais um sub-plot de encher chouriços enquanto o verdadeiro enredo não se desenredava.
Ícaro chegou à série através do inventor Dédalo, seu pai, e também não esperava que fizessem mesmo a passagem das asas de cera. Ora cá está, a prova de que os mitos não duram milhares de anos se não forem mesmo bons mitos. Por uma vez, os autores seguiram o mito e até tivemos um momento de humor genuíno, graças talvez ao actor Robert Lindsay (Dédalo), que muitos se recordarão da série cómica “A minha família”. Dédalo avisa o filho de que as asas de cera podem derreter ao sol, mas desta vez Ícaro não voa de encontro ao sol, porque, “pai, é de noite”. Gostei, foi giro, e uma abordagem ao clássico que não assassinou o mito como no caso de Medusa. Isto sim, é uma boa adaptação com uma reviravolta inesperada.
Então, se “Merlin” durou cinco longas, aborrecidas, excruciantes temporadas, o que é que aconteceu aqui que a BBC cancelou mesmo a meio? Não tenho a certeza. Terá “Atlantis” sido cancelado porque foi longe demais ao pisar o risco do sexo e da violência no que se pretendia uma série infanto-juvenil, ou, pelo contrário, porque não foi suficientemente longe? Ou porque nunca conseguiu decidir, como o seu antecessor “Merlin”, o que é que queria ser, o que é que queria fazer e a quem se destinava? Ou uma mistura disto tudo?
O grande mistério, para mim, foi o simples facto de as duas séries, na sua totalidade, terem sido exibidas durante sete temporadas antes que alguém se apercebesse da incompetência por detrás delas.
Não recomendo isto a ninguém, excepto talvez os dois últimos episódios, os do beijo e das asas de cera, e em que Pasífae ressuscita dos mortos. Que foi o mesmo que já disse de “Merlin”, só os últimos episódios é que se salvam.

domingo, 19 de abril de 2020

(The Adventures of) Merlin / Merlin (2008–2012)


[contém spoilers; revela o final]

Hesitei muito em fazer a crítica a esta série (as cinco temporadas), porque basicamente só tenho a dizer mal, mas cá vai. “Merlin” deve ser a série mais mal feita que eu já vi na vida. Quando comecei a ver os primeiros episódios julguei, palavra de honra, que era uma série muito antiga, daquelas que se faziam nos anos 80, tipo “Os Três Duques” ou “Buck Rogers”, destinadas a um público muito jovem e estruturadas em episódios do género “aventura da semana” sem que tivessem qualquer história de fundo a desenvolver-se ao longo da série. “Merlin” começou assim, pelo menos, e assim se manteve até ao final da terceira temporada.
Fiquei muito desapontada logo com o primeiro episódio. Esperava um drama arturiano e saiu-me uma série infanto-juvenil sobre o jovem feiticeiro Merlin que embirra com o jovem príncipe Arthur, mas que acaba por se tornar criado dele. Para terem uma ideia, nada aqui é realista nem segue a história clássica. Estes acontecimentos deviam ter acontecido no século V mas Camelot parece uma cidade do século XVII, inclusive com um físico da corte, Gaius. Guinevere não é uma nobre mas sim uma criada de Morgana. Morgana não é meia-irmã de Arthur mas sim uma protegida de Uther, o rei. Ao ver isto, percebi que ia ser uma versão para crianças do conto arturiano, em que todos os personagens são amigos e lutam contra o vilão da semana. E de certa forma até foi. Em quase todos os episódios, estes quatro partiam em aventuras, derrotavam os maus e voltavam a casa.
Agora vamos à história principal de “Merlin”, que durante três temporadas serviu apenas de móbil para este ou aquele enredo semanal. Uther, o actual rei de Camelot, tem ódio à magia. Logo no primeiro episódio um qualquer desgraçado é decapitado por praticar magia (mas não se preocupem porque não se vê nada de perturbador; aliás, as espadas de Camelot têm o condão de serem enfiadas numa qualquer barriga e saírem como entraram, sem uma gota de sangue. Sinceramente, acho que nunca vi sangue nesta série, do princípio ao fim, apesar das batalhas e do elevado número de mortos nas últimas temporadas. Neste aspecto, a série nunca perdeu o seu cariz infantil. E as mortes nunca foram realistas, excepto a última, mas já lá vamos.) Uther é um rei fanático em relação à magia, justificando que em tempos esta foi usada para grandes males, o que o levou a fazer a Grande Purga em que matou toda a gente que tinha dons mágicos: homens, mulheres e crianças. Só isto já dá uma ideia do tipo de homem que aqui está. O que descobrimos depois, e o que o torna execrável, é que Uther é também um grande hipócrita. Quando se vê em apertos, e apesar da sua própria lei anti-magia, o hipócrita recorre a quem o salve, mesmo com magia.
Mas, como se não bastasse, Uther é também um péssimo pai para Arthur, sempre e constantemente a deitá-lo abaixo. Quase todos os episódios eu acabava a abanar a cabeça e a dizer “Pobre Arthur” e admito que foi isto que me agarrou à série. Pobre Arthur, eu só queria que finalmente aquele desgraçado tivesse uma chance de ser feliz. Desgraçadamente, tudo lhe aconteceu e todos lhe mentiram e o traíram a torto e a direito, até aqueles que o amavam e o queriam proteger.
A Merlin é atribuído, desde o primeiro episódio, o destino de proteger Arthur. Quem lho diz é o Dragão, o último da sua espécie, aprisionado nas masmorras de Uther para servir de exemplo da sua cruzada anti-magia. Honra seja feita a “Merlin”, este é um dragão como deve ser, um dragão sábio e falante, cheio de profecias e segredos, que não tem nada a ver com as criaturas acéfalas da “Guerra dos Tronos”. Isto é que é um dragão, um dragão à Tolkien. E durante a série inteira o Dragão foi a única personagem coerente. Já as outras…
Desde cedo se percebeu que Arthur e Guinevere iam mesmo casar um com o outro. Ora, isto é problemático porque Guinevere é uma serva. E Uther, evidentemente, opõe-se. O homem é tão mau que mandou matar o pai de Guinevere só porque este falou com um feiticeiro, e ameaçou expulsar Guinevere de Camelot quando percebeu que Arthur tinha sentimentos por ela. Mas, estranhamente, por culpa dos autores da série que a escreveram tão mal, Guinevere aceita isto tudo, inclusive a execução do próprio pai, como se nada fosse. Por fim, depois da morte de Uther, a série lá arranjou maneira de os casar, justificando que o povo de Camelot só queria que o seu novo rei, Arthur, fosse feliz. Se é uma série infanto-juvenil, aceita-se.
Mas esta Guinevere, não é só para dizer mal por dizer, é uma oferecida. Não houve ninguém a quem ela não se tivesse feito. A Merlin, logo no dia em que o conheceu. A Lancelot, o primeiro grande amor da vida dela. Até a Gawaine, quando o viu. Quando ela diz a Arthur “eu sempre te amei”, deve ser para rir. Sempre o amou, ou ficou com ele porque foi o único que, pelo contrário, a amou sempre, ou porque ele ia ser rei? É que tudo isto pareceu muito mal para o lado da Guinevere. E mais uma vez eu abanei a cabeça: pobre Arthur!
E depois temos Morgana. A princípio ela era boa pessoa, amiga de Arthur, de Gaius e de Guinevere. Chegou a ir com eles em aventuras em que arriscou a vida para os salvar. Ao mesmo tempo, Morgana vai descobrindo que também ela tem dons mágicos, o que a coloca numa situação periclitante perante Uther, que chega mesmo a enfiá-la numa masmorra e tudo indica que até a mandava matar se fosse preciso. Começa assim a revolta de Morgana contra Uther e ninguém pode dizer que não é justificada. Mas de repente, golpe de teatro!, os autores da série decidem que Morgana afinal não é apenas uma protegida de Uther, que é mesmo uma filha ilegítima (logo, meia-irmã de Arthur, como na história clássica), e para lhe salvar a vida Uther até recorre à magia certa vez. Então, Uther, não estavas disposto a mandá-la matar quando desconfiaste que ela tinha magia? Esqueceste-te de que ela é tua filha? Os autores da série, de certeza, esqueceram-se, ou nunca tiveram intenção de a tornar filha de Uther.
Isto é apenas um das dúzias de exemplos de como os escritores da série andaram a patinar, como se não soubessem para onde levar a história e o que queriam fazer da série. Efectivamente, o maior problema de “Merlin” é que a série não parece ter sido previamente planeada, que não sabe a quem se destina e para onde se dirige. Cheguei a pensar para com os meus botões que cada episódio era dado a escrever a um escritor diferente que não sabia o que os outros estavam a fazer, naquele improvisanço de que depois se “dava um jeito”. Se, pelo contrário, isto foi tudo pensado de propósito, nem sei o que dizer. Mas duvido mesmo muito que o tenha sido.
Um outro exemplo que me irritou solenemente: desde os primeiros episódios que Arthur disse que um certo soberano vizinho a Camelot, um tal de Odin, o queria matar porque Arthur tinha matado o filho dele. Isto foi dito e esquecido, mas umas temporadas depois Arthur voltou a dizer: “Odin odeia-me porque eu matei o filho dele”. Só nunca disse quando e como. Foi na guerra? Foi um acidente? Foi em legítima defesa? Foi a jogar aos dardos?... Quanto mais falavam do assunto mais curiosa eu ficava. Lá para as últimas temporadas algum dos escritores decidiu fazer um episódio em que o tal Odin captura Arthur e o quer matar porque, claro está, ele matou o filho dele. E eu pensei, “finalmente!, vamos saber o que é que aconteceu”. Pois. Não. Nem assim. Arthur é salvo por Merlin no último instante, como acontece sempre nesta série, e agora é ele que vai matar Odin. E eu quase gritei à televisão: “Não, gaita, não o mates antes de ele dizer como é que mataste o filho dele! Ou diz tu! Alguém diga!” Ninguém disse. E nunca fiquei a saber como é que o tal filho do Odin foi morto, e se havia legítimas razões para vingança ou se o Odin estava apenas a ser casmurro. Ora, não é assim que se conta uma história. Isto é fazer de propósito para alienar os espectadores que estão a tentar importar-se com aquilo que estão a ver.
A série continuou a fazer isto regularmente. Coisas que eram mencionadas e nunca explicadas, profecias que só apareciam quando davam jeito, partes importantes do enredo que não eram contadas nem mostradas. Por exemplo, quando de repente se inventou, lá para a quarta temporada, que havia uma profecia de que seria um druida a matar Arthur. “Estranhamente”, nunca se ouviu falar desta profecia antes, porque os escritores nunca tinham pensado nela. Outro exemplo: já depois de Morgana se tornar uma vilã tomamos conhecimento de que um outro soberano vizinho a Camelot (cujo nome nem apareceu o suficiente para eu me lembrar) a manteve aprisionada durante dois anos. Isto é importante, não?! Muito importante. Mas isto só foi dito, en passant, no episódio em que ele entrou, com um flashback de 10 segundos de Morgana acorrentada numa cela. Como foi capturada, porque é que foi aprisionada, como escapou, nunca saberemos. Até parece que nada disto é importante. Eu tive a sensação de ter perdido esse episódio, mas de facto não perdi porque os vi todos. Mais uma vez a série a fazer todo o seu possível para não nos importarmos com as personagens. Não há nada pior, ao contar uma história, do que fazer com que os espectadores não a percebam. Foi exactamente o que aconteceu aqui.
Bem, pelo menos isto explicou porque é que o dragão da Morgana é deficiente, pobrezinho, o que já não é mau, senão isto ficava sem explicação também... Mas já estou a pôr o carro à frente dos bois.
Morgana, como disse, torna-se 100% vilã. A revolta contra Uther compreende-se, mas depois de ele morrer Morgana transfere a sua raiva contra Arthur, de quem sempre foi amiga, sem que se perceba muito bem porquê. O próprio lhe pergunta, em dois episódios diferentes: “Morgana, o que te aconteceu?” Ao que ela responde: “Cresci.” Fraca motivação para quem era capaz de arriscar a vida por Arthur, antes mesmo de saber que ele era seu irmão, a quem Arthur nunca fez nenhum mal, que de repente a faz querer roubar-lhe o trono e dizer coisas como “quero que os lobos lhe comam a carcaça e que os corvos lhe furem os olhos”. É muito forte para quem não tem motivos para odiar desta maneira. (Mas honra seja feita à actriz Katie McGrath, ela conseguiu adaptar-se à transformação da personagem e vendeu-nos muito bem a sua vilania.)
O que aconteceu a Morgana foi antes isto: a “Guerra dos Tronos” estava a ter o sucesso que se sabe e de repente os autores de "Merlin" decidiram copiar, e vai de transformar a Morgana numa vilã horrorosa, como Daenerys e Cercei. Até lhe arranjaram um dragão! A última temporada é mesmo um plágio descarado, com cenários a lembrar a Muralha e Winterfell, onde até aparece “Ser Davos” (Liam Cunningham), vestido com roupa que, não estou a ironizar, deve ter sido alugada directamente ao guarda-roupa da “Guerra dos Tronos”.
Foi por esta altura, a quinta temporada, que comecei a ver por hate watching mesmo. Só para gozar e dizer mal. Mas foi também na quinta temporada que a série finalmente encontrou um rumo, tarde demais mas encontrou, abandonando a faceta infanto-juvenil e perdendo o medo de se tornar sombria. Foram os melhores episódios, e mesmo assim não foram bons.
Até chegarmos aos três últimos episódios. Estes sim, foram bons, até parece uma série diferente, onde os acontecimentos têm peso e consequência, onde as personagens não mudam de personalidade conforme a vontade dos autores. Onde conseguimos, finalmente, importarmo-nos com elas. Confesso que vi estes três últimos episódios colada ao écran.
Mas, no fim, a série voltou a deixar a desejar. Embora a mim, pessoalmente, tenha satisfeito, li algumas críticas de fãs que ficaram completamente destroçados. E têm razão, e vou explicar porquê.
Grande spoiler, ou talvez não: Arthur morre no fim. Quem conhece a história clássica já sabe disto, e que é uma história muito mais trágica do que na série (Arthur é assassinado pelo seu próprio filho Mordred, filho de Arthur e da sua meia-irmã Morgana), mas tendo em conta como a série aligeirou a história a níveis infanto-juvenis penso que os fãs do início tinham legitimidade para esperar um final diferente. Afinal, Arthur e Morgana nunca dormem juntos, Mordred não é filho deles, Arthur casa com uma criada por amor, porque é que raio não podiam engendrar um fim feliz? A série prometeu que ia ser ligeira e no fim partiu o coração aos fãs.
Eu própria, no último episódio, não acreditei que Arthur ia morrer. Sempre julguei que Merlin inventasse algo à última da hora (como a série sempre fez) que o salvasse. De outra maneira teria logo desatado a chorar quando Arthur começou a revirar os olhos, a morte mais realista de toda a série. Mesmo assim, quando ele morreu mesmo, afectou-me, confesso. Os actores Colin Morgan (Merlin) e Bradley James (Arthur) conseguiram, às vezes contra a má qualidade da própria série, convencer-nos de uma amizade que se foi desenvolvendo ao longo de cinco temporadas e que atinge o seu auge épico neste último episódio. Quando Merlin grita, guturalmente, em lágrimas incontroláveis, a invocar o Dragão, é também já um grito de dor e luto, e eu arrepiei-me.
E é por causa deste momento arrepiante que estou a fazer esta crítica. Não posso, de modo algum, recomendar a série, nem sequer a última temporada, que igualmente padeceu de soluços constantes, mas recomendaria os três últimos episódios. Talvez não bastem para mostrar como esta amizade evoluiu até chegar onde chegou, mas quem ficar interessado pode sempre ir ver do princípio.
Pobre Arthur, nunca teve mesmo uma chance. Da mesma forma, o talento dos actores merecia uma série à altura deles, mas infelizmente não a tiveram. Os três últimos episódios que me colaram ao écran não poderiam nunca salvar cinco temporadas de uma série sem rumo que não sabia o que queria nem para onde queria ir. Quando foi, já ia tarde.