sábado, 11 de agosto de 2007

Marilyn Manson "Eat Me, Drink Me" (2007)



Cada vez que um artista que tenho o prazer de apreciar há muitos anos lança uma novidade sinto um friozinho de medo no estômago. A experiência diz-me que a criatividade se começa a esvair depois do terceiro álbum. E com a constante substituição dos membros mais antigos, Marilyn Manson é cada vez mais o homem a solo e cada vez menos a banda, se alguma dúvida houvesse. Este costuma ser também um sinal de alarme sobejamente conhecido. Às vezes sangue fresco é bom para as bandas; na maioria dos casos, o choque brutal de vedetismo e gerações arrasta-as para o abismo de se tornarem uma banda de covers delas próprias.
Ainda não foi desta com Marilyn Manson mas já se nota o peso da repetição da fórmula, embora inconfundível e brilhante. Ouvintes casuais poderão achar mais do mesmo... mas os fãs não ficarão desapontados.
Por falar em decepção, nos últimos tempos, sempre que pergunto a alguém se gosta de Marilyn Manson, tenho recebido invariavelmente a mesma resposta: "O último álbum não é nada de jeito, pois não?" Sejamos francos, sou fã desde 1996, desde "Beautiful People" e "The Reflefcting God", e "The Golden Age of Grotesque" foi coisa que não ouvi mais do que duas vezes. "Eat Me, Drink Me", pelo contrário, é um álbum que cresce a cada audição.
Aqui não está a crítica verrinosa de um "Antichrist Superstar" nem a raiva política de um "Holy Wood". Em "Eat Me, Drink Me", Manson regressa à dolorosa melancolia dos relacionamentos afectivos. Se em "Mechanical Animals" o envolvimento era superficial, (I'm not in love but I'm gonna fuck you till someone better comes along), aqui o amor é verdadeiro e despedaça a carne e esvazia as veias: Love is a fire. Burns down all that it sees. Burns down everything. ("Just a Car Crash Away"). Manson gosta de álbuns conceptuais e desta vez fê-lo em torno do vampirismo e do canibalismo, metáforas tão eternas como trágicas para o amor que consome tudo até às cinzas.
"If I Was Your Vampire", "Heart-Shaped Glasses" e "You and Me and the Devil Makes 3" ameaçam ser os temas com maior possibilidade de se tornarem clássicos, mas, no todo, este é um álbum que agradará mais às pessoas apaixonadas e ainda mais à beira da ruptura. Por mim, prefiro um "Antichrist" ou um "Holy Wood". Isto do amor já não me diz nada:

So ask your self before you get in,
I know the insurance won't cover this.
Are you the rabbit
Or the headlight,
And is there
Room in your life
For one more breakdown?


("Are You the Rabbit?")




Marilyn Manson volta ao Pavilhão Atlântico de Lisboa a 19 de Novembro.

3 comentários:

RedDevil disse...

...

arrrghhh...
;o)

pessoal, a minha religiao nao permite fazer comments em posts nos quais tenha esse cara ae, mas eu vou comentar aqui que eu decidi continuar fazendo os meus comments nos posts originais, conforme um dia eu disse que iria proceder, naquela historia das threads...

dessa maneira, eu fiz um comment no post em sabor ecologico, ae abaixo, o: " Uma verdade inconveniente", e algum dia (ainda neste seculo...;o) eu vou fazer outro no post chamado: "A arte não tem raça"...


[]s
força sempre!!!
ate +++

RedDevil

Fernando disse...

Li a tua crítica ao A Vila e concordo com a ideia de que o filme é uma alegoria sobre a América e, sob essa perspectiva, a dualidade "nós vs. eles" é evidente no filme tal como nos próprio EUA.

(Diariamente há exemplos deste "ou estás por nós ou estás contra nós"; veja-se a reacção indignada à letra de "Going to a Town" de Rufus Wainwright acusada de anti-americana)

O meu argumento é mais individual do que colectivo: nem o progresso gera a maldade que é argumentada pelo grupo de anciãos, nem o isolamento os protege de actos aviltantes. Só os indivíduos são capazes de tomar decisões de bondade ou maldade para com os seus semelhantes. Ironicamente, o maior acto de bondade no filme é assumido pelo guarda da reserva, o único representante do mundo exterior...

Sobre o Manson, já sabes o que penso...

Calombo, Quilombo, Colombo. disse...

Gostaria de (tardiamente) parabenizar pela crítica, muito consciente e clara, comparacoes bem tracadas e oportunas... raro no mundo dos blogs.