As estrelas foram criadas pela Valar companheira de Manwë, Varda, a quem os Elfos mais veneram e também chamam Elbereth.
[Quando Frodo diz o seu nome na escuridão de Cirith Ungol, não sabia a que entidade estava a invocar. Por alturas da Guerra do Anel toda esta mitologia tinha já sido perdida na Terra-Média e no Shire em particular.]
Yavanna é a Valar senhora da natureza, dos animais, das plantas e da terra fértil. Foi também a criadora das árvores que iluminavam Aman. Preocupada com o abate de árvores inevitável pelos Elfos e Homens que haviam de habitar a terra, foram para ela criados os guardadores de árvores. E é assim que os Entes aparecem na Terra-Média.
Na hora devida, os Elfos acordam no leste da Terra-Média. Foi Oromë, o Caçador, o Valar que os encontrou primeiro. Mas por esta altura os Elfos já temiam os Valar porque Melkor tinha-se estabelecido a norte da Terra-Média, no seu refúgio subterrâneo em Utumno, e tinha já começado a maltratar os Elfos porque serem a criação de Ilúvatar. Os Elfos temiam o Dark Lord que existia a norte porque este levava os que se perdiam e nunca mais ninguém os via. Nas suas masmorras, Melkor transformou Elfos em Orcs, porque já não era capaz de fazer nada que não fosse uma abominável imitação da obra dos outros Valar. E criou também animais pavorosos: dragões, lobos e monstros. Mas, de tudo o que fez, a acção mais odiosa para o Criador foi mesmo e para sempre a de ter criado os Orcs a partir dos nobres Elfos. E Melkor não estava sozinho nos seus trabalhos. Atraíu para si muitos outros espíritos divinos, de natureza semelhante à dos Valar mas de hierarquia inferior, os Maiar. Alguns destes assumiram a forma de Balrogs, demónios de fogo e escuridão. Sauron era também um Maiar e serviu a Melkor desde o início.
[Diz Tolkien de Sauron que "era menos perverso do que o seu mestre porque serviu outro e não a si próprio durante muito tempo". Tenho de discordar veementemente. Tolkien - e muitos como Tolkien - confunde humildade com servilismo. Sauron não servia Melkor por dever ou lealdade mas apenas pela mesma razão servilista e oportunista com que muitos carreiristas, quais sanguessugas, se empoleiram nas costas do hospedeiro até ao momento de incharem a ponto de servirem apenas os seus interesses. Tolkien era um ingénuo quando escreveu esta frase. Se há alguma nobreza e honestidade em Melkor, a Potestade rebelde, apesar de toda a sua arrogância, maldade e egoísmo, delas não tem nada o seu cão de fila Sauron. (Como se demonstrará mais à frente, no episódio de Numenór.)
Foi uma opinião.]
Até agora, à espera de que os filhos de Ilúvatar acordassem, os Valar tinham tido medo de procurar Melkor e confrontá-lo em batalha, porque dessa guerra de Titãs [mais uma referência mitológica em Tolkien] resultaria a ruína da própria forma de Arda e nestas convulsões gigantescas os filhos de Ilúvatar poderiam perder-se para sempre.
Mas agora que sabiam que Melkor não estava quieto e continuava a perverter a criação, não só aprisionando os Elfos como envenando toda a terra e água e ar com os seus fumos venenosos, os Valar reuniram e decidiram trazer os Elfos para Valinor, a sua morada, no continente de Aman, a oeste da Terra-Média.
Antes, fizeram guerra a Melkor e aprisionaram-no na casa de Mandos (Halls of Mandos, morada impenetrável dos mortos) durante o período de três eras, altura em que seria de novo libertado e poderia de novo pedir perdão.
Mas muitos subterrâneos de Utumno ficaram por explorar, e Melkor já tinha construído outra fortaleza, também parcialmente subterrânea, em Angband, e aí os Valar não procuraram, e aí ainda ficaram muitos dos vassalos de Melkor, à espera do regresso do líder.
Entretanto, Oromë, que como todos os Valar e Maiar podia aparecer aos filhos de Ilúvatar em forma magnífica mas semelhante à deles, propôs aos elfos que se juntassem aos Valar em Valinor. Mas os elfos tinham medo dos Valar devido às más acções de Melkor. Muitos fugiram. Outros ouviram-no mas mesmo assim temiam segui-lo. Foi-lhes então proposto que enviassem três embaixadores a Valinor, para que pudessem ver e contar ao seu povo o que tinham visto. Ingwë, Finwë e Elwë acederam, visitaram Valinor e regressaram cheios de vontade de partir para sempre da Terra-Média. As gentes de Ingwë e Finwë foram as menos relutantes em partir, por isso chegaram primeiro ao mar. Mas o povo de Elwë atrasou-se pelo caminho. Destes, um grupo chegou ao Anduin e preferiu abandonar a marcha, seguindo antes pelas margens do grande rio onde se foram estabelecendo e nunca chegaram a ver Valinor.
O próprio Elwë perdeu-se por acaso e conheceu, em Beleriand*, a bela Melian.
[*Todas os lugares da Terra-Média citados durante esta época já não existem no tempo da Guerra do Anel porque entretanto a face da terra foi completamente alterada e tudo indica que grandes porções de solo tenham sido perdidas no mar aquando da Guerra da Ira (War of Wrath) mais à frente.]
Melian era uma Maiar de Valinor, onde tinha vivido nos jardins de Lórien*, cuidando deles e ensinando as suas canções a todas as aves.
[*Lórien em Valinor, não Lothlórien da Terra-Média.]
Elwë apaxonou-se por ela e ficou preso ao seu encantamento durante tanto tempo que anos se passaram antes que ele pudesse dizer uma única palavra. Por isso, Elwë acabou por desposar Melian e tornou-se no rei Thingol do reino de Doriath da Terra-Média, sem nunca mais voltar a ver Valinor.
O povo de Elwë procurou pelo seu rei mas como não o achavam acabaram por colocar no seu lugar o irmão de Elwë, Olwë, e foi este quem os guiou no resto do caminho.
Por terem perdido muito tempo, estes Elfos ficaram conhecidos como os Teleri.
Quando chegaram ao mar, já as outras duas tribos tinham partido para Valinor, numa imensa ilha flutuante. Por isso os Teleri viveram muito tempo perto do mar, e dedicaram-se à construção de barcos e à vida marítima, e nunca mais quiseram viver longe da costa. A ilha que por sua vez os transportou para Valinor ficou, a seu pedido, ao largo de Aman. Chamou-se Tol Eressëa e nela construiram a cidade de Avallonë. Só mais tarde é que os Teleri se juntaram aos outros Elfos em Valinor.
Entretanto, os primeiros Elfos a chegar tinham construído uma espantosa e resplandescente cidade, Tirion, na colina de Túna, e era aí que viviam, perto de Valimar, a cidade dos Valar.
Ingwë e a sua gente acabou por se afastar completamente de Tirion e foram viver para a cidade dos Valar. Ingwë tornou-se no Rei Supremo de todos os Elfos e habitou para sempre junto de Manwë. A sua parte na história termina aqui.
Às gentes de Finwë chamou-se Noldor e, estes sim, são os protagonistas da Guerra das Jóias.
Os Teleri, cuja importância é também decisiva, continuaram a viver na costa, em Alqualondë, onde se dedicavam à construção de barcos.
Durante uns tempos, todos viveram em harmonia. Os Elfos construíram uma civilização avançada, aprendendo muito com os próprios Valar que amavam a companhia dos elfos, e tornaram-se peritos em muitas artes e ofícios.
Finwë, rei dos Noldor, teve três filhos. O mais velho, Fëanor, que era tão genial como impetuoso, da primeira esposa, e os seguintes, Fingolfin e Finarfin, da segunda.
Foi mau augúrio, mas a mãe de Fëanor foi o primeiro Elfo a morrer de cansaço do mundo logo após dar à luz o primeiro filho*. Foi por isso que Finwë se voltou a casar.
[*Os Elfos, e até certa altura também os homens de Numenór, podiam simplesmente decidir o momento em que abandonavam o corpo físico, pelo que por vezes a morte era desejada. Foi o caso da mãe de Fëanor.]
Três eras das Duas Árvores se passaram até ao momento em que Melkor foi de novo libertado. Melkor pediu perdão, alegou em consideração pelo seu caso que passara muito tempo a pensar no que tinha feito mal e que se ia regenerar dali para a frente. Os Valar não acreditaram muito mas deram-lhe o benefício da dúvida. E Melkor foi solto, primeiro só em Valimar, mas como se mostrava tão útil e gentil, depressa por toda a terra de Aman.
Continua
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