Isto não é um post por pedir desculpa por existir, nem nada que se lhe pareça. Mas mesmo assim senti necessidade de o colocar.
Uma vez, há muitos anos, quando falava numa mesa de bar sobre a minha situação económica (que não se vê porque a pobreza é envergonhada) houve alguém que me disse "estás a ser incoveniente". Eu era inocente na altura e aquilo chocou-me profundamente. Dizer a verdade era "ser inconveniente". Claro que, como podem imaginar pela linguagem, estava a falar com pessoas de um certo nível.
Nesse dia mudei de amigos.
Já o disse aqui, muitas vezes, parece-me, que sou um caso atípico. Nesta internet, sei-o bem, não se espera encontrar situações de grande pobreza. Nem passa pela cabeça das pessoas que abdicar da internet é a última medida porque a internet é a melhor maneira de procurar emprego e ficar sem ela é o mesmo que dantes seria deixar de ler o jornal no café para procurar emprego. Por aqui, estamos conversados. Pensei ser útil explicar isto porque muita gente ainda não percebeu.
Depois, por ser um caso atípico, também gosto de escrever. E gosto de escancarar os meus sentimentos ao vento e de dizer o que se passa mesmo que ninguém leia. Para mim é terapêutico e faz-me bem.
Mas sei, porque já não sou inocente, que esta leitura é custosa para alguns e inconveniente para outros. Pois, sei-o muito bem.
A minha voz ergue-se contra a multidão de aparências que nos rodeiam. A minha voz não se importa com o que os outros pensam. E a minha voz é assim porque é anónima. E é anónima para poder ser assim. Sei que de outro modo não poderia expressar um décimo do muito que já expresso aqui. A sociedade não mo perdoaria.
Este é o ponto primeiro.
o ponto segundo é que este é um blog pessoal, logo, serve para desatar o que se passa comigo e na minha vida. O aspecto de utilidade que possa ou não ter para terceiros é algo que me é alheio e que não me preocupa. Não estou aqui em missão alguma que não o meu benefício pessoal e a minha estimulação intelectual. Se por acaso vêm à baila situações inconvenientes, azar. Ao contrário da mesa do bar, ninguém tem que me ouvir. E eu não preciso de mudar de amigos.
Uma última nota. Volto ao ponto de que ninguém na internet se espera deparar com situações de pobreza. A internet era um ponto de encontro de uma certa classe média alta, e foi assim até um certo ponto em que a banda larga se banalizou e tornou acessível. Junte-se a isso aptidões informáticas e, voilá, aqui me têm! Dito isto, quero acrescentar que há situações muito mais inconvenientes por aí, situações que nunca tiveram voz, que nunca vão ter voz, como os deficientes ou os doentes crónicos que não podem escrever pelo simples facto de estarem imobilizados ou impedidos por motivos físicos, e os idosos que vivem na miséria e não sabem escrever, e aqueles que simplesmente não sabem usar um computador. Peço que pensem nesses por um bocadinho, por muito inconveniente que esse bocadinho seja. Acreditem no que vos digo que se acham as minhas palavras inconvenientes não estão preparados para enfrentar a realidade. Se querem estar preparados ou não para enfrentar a realidade, isso também não é problema meu. Eu só escrevo. Que leia quem quiser. Mas pela vossa saúdinha, se este blog vos faz mal, não o leiam. Melhor que isto não posso fazer.
7 comentários:
Já era tempo de voltar a ler-te coisas co sentido.
Força aí.
Às vezes pode parecer que não faz sentido porque eu de facto não digo tudo (nem posso dizer tudo). Faço-me compreender?
A realidade é inconveniente para uma boa percentagem das pessoas, Gotika.
A alguns deles, esse tipo de conversa "inconveniente" enerva um pouco porque lhes desperta pensamentos que gostariam de manter adormecidos.
;-)
Pois claro.
clap clap... (é sempre um prazer ler-te)
Bem passei por aqui para fazer uma pequena visita e fiquei impressionada com o teu texto. Com cordo ctg quando dizes que dizer a verdade é muitas vezes inconveniente; para os outros que4 se sentem incomodados e preferem não só pensar que as coisas más estão longe deles como acham que se ouvirem falar delas vão ficar "apanhados" E também acho que as pessoas preferem viver de aparências e não gostam de ser alertadas para a realidade porque isso irá trazer-lhes dor e conhecimento da situação má em que muitos estão também. Escreve, continua a escrever, é sempre uma forma de libertação e acho também quie tens uma certa coragem; qem anda atento a estas situações fica mais alerta para lidar com elas e, sem hipocrisias, tentar ajudar em algo. Kisses
Há sempre aqueles que mudam de mesa e os que se deixam ficar mesmo que às vezes se sintam incomodados ou pouco confortáveis, os ultimos são aqueles que se incomodam não com o que dizes mas porque não podem fazer nada para ajudar a não ser ouvir.
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