Sim, eu sabia que ainda faltava qualquer coisa.
(Para aqueles que nunca vão ler o "Silmarillion", não digam que nunca vos dei nada; Para os outros, pode ser que este aperitivo vos leve a ler.)
O que vou descrever não é apenas, inteiramente e tecnicamente, o "Silmarillion", mas é o que está na minha versão do livro. O "Silmarillion" propriamente dito relata apenas a Guerra das Jóias. Mas a história começa muito antes e começa assim:
No princípio... era o vazio.
Deus, Ilúvatar, tinha consigo os seus Anjos* e convidou-os a compor música em conjunto.
[*O termo correcto para estes seres divinos filhos de Deus não é Anjos mas sim Ainur, Valar ou mesmo Poderes. Mais tarde falarei deles como Valar ou Poderes ou mesmo Potestades mas por agora chamo-lhes Anjos para que a compreensão seja mais rápida.
Porque é que Tolkien decidiu reescrever o Velho Testamento, ninguém sabe.]
Esta composição teve três temas. Em cada tema, Deus mostrou aos Anjos a visão de [como resistir, como resistir?, é irresistível] uns "novos céus e uma nova terra". Um novo planeta cheio de luz, uma natureza verdejante, animais, plantas, e duas novas raças de filhos de Ilúvatar: os Elfos e os Homens. Aos Elfos, Ilúvatar concedeu vida imortal excepto por morte acidental ou em razão de ferimentos. Mas após a Morte, a alma dos Elfos iria para o lugar chamado a Casa de Mandos*, onde ficaria para sempre ou reincarnaria. A existência dos Elfos estava intimamente ligada à terra e não podia sair dela.
[*Mandos é o equivalente ao deus grego Hades, dos mortos e dos mundos subterrâneos. Mandos acumula a função com a de "deus do destino".]
Já aos Homens, Ilúvatar concedeu a dádiva da mortalidade. Isto significava que morreriam, de velhice se a doença nem a espada os levasse primeiro, mas para onde a sua alma ia depois da morte, ninguém sabia senão Ilúvatar. O último tema da música divina foi apresentado por Ilúvatar sozinho e nem os seus Anjos saberiam interpretar a visão completa do seu desígnio.
Manwë e Melkor eram os filhos de Ilúvatar mais poderosos de todos, e Ilúvatar tinha-os como irmãos. Mas eis que durante a música, Melkor começa a introduzir notas dissonantes que desarmonizavam a melodia de Ilúvatar e se tentavam sobrepôr a ela.
E à medida que Melkor se apercebia da Visão, uma outra tinha para ele, a de governar e ser Rei Supremo na nova terra que acabara de ser concebida em pensamento.
É aqui que as coisas entre Manwë, o fiel e mais poderoso de todos os Valar, azedam com Melkor. Mas tudo podia ter ficado por aí, se Melkor não tem decidido portar-se como um menino mimado a quem roubam o brinquedo.
Assim que os Poderes (chamados Poderes porque são poderes da nova Terra, denominada Arda) começaram a trabalhá-la para a transformarem no paraíso idealizado pela música de Ilúvatar, Melkor começou a destruir. Interessava-se pelo gelo e pelo fogo e queria toda a terra feita à imagem da sua visão. Os que os outros faziam, ele destruía. Se levantavam uma montanha, Melkor deitava-a abaixo. Se criavam um vale, Melkor inundava-o. E por esta altura nenhum dos Valar já queria a sua companhia e Melkor não se importava nada com isso.
[Talvez não se possa dizer que Melkor (mais tarde chamado Morgoth) fosse o Anjo Rebelde da Bíblia. Melkor não apresentava razão alguma para a sua maldade e para provocar uma guerra com os outros, a não ser o capricho infantil de fazer as coisas à sua maneira.]
Manwë, Valar dos céus, dos ventos e das águias, tornou-se o líder dos outros Valar e Melkor acabou por deixar de ser considerado como um deles. Mas Melkor, auto proclamado Senhor da Terra, conseguiu levar outros espíritos para o seu lado, entre eles o mais infame, de nome Sauron, que nessa altura era um lacaio de Melkor.
E quando os Poderes criaram duas lâmpadas para iluminar a Terra, Melkor partiu-as. Furiosos, os outros Valar perseguiram-no e Melkor foi-se esconder na Terra-Média, um continente criado entre Aman (onde era Valinor, a morada dos Valar) e o resto do mundo desconhecido. Entre a Terra-Média e Aman existia um oceano profundo e os dois continentes, Aman e Terra-Média, estavam apenas unidos a norte por uma região de gelos eternos (obra de Melkor) onde nada podia viver.
Então, para compensar as lâmpadas destruídas, os Valar criaram duas árvores, Telperion e Laurelin. A primeira dava luz prateada e a segunda luz dourada.
[Sim, estas árvores têm muito remotamente a ver com a árvore branca de Gondor.]
Eram estas árvores que iluminavam Aman, terra de Valinor, e nunca era noite nem se fazia escuridão, porque todos os dias, simultaneamente, enquanto uma delas minguava a outra crescia. Por momentos ambas as luzes se misturavam, a prateado e a dourada, criando um espectáculo nunca antes visto em Arda. Na Terra-Média, no entanto, a única iluminação vinha das estrelas também criadas pelos Valar, por isso se diz que quando os Elfos acordaram a primeira coisa que viram foi as estrelas e ficaram para sempre conhecidos como os Filhos das Estrelas.
Antes disso, porém, Aulë, o Valar que se interessava por todos os ofícios relacionados com os minérios, a pedra, o metal e as gemas, apressou-se e criou ele próprio uma raça que não estava prevista na canção de Ilúvatar. E assim surgiram na Terra-Média os Anões, muito antes dos Elfos. Mas Ilúvatar não aceitou que outra raça existisse antes dos Elfos e ordenou que os Anões dormissem até ao tempo designado para a chegada dos Elfos, data essa que só Ilúvatar conhecia. E só depois dos Elfos, os Homens.
Continua
1 comentário:
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