Ondas Altas, Grande Amor
Ah, se eu pudesse com o amor que te tenho
Contar as estrelas todas do mar
faria de ti sereia a navegar
nas ondas lentas do meu lenho.
Serias tu para mim a estrela do Norte
que guia as milhas dos navegantes
Seriam meus olhos perdidos infantes
mãozinhas erguidas nas ondas da morte.
E seriam meus olhos infantes perdidos
no mar de sargaços para sempre escondidos
entre as tábuas de amor do meu lenho
Seriam pequenas conchas do mar
Que eu mandaria a ti te contar
Todas as estrelas que por ti tenho.
19–8–1989
Comentário: Se eu alguma vez escrevi um poema, foi este.
4 comentários:
Epá que gostei tanto, porque parece tão inocente, tão puro, quase pueril, e no entanto, no entanto... aquelas mãozinhas erguidas nas ondas da morte... adoro a maneira como "envenenas" até as coisas mais "puras" ;)
adoro a maneira como "envenenas" até as coisas mais "puras"
Este foi um dos melhores elogios que já recebi na vida.
Estive até para o publicar em post, para nunca me esquecer. Acho que vai para o meu diário secreto em vez disso. E não estou a brincar.
Se gostas da maneira como enveneno as coisas mais puras talvez gostes do meu trabalho em prosa. Onde também tento purificar as coisas mais venenosas.
Mas não é para agora. :)
Sobre este poema, como digo no comentário, acho que é o melhor poema (se não o único) que já escrevi na vida. É um poema de amor, todo de amor.
Aqui há uns anos li-te uma prosa - um conto que começou como uma história de terror mas que depressa se tornou em outra coisa, um confessionário, talvez - e lembro-me bem de ter adorado. E não foi só aí, como já referi já sigo o teu blog há muito tempo - ainda nos tempos do sapo, e na altura eu tinha outro nick - e sempre gostei da forma como tu escreves. Porque a dizer muitas das coisas que tud dizias havia muita gente - ou alguma gente - mas a escrever essas coisas da maneira como tu as escrevias, eram poucos ou nenhuns. E depois havia a coisa das licenciaturas e de não se conseguir trabalho na área, e de se ir parar sem se saber muito bem como a um call center e de repente já não se via maneira de sair dali... em muito do que tu expuseste de ti neste blog eu identifiquei-me, e achei que tivémos um percurso de vida muito paralelo, muito semelhante - bem mais do que possas imaginar - e muitas vezes ao ler-te deu-me vontade de pegar num telefone e dar dois dedos de conversa contigo, mas seria para te dizer o óbvio "Epá também já passei por isso, percebo perfeitamente o que estás a sentir e a dizer" aqueles clichés banais que não queremos nada ouvir quando estamos apenas a desabafar sem pedir feedback de ninguém. A verdade é que ler-te fez-me muitas vezes sentir-me menos "anormal" e saber que não é só a mim que as merdas acontecem - sorry!!! - e assim parece que me sentia menos mal, e mais acompanhada. Dificil explicar, mas lá está, tens uma escrita que já me deixou com o coração a bater acelerado, ou então parado durante demasiados segundos, seja em prosa ou poesia, seja ficção ou realidade. Gosto mesmo da tua escrita e da maneira como usas as palavras e as distorces de uma forma que eu acho que nem toda a gente entende. E tenho dito ;)
Lembras-te da minha historinha de pseudo-terror? Obrigada. :)
Eu não tenho jeito para escrever terror. Foi só uma brincadeira. Mas fico toda contente que te lembres. Por acaso não a republiquei agora ao publicar os artigos do blog do Sapo.
E já agora, lembras-te daquela do vampiro, a que era cómica? Apesar de a ter escrito aos 17 anos, continuo a gostar muito e achá-la muito actual. Porque é cómica e é uma sátira, uma sátira não apenas à sociedade como à literatura de terror (os diários, etc).
Quanto a sentires-te identificada, não és a única, infelizmente. Só que não acreditavam em nós... É deprimente falar nisto.
Quanto à última parte do comentário, o meu muito humilde obrigada.
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