Anne Rice é uma ganda tia II
Palavras de Golmundo:
Bom, eu tenho uma teoria diferente: a Anne só escreveu a Entrevista (talvez também a Hora das Bruxas, mas ainda não a li). Depois foi assassinada, a soldo das editoras multinacionais. Um bando (um coven?) de imberbes formados em marketing escreve, depois, a saga do macho anglo-saxónico (o tal Lestat).
Não é anglo-saxónico. Começa por ser francês mas depois torna-se definitivamente new-orleano, seja lá isso o que for.
E quanto ao "macho"... Bem... Tem dias. Por acaso no "Memnoch", que leste, estava numa fase masculina. Seja lá isso o que for.
Leram a Entrevista, mas retiveram dos vampiros que não há sexo, andam de noite, são ricos e gostam do "oculto". E pronto, há um "produto". Mais tarde ainda (num dos livros que ainda não li) um dos imberbes foi, por sua vez, assassinado a soldo da Marvel (cujas vendas iam a pique porque ninguem comprava aventuras de super-herois em cuecas) e substituido por outro rapazola com uma missão: o Lestat tem de ganhar super-poderes...
Vejo onde queres chegar. Muitas vezes parece o Super Vampiro. Mas guardemos as devidas distâncias da Marvel. Afinal, os vampiros têm tradicionalmente poderes sobrenaturais, de outro modo não constituíam um verdadeiro perigo para o ser humano. O mito do vampiro é mais uma representação humana do Mal, como o demónio ou o lobisomem.
Por outro lado, do ponto de vista literário, o escritor é livre de pegar no mito e dar-lhe os contornos que entender.
(You could be a goth if... You argue on whether Poppy Z. Brite or Anne Rice has the more realistic view on vampires. You can debate both sides of that argument. É agora!)
A referida Poppy Z. Brite tem uns vampiros semelhantes mas que já nascem vampiros - são mesmo uma espécie - e reproduzem-se através do sexo, como nós. Também podem comer e conseguem passar sem sangue embora o desejem intensamente.
Pessoalmente, não tenho preferência. Tenho pena dos vampiros da Anne Rice porque não podem... comer. Nem beber. Segundo Armand, nem sequer podem fumar. Isso é que eu chamo uma tragédia!
Ao contrário do que me parece que tu (e o Klatuu?) entendem - mas leram mais do que eu - há uma diferença abissal entre a Entrevista e o resto: é que, nesta, Louis somos todos nós, ou podemos sê-lo (será por isso que não gostas tanto dele?). "Madame Bovary c'est moi!" como disse Flaubert... Todos nós queremos saber se somos filhos de deus, do diabo ou de um macaco, mesmo sem sermos imortais e sem sermos inegavelmente malditos. Por isso a Entrevista é uma obra-prima da literatura moderna.
Se eu falo tanto dos livros de Anne Rice, e porque falo, é mesmo porque são um motivo para falar de outras coisas. Todos sabemos que aquilo acaba por ser sobre nós. Nós é que somos os imortais. E depois, no nosso meio, há alguns mais satisfeitos e outros menos. Há os que prezam a carne e os que não. Há os que pensam e os que existem.
Não me parece que haja uma diferença assim tão grande entre a "Entrevista" e o resto. Todos os livros falam da demanda pela razão de estarmos aqui.
Não, não é por ser igual a nós que não gosto "tanto" de Louis. Aqui entre nós que ninguém está a ouvir, é por uma razão muito mais egocêntrica: identifico-me mais com a personagem de Lestat, o que não é, de todo, uma coisa boa.
Publicado por _gotika_ em 08:18 PM | Comentários: (6)
Provocações...
Por acaso, uma merda que nunca entendi é como é que uma coisa como o gótico que é esteticamente um movimento estético de júbilo e euforia pós medieval se transforma numa exaltação da negritude e da depressão. És capaz de me explicar isto Gotika Mefistófeles Enviado por em abril 29, 2004 02:51 PM
Espero que o artigo anterior tenha esclarecido essas dúvidas - diria mesmo que o artigo está tão simples e bem escrito que deve provir de uma inside source - pelo menos no que toca ao movimento que se conhece actualmente como gótico.
Quanto à passagem do conceito de gótico medieval ao gótico romântico, bem, esse deu-se por um movimento de nostalgia que contagiou escritores e poetas e músicos que se inspiraram no tal momento histórico "estético de júbilo e euforia". É preciso não esquecer que, à luz do século XIX, o gótico medieval é obscuro. A ciência galopava em direcção ao século XX e os artistas procuravam na literatura fantástica o oposto da racionalidade que esmagava o pensamento da altura.
Porque é que esses artistas se foram precisamente inspirar no gótico medieval?... Porque era um movimento de excesso (basta olhar para aquelas catedrais) e de re-aproximação ao divino, não através do austero romântico nem do racional romano, mas da glorificação da beleza. No entanto, este momento histórico ainda não era o momento barroco a seguir ao Renascimento. E no barroco, o excesso "excedeu-se", tornou-se fútil. Talvez o gótico medieval conseguisse reunir, aos olhos do século XIX, o misto de sublime e doloroso que a arte precisava naquele momento.
Agora vou fazer poesia. O que pode ser mais sublime e doloroso do que estender os pináculos das catedrais até ao céu, cada vez mais alto, como para tentar alcançar Deus, mas sem nunca o conseguir? E apesar de saber que não o conseguia, continuar a tentar à mesma? Foi isso que representou o movimento gótico medieval. O românico era atarracado, o renascimento foi atarracado, o racionalismo foi atarracado. Só no século XIX é que houve uns loucos que se lembraram de achar aquilo bonito e reconstruir ao estilo gótico. Mas aí o conceito de gótico já estava impregnado do romantismo mórbido como o conhecemos hoje.
Actualmente, do conceito de gótico medieval resta o aproveitamento de uma certa estética. De resto, está tão perdido na memória como o povo de onde provém a palavra "gótico", os Godos.
Publicado por _gotika_ em 05:01 AM | Comentários: (5)
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