Na sequência da evidência de lacunas no currículo de José Sócrates (nomeadamente o seu grau de licenciatura) que tem sido demonstrada desde há tempo no
Portugal Profundo (essa sim, uma investigação notável), o Público de 22 de Março publicou finalmente um trabalho jornalístico que pretendia o seu esclarecimento.
Se fosse outro país era estranho que só tanto tempo depois dos rumores algum jornal pegasse nisto, mas aqui nada espanta. É dado adquirido que o país não só desvaloriza a mentira como a premeia, e isso já disse neste blog até à exaustão neste últimos três anos e nem vale a pena dizê-lo de novo.
A mim o que me chocou profundamente no editorial do Público, apenso à notícia, foram estas palavras:
E, entre os seis membros da direcção do PÚBLICO, só um completou a licenciatura, e não é o director.
A inversão de valores é de tal ordem que esta gente parece ter orgulho em não ser licenciada. O que devia ser uma excepção, um indíviduo de grande capacidade intelectual chegar, sem estudos superiores, a cargos de grande responsabilidade, devido ao seu mérito excepcional (sublinho a palavra excepcional), parece ser a norma, norma essa de que a elite que dirige o Público se orgulha.
É também esta a elite que nos governa. Uma elite que despreza a Educação, que caga nela, que se gaba de não a ter.
O que nos leva a outra questão, ainda mais importante: se a Educação em Portugal não serve para aprender, serve para quê?
O que me leva à competência do primeiro ministro. Há quem não ponha em dúvida a sua competência, dando exemplos de outros não licenciados bem sucedidos em cargos de responsabilidade, mas sim o seu carácter, a sua vaidade, em bom português, a sua cagança saloia de querer ser "sr. dr." quando não o é.
A mim, parece-me que a falta de educação superior põe em causa também a competência do profissional, a começar pela gente que dirige o Público. Se os directores do jornal da elite intelectual bem pensante não valorizam um curso superior, quem o fará? E porque não o faz? Porque a Educação em Portugal não presta e um curso superior não ensina? Muito bem, que a elite intelectual e bem pensante tenha a iniciativa de o denunciar. É para isso que serve o jornalismo. Mas esta gente não sabe, e não sabe porque, suspeito, não esteve na faculdade tempo suficiente para o aprender, se é que por lá andou (são eles
os próprios que o dizem).
Num outro país, um caso de um indíviduo excepcional não licenciado chegar a cargos de responsabilidade não seria grave por ser uma excepção. Em Portugal, a excepção tornou-se a regra. Isso é que é grave, a crescente desvalorização dada à educação.
Com uma elite destas a reger o país, quem é que se admira que os licenciados sejam na prática preteridos em relação às pessoas com o 12º ano? Certamente que ninguém gosta de ter como subordinado alguém com mais qualificações. Cagança oblige. Nem é de surpreender que universidades polulem como cogumelos a ministrar cursos aos que tem notas para ingressar e a vender cursos aos que não têm. O denominador comum destes cursos é a total falta de qualidade, por isso põe-se a questão do que vale realmente um curso superior em Portugal? E se tirarmos os cursos de vertente científica, em que não há critérios de avaliação subjectivos, o que valem lá fora? Nada.
Como tenho dito muitas vezes, só há um cancro pior do que a educação em Portugal, que é a Justiça. Se a Justiça funcionasse, um aluno ludibriado poderia pôr essa faculdade em tribunal e processá-la. Como tal não acontece, a impunidade continua. A Educação é para os ricos, lá fora.