Sempre me pareceu que 2009 ia ser um ano divertido e isto até está a aquecer para o final. Prevê-se um 2010 ainda mais hilariante.
Confesso que não achei piada nenhuma à reeleição do Pinóquio -- peço desculpa, senhor engenheiro Sócrates, porque agora há que ter cuidado e piar baixinho -- mas foi esta a decisão dos 36% dos eleitores que foram votar, tirando os 40% que nem lá puseram os pés, sinal que estão muito satisfeitos com a situação e que aprovam pois "quem cala consente" e por mais argumentos que esgrimam nada me arranca daqui, e em democracia é assim que se passa e há que acatar.
Pus-me a pensar quem são estes 36%. Eu e mais gente, porque algo aconteceu. Logo no dia seguinte, no meu local de trabalho, onde se fala mais de carros e coisas das revistas cor de rosa e outras que interessam ainda menos, estava toda a gente a falar de política. Cada um tinha votado num partido diferente, e pôs-se a questão: "Mas afinal quem é que votou PS?!"
"Eu votei PS!", disse uma colega corajosa que estava claramente em minoria e fiquei bastante surpreendida. É que além de corajosa ela não é parva nenhuma, tem uma inteligência acima da média, e ao contrário do português comum está bem informada sobre questões políticas, a ponto de ter organizado um abaixo assinado contra o Código do Trabalho, razão precisamente pela qual votei Bloco! Podem imaginar, pois, a minha perplexidade por ela ter votado exactamente no partido que o lançou e aprovou! Perguntei-lhe, seriamente, pensando que ela brincava:
"Estás com vontade de ficar aqui a trabalhar horas extraordinárias sem serem pagas como tal, para um banco de horas que a empresa te devolve quando bem lhe apetecer (género "hoje não há trabalho vai-te embora, volta amanhã, se tens compromissos azar")?!"
Resposta:
"Na!"
Queria ela transmitir, naquele eloquente "Na!", que as coisas não se iam passar assim. Se calhar porque não acredita realmente que os direitos dos trabalhadores, tão dificilmente adquiridos, possam ser tão facilmente violados neste autêntico retrocesso civilizacional que é o Código do Trabalho.
Pus-me a pensar ainda mais. Até porque não é o género de pessoa que não tenha logo dado pela "coincidência" de o caso dos submarinos ter aparecido novamente, assim do nada, mal o Paulo Portas arranca 10% e faz tremer o Sócrates -- porque é o único que o consegue, e bem podem ir para cima dele com submarinos e documentos secretos subtraídos aos arquivos da Defesa Nacional (na volta o gajo levou-os para casa como recordação, não me admirava nada e se calhar até fazia o mesmo, por muitas e variadíssimas razões e se calhar bem mais tenebrosas do que qualquer motivação que tivesse hipoteticamente tentado o líder do CDS caso tenha verdadeiramente acontecido, no que não acredito sem provas) que para ali vão de carrinho porque é um homem sério e não há ponta por onde lhe pegar. Aliás, só não votei nele exactamente por causa do Código do Trabalho, a que me vi na obrigação de me opor, por muitas lágrimas que tenha chorado a noite toda sem dormir, qual mulher enamorada que desprezada por um irmão vai para a cama com o outro como consolação, "Paulinho! Paulinho! Oh, Paulinho!"
-- Eh, eh! Não. Isto era eu a brincar ao estilo Braganza Mothers. Passo efectivamente as noites sem dormir mas ainda não chegou ao ponto de gritar "Paulinho! Paulinho!". Talvez lá chegue um dia, mesmo sabendo que não faço o tipo de mulher que o cavalheiro aprecia, mas no coração não se manda. --
Dizia eu sobre esta colega, que não é totó nenhuma, e me surpreendeu por votar PS, que me fez dar voltas à cabeça a tentar compreender porquê. Depois compreendi. É o estado de negação. De certa forma, é este o estado em que andamos todos, abstencionistas incluídos, ainda a tentar acreditar em qualquer coisa que adiante, seja o voto seja o protesto.
O estado de negação é poderoso, tão poderoso que, respeitando as respectivas distâncias que não são para brincadeiras, muitos dos judeus que entravam nos campos de extermínio se convenciam até ao final de que iam mesmo para trabalhar.
"Mas papá", diria uma pequenita, "parece-me que não vejo aqui ninguém a trabalhar. Se calhar o que aqueles camponeses que nos faziam sinais para o comboio diziam eram verdade, e viemos aqui para morrer."
"Disparate!", diria o pai, "Os alemães precisam do nosso trabalho. Só nos querem explorar. Não ganham nada em nos matar."
Sempre me fez bastante impressão que esses judeus, em estado de completa negação, tenham acreditado na máquina de propaganda alemã, ignorado todas as evidências, e caminhado alegremente para "os banhos", mesmo depois de assistirem à selecção, à chegada, dos mais "capazes".
O estado de negação é realmente um poderoso mecanismo de defesa psicológico, imediatamente accionado quando o horror é insuportável. Nem todos, no entanto, permaneceram nele até ao fim. Muitos se aperceberam, e deduziram que nada havia a fazer, e que o melhor era deixar os outros nessa doce ilusão até ao derradeiro final.
Trago para aqui este caso limite, salvo, mais uma vez, as devidas distâncias, apenas para ilustrar o meu ponto. Pelo contrário, eu sempre fui daquelas que preferem acreditar no pior. Não só nos vão explorar, como matar, como ainda esfolar! Já é uma sorte que não nos esfolem vivos porque dói menos.
Neste caso, temos sorte, só nos querem de facto explorar. Livra! E assim encontro alguma razão para contentamento. (Será negação também?)
Uma coisa é certa, e surpreendente. Desde as eleições que tenho ouvido na rua os Manéis, à esquina, em grandes debates políticos como já não ouvia desde os tempos da infância!!! "E os submarinos? E o dinheiro?!", ouvi hoje, de um amigo para o outro, em acalorada cavaqueira, quando ainda na semana passada aqueles dois deveriam falar só do Benfica e do Mourinho e doutros que nem conheço.
Será bom sinal? Será sinal de que os tugas começam finalmente a acordar?! Novamente, livra!, que já era tarde!
Por falar em cavaqueira, não há dúvida que nesse caso o presidente fez um grande favor à nação, talvez o único em toda a sua vida, lançando a mais devastadora confusão num comunicado que eu não conseguiria escrever na minha pior bebedeira, do qual não se percebeu nada, mas nada de nada, ah valente também dás no tintol!!! *hic*
O momento político não podia ser mais engraçado, e o folhetim televisivo mais curto, tipo telenovela, para acompanhar todos os dias sempre em grande suspense até ao grande final. Quem fica com quem? Qual dos vilões se safa melhor? Quem é o melhor intrujão? E a resposta à grande dúvida existencial: quem votou no Pinóquio, e porquê?
Se este post parece estranho e nebuloso, sem ponta por onde se lhe pegue, a culpa não é minha, mas do momento que o inspirou. Isto já não é o pântano, é o rodopio do remoinho em direcção ao fundo abismal. A pique.
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sexta-feira, 2 de outubro de 2009
terça-feira, 22 de setembro de 2009
Adeus ò Portas!
Todos os leitores sabem que nas últimas eleições tenho apoiado o CDS-PP mas é tal a gravidade do momento que me vi a ponderar seriamente que estas legislativas precisam de um voto estratégico que defenda os meus interesses. Há muito tempo que não me questionava tanto em quem votar.
PSD nunca. PS nunca mais.
Desta vez, cheguei mesmo a considerar votar nos comunistas.
Gosto muito do Paulo Portas, e concordo com muitas das suas ideias, mas vejo o CDS-PP muito preocupado com os velhinhos, os agricultores, as forças de segurança, e foi dali que saiu o traiçoeiro código do trabalho que condena a sociedade a um atraso de 100 anos. Este Código de Trabalho tem de ir à vida.
O único partido que de facto se mexe pela situação da geração azarada que por ter nascido dez anos mais tarde ganha um terço do que os seus colegas mais velhos, quer sub-alugados como escravos de trabalhos temporários, quer a recibos verdes, quer até no escândalo dos estágios não remunerados financiados pelos papás (os que podem), principalmente nas empresas de comunicação social que teriam o dever deontológico de não o fazer, o único partido, dizia, que defende os meus interesses é o Bloco de Esquerda.
Embora não concorde com muitas das suas ideias, chegámos a um ponto em que a pouca vergonha é tal que o rumo tem de ser radical e revolucionário. Votarei, portanto, no Bloco de Esquerda.
O Paulinho que me perdoe. Não fosses tão amigo dos patrões!
PSD nunca. PS nunca mais.
Desta vez, cheguei mesmo a considerar votar nos comunistas.
Gosto muito do Paulo Portas, e concordo com muitas das suas ideias, mas vejo o CDS-PP muito preocupado com os velhinhos, os agricultores, as forças de segurança, e foi dali que saiu o traiçoeiro código do trabalho que condena a sociedade a um atraso de 100 anos. Este Código de Trabalho tem de ir à vida.
O único partido que de facto se mexe pela situação da geração azarada que por ter nascido dez anos mais tarde ganha um terço do que os seus colegas mais velhos, quer sub-alugados como escravos de trabalhos temporários, quer a recibos verdes, quer até no escândalo dos estágios não remunerados financiados pelos papás (os que podem), principalmente nas empresas de comunicação social que teriam o dever deontológico de não o fazer, o único partido, dizia, que defende os meus interesses é o Bloco de Esquerda.
Embora não concorde com muitas das suas ideias, chegámos a um ponto em que a pouca vergonha é tal que o rumo tem de ser radical e revolucionário. Votarei, portanto, no Bloco de Esquerda.
O Paulinho que me perdoe. Não fosses tão amigo dos patrões!
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quinta-feira, 13 de novembro de 2008
O que não se viu na televisão
Paulo Portas acusa Vitor Constâncio Governador do Banco de Portugal de ter fracassado enquanto regulador
É triste quando se tem que procurar na internet o que não passou na televisão gratuita para o pobre não ouvir. Não é que não interesse. É que mesmo que interesse o pobre está mergulhado em telenovelas e futebóis.
Paulo Portas diz tudo o que há a dizer e ninguém viu senão uns segundos. O vídeo foi posto online pelo CDS-PP. Só assim consegui ver. Apesar de durar 34 minutos vale muito a pena ver no mínimo os dez minutos finais. Quando tem de ser um partido político a mostrar o que a comunicação social devia fazer e não faz, não admira que se chegue a isto.
E já que estamos nisto, não se perde nada ver também mais esta:
Francisco Louçã: "BPN era um governo sombra do PSD"
Tem havido alguma agitação nas televisões esta semana. Os jornalistas revoltam-se... mas têm que piar muito baixinho. São ovos atirados a Lurdes Rodrigues, é Manuel Alegre a fazer o papel de Presidente da República (na questão da avaliação dos professores e no voto contra o escandaloso Código do Trabalho) na ausência factual do presidente eleito. Repararam? Eu reparei. Gostava que reparassem também, daí este apontamentozinho.
De resto, continuem a ler o Braganza Mothers que aquilo está muito bom.
É triste quando se tem que procurar na internet o que não passou na televisão gratuita para o pobre não ouvir. Não é que não interesse. É que mesmo que interesse o pobre está mergulhado em telenovelas e futebóis.
Paulo Portas diz tudo o que há a dizer e ninguém viu senão uns segundos. O vídeo foi posto online pelo CDS-PP. Só assim consegui ver. Apesar de durar 34 minutos vale muito a pena ver no mínimo os dez minutos finais. Quando tem de ser um partido político a mostrar o que a comunicação social devia fazer e não faz, não admira que se chegue a isto.
E já que estamos nisto, não se perde nada ver também mais esta:
Francisco Louçã: "BPN era um governo sombra do PSD"
Tem havido alguma agitação nas televisões esta semana. Os jornalistas revoltam-se... mas têm que piar muito baixinho. São ovos atirados a Lurdes Rodrigues, é Manuel Alegre a fazer o papel de Presidente da República (na questão da avaliação dos professores e no voto contra o escandaloso Código do Trabalho) na ausência factual do presidente eleito. Repararam? Eu reparei. Gostava que reparassem também, daí este apontamentozinho.
De resto, continuem a ler o Braganza Mothers que aquilo está muito bom.
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domingo, 16 de março de 2008
Desobediência
When the Nazis came for the communists,
I remained silent;
I was not a communist.
When they locked up the social democrats,
I remained silent;
I was not a social democrat.
When they came for the trade unionists,
I did not speak out;
I was not a trade unionist.
When they came for the Jews,
I remained silent;
I wasn't a Jew.
When they came for me,
there was no one left to speak out.
Eu juro que não sou eu que invento estas coisas. Antes fosse eu, que estivesse em casa sem fazer nada, a pensar em assuntos deprimentes para falar no blog. Infelizmente, eles não faltam. E esta hoje até me fez cair o queixo. Tabaco? Ainda se compreende. Obesidade, matar os gordos à fome? Tem a sua lógica. Agora o governo meter-se em assuntos que só dizem respeito a pais e filhos, como proibir piercings a jovens menores de idade e piercings na língua a toda a gente?! Mas esta gente ensandeceu de vez? "Come a sopa ou eu chamo a ASAE"? Quem disse bem foi uma entrevistada anónima que respondeu ao jornalista da RTP1: "Os deputados estão na Assembleia da República a pensar em coisas destas?! Não acredito. Está a brincar comigo, não está?" Pois a rapariga tem toda a razão. Isto é coisa para os Apanhados ou para o Gato Fedorento, ou para a criatura sinistra que é o Director Geral de Saúde, Francisco George, que pelos vistos tem mais corja igual lá enfiada no gabinete bolorento onde, à semelhança do que acontecia no bunker de Hitler, é proibido fumar.

Não, este não é o sinistro Francisco George, Director-Geral da Saúde e meu ódio de estimação. Este é o Lizard Man, que é um gajo porreiro. Francisco George é bem mais sinistro. Muito mais sinistro ainda do que o deputado que fala "axim" e quer proibir o piercing na língua. Balha-nos Deus, e no pénis e no clítoris, podem facher-se? Ou é chó uma questão de tempo antes que também chejam proibidos, chenor deputado? Por caucha da chaúdinha, pois então. Deus nos dê chaúdinha que hospitais já não há.
Eu própria gostava de tratar da saúdinha a estes senhores, que não sei se vão ser corridos assim que houver eleições porque o lobby do jogging parece uma hidra de sete cabeças que aparecem em todo o lado. Acho que se tivesse filhos menores era amanhã mesmo que os levava a uma loja de piercings e os mandava tatuar de alto a baixo. Se já fosse proibido, melhor ainda.
Porque aquilo de que eu quero falar é de desobediência. Tenho andado caladinha porque há muito bar por aí onde se desobedece à Lei do Tabaco. Às vezes, melhor que roer o osso, é enterrá-lo em sítio secreto. No que a lei é injusta, a sociedade restabelece a justiça. Há efectivamente, neste momento, bares para fumadores e não fumadores. De resto é como tudo. Quem não gosta do ambiente ou da música dá meia volta e sai. Escolha não falta. E assim é que deve ser.
Esta dos piercings, contudo, lembra-me a minha adolescência: "Tu não te metas na droga! Tu não me apareças grávida em casa! Tu não te vistas que nem uma viúva!"
De facto, podia ter dado em pior, mas não deu porque eu nunca fui desobediente. Para dizer a verdade, e este post é uma desculpa para escrever mais uma página do diário que se vai fazendo neste horror de sociedade absurda, desde a mais tenra infância que eu nunca compreendi o conceito dialéctico OBEDIÊNCIA / DESOBEDIÊNCIA. Ambas as palavras eram para mim chinês. De modo que não podia ser uma coisa que desconhecia completamente. Agora se me falarem no conceito RESPEITO / DESPREZO, é outra conversa. Ainda antes de conhecer as palavras já me regia por ele. E era basicamente assim: mandavam-me fazer alguma coisa cuja lógica ou importância eu não compreendia... estava tudo lixado! Pelo contrário, desconfiada que nem uma raposa (e com razões para isso), a proibição era para mim, ao invés da maioria das crianças que julgam que um prazer lhes está a ser negado, uma suspeição de que andavam a esconder-me algo para me tramar. Por exemplo, nunca ouvir dizer de mim "esta criança é desobediente". Ouvi, sim, muitas vezes, "fala mais baixo que ela está a ouvir". Ela, eu. Que se ouvisse demais era um problema. Eu até os compreendo. Explicar conceitos complicados a uma criança que não sabia ler nem escrever podia ser um bico de obra. Azar, eu até queria aprender a ler mas não me deixaram para "não me aborrecer na escola".
Tantos anos passados e quem tinha razão era eu. E já nessa altura as pessoas que lidavam comigo sabiam que se eu achasse que tinha razão não se fazia nada de mim. "Não venhas tarde para casa ou levas tareia." As tareias que eu levei! Mas a verdade é que a proibição sem lógica só me causava desprezo. Hoje, como dantes, só me causa desprezo.
Havia pessoas que não lidavam comigo muito frequentemente e ficavam sideradas com as minhas perguntas incómodas. "Criança reguila", ouvi também muitas vezes. Tinha um especial prazer em demonstrar-lhes que não era "reguila", estava simplesmente a ignorá-los. É assim um bocado como hoje, quando voto em Paulo Portas porque o respeito sem ele me mandar fazer nada, e porque não voto em ninguém do PS ou do PSD porque me dão vómitos. Pena o Manuel Alegre (que ninguém o cala mas não faz nada) não ter o golpe de asa para dar um chuto no partido. Olha, pena eu, a reguila, não ter estômago para a política. Dizem que aquilo é pior do que a aula de anatomia na morgue. E realmente cheira mal.
Esta coisa da obediência é-me, portanto, ainda hoje estranha, se bem que compreenda o conceito. Obedece-se para manter a ordem social. Não me passa pela cabeça, por exemplo, desobedecer a um polícia. Mais depressa fazia o que ele diz porque tenho pena que os agentes da ordem sejam tão mal pagos e desprezados, quanto mais ainda terem cidadãos a contrariá-los. Pois é, até já tenho pena da polícia, e nisto incluo a Polícia Judiciária que passou uma vergonha mundial com o caso Maddie. É de ter pena. Muitas vezes obedeço por essa razão, a pena. Claro que isto não é obediência. É protocolo de misericórdia. "Sim, senhor agente. Tem toda a razão, senhor agente".
Mas há uma altura em que já nem a obediência chega para manter a ordem. É a hora do lobo. Ou da raposa. A noite está escura e não há luar. Ouvem-se lá ao longe os caçadores a conspirar. (Ouvem-nos?)
Depois vêm falar de "mal difuso" e de "perigo de perder a coesão nacional", quando os deputados estão na Assembleia da República, como disse a anónima, não a fazer leis para o desenvolvimento do país mas tão só a meter-se na vida de pais e filhos?!
É a consanguinidade. Coitados, pensam que governar o país é a mesma coisa que ser pai de família. Deviam pensar mais onde andam os filhos deles antes de se meterem na vida dos outros. Pelo que conheço da corja com quem andei na faculdade, são os piores. E a pior notícia é que são esses meninos do papá as cobras do futuro. Esses não têm piercings na língua... só onde não se vê. Nem fumam, só snifam coca. Same old, same old. Sepulcros caiados por fora e cheios de podre por dentro. Tais pais, tais filhos.
Quando se chega a esta situação em que criaturas desprezíveis nos querem roubar a liberdade, só resta uma solução. Desobediência. Mas com jeitinho, que isto é um jogo perigoso. Eu prefiro chamar-lhe resistência.
Estou a pensar fazer um piercing no umbigo.
I remained silent;
I was not a communist.
When they locked up the social democrats,
I remained silent;
I was not a social democrat.
When they came for the trade unionists,
I did not speak out;
I was not a trade unionist.
When they came for the Jews,
I remained silent;
I wasn't a Jew.
When they came for me,
there was no one left to speak out.
Eu juro que não sou eu que invento estas coisas. Antes fosse eu, que estivesse em casa sem fazer nada, a pensar em assuntos deprimentes para falar no blog. Infelizmente, eles não faltam. E esta hoje até me fez cair o queixo. Tabaco? Ainda se compreende. Obesidade, matar os gordos à fome? Tem a sua lógica. Agora o governo meter-se em assuntos que só dizem respeito a pais e filhos, como proibir piercings a jovens menores de idade e piercings na língua a toda a gente?! Mas esta gente ensandeceu de vez? "Come a sopa ou eu chamo a ASAE"? Quem disse bem foi uma entrevistada anónima que respondeu ao jornalista da RTP1: "Os deputados estão na Assembleia da República a pensar em coisas destas?! Não acredito. Está a brincar comigo, não está?" Pois a rapariga tem toda a razão. Isto é coisa para os Apanhados ou para o Gato Fedorento, ou para a criatura sinistra que é o Director Geral de Saúde, Francisco George, que pelos vistos tem mais corja igual lá enfiada no gabinete bolorento onde, à semelhança do que acontecia no bunker de Hitler, é proibido fumar.

Não, este não é o sinistro Francisco George, Director-Geral da Saúde e meu ódio de estimação. Este é o Lizard Man, que é um gajo porreiro. Francisco George é bem mais sinistro. Muito mais sinistro ainda do que o deputado que fala "axim" e quer proibir o piercing na língua. Balha-nos Deus, e no pénis e no clítoris, podem facher-se? Ou é chó uma questão de tempo antes que também chejam proibidos, chenor deputado? Por caucha da chaúdinha, pois então. Deus nos dê chaúdinha que hospitais já não há.
Eu própria gostava de tratar da saúdinha a estes senhores, que não sei se vão ser corridos assim que houver eleições porque o lobby do jogging parece uma hidra de sete cabeças que aparecem em todo o lado. Acho que se tivesse filhos menores era amanhã mesmo que os levava a uma loja de piercings e os mandava tatuar de alto a baixo. Se já fosse proibido, melhor ainda.
Porque aquilo de que eu quero falar é de desobediência. Tenho andado caladinha porque há muito bar por aí onde se desobedece à Lei do Tabaco. Às vezes, melhor que roer o osso, é enterrá-lo em sítio secreto. No que a lei é injusta, a sociedade restabelece a justiça. Há efectivamente, neste momento, bares para fumadores e não fumadores. De resto é como tudo. Quem não gosta do ambiente ou da música dá meia volta e sai. Escolha não falta. E assim é que deve ser.
Esta dos piercings, contudo, lembra-me a minha adolescência: "Tu não te metas na droga! Tu não me apareças grávida em casa! Tu não te vistas que nem uma viúva!"
De facto, podia ter dado em pior, mas não deu porque eu nunca fui desobediente. Para dizer a verdade, e este post é uma desculpa para escrever mais uma página do diário que se vai fazendo neste horror de sociedade absurda, desde a mais tenra infância que eu nunca compreendi o conceito dialéctico OBEDIÊNCIA / DESOBEDIÊNCIA. Ambas as palavras eram para mim chinês. De modo que não podia ser uma coisa que desconhecia completamente. Agora se me falarem no conceito RESPEITO / DESPREZO, é outra conversa. Ainda antes de conhecer as palavras já me regia por ele. E era basicamente assim: mandavam-me fazer alguma coisa cuja lógica ou importância eu não compreendia... estava tudo lixado! Pelo contrário, desconfiada que nem uma raposa (e com razões para isso), a proibição era para mim, ao invés da maioria das crianças que julgam que um prazer lhes está a ser negado, uma suspeição de que andavam a esconder-me algo para me tramar. Por exemplo, nunca ouvir dizer de mim "esta criança é desobediente". Ouvi, sim, muitas vezes, "fala mais baixo que ela está a ouvir". Ela, eu. Que se ouvisse demais era um problema. Eu até os compreendo. Explicar conceitos complicados a uma criança que não sabia ler nem escrever podia ser um bico de obra. Azar, eu até queria aprender a ler mas não me deixaram para "não me aborrecer na escola".
Tantos anos passados e quem tinha razão era eu. E já nessa altura as pessoas que lidavam comigo sabiam que se eu achasse que tinha razão não se fazia nada de mim. "Não venhas tarde para casa ou levas tareia." As tareias que eu levei! Mas a verdade é que a proibição sem lógica só me causava desprezo. Hoje, como dantes, só me causa desprezo.
Havia pessoas que não lidavam comigo muito frequentemente e ficavam sideradas com as minhas perguntas incómodas. "Criança reguila", ouvi também muitas vezes. Tinha um especial prazer em demonstrar-lhes que não era "reguila", estava simplesmente a ignorá-los. É assim um bocado como hoje, quando voto em Paulo Portas porque o respeito sem ele me mandar fazer nada, e porque não voto em ninguém do PS ou do PSD porque me dão vómitos. Pena o Manuel Alegre (que ninguém o cala mas não faz nada) não ter o golpe de asa para dar um chuto no partido. Olha, pena eu, a reguila, não ter estômago para a política. Dizem que aquilo é pior do que a aula de anatomia na morgue. E realmente cheira mal.
Esta coisa da obediência é-me, portanto, ainda hoje estranha, se bem que compreenda o conceito. Obedece-se para manter a ordem social. Não me passa pela cabeça, por exemplo, desobedecer a um polícia. Mais depressa fazia o que ele diz porque tenho pena que os agentes da ordem sejam tão mal pagos e desprezados, quanto mais ainda terem cidadãos a contrariá-los. Pois é, até já tenho pena da polícia, e nisto incluo a Polícia Judiciária que passou uma vergonha mundial com o caso Maddie. É de ter pena. Muitas vezes obedeço por essa razão, a pena. Claro que isto não é obediência. É protocolo de misericórdia. "Sim, senhor agente. Tem toda a razão, senhor agente".
Mas há uma altura em que já nem a obediência chega para manter a ordem. É a hora do lobo. Ou da raposa. A noite está escura e não há luar. Ouvem-se lá ao longe os caçadores a conspirar. (Ouvem-nos?)
Depois vêm falar de "mal difuso" e de "perigo de perder a coesão nacional", quando os deputados estão na Assembleia da República, como disse a anónima, não a fazer leis para o desenvolvimento do país mas tão só a meter-se na vida de pais e filhos?!
É a consanguinidade. Coitados, pensam que governar o país é a mesma coisa que ser pai de família. Deviam pensar mais onde andam os filhos deles antes de se meterem na vida dos outros. Pelo que conheço da corja com quem andei na faculdade, são os piores. E a pior notícia é que são esses meninos do papá as cobras do futuro. Esses não têm piercings na língua... só onde não se vê. Nem fumam, só snifam coca. Same old, same old. Sepulcros caiados por fora e cheios de podre por dentro. Tais pais, tais filhos.
Quando se chega a esta situação em que criaturas desprezíveis nos querem roubar a liberdade, só resta uma solução. Desobediência. Mas com jeitinho, que isto é um jogo perigoso. Eu prefiro chamar-lhe resistência.
Estou a pensar fazer um piercing no umbigo.
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quarta-feira, 30 de maio de 2007
Porque apoio Paulo Portas
Hoje, dois em um:
É A GUERRA!
Mas há mais. A 23 de Maio:
Há mais. Elas que venham. Assim até é fácil. Tenho a papinha toda feita.
Mais notícias aqui.
Educação: Portas protesta contra "sistema de ensino de faz-de-conta"
O líder do CDS-PP, Paulo Portas, protestou hoje contra a ausência de penalização dos erros ortográficos na prova de aferição de português, considerando que se vive "um sistema de ensino faz-de-conta".
"Através da comunicação social, o país tomou hoje conhecimento de que nas provas de aferição na disciplina de Português os erros de Português, de ortografia, não contam para efeitos de classificação. Gostava de deixar muito claro o protesto do CDS por este facto", afirmou Paulo Portas, em declarações aos jornalistas, à margem de uma visita à Feira do Livro de Lisboa.
O Diário de Notícias noticia hoje que os "erros de ortografia não contam para a avaliação", escrevendo que "erros de construção frásica, grafia ou de uso de convenções não são para descontar" nas referidas provas, informação entretanto desmentida "liminarmente" pelo Ministério da Educação.
O Gabinete de Avaliação Educacional justificou a ausência de penalização de erros ortográficos na parte das provas de aferição dedicada à interpretação de texto com a necessidade de avaliar separadamente diferentes competências da língua e traçar estratégias distintas.
"Já sabíamos que as provas de aferição não contam para a avaliação do aluno, agora ficámos a saber que os erros de português numa prova de português não contam para a classificação do aluno", criticou Portas.
"Estamos num sistema de ensino faz-de-conta, e isso do ponto de vista do CDS é inaceitável", acrescentou.
Para o líder do CDS-PP, "há verbos proibidos" entre os "ideólogos do Ministério da Educação".
"O verbo estudar é disfarçado, o verbo examinar é disfarçado, o verbo passar é disfarçado, o verbo chumbar desapareceu e agora errar também é indiferente", criticou Portas, garantindo que o CDS irá questionar o Ministério da Educação sobre esta matéria.
"Não é para isto que o contribuinte paga o sistema educativo", acrescentou.
Lusa
Impostos: Portas critica Estado por "entrar em casa das famílias sem bater à porta"
O líder do CDS-PP, Paulo Portas, criticou hoje a obrigatoriedade de as doações acima dos 500 euros terem de ser declaradas ao Fisco, acusando o Estado de querer "entrar em casa das famílias sem bater à porta".
"Eu não aceito que o Estado, através da administração fiscal, se ache no direito de, sem bater à porta, entrar na casa das famílias e ingerir na gestão financeira das famílias", criticou Paulo Portas, em declarações aos jornalistas, à margem de uma visita à Feira do Livro de Lisboa.
Devido às alterações introduzidas em 2006 ao Imposto de Selo, todos os contribuintes que façam doações superiores a 500 euros estão obrigados a pagar imposto de selo, entregando ao Fisco o modelo 1 do Imposto de Selo na altura da doação.
As doações entre pais e filhos, marido e mulher e avós e netos estão isentas do pagamento desse imposto, mas todos os contribuintes que façam doações superiores a 500 euros têm a obrigação de o declarar ao Fisco, sob pena de serem multados.
A confusão nesta matéria surgiu depois do primeiro-ministro ter dito no Parlamento, em Janeiro, que "não existem doações entre pais e filhos, nem entre cônjuges", sugerindo que as mesadas que os pais dão aos filhos não têm de ser declaradas às Finanças.
"Fizemos a pergunta pertinente ao primeiro-ministro e lembrar-se-ão, os que assistiram ao debate, que o primeiro-ministro dizia que era fantasia nossa. Afinal, o primeiro-ministro não estava exactamente dentro do assunto", referiu Portas.
Depois de um requerimento feito por duas deputadas socialistas ao Ministério das Finanças a pedir esclarecimentos sobre este assunto, o gabinete de Teixeira dos Santos reafirmou segunda-feira a obrigação de declaração em situações de doações superiores a 500 euros entre pais e filhos, mas esclareceu que as mesadas decorrem do dever do poder paternal e não são por isso consideradas doações para efeitos fiscais.
No entanto, o líder do CDS-PP deu alguns exemplos de situações que implicam a declaração de uma doação ao Fisco, e que classificou de "absurdas".
"Por exemplo, um pai que dá um prémio a um filho porque ele passou de ano (...), um avô que paga alguns dos estudos do seu neto (...), um presente de casamento", enumerou.
"Para os socialistas o Estado pode entrar em casa das pessoas, para nós o Estado fica à porta, e isso é uma separação absolutamente fundamental", defendeu Paulo Portas.
O líder do CDS-PP salientou que foi por influência do seu partido que terminou o imposto sucessório entre cônjuges, descendentes e ascendentes.
"Essa foi uma das marcas que o CDS conseguiu levar para o Estado, maior respeito pela família", disse.
"O Estado que se meta na sua vida e deixe a vida das famílias tranquilas", aconselhou Portas, garantindo que o CDS irá questionar o Ministério das Finanças sobre este tema.
Lusa
É A GUERRA!
Mas há mais. A 23 de Maio:
Tabaco: CDS-PP quer possibilidade de haver espaços para fumadores
O CDS-PP propôs hoje, no início da discussão na especialidade da Lei do Tabaco, que possam existir espaços classificados como para fumadores e outros para não-fumadores, à semelhança do que acontece em Espanha.
"Queremos a possibilidade de existirem espaços para fumadores e para não-fumadores (.) Não podemos atentar contra o direito de iniciativa privada de quem quer ter um espaço para fumadores", defendeu o deputado do CDS-PP Hélder Amaral, em declarações aos jornalistas no Parlamento.
"Deve caber a cada cidadão a escolha de ir a um restaurante para fumadores ou não-fumadores", acrescentou.
O deputado do CDS-PP considerou que esta alteração tornaria a lei "equilibrada, que protege direitos dos fumadores e não fumadores", salientando que é este o modelo legislativo em Espanha.
A proposta de lei do tabaco, aprovada na generalidade pela Assembleia da República a 03 de Maio, com os votos favoráveis do PS, do PSD e do CDS-PP, proíbe totalmente o fumo em restaurantes e bares com menos de 100 metros quadrados, permitindo a criação de um espaço para fumadores - nunca superior a 30 por cento da área total - nos estabelecimentos de maior dimensão.
O CDS-PP quer ainda que, em estabelecimentos onde o espaço de fumadores e não fumadores seja comum (com dimensão superior a 150 metros quadrados), seja atribuída uma quota de 50 por centro a cada uma das categorias.
"É do mais elementar bom senso que o espaço entre fumadores e não fumadores seja equilibrado", defendeu, considerando que, se tal não acontecer, os bares, restaurantes e discotecas situados perto da fronteira com Espanha poderão ser prejudicados.
O CDS-PP quer ainda uma redução das coimas para os infractores particulares, situando-as entre os 10 e os 150 euros.
A proposta de lei aprovada na generalidade prevê para quem insistir em fumar nos locais proibidos contra-ordenações que poderão ser punidas com coimas entre os 50 e os mil euros para o fumador.
O diploma começou a ser hoje discutido na especialidade, num grupo de trabalho a funcionar junto da Comissão parlamentar de Saúde.
Contactada pela Lusa, a presidente desta comissão, a socialista Maria Belém, disse esperar que a votação da lei na especialidade possa ocorrer a 20 de Junho.
Lusa
Há mais. Elas que venham. Assim até é fácil. Tenho a papinha toda feita.
Mais notícias aqui.
sábado, 26 de maio de 2007
Natural born leader

O que gostei e não gostei da semana política e o que não interessa sequer falar nem é mencionado.
Não gostei da entrevista de Helena Roseta. Pareceu-me demasiado vaga, demasiado empenhada em colaborar com os same old same old. Admito que já seja instinto pavloviano e que a senhora até esteja a ser honesta. Mas honesta, na política? Ainda vai ter de fazer muito para o provar. Palavrinhas não chegam.
A sua única sugestão concreta, de abrir um "livro de reclamações" sobre Lisboa, não me parece de uma candidata que conheça a cidade. Mas brincamos? Quer uma reclamação, senhora dona Helena Roseta? Aqui vai:
Lisboa está deserta!!!
Posso dizê-lo porque eu sou das poucas pessoas em idade produtiva e reprodutiva que moram de facto nas freguesias abandonadas da Lisboa antiga e que votam em Lisboa, e não em Sintra, nem em Almada, nem em Odivelas, nem naquela parte dos subúrbios que se estende para leste da Portela e da qual só sei que é mais uma fonte de poluição automobilística na direcção da cidade.
Porque é que Lisboa está deserta?! Porque as casas são demasiado caras. Isto já se sabe há séculos, senhora dona Helena Roseta. Qualquer dia não há quem vote.
A situação é tão grave que nem os gatunos já aqui vêm roubar porque sabem que aqui só moram velhinhos na miséria e imigrantes brasileiros e ucranianos empacotados em quartos de casas podres. (Os chineses ainda não descobri onde moram, se calhar também dormem nas lojas quando os empregados brasileiros vão para os tais quartos.)
O que me leva à campanha de Telmo Correia do CDS-PP. Foi criticado por visitar um lar de velhinhos. Não gostei da crítica. Deve ter sido feita por gente dos subúrbios que não sabe que Lisboa são os velhinhos. Lisboa são os velhinhos que vivem na miséria, de reformas miseráveis de 200 euros ou menos, a viver em casas baratas porque são podres, gente que quase já não se pode mexer, gente que se arrasta para as compras que já não pode carregar, gente que não vai ao Carrefour nem ao Freeport, gente que consumisticamente não interessa, gente que está velha e abandonada. Esta gente é que são os eleitores de Lisboa, da verdadeira Lisboa. O outro enganou-se. Lisboa é que o deserto, e sem aves migratórias. Sobrevivem alguns pombos e pardais às leis selvagens que os condenam à morte graças ao bom coração de boa gente que não obedece à desumanidade.
Lisboa é também a morada dos sem abrigo. Será que votam? Será que ainda se interessam? Duvido. Pouco interessa a quem vive na rua e só pensa na próxima refeição que chega na carrinha da solidariedade. Gente que também não interessa nada. Gente que não tem internet. Será que lêem o Metro? Talvez. É de graça.
Gostei muito da anedota do professor que foi suspenso por proferir quiçá uma graçola contra alguém que tirou um diploma na Farinha Amparo. Fartei-me de rir! O que eu me ri! É ver agora a malta do tempo da ditadura a acordar e a abrir os olhinhos. Destas coisas é que eu gosto.
E no meio de toda esta desgraça, ainda há um político em que eu acredito. Gostei muito da entrevista do Paulo Portas. Gostei da ambição que revelou ao dizer que não quer um partido residual. Pode não o conseguir mas gosto de pessoas ousadas, que não têm medo de fazer má figura, que não têm medo de ir à luta e perder, porque só quem vai à luta é que vence.
Gostei quando Paulo Portas falou na discussão das famílias actuais, quando partiu a louça toda do partido velho e não só prometeu como ao dizê-lo já o estava a abrir. O Bloco de Esquerda que se cuide. Gostei quando Paulo Portas, como ministro da Defesa, acabou de vez com a vergonha do Serviço Militar Obrigatório, a grande bandeira de esquerda que, ironicamente, levou o punho da direita. Mas neste país ao contrário com total inversão de valores nada disto é de estranhar. Quem ainda tem bichinhos residuais dos pós-25 de Abril na cabeça é bom que os sacuda e deixe entrar o ar. O homem pode ser um político, e para se ser um político convêm não dizer toda a verdade e nada mais que a verdade, mas não estou a imaginar Paulo Portas a fazer um exame por fax. É daquelas coisas de anedotas que não passam pela cabeça de ninguém.
Gostei quando ele disse, umas 30 vezes, com uma inteligência de quem sabe o que faz "o José Sócrates já não é o mesmo de há dois anos". Ser o mesmo até é, o asco é que se tornou visível. Estarei a falar demais? Se calhar estou. Lá vou eu para a choldra. É preciso ter cuidado com a língua e a ponta dos dedos. É preciso votar no líder do partido que saiu do 25 de Abril com mais ligações à ditadura para lutar contra a ditadura.
Ainda têm que me provar que o homem não é honesto, porque este, ao contrário dos outros, tem obra feita e meritória, assim como têm os ministros que têm saído do CDS nos últimos tempos e que não precisam da política para o tacho.
Verdade seja dita, há que louvar outros dois homens. Ribeiro e Castro, porque esteve ali firme e digno quando era preciso e soube perder e tem sentido de missão, e, surpreendentemente para mim, Marques Mendes, de quem se diz tanto mal, e a quem tanto se achincalha, e nos últimos tempos tem sido o único gajo com eles no sítio. Isto só prova que as pessoas só valem alguma coisa quando são verdadeiras. É um bocado como os diplomas. Só que as pessoas valem mais.
Paulo Portas, diga-se o que se disser, é um natural born leader e o resto é conversa, homens de palha e papéis tão mal cheirosos como as negociatas que ali estão para tecer.
Não gostei desta notícia:
O número de trabalhadores portugueses em Espanha continua a aumentar, tendo crescido quase quatro por cento entre Janeiro e Abril, para mais de 75 mil, de acordo com dados divulgados pelo Ministério do Trabalho e Assuntos Sociais, informa a agência Lusa.
O aumento do número de portugueses foi mais elevado do que o aumento total do número de estrangeiros em Espanha, que cresceram cerca de 1,3 por cento atingindo um total de 1.947.908 pessoas. Representam já 12 por cento do número total de imigrantes provenientes da União Europeia (625.454) sendo a segunda maior comunidade da UE depois da Romena (cerca de 187 mil).
Em termos gerais, a comunidade portuguesa é já a quinta, depois das oriundas de Marrocos (276 mil), Equador (269 mil), Roménia (187 mil) e Colômbia (143 mil).
Que isto cale a boca de vez aos que dizem que os imigrantes vêm para cá "fazer o que os portugueses não querem fazer". Mentira de merda. Sempre foi e sempre será. Os portugueses vão para Espanha trabalhar nas obras porque ganham mais ou não arranjam outra coisa. Hoje dizia, um futuro desempregado da Delphi, que via perspectivas de emprego, mas não aqui. Na Espanha.
Escravos vêm de lá para cá, e vão de cá para lá. Acho que foi sempre por isso que me recusei a sair. Escravidão por escravidão, fico em Roma. Como dizia alguém cujos comentários noutro blogue muito prezo: "é a guerra".
Eu estou a fazer a minha. E é por isso que me vou bater ao lado do senhor da fotografia e vou fazer campanha descarada a torto e a direito e sempre que me apetecer sem ganhar nada com isso. Porque ainda há gente decente neste país. Posso não ter esperança, mas tenho ideais. Afinal a esperança não é a última a morrer. Os ideais ficam.
Over and out.
quinta-feira, 1 de março de 2007
Na mouche
Aquele Paulo Portas consegue convencer-me de quase tudo, até votar em D. João II. Mas não vou gastar os 60 cêntimos.
O que é preciso é homens de mérito e visão que comandem este país. E já era altura de as pessoas darem valor ao que tem valor em vez de votarem em medíocres que parecem "simplex" e muito fixes mas que forçamente lhes tornarão a vida miserável.
Garanto aos leitores que não sou vidente. Apeteceu-me começar a fazer campanha pelo regresso de Paulo Portas. Et voilá!

"o engenheiro José Sócrates não é o único português determinado".
"Comigo, terá uma oposição determinada"
É assim mesmo!
Liderança
Aquele Paulo Portas consegue convencer-me de quase tudo, até votar em D. João II. Mas não vou gastar os 60 cêntimos.
O que é preciso é homens de mérito e visão que comandem este país. E já era altura de as pessoas darem valor ao que tem valor em vez de votarem em medíocres que parecem "simplex" e muito fixes mas que forçamente lhes tornarão a vida miserável.
O que é preciso é homens de mérito e visão que comandem este país. E já era altura de as pessoas darem valor ao que tem valor em vez de votarem em medíocres que parecem "simplex" e muito fixes mas que forçamente lhes tornarão a vida miserável.
domingo, 14 de agosto de 2005
Párem de se queixar do PS
Isto começou por ser um comentário a um post do Portugal Profundo, onde se tem questionado se Sócrates deve gozar férias em plena altura de crise e fogos.
Respondi eu:
Ora, mais umas palavrinhas. A mim não me choca nada que o homem esteja de férias. Eu estava à espera disso. Farei mal? Estarei habituada? Não sei.
Tenho esperança que alguma coisa mude? Sinceramente, não.
Os portugueses tinham esperança que acontecesse o milagre das rosas quando votaram maciçamente no PS a 20 de Fevereiro?
Ah, estou a repetir-me. Já aqui disse que sim, que obviamente acreditavam.
Até que ponto pode um povo ser ingénuo, pergunto agora?
E eis quando hoje alguém que não conheço me mandou uma mensagem para o telemóvel que dizia: "O PS está a dar cabo do país. Vamos fazer algo pelos nossos filhos."
O quê, exactamente, ó anónimo? Se é que sabes quem eu sou, isto é, porque eu não sei quem tu és.
Resta saber se os portugueses querem mudar. Será que querem? Querem mesmo? Então porque protestam contra as medidas impopulares? Confesso que não percebo. Pensam que a mudança não dói? Querem anestesia? Droguem-se. Eu sei que já se drogam, mas droguem-se mais. E o vinho é barato. (Comprem alentejano que é bom e nacional. Eu só compro alentejano!)
Podem não ter concordado com a minha opção de voto. Houve quem votasse à esquerda (Bloco), eu votei à direita (CDS-PP). Recusei-me a votar ao centro onde as moscas vão mudando consoante a merda que fazem e que o povo esquece quatro meses depois.
Mas foi uma decisão tomada pela maioria dos portugueses. Assumam a responsabilidade. Párem de se queixar. (E eu nem sequer votei neles.)
Assumir a responsabilidade é o primeiro passo da maioridade. Cresçam.
Aceitem o castigo. Acabem com a impunidade. Paguem as multas. Párem no sinal vermelho. Cumpram o código da estrada. Paguem os impostos. Não deitem beatas na areia. Não peguem fogo às florestas. Não copiem nos exames. Não gastem acima das possibilidades. Sejam honestos. Párem de fazer favores. Não aceitem cunhas.
Mudem, porra!
Querem mesmo?
I don't think so.
Respondi eu:
O amigo não percebe que o nosso primeiro é um homem muito ocupado, muito inteligente, e que precisa de bastante tempo para descansar para depois, mais tarde, pensar com clareza e argúcia no que vai fazer para resolver a situação; não só a dos fogos como a do país em geral.
Porque, obviamente, e isso é que é certo, não pensou no assunto antes de ser eleito.
Aliás, tende paciência, santinhos, porque se começais a dizer muito mal do homem, este ainda se pira para o estrangeiro como fizeram os outros dois, e depois quem poreis no Governo?
Pensando bem, pode sempre voltar o Santana, quereis?
(Nota: Porque há sempre distraídos, isto foi um comentário sarcástico.)
Ora, mais umas palavrinhas. A mim não me choca nada que o homem esteja de férias. Eu estava à espera disso. Farei mal? Estarei habituada? Não sei.
Tenho esperança que alguma coisa mude? Sinceramente, não.
Os portugueses tinham esperança que acontecesse o milagre das rosas quando votaram maciçamente no PS a 20 de Fevereiro?
Ah, estou a repetir-me. Já aqui disse que sim, que obviamente acreditavam.
Até que ponto pode um povo ser ingénuo, pergunto agora?
E eis quando hoje alguém que não conheço me mandou uma mensagem para o telemóvel que dizia: "O PS está a dar cabo do país. Vamos fazer algo pelos nossos filhos."
O quê, exactamente, ó anónimo? Se é que sabes quem eu sou, isto é, porque eu não sei quem tu és.
Resta saber se os portugueses querem mudar. Será que querem? Querem mesmo? Então porque protestam contra as medidas impopulares? Confesso que não percebo. Pensam que a mudança não dói? Querem anestesia? Droguem-se. Eu sei que já se drogam, mas droguem-se mais. E o vinho é barato. (Comprem alentejano que é bom e nacional. Eu só compro alentejano!)
Podem não ter concordado com a minha opção de voto. Houve quem votasse à esquerda (Bloco), eu votei à direita (CDS-PP). Recusei-me a votar ao centro onde as moscas vão mudando consoante a merda que fazem e que o povo esquece quatro meses depois.
Mas foi uma decisão tomada pela maioria dos portugueses. Assumam a responsabilidade. Párem de se queixar. (E eu nem sequer votei neles.)
Assumir a responsabilidade é o primeiro passo da maioridade. Cresçam.
Aceitem o castigo. Acabem com a impunidade. Paguem as multas. Párem no sinal vermelho. Cumpram o código da estrada. Paguem os impostos. Não deitem beatas na areia. Não peguem fogo às florestas. Não copiem nos exames. Não gastem acima das possibilidades. Sejam honestos. Párem de fazer favores. Não aceitem cunhas.
Mudem, porra!
Querem mesmo?
I don't think so.
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