Este não era o post programado mas algo me ferve nas entranhas. Estive a ver o desfile de pavões e pavoas a entrarem em clima de festarola de província na Praça de Touros do Campo Pequeno, em Lisboa, onde vai haver um espectáculo de bárbarie, sofrimento, dor e sangue. Como nas antigas arenas romanas eles iam, sedentos, gordurosos, imorais, as tias e tios das festas do costume, os alpinistas sociais, a gregoriante Fátima Lopes (a quem já se conhece muito bem - que se fodam os bichos - as criações em pele genuína porque acha que sim, que é bem), e muitos outros, mais insuspeitos, que por lá apareceram a dar apoio. É bom vê-los. Assim não enganam ninguém.
Não percebo como é que estas pessoas não conseguem sentir compaixão, empatia, pôr-se no lugar de um animal em sofrimento. Tal como os outros, que esmagam um pombo de propósito como se fosse uma casca de banana. Não percebo. Foi-me retirada a capacidade de compreender a crueldade desnecessária, quanto mais a crueldade por divertimento.
Já o disse antes, raras vezes a inteligência anda de mãos dadas com a sensibilidade. Por alguma razão o cérebro não sente dor. Mas também sei que muita desta gente vai a uma tourada com o mesmo nada na cabeça com que pousa semi-nu(a) para uma revista que lhes pague. Mas confesso que não percebo. Está para além da minha compreensão.
É exactamente por amar os animais que os conheço tão bem. Sei que os animais são desprovidos de compaixão. É por isso que não percebo nem sei como classificar estas pessoas que aparentemente fazem parte da minha espécie, mas rejeito-os. Não podem fazer parte da minha espécie, nem eu posso fazer parte da deles. A minha compaixão pelos animais não se lhes estende porque, apesar de estúpidos, são mais inteligentes do que as pobres vítimas dos seus sacrifícios na arena. E quanto aos que são mesmo muito inteligentes mas não têm coração, de que lhes vale ser humano? Dava-lhes mais jeito pertencer ao reino dos dinossauros.
A minha guerra com as pessoas já acabou quando virei as costas à humanidade há muitos anos atrás. Nem sei porque falo nisto. Mas não consigo evitar a vergonha de pertencer, ainda que remotamente, a esta espécie.
Planeta infernal.