segunda-feira, 1 de agosto de 2005

Segunda vida

Não sei quantas pessoas passaram por esta experiência. Não são muitas as que partilham, mas lembro-me de Florbela Espanca dizer algo como "não me recordo das outras que fui outrora". Mas será que muita gente se apercebe? Será que se lembram?
Há cerca de dez anos, um pouco mais, eu morri. Pouco antes de acontecer eu tive aquela certeza de que a vida não podia continuar. Olhava para as coisas como se as estivesse a ver pela última vez.
E de facto estava. Nunca mais veria as coisas da mesma maneira.
Depois de alguns anos de luto pela minha "partida", confusão e desorientação, e possivelmente vagueando como um fantasma que não sabe que morreu, um dia acordei renascida. Eu era agora uma pessoa diferente e tinha uma vida diferente. Experimentei uma forma invulgar de reencarnação.
Pergunto-me quantos têm esta magnífica oportunidade? Quantos se lembram de morrer numa só vida?
Nesta nova existência, sou apenas uma criança. Nem sequer tenho idade para ser adolescente. Ainda não atingi a minha nova maturidade. Acima de tudo, ainda não sei o que quero. Estou na escola outra vez.

Mas pensando bem no assunto, olha o que se poupa em encarnações!

4 comentários:

Goldmundo disse...

Muitos morrem. Mas o "segundo nascimento", diferentemente do da "reencarnação", tem qualquer coisa de "acto voluntário". Suponho que a diferença está, não em "morrer", mas em aceitar a morte. Os outros ficam como os fantasmas: agarrados a repetições, a lugares, a crenças, bocados de gente que não serão gente nunca mais.

katrina a gotika disse...

Talvez.
Mas antes que a confusão se instale, eu não estava a falar de renascimento espiritual.

Goldmundo disse...

Eu também não. Mas não acredito na "separação" entre as "coisas espirituais" e as "coisas do dia-a-dia" (ou da "noite-a-noite"). Somos uma unidade.

katrina a gotika disse...

Ok. Assim, sim.